Lula Livre: o povo escreverá o final, por Ricardo Cappelli

A prisão fornece elementos para uma forte narrativa. Fortalece a ideia do mito indestrutível e transfere para o carcereiro “medroso” a responsabilidade de provar o contrário.

Foto Ricardo Stuckert

Lula Livre: o povo escreverá o final, por Ricardo Cappelli

Após o fracassado Putsch de Munique, Hitler foi preso. Virou o jogo ao fazer um depoimento histórico no seu julgamento. Nove meses depois, saiu da cadeia para concentrar em suas mãos um poder que assombrou o mundo.
Deng Xiaoping, o líder modernizador do “Império do Meio”, amargou o expurgo e a prisão durante a Revolução Cultural. De volta ao poder, virou o principal responsável por colocar novamente “Tudo Sob o Céu” da China.

Fidel Castro foi preso após a tentativa frustrada de tomar o Quartel Moncada. O futuro líder da revolução cubana viraria uma lenda do século XX. Hugo Chávez passou dois anos na prisão após liderar um golpe fracassado. Saiu da cadeia para virar a reencarnação de Bolívar.

O líder Tupamaro Pepe Mujica passou 12 anos perambulando por solitárias, lutando contra a loucura. O isolamento desumano não o impediu de virar presidente e ícone da esquerda.

Getúlio driblou a prisão com um tiro no coração. Amassou as grades com as próprias mãos.

O caso mais emblemático talvez seja o de Nelson Mandela. Foram 27 anos de reclusão forçada. O mito sul-africano saiu da cadeia para a presidência. Virou um símbolo global e imortal.

No rol de mitos que transformaram prisões e exílios em pedaços de história, está Napoleão Bonaparte. Preso na Ilha de Elba após uma campanha fracassada na Rússia, o Imperador dos Franceses fugiu da ilha-prisão para retomar o poder de forma triunfal, até ser derrotado definitivamente em Waterloo, 100 dias depois.

É controverso se Napoleão fugiu de Elba por conta própria ou teve sua fuga facilitada por seus inimigos, convencidos da necessidade de desfazer o mito no campo de batalha.

A prisão de grandes líderes costuma deslocar o debate público. “Não importa o que Napoleão fez ou deixou de fazer, prenderam-no porque são incapazes de derrotá-lo militarmente.” Sempre fica a impressão de vitória no “tapetão” pelo adversário covarde.

Por isso estes movimentos, do algoz e do preso, são sempre muito bem calculados. A prisão fornece elementos para uma forte narrativa. Fortalece a ideia do mito indestrutível e transfere para o carcereiro “medroso” a responsabilidade de provar o contrário.

Neste sentido, pode ser inteligente permanecer preso. O que parece loucura para os simples mortais pode ser um cálculo dos que dialogam com a glória da imortalidade. Quando o que se disputa é a história, o tempo perde relevância.

Existe uma linha tênue entre a proteção santificadora das grades e sua capacidade de machucar, puxando os mitos do Olimpo de volta ao reino dos mortais.

Lula sairá da cadeia com seus direitos políticos restabelecidos? Resistirá na prisão? A tática de radicalizar – criticando “golpistas” que estiveram em seu governo – permanecerá na liberdade ou ressurgirá o “Lula Paz e Amor” da grande conciliação nacional?

Lula será candidato, colocando sua imortalidade à prova, ou suas declarações são apenas parte da estratégia atual? Seus algozes tramam para destruir o mito no campo de batalha?

Nenhum concursado de capa preta definirá a história. O final da trajetória épica será escrito pelo povo, a partir das escolhas que o ex-presidente fizer e oferecer.

Retorno triunfal ou derrota definitiva em Waterloo? Que o povo decida.

 *Ricardo Cappelli é jornalista e secretário da representação do governo do Maranhão em Brasília e foi presidente da União Nacional dos Estudantes.

Redação

3 Comentários

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  1. Querem ouvir uma teoria da conspiração?

    Com um pouco de imaginação podemos arrumar os fatos mais intrigantes que ocorreram no Brasil, na forma de uma teoria do fato com contornos conspiracionistas. De 2013 para cá, as teorias da conspiração deixaram de ser algo puramente imaginativo para se mostrar factíveis em muitos pontos.
    Já é um consenso de que a Lava Jato é uma interferência dos EUA no Brasil, e aos poucos vamos ficando sabendo dos mecanismos e dos detalhes da operação.

    A principal pergunta a ser feita, é até onde iriam esses agentes intervencionistas para obter o êxito da operação Lava Jato?

    Já é patente que o ministro Teori Zavascki era visto com desconfiança pelo Moro e pela República de Curitiba. Não dá para garantir, mas existem boas razões para acreditarmos que Teori poderia ter colocado um freio no Moro evitando assim, a condenação e posterior prisão do Lula.
    O ministro Teori morreu naquele “acidente” mal esclarecido no dia 19 de janeiro de 2017. No dia seguinte, tomou posse o presidente americano Donald Trump. Com isso já podemos afirmar que na hipótese de que o Teori foi assassinado por agentes intervencionistas, estes operaram sob as ordens dos democratas, ou mesmo do Deep State americano.

    Parece que Trump promove uma quebra de braço com as agências que compõe o Deep State, que também são conhecidas como Clinton Machine. Com as revelações que estão embasando o pedido de impeachment do Trump, está claro que ele utiliza a máquina do governo para atacar seus adversários políticos e mitigar o poder da Clinton Machine.

    Dentro desse contexto, não é difícil imaginar que a fonte das revelações da Vaza Jato pode ter vindo diretamente do staff do Trump. Reforçam essa hipótese o fato de que o milionário dono do The Intercepte, Pierre Omidyar teve encontros frequentes com Trump.

    Seria a vaza Jato um instrumento para o Trump revelar os abusos dos democratas no Brasil, às vésperas das eleições americanas?

    Com essa hipótese em mãos, podemos explicar porque o TIB sempre andou muito devagar com as revelações, parecendo esconder e deixar o mais impactante para próximos das eleições americanas.
    Se encaixa nessa alucinante narrativa, o fato de que o impeachment do Trump está baseado em delatores anônimos da CIA. Será esse processo uma resposta dos democratas e da Clinton Machine para a estratégia do Trump de desnudar os desmandos dos democratas?

    Coincidência ou não, depois que o pedido de impeachment do Trump foi aceito na câmara americana, não tivemos mais novas revelações significativas da vaza jato. A operação pode ter sido suspensa, ou então, estão acelerando em sigilo para antecipar as revelações que estavam programadas para só serem reveladas às vésperas do pleito americano.

    Quero deixar claro que tudo isso é uma arrumação imaginativa dos acontecimentos e que eu não possuo provas para embasar essa narrativa. De qualquer forma, o tempo dirá se isso é um punhado de besteiras, ou se estamos mesmos no meio de uma disputa de poder entre grupos antagônicos no seio do império americano.

  2. Penso que Lula deve ser libertado porque seu processo foi uma enorme FARSA.
    Continuo acreditando que Lula não deve ser candidato a presidente. Deve apoiar um social-domocrata que não seja do PT. A inegável força política do partido deve ser usada pra mobilizar seus militantes em defesa do Estado Democrático de Direito e, ao mesmo tempo, religar-se às suas bases para recuperar sua potência original.
    Há momentos do jogo nos quais a retranca é a melhor estratégia para a vitória.

  3. Sei não……acreditar que os golpistas vão entregar os anéis sem tentar novos golpes é dificil……

    E vem aí o premio dos velhinhos……vamos ver se eles vão afrontar o grande irmão do norte e premiar Lula, ou vão fazer o de sempre…..premiar a/o candidata(o) com o nome mais exotico…..se tiver uma repetição no nome então é hour-concours…….

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