Marcha acelerada para a convulsão social, por J. Carlos de Assis

Aliança pelo Brasil

Marcha acelerada para a convulsão social

por J. Carlos de Assis

Só os alienados não percebem que estamos caminhando celeremente para uma ditadura civil. Não é difícil ver os seus sinais: grandes manifestações de rua justificadas pela previsível reação de milhões de pessoas ao golpe que atrofiou a Constituição e derrubou uma presidenta legítima; alastramento dessas manifestações; prisões arbitrárias de manifestantes; bloqueio de todos os canais institucionais para o exercício da democracia, levando à revolta e ao desespero de grande parte da opinião pública; manipulação do Judiciário em favor do golpismo e da proteção de políticos da situação envolvidos com a Lava Jato.

Tudo isso está acontecendo agora, sob os nossos olhos. Mas há o que podemos prever para algum momento em futuro não muito distante: não é impossível que em alguma dessas grandes manifestações populares no país a repressão mate um ou dois participantes, ou talvez mais; não será surpresa que a ira sagrada pelos mortos levante manifestações ainda maiores; a pretexto de garantir a ordem pública a repressão passa a prender não 20 ou 30, mas centenas; daí para a frente é apenas um passo para a decretação do Estado de Defesa e eliminação das liberdades individuais por tempo indeterminado.

O processo transcorrerá com grande fluência porque, pelo menos na Câmara, o governo usurpador conta com larga maioria. Tem maioria também no Senado, mas neste caso por margem menor. A salvação da República, pelo menos num período intermediário até as eleições de 2018, poderá estar nos poucos senadores da situação que, por razões de consciência e espírito público, decidam bloquear as iniciativas governamentais mais extravagantes aprovadas na Câmara. Eventualmente, no caso de ampla convulsão social, é possível que os golpistas se livrem de Temer. Isso altera pouco o roteiro.

Se se livrarem de Temer neste ano, terá de haver, para manter as aparências de institucionalidade (e isso é essencial para assegurar a fidelidade dos militares), eleições diretas para presidente e vice. Pareceria ser uma coisa normal porque a rua já pede diretas-já. É um paradoxo. Os progressistas estão preparados para uma eleição direta para presidente e vice? Não apostem muito em Lula: as forças gigantescas que se aliaram para derrubar Dilma por cima da Constituição jamais permitirão a elegibilidade de Lula em termos normais. Talvez não o prendam por medo das consequências internas e internacionais. Mas certamente o condenarão exclusivamente para torná-lo inelegível nos termos da lei da ficha limpa. Tudo sob a aparência da legalidade.

Se Temer for empurrado até o ano que vem, e então derrubado pelos golpistas, será o caso de eleição indireta para um mandato complementar até 2018. Aí será o caso de escolher um candidato em eleições indiretas confiável aos golpistas, talvez do tipo de Fernando Henrique Cardoso, que aparecerá aos olhos dele mesmo e dos golpistas como o grande pacificador nacional. Claro, isso em nenhuma circunstância apaziguaria o país. O que iria requerer mais repressão, talvez mais mortes, e certamente mais ditadura civil, com muita gente, em consequência, decidindo ir para a clandestinidade, e daí até a guerra civil.

Esse comentário está longe de ser catastrofista. É puro realismo. Só escapamos desse roteiro se formos capazes de condicionar a forte emoção sob a qual todos estamos com um mínimo de racionalidade política. É preciso criar uma conexão entre as manifestações de rua e a maioria do Senado Federal, independentemente de partidos políticos, para evitar que este governo escale nos projetos de emenda constitucional mais aberrantes em termos de violação de direitos consagrados de cidadania. Se isso acontecer, certamente não teremos forças para propor medidas progressistas, mas podemos resistir a medidas regressivas. E teremos tempo para preparar adequadamente 2018 sob a bandeira da Aliança pelo Brasil e de outras forças progressistas!  

J. Carlos de Assis – Economista, professor, doutor pela Coppe/UFRJ, coordenador da Aliança pelo Brasil.

Redação

17 Comentários

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  1. Concordo plenamente . No

    Concordo plenamente . No momento que acontecer uma vítima fatal , como o Edson Luis do restaurante Calabouço em 1968 , o país pega fogo !!!!

  2. Marcha acelerada para a convulsão social

    É uma boa possibilidade.

    As forças repressoras agem nessse sentido, o exacerbar a comoção popular com atos violentos e fora do contexto. Prisões arbitrárias de manifestantes escolhidos no momento e agressões fazendo parte constante da repressão. Pretendem claramente amedrontar o povo.

    O povareu tem esquecido, na visão golpista, que lhe cabe apenas o trabalho, cada vez mais aviltado, e o pagamento de impostos numa legislação desde sempre injusta e antisocial.

    As instituições que deveriam por cobro a essa vandalização dos direitos civis se alia à narrativa ou discute o problema das pipocas, seguramente, a ver os tempos judiciais em nossas cortes superiores, bem mais importante do que examinar a realidade do país.

    Algum estudioso do clima talvez diga que nuvens escuras e pesadas rondam o país.Tempestades com fortes vendavais rondam a tropicália e raios trevosos espoucam no horizonte. E tudo se coordena para a lavagem de direitos civis e trabalhistas nos “melhoramentos” propostos e a redução do país aos tempos coloniais.

  3. Tá sendo tudo armado pra

    Tá sendo tudo armado pra trazer o Exército de volta, mais uma vez, pro miolo da confusão. Tudo!

    O que plantaram os barões da mídia e seus sabujos durante dez anos não ficará indelével na sociedade sem que mais loucuras sejam cometidas; e os golpistas foram exímios em darem o golpe, mas toda vida foram incapazes, e por isso incompetentes de dar substância à ele.

    Tão doidos pra tirarem o deles da reta arranjando algum otário que assuma a tarefa de reordenar as coisas, enquanto eles continuarão a ganhar dinheiro e aposar de democratas.

  4. Quem chegar hoje de uma
    Quem chegar hoje de uma viagem a longínquos cantoes chineses e desastrosamente deparar-se com o presente textinho – o enesimo disponível – pensará que multidões invadiram as ruas.

    Nada mais enganoso.

    O povo continua como sempre no seu mais puro estado bovino, nada aconteceu e só com muita sorte voltará a acontecer manifestações de fato gigantescas.

    Impressionante como nossos “intelectuais” se enganam tão facilmente acerca de nossa triste realidade.

  5. Mais direto e didático, impossível.

    Prezados,

    Em poucos parágrafos José Carlos de Assis resumiu o que está acontecendo e o que mais provavelmente ocorrerá em nosso País, nos próximos meses e anos. A assassina PM paulista, treinada e cevada para espancar e prender estudantes, professores e integrantes de movimentos sociais, teve (e talvez ainda tenha) como chefe o nazifascista, o pitibull hidrófobo de nome alexandre de moraes, colocado no ministério da ‘justiça’ pelo traidor-golpista-usurpador-corrupto profissional, michel temer. No recriado SNI o ‘mordomo de filme de terror’ colocou o general sérgio etchegoyen, único chefe miliatar a se colocar contra a CNV; esse general é filho, sobrinho-neto e neto de torturadores; na semana que passou ficamos sabendo que um agente infiltrado do exército – o capitão Willian Pina Botelho – preparaou uma armadilha para uum grupo de manifestantes que iam à Av. Paulista, protesatr contra o governo golpista; esse P2 fez com que 26 jovens fossem detidos pela PM paulista SEM QUE houvesse contra eles qualquer acusação ou suspeita de terem realizado qualquer ato que representasse risco à ‘ordem’ e segurança públicas; o grupo foi preso para ‘averiguações’, como acontecia na época da ditatura militar-civil-empresarial. O Brasil já vive sob uma diatadura.

  6. Outro dia a globo enfiou umas

    Outro dia a globo enfiou umas camisetas foratemer nuns meninos que foram tocar lá no programa da mulher do Willian Homer. Podem crer, a globo vai ficar nesse morde assopra com o Temer até o ponto de sugar tudo o que queria e quando ele cair vai fazer o mesmo que fez com o Collor, Sarney, etc. E os manifestantes irão comemorar na frente das câmeras da globo e darão até entevistas. Depois os tucanos assumirão definitivamente o governo, com eleições ou sem eleições. E os manifestantes desaparecerão por uns tempos, felizes com a derrubada do Temer, como se isso fosse uma vitória.

  7. Relembrando Joel.Um dos

    Relembrando Joel.Um dos momentos mais emocionante que tive,foi quando assisti ao vivo,Billy Paul cantando Mr and Mrs Jones no Madison Square Guardian.Informado fui que Waldik Soriano nunca deu as caras por lá.

  8. Guerra civil é uma

    Guerra civil é uma possibilidade real em qualquer episódio de sublevação da ordem publica, especialmente quando o país está dividido entre dois projetos políticos e o programa econômico dos novos dirigentes está fadado ao fracasso. Não existe como um projeto que depende da “confiança dos investidores” prosperar num país em plena convulsão social de consequências imprevisíveis. Ninguem sabe como estará o longo prazo para poder investir de maneira segura.

    Isto que não foi falado que o Brasil é o país com mais assassinatos, mais mortes de policiais e por policiais no mundo, país, onde apenas 5% dos crimes de assassinatos são investigados, onde 30% da população carcerária (500 mil pessoas num país de 200 milhões) não deveriam estar na cadeia,  onde 40% desta população é fruto de prisão preventiva (preso antes de ser julgado), onde um processo leva de 5 à 10 anos, onde mais de 100 milhões de processos estão em tramitação, onde a justiça é seletiva, pois orgãos como o STF tem permitido crimes de um grupo político enquanto pune atos legais dos adversários políticos

    Há movimentos sociais de peso e tempo de experiência, como MST (mais de 350 mil famílias) , via campesina, MTST (mais de 40 mil famílias) e afins, os quais ainda não participaram em peso das manifestações. Há todo tipo de hipocresia partindo dos novos donos do poder, que não foram capazes de criar nenhum rosto carismático e respeitado pela direita. Existe uma desconexão entre os membros de partidos golpistas (PSDB, PIG, PMDB), entre o que ocorre em Brasilía e nas demais cidades do país e entre a realidade e a imprensa que levam à erros de avaliação que podem ser fatais. Basta lembrar que no dia da revolução francesa Luís XVI disse em “hoje não aconteceu nada” , ou o famoso “Não há pão? Que comam bolo!”.

  9. Momentos difíceis

    Compartilho em muito com a análise de J. Carlos Assis.

    A luta pelo poder ficou escancarada entre setores da direita/extrema direita enquanto a esquerda soft se encontra acuada.

    O enfraquecimento conjuntural da esquerda permite delírios de poder para os diversos setores da direita/extrema direita, inclusive um enrustido setor militar, que sonham com um poder ditatorial. A única forma de tentar mantê-lo.

    É possível que o pós Temer traga outra figura, igualmente ilegítima e fraca, que dará lugar a outra e assim sucessivamente durante algum tempo.

    As classes dominantes, que criaram este país de desigualdades extremas, deixaram escapar entre os dedos uma raríssima oportunidade de promover uma transição lenta, gradual e segura para uma sociedade menos desigual.

    O ódio demonstrado contra Lula e o PT, a longo prazo, foi um tiro no pé desta classe míope. Para esta classe, Lula deveria ter sido considerado o seu  grande salvador e venerado em praça pública.

    A radicalização da direita, entretanto, trará uma radicalização de setores populares, atualmente com pequena organização, visto que até então foram contidos pelos governos petistas, com tendência a se sentirem igualmente livres para participar dessa briga escancarada e sem regras.

    O pacto obtido com a Constituição de 1988 tendo sido quebrado, vejo, com enorme temor, uma grande convulsão social no horizonte próximo, ameaçando, inclusive, a realização de eleições em 2018.

    E não dá para prever vencedores.

  10. Se isso acontecer, que é

    Se isso acontecer, que é provável, a culpa será única e exclusivamente do STF.

    COVARDES !! COVARDES !! COVARDES !!

    Não tenho nenhum respeito ou simpatia por esses senhores e senhoras arrogantes e participantes de um golpe.

  11. Hum…
    Infelizmente nosso

    Hum…

    Infelizmente nosso povão continua achando que este golpe é uma briga entre elites. Não estão nem aí. Os sindicatos pulverizados, muitos desempregados sem força para reação organizada, nem greve geral se pode esperar, tal o nível de fragmentação dos sindicatos.

    A curto prazo, não vejo saída. Ainda mais se sabendo que o golpe foi dado com total apoio daquele “titio dono do mundo”…

    Só me resta rezar. E muito.

  12. por que não o Lula?

    A defesa desta Aliança pelo Brasil não esconde o projeto personalista de Roberto Requião. Este senador nos enganou com suas promessas de 31 votos a favor de Dilma. A única coisa decente que poderia fazer era se desligar deste partido de patifes, com sua bancada enorme que ele ajuda a inflar. Deveria sair atirando e abrindo processos de cassação apenas com o que sabe, e por vezes insinua nos discursos, contra seus aliados salafrários.

    Requião condicionou seu apoio a Dilma à convocação de eleições somente para presidente. Dilma insistiu em eleições gerais com reforma política. Mas isso não era o que melhor servia para  os propósitos imediatistas do senador paranaense, admirado por seus adversários com o apelido de “maria louca”.

    1. É só reparar como o pig deixa

      É só reparar como o pig deixa o Requião à vontade. Requião sempre apoiou a farsajato, tendo o disparate de dizer que o juiz da globo havia votado na Dilma. Ele é do Paraná, não é?

  13. Bem vindos ao inferno
    INCRÍVEL, SEIS REPÓRTERES PARA IMPRIMIR UMA NOTICIA DESSAS EM NA QUAL O PRESIDENTE INTESTINO DE MERDA CRIA UMA NOVA FÁBULA: O CARLOS MAGNO, IMPERADOR DE ROMA NO SÉCULO 9 E OS DOZE CAVALEIROS DA TÁVOLA REDONDA, DO LENDÁRIO EPISÓDIO QUE ENVOLVE O REI ARTUR DO SÉCULO 5, DA GRÃ-BRETANHA!!! EITA BOÇALIDADE!!! Bem vindos ao inferno. Bienvenido al infierno. Welcome to The Hell.> https://gustavohorta.wordpress.com/2016/05/12/bem-vindos-ao-inferno-bienvenido-al-infierno-welcome-to-the-hell/ ”Regozijo? Alguns, certamente.Até na favela perto de casa, alguns fogos e comemorações. Traficantes comemoram a liberdade da “iniciativa privada”; seus líderes no poder.Só que não! Quem sentirá o retrocesso somos nós, o povo brasileiro.Os golpistas traidores e sabotadores, serão satanás.O inferno será o nosso. O inferno será todo nosso. Eles são o próprio demo.De agora em diante, viveremos uma demo-cracia, como já o fora antes!“Aos vencedores, o inferno – Fernando Morais …”

  14. Depois do primeiro tiro, só Deus sabe.

    Acho que todas as especulações após um primeiro tiro tem toda a tendência de darem erradas.

    O quadro traçado pelo autor do texto até o primeiro tiro e o primeiro morto está perfeito, porém daí por diante as coisas mudam de figura. simplesmente porque o Brasil mudou. Muitos pensam que 1964 pode ser reproduzido no seu lado mais negro da repressão, pulando etapas e partindo para um 1968 só que com roupagens constitucionais e civis.

    Aí vem o grande engano, a figura de Temer não tem a mínima condição de suportar um endurecimento da política de repressão e mesmo que este venha ser substituído por outro qualquer, não se vê no horizonte nenhuma figura que possa assumir esta posição.

    Em 1964 com as massas em descenso causadas pela própria confusão do governo Jango que se mantinha a partir de um sindicalismo com sindicatos mas sem sindicalizados, permitiu que houvesse um arranjo institucional que a cada dia se tornava mais tênue mas que as forças da repressão que era seletiva e organizada conseguisse manter o poder.

    Além disto tudo não havia na época nenhum contraponto popular que não estivesse na cadeia ou exilado, atualmente se forem empregar o mesmo esquema de repressão, esta deverá ser muito mais ampla e contando com algo que não havia em 1964, o ódio explícito e agora não velado das forças de repressão.

    No Brasil dos dias atuais há milhões de pessoas que apesar de terem um grau de politização mínimo, tem uma consciência que a polícia brasileira é o seu algoz e não um aliado para horas difíceis. Em 1964 a população urbana que sofre a repressão da policia no Brasil era menor do que a atual. Se fizermos uma pequena enquete sobre jovens e jovens adultos trabalhadores da periferia que já foram para a “parede” em processos de identificação ilegais e truculentos, podemos sem medo de errar estimar algo na ordem de algumas dezenas de milhões.

    Aí que está a grande diferença, em 1964 as pessoas do interior estavam migrando para as grandes cidades, e como migrantes recentes conservavam aspectos de submissão que foram forjados durante mais de 300 anos de repressão das oligarquias rurais. Nos dias atuais estamos na segunda ou terceira geração de pessoas que não possuem o mesmo grau de submissão que apresentavam os trabalhadores do campo.

    Por outro lado estes componentes da nova geração proletária brasileira tem uma capacidade de se informar muito mais rápida do que no passado, e se o discurso for correto pode-se contar com a força destes milhões de pessoas.

    Algumas organizações que se dizem revolucionárias de esquerda levantaram desde muito um discurso ambíguo quanto ao PT, classificando-o como um partido de direita! Porém o processo que vai ocorrer no Brasil se os golpistas como num passe de mágica consigam não entrar em conflito com o povo em geral, algo que teria que ser feito não aplicando a pauta liberal que se avizinha, rapidamente o PT assumirá a seu último protagonismo na história brasileira, o de retorno a sua política que se não for modificada será tragado por discursos mais reformistas.

    O que vejo simplesmente é que se houver o primeiro tiro, os rumos da sociedade brasileira estarão definidos, só restando saber o tempo que estes rumos tomarão um caminho de libertação do povo brasileiro.

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