Moro, criminoso, diz articulista de jornal português

Se bem conhecemos o povo brasileiro, a mentira e a manipulação não serão o fim desta história, diz o articulista do jornal português.

Foto O Globo

do Público

Moro, criminoso

por Pedro Filipe Soares

Se bem conhecemos o povo brasileiro, a mentira e a manipulação não serão o fim desta história.

 

Os diálogos divulgados mostram a enorme promiscuidade entre juiz e procuradores. Moro aconselha estratégias, dá dicas ou pistas, até chega a repreender o procurador chefe por falhar o calendário mediático. Por seu lado, o procurador partilha informação com o juiz, manobra para que o caso lhe vá parar às mãos, confidencia a falta de provas concretas e inequívocas, faz propostas para serem negadas e manter uma aparência de separação de poderes. Neste jogo encenado o resultado já estava combinado. Não houve um processo para chegar a uma acusação e a um veredito, existiu um veredito primordial e uma acusação montada num processo que lhe servia à medida. Lula da Silva estava condenado à partida.

A trama dá conta de um pensamento que faria inveja a Maquiavel. A cartilha populista está bem urdida, demonstrando o que significa levar à prática a ideia da “justiça em praça pública”. A personagem do justiceiro é sempre uma das mais acarinhadas, Moro sabia disso e desejava-o. Da mesma forma, Deltan Dallagnol (o procurador que chefiava a equipa da Lava-Jato) sabia que a suspeição de corrupção é o suficiente para criar um clima de dúvida, pensa-se que “onde há fumo há fogo”. Quando se alinhou com estes ingredientes a agenda dos grandes grupos económicos da comunicação social, ficou visível a imensa capacidade de manipulação de milhões de pessoas. “A opinião pública é decisiva e é um caso construído com prova indireta e palavra de colaboradores contra um ícone”, dizia um dos procuradores explicando como a condenação pública era parte fundamental da estratégia.

A agenda política é inegável. O caso mais caricato foi o da possibilidade de Lula da Silva dar uma entrevista antes da segunda volta das eleições brasileiras. Uma conferência de imprensa “antes do segundo turno pode eleger o Haddad”, conversaram entre si os procuradores. Por isso, tudo fizeram para tal ser impossível, num desespero épico como demonstram as mensagens. A entrevista não aconteceu e Bolsonaro teve o caminho desimpedido para a presidência, o plano deu certo dessa vez.

O que também fica claro é a dimensão da mentira. Por um lado, na atuação de Moro. “Vamos colocar uma coisa muito clara, que se ouve muito por aí que é a estratégia de investigação do juiz Moro. […] Eu não tenho estratégia de investigação nenhuma. Quem investiga ou quem decide o que vai fazer é o Ministério Público e a Polícia [Federal].” Por outro lado, nas afirmações de Deltan Dallagnol, quando disse que “o trabalho do MPF [Ministério Público Federal] na Lava-Jato é técnico, imparcial e apartidário” e garantia sobre Moro que “sempre avaliou os pedidos do Ministério Público de modo imparcial e técnico”. Tudo parte de um imenso golpe, agora se percebe sem quaisquer dúvidas.

As feridas abertas no Brasil são profundas. Houve casais que se separaram, famílias que deixaram de se falar e amizades que se desfizeram tal foi a polarização que esta mentira provocou na sociedade. Numa primeira análise, o golpe parece ter resultado, Moro é ministro e Bolsonaro o Presidente que segue indiferente, condecorando Moro num ambiente de desrespeito pelos direitos humanos. A Constituição não se cumpre no Planalto. Mas, se bem conhecemos o povo brasileiro, a mentira e a manipulação não serão o fim desta história.

Presidente do Grupo Parlamentar do Bloco de Esquerda

Redação

10 Comentários

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  1. Neste jogo encenado o resultado já estava combinado.
    Não houve um processo para chegar a uma acusação
    e a um veredito, existiu um veredito primordial e uma
    acusação montada num processo que lhe servia à medida.

    Lula da Silva estava condenado à partida.
    síntese e um tempo blasfemo e infame;
    revelado agora mas denunciado durante
    todo esse tempo por muitos que desconfiavam,
    desconfiaram, desconfiam dessa tal justiça que
    engambelou o povo em conluio com a
    grande midia golpista, sempre insana
    – uma nau dos insensatos pior do que aquela
    revelada com maesrtria na obra de sebastian Brant…

    1. também penso dessa forma…
      normal seria recusar a denúncia de imediato, mas, veja bem, de repente ela nem existia ainda

      estava sendo fabricada juntamente com a acusação

      a concentração em um só juiz foi pra isso mesmo, poder escolher o que aceitar, o que corrigir, e o que recusar

      o julgar é apenas um detalhe que não vem ao caso, como diriam, e disseram

      o que mais preocupa é tal amadorismo, para não dizer putaria jurídica, poder entrar e sair do STF como exercício legal da função

  2. Antes de chamar uma pessoa de bandido, todo cidadão deve aceitar a presunção de sua inocêcia mediante à provas apresentadas. Quais foram as provas? Diálogos que não passam por perícia para atestar sua veracidade?
    Veja como isso se torna muito, mas muito perigoso:
    1. Amanhã poderão dizer qualquer coisa, a cerca de qualquer pessoa, usando como base denúncia anônima não comprovada e já será o bastante para incriminar qualquer um de nós. Se está sendo o bastante para por em cheque a imagem de alguém que até dias atrás era intocável, imagine nós cidadãos normais.
    2. O ex-presidente Lula foi denunciado com base em relatos também, mas com provas documentais, vídeos, fotos, acareações e anos de processo legal, além de várias instâncias. Dizer que há qualquer semelhança não está correto.
    3. Esta situação precisa-se ser periciada, E SE, for verificado real conduta inapropriada, deve-se ter o rigor da lei para tais casos. Não houve nem qualquer denúncia de qualquer pessoa ou instituição usando tais mensagens.

    1. É tudo armação da velhinha de Taubaté, hein?
      Verdadeiros e isentos, mesmo, foram os procedimentos fraudulentos utilizados por um criminoso que praticou o “Lawfare”, na sua acepção mais degenerada!
      Vamos à frente, porque o conteúdo divulgado, corresponde a percentual ínfimo em relação ao todo!
      E isso é ótimo e, será por demais esclarecedor, mesmo sendo estarrecedor!

  3. Moro e sua a turma conspiraram.
    Desde o comeco rasgaram a constituição, ignoraram as regras do direito e tripudiaram sobre a defesa de Lula e, utilizando um sistema de fofocas pingadas, inviabilizaram perante a opiniao publica qualquer chance que Lula demonstrasse sua inocência.
    Afinal, do jeito que moldaram a opiniao pública, se levassem papel higiênico usado e afirmassem que foi utilizado por Lula ou por alguem de sua familia serviria como prova.
    Toda esta ignomínia era orientada por procuradores de outro pais e referendada criminosamente pela mídia, que protegia seus interesses particulares.
    Todas estas ações rasteiras, com inestimável auxilio das fake news, desembocaram nesta tragédia de governo que estamos acompanhando.
    Mas, volto a afirmar; todo povo tem o governo que merece.

  4. Como resultado, o Partido da Justiça do Brasil entra de vez para o rol das instituições corruptas e as funções de estado do Judiciário e da Magistratura devem perder , no futuro, suas prerrogativas!
    Serginho Narciso Moro e Deltan Dallagnol vão afundar o sistema de justiça e atividades conexas!
    A história vai condenar o Judiciário e inocentar LULA!
    Lula inocente – Lula Livre!

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