Nelson Mandela no cinema, por Walnice Nogueira Galvão

Nelson Mandela no cinema, por  Walnice Nogueira Galvão

Para elaborar a saga do combate ao apartheid, toda uma floração de filmes contou com muitos e bons livros como ponto de partida.

Esses livros trazem biografias de Nelson Mandela, de sua esposa Winnie e dos grandes líderes de seu partido, o Congresso Nacional Africano, que o antecederam. São eles Albert Luthuli (Prêmio Nobel da Paz); o chefe Susuli; Oliver Tambo, que foi o braço internacional e passou 30 anos de sua vida no exílio arquitetando o apoio logístico mundial para a luta interna; e o arcebispo Desmond Tutu (mais um Prêmio Nobel da Paz). Ou, entre os mais novos, Tabo Mbeki, presidente que sucedeu a Mandela.

Reconstrução de vida é o filme Mandela – Longo caminho para a liberdade (2013), com Idris Elba como protagonista, uma produção África do Sul/Inglaterra.

Entre os documentários, há um francês, Mandela, au nom de la liberté (2009), produzido por France 2 para a TV5 Monde. Dos Estados Unidos, em parceria com a África do Sul, veio Mandela, um grito de vitória (Mandela, son of Africa, father of a nation) (1997), que mostra o percurso do líder desde a infância até a presidência, com material de arquivo bem selecionado e bela trilha sonora com músicos sul-africanos. Outro provém da África do Sul: Doze discípulos de Nelson Mandela ( 2005), que traz entrevistas com os doze amigos que fundaram o Congresso Nacional Africano. Ao fim de várias décadas de lutas, o partido derrubaria o apartheid e elegeria o primeiro presidente negro do país.

Também sul-africano, mas de ficção, é No futebol, nasce uma esperança (More than just a game) ( 2007). Na prisão de Robben Island, ao tempo do confinamento de Mandela, presos políticos reivindicam a formação de um time de futebol. No processo, aprendem uma lição de democracia, pela necessidade de representar e acatar as diferentes facções em que se dividem; e de respeito à Constituição: as mesmas regras para todos.

Em Mandela – Luta pela Liberdade (Goodbye Bafana) (2007), um carcereiro branco racista, guarda de Mandela ao longo de muitos anos, aprende a admirá-lo e se torna seu amigo. Com Joseph Fiennes e Dennis Haysbert. Há também um documentário chamado Nove Vidas: Mandela, que tem como pontos altos entrevistas com Christo Brand, o carcereiro que privou de sua amizade por 19 anos. Traz outras boas entrevistas com uma das filhas e com De Klerk, o presidente da África do Sul que chefiou as negociações com Mandela.

Em Invictus (2009), Clint Eastwood na direção mostra como Mandela soube utilizar a realização em terras da África do Sul da copa mundial de rugby, esporte de brancos, para operar a integração racial e a unificação de um país dividido, em torno de uma mesma causa esportiva nacional. É eletrizante a cena em que Mandela desce de helicóptero no estádio apinhado no dia do jogo decisivo e cumprimenta os jogadores um a um com um aperto de mão, vestindo a camisa do time dos brancos. Com Morgan Freeman que, portando uma dignidade semelhante à de Mandela, atinge uma de suas melhores encarnações, e Matt Damon como o capitão do time. Em tempo: os sul-africanos ganharam o jogo e a copa.

Sobre a trajetória extraordinária e trágica da esposa de Mandela já há dois filmes. Um é Winnie Mandela (Mrs. Mandela) (2010), com Sophie Okonedo, grande atriz que trabalhou em Hotel Ruanda, e David Harewood. Menos feliz é outro com Jennifer Hudson e Terence Howard, sob a direção do mesmo Darrell Roodt que dirigiu o clássico Cry the beloved country (1995), baseado no também clássico romance homônimo. Devemos a esse diretor sul-africano outros precoces filmes anti-apartheid.

O Brasil, quem diria, não ficou de fora. Ao terminar seus 27 anos de prisão quebrando pedras em Robben Island, Mandela fez uma grande turnê pelo mundo, sendo recebido com festas em toda parte. Passou por aqui, onde Joel Zito Araújo, ativista do movimento negro, autor de valiosos livros e filmes contra o racismo, não perdeu a oportunidade fora do comum de registrá-lo em nossas terras, no documentário São Paulo abraça Mandela (1991).

Walnice Nogueira Galvão é professora emérita da USP

Walnice Nogueira Galvão

2 Comentários

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  1. Mandela Brasileiro


    Lula deve receber o prêmio intitulado ” Mandela Brasileiro “.

    Construiu 14 muros contra o Apartheid Social. Universidades Públicas Federais + centros técnicos.

    Esse faz a diferença !

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