Izaias Almada
Izaías Almada é romancista, dramaturgo e roteirista brasileiro nascido em BH. Em 1963 mudou-se para a cidade de São Paulo, onde trabalhou em teatro, jornalismo, publicidade na TV e roteiro. Entre os anos de 1969 e 1971, foi prisioneiro político do golpe militar no Brasil que ocorreu em 1964.
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O Brasil amarelou…, por Izaías Almada

Ilustração: Lutuff/Sul21

por Izaías Almada

O BRASIL AMARELOU…

…mas não por causa da Copa do Mundo em Moscou. Amarelou ao admitir que um governo de salafrários usurpasse o poder através de um golpe de estado e, passados dois anos, caminhássemos para novas eleições presidenciais como se nada tivesse acontecido.

Avaliar a atual conjuntura política brasileira ou fazer uma tentativa pelo menos nesse sentido, até mesmo ingênua, é quase que um exercício de adivinhação, pois o cenário à nossa volta é confuso, inseguro e, em vários aspectos, perverso.

 Seguimos no dia a dia vendo o país empurrar com a barriga cada vez mais os incontáveis problemas surgidos em todas as áreas de atividade.

Tomemos um pequeno exemplo, cujas dimensões nada pequenas, aliás, extrapolam a compreensão de grande parte da população brasileira: a Petrobrás.

Que legitimidade e autoridade tem o governo golpista, cujo comandante é apontado como meliante, apropriador de recursos públicos há dezenas de anos, uma espécie de Dom Corleone do porto de Santos, para destruir uma das maiores empresas mundiais?

Saberão os brasileiros realmente o que significa uma empresa como a Petrobrás? Sua importância como detentora de uma fonte de energia que, pelos vistos, ainda perdurará por muitos anos? A possibilidade que ela oferece ao país de ser independente e soberano?

Mais: saberá o brasileiro o significado de viver num país independente e soberano? A começar pelos cidadãos que passam por seus poderes executivo, legislativo e judiciário e que, no mais das vezes, fazem disso um cabide de empregos e de negócios em benefício próprio?

Se perguntarmos a um deputado, a um senador, a um juiz de qualquer instância, à maioria deles, o verdadeiro significado da sua função profissional e social, poucos saberão responder com real conhecimento de causa.

Ao sabatinarmos a muitos dos nossos atuais integrantes do legislativo, do executivo e do judiciário, muito provavelmente o conhecimento que irão demonstrar se, por exemplo, o fizerem por escrito, mal caberá em meia dúzia de confetes.

Por todos os cantos da nação há no ar um conjunto de perguntas que não querem calar, a maioria delas quase a nos sufocar pelo mal estar que causam à democracia, pelo despudor de revelar a canalhice que se vê estampada na postura e no deboche da ação de um juiz que se pretende uma vestal, paladino da anticorrupção, mas capaz de com ares de um jeca subdesenvolvido visitar o principado do Mônaco, paraíso fiscal e protetor de grandes maracutaias financeiras internacionais; ou capaz de mandar um inocente para a cadeia e alegar “excesso de trabalho” para não se envolver com seus colegas meliantes do PSDB.

Afinal (e nunca é demais repetir e refletir sobre a questão) por que Lula está preso e Fernando Henrique Cardoso lépido e solto para destilar sua sociológica ignorância e pusilanimidade sobre o país?

Por que José Dirceu está preso e uma quadrilha como a formada por Aécio Neves, José Serra, Aloysio Nunes e Michel Temer e outros mamadores do erário público, lépida e solta, debocha de cada cidadão brasileiro, sobretudo dos desempregados?

O rancor e a fúria com que o DEM, o MDB e o PSDB destruíram o país em dois anos, destilando ou ajudando a destilar o ódio entre brasileiros através da imprensa, com a imensa e impatriótica ajuda de um canal de televisão a explorar criminosamente uma concessão do estado, não faz qualquer sentido. A não ser é claro, para aqueles que até hoje hipócrita e antidemocraticamente, atuam em benefício próprio e ainda não se deram conta de que o mundo mudou e não estamos mais no século XIX, muito embora a sensação, por vezes, é de que voltamos de fato, sobretudo aqui no Brasil ao século XVIII.

Contudo, crises políticas acabam por parir soluções que podem surpreender os que delas participam ativamente ou se omitem. Dos que a produzem para saciar sua ganância e vaidade, como daqueles que a ignoram e, como os avestruzes, enfiam a cabeça nos buracos da covardia.

https://www.youtube.com/watch?v=ycIunOYH7bY width:650 align:center

Izaias Almada

Izaías Almada é romancista, dramaturgo e roteirista brasileiro nascido em BH. Em 1963 mudou-se para a cidade de São Paulo, onde trabalhou em teatro, jornalismo, publicidade na TV e roteiro. Entre os anos de 1969 e 1971, foi prisioneiro político do golpe militar no Brasil que ocorreu em 1964.

5 Comentários

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  1. Realmente. Somos um povo

    Realmente. Somos um povo medíocre, ignorante e covarde. Temos a servidão em nosso DNA.

    Meu único alento nesse caos é que merecemos isso tudo por nossa conivência com o golpe, portanto, algum princípio de justiça (mesmo que torta) continua existindo.

    E hoje posso dizer com traquilidade: se o Brasil deixar de existir, o mundo não perde muita coisa. Quem sabe alguma nação de verdade nasça dessa tragédia… Veremos.

  2. O Brasil está sendo atacado

    O Brasil está sendo atacado por forças externas com apoio total da burguesia nacional.  É insuficiente qualquer análise do cenário político interno que não leve em conta a geopolítica mundial.

  3. O Brasil não está

    O Brasil não está representado por quem está nos poderes brasileiros.

    A propósito, sejam quem forem os próximos eleitos tanto para o legislativo quanto para o executivo, a primeira tarefa deveria ser chamar as pessoas para participação nas decisões políticas, fazê-las gostarem de cuidar do que é delas (seus, nossos), a saber, o Brasil.

    Claro que quanto mais à “direita” forem esses eleitos, menos farão isso. Ao contrário, mais “venderão” a Política e a cidadania às pessoas como se fosse futebol, carnaval, “Brasil, ame-o ou deixe-o”, e outras bobagens que-tais. Impressionante a vontade que a “direita” tem de que as pessoas se alienem do que é de si próprias, né? Como a “direita” rouba!

  4. Ontem foi publicado o

    Ontem foi publicado o Provimento 71 do CNJ, que está sendo chamado de Provimento da Mordaça, prevendo controlar redes sociais de servidores e magistrados. Vocês acham que as pessoas punidas vão ser mais parecidas com aquela desembargadora que falou absurdos de uma professora portadora de Down no RJ, ou a turma progressista do Justificando? O blog poderia acompanhar isso, porque não é pouco o que vem aí. Parece que voltamos ao século 19, onde havia mão de ferro dos donos da sociedade, a crítica pública aperfeiçoadora do sistema era restrita aos barões, e a nossa democracia não era grandes coisas.

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