O Brasil no mês do “cachorro louco”, por Guilherme Santos Mello

 
Guilherme Santos Mello | Via Brasil Debate 

O mês de agosto é popularmente conhecido como o “mês do cachorro louco”. Apesar de a alcunha estar ligada ao fato de o mês de agosto registrar uma maior quantidade de cadelas no período fértil (o que deixaria os machos “loucos” atrás delas), é fato que diversos eventos políticos marcantes tiveram lugar neste fatídico mês: Desde o início da primeira grande guerra e a ascensão de Hitler ao cargo de Fuhrer, no âmbito internacional, até o suicídio de Getúlio Vargas, a morte de JK e a deposição de Collor, na política brasileira.

Efetivamente, para a política nacional, o mês de agosto de 2015 será um teste de fogo, com grandes obstáculos a serem superados pelos seus principais atores.

Em primeiro lugar, é o mês em que devem ocorrer as primeiras denúncias políticas da Operação Lava Jato, que devem abarcar políticos de vários partidos e cargos, atingindo particularmente o presidente da Câmara dos Deputados Eduardo Cunha e o senador Fernando Collor de Mello, podendo também alcançar nomes como o do presidente do Senado Renan Calheiros.

A incerteza acerca dos denunciados tem criado um cenário de “salve-se quem puder”, onde figuras personalistas e raivosas como Cunha tendem a ganhar simpatia dos possíveis denunciados.

Em segundo lugar, porque é o mês para o qual está marcada uma manifestação contra o governo Dilma, defendendo o impedimento da presidenta. Esta manifestação, apesar de ser apenas mais uma dentre as variadas que já foram tentadas, deve receber atenção especial da imprensa por estar sendo protagonizada pelo principal partido oposicionista, o PSDB, que utilizará seu tempo de televisão para convocar a população às ruas em defesa do golpe.

Apesar de várias vozes dentro do partido criticarem tal iniciativa, o senador Aécio Neves, em sua saga de negação da derrota eleitoral, levará seu partido a abraçar as forças golpistas que se fazem presentes no atual cenário político nacional.

Por fim, o mês de agosto marcará o retorno do Congresso Nacional às atividades, com uma série de “pautas bomba” para o governo: desde a aprovação de CPIs que devem servir de palanque para adversários proselitistas (como é o caso da CPI do BNDES), até o possível encaminhamento de pedidos infundados de impeachment, insuflados pela baixa popularidade da presidenta e pelas eventuais manifestações de rua.

Além disso, o governo enfrentará duras batalhas legislativas, tanto para aprovação de medidas de seu “pacote fiscal”, quanto pela aprovação da redução da meta fiscal, que, caso não aprovada, poderá levar o governo a ter que recorrer a manobras fiscais condenadas nos últimos anos.

Finalmente, o TCU e o TSE devem julgar as contas do governo e da campanha da presidenta Dilma, respectivamente, possibilitando o surgimento de mais munição para os defensores do golpe.

Do ponto de vista da economia, o mês de agosto deve marcar o pior momento da recessão, com a divulgação de dados negativos de junho e julho, particularmente no que diz respeito ao emprego e a atividade.

A crise política provocada pela Lava Jato, em conjunto com os efeitos contracionistas da política econômica atual, criaram um cenário de “crise orgânica” no capitalismo brasileiro, uma combinação de crise política e econômica que provoca fraturas sociais e impede o avanço desassombrado do processo de acumulação.

Ao invés de reverter a tendência de deterioração da confiança dos empresários e consumidores, as medidas de superação da “crise fiscal” aprofundaram as problemas que originaram o discurso em defesa do “ajuste”, colocando o país numa espiral contracionista de difícil superação.

Apesar dos riscos que agosto trará e do cenário negativo aqui desenhado, é possível que a crise traga consigo oportunidades, para se valer de outra máxima da sabedoria popular. Caso o governo consiga sair razoavelmente ileso das denúncias da Lava Jato e dos julgamentos de suas contas, é possível que o clima político saia da total incerteza que existe hoje para um campo mais definido, no qual se saberá com maior clareza quem estará fortalecido e enfraquecido.

O eventual enfraquecimento e até afastamento do presidente da Câmara poderá destensionar as relações entre Executivo e Legislativo, facilitando a aprovação de projetos de interesse do Planalto e reduzindo o risco de avanço dos pedidos infundados de impeachment.

Por fim, a comprovação de que a estratégia de ajuste fiscal e monetário, da maneira que está sendo encaminhada, não traz consigo nenhum elemento capaz de dinamizar a economia brasileira e resolver os problemas que se propõem, pode se mostrar preponderante para o governo analisar estratégias alternativas que se colocam e colocarão à disposição da presidenta.

Devemos esperar algum alívio do setor externo (dada a desvalorização cambial) e uma gradual retomada da confiança dos consumidores, devido à desaceleração da inflação no segundo semestre. Estes elementos, somados a uma mudança na postura do governo na política econômica e ao arrefecimento da crise política, serão decisivos para garantir a retomada do crescimento econômico nacional em um futuro não muito distante.

Em um cenário tão conturbado quanto este que se aproxima, a reorganização da base política do governo passa necessariamente pela sinalização de mudanças nos rumos da estratégia de governo, que viabilizem a reconciliação do governo petista com suas bases de sustentação social.

Insistir na estratégia atual de promover concessões aos setores oposicionistas e com inclinações golpistas não será suficiente para criar o cenário de estabilidade política necessária para a retomada do crescimento econômico.

 

Redação

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