Andre Motta Araujo
Advogado, foi dirigente do Sindicato Nacional da Indústria Elétrica, presidente da Emplasa-Empresa de Planejamento Urbano do Estado de S. Paulo
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O desastre do Brexit na conta do populismo, por Andre Motta Araujo

O resultado inesperado do referendo liquidou com a carreira política do esperto Cameron e abriu espaço para um populista de direita da pior espécie, o apalhaçado Boris Johnson

O desastre do Brexit na conta do populismo

por Andre Motta Araujo

Não tem como dar certo. O BREXIT é um daqueles eventos que produzirá estragos e prejuízos certos sem qualquer contrapartida visível. Produto de um referendo MAL EXPLICADO aos votantes, inventado por um político menor para consolidar seu domínio sobre seu próprio partido, sem que ele ou seus eleitores tivessem feito um cálculo elementar de perdas e ganhos dessa iniciativa.

O próprio David Cameron NÃO esperava que, no referendo, o BREXIT ganhasse. Ele era pela permanência do Reino Unido na União Europeia. O referendo foi apenas uma jogada para vencer seus inimigos internos no Partido Conservador e consolidar sua liderança dentro do partido. Uma “jogadinha” que levou o Reino Unido a um desastre histórico onde não tem como ganhar.

O resultado inesperado do referendo liquidou com a carreira política do esperto Cameron e abriu espaço para um populista de direita da pior espécie, o apalhaçado Boris Johnson, este sim favorável ao BREXIT, que pode levar à implosão do Reino Unido, com o separatismo da Escócia e da Irlanda do Norte, que NÃO querem sair da União Europeia. Poucos atos voluntários na História causaram tanto estrago a um País, uma absurda coletânea de erros.

UMA SOMA DE ERROS COMBINADOS

A insensatez do BREXIT nos leva a comparações históricas quando uma combinação de erros, jogadas de ocasião, acasos e acidentes levam a um desastre.

A PRIMEIRA GUERRA MUNDIAL é um exemplo. Não havia razões objetivas para o grande conflito. O mundo vinha de um século de progresso técnico, social e econômico, a “belle époque” no seu esplendor, as nações novas crescendo e incorporando populações ao progresso geral.

Um incrível encadeamento de acidentes, desatinos, previsões erradas, vaidades e jogos políticos mal calculados deu início ao maior conflito da humanidade até então, do qual decorreu a queda de quatro impérios, o Austro Húngaro, o Russo, o Alemão e o Otomano, uma grande Revolução, a Soviética, morte de 50 milhões de pessoas, destruição de cidades, monumentos, agricultura, malha ferroviária e as sementes de um segundo grande conflito. A historiadora americana Barbara Tuchmann em seu brilhante livro A MARCHA DA INSENSATEZ narra o encadeamento de erros de cálculo absurdos que deu início à Primeira Guerra.

O BREXIT nos faz recorrer a essa memória histórica. Não havia nenhuma razão objetiva que justificasse o BREXIT, cuja conta será imensa, a saber:

1.LONDRES DEIXARÁ DE SER A CAPITAL FINANCEIRA DA EUROPA

2.O REINO UNIDO PODERÁ PERDER A ESCÓCIA E A IRLANDA DO NORTE

3.A UNIÃO EUROPEIA RESPONDE POR METADE DAS EXPORTAÇÕES BRITANICAS E DEVERÁ IMPOR BARREIRAS

4.DOIS MILHÕES DE BRITANICOS QUE MORAM NA EUROPA TERÃO QUE PEDIR VISTO DE RESIDÊNCIA E PERDERÃO COBERTURA DE SAÚDE DA UE.

5.O REINO UNIDO PODERÁ SE TORNAR PROTETORADO DOS EUA PARA NÃO FICAR ISOLADO, NÃO SERÁ UM IGUAL, COMO NA EU, MAS UM INFERIOR.

Isso no macro, no micro os britânicos terão barreiras para cargas e pessoas circularem no Continente e os europeus idem, prejudicando o turismo na Inglaterra, grande fonte de renda para a economia britânica, mais uma infinidade de outros problemas e barreiras, uma real perda de vantagens.

NÃO HÁ COMO O REINO UNIDO GANHAR COM O BREXIT MAS BORIS JOHNSON JÁ GANHOU, O POPULISMO É LUCRATIVO PARA OS POPULISTAS

AMA

Andre Motta Araujo

Advogado, foi dirigente do Sindicato Nacional da Indústria Elétrica, presidente da Emplasa-Empresa de Planejamento Urbano do Estado de S. Paulo

9 Comentários

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  1. Fico tentando imaginar o que se passa na cabeça de Elizabeth II (acabei de ver a terceira temporada de the Crown ). Deve pedir a todo dia para São Jorge que morra antes de entrar na história como a rainha que deu início o Reino DesUnido. Creio que se fosse permitido ela usar o seu poder, ela expulsaria Boris do Reino Unido.

  2. Prezado André
    Há outro grande livro que fala da 1° Guerra Mundial: os sonâmbulos, de Christopher Clark; que fala de como os erros foram potencializados pelas políticas de alianças

  3. Ótimo texto, André.
    “Nunca tão poucos ganharam tanto a custa de tantos”….
    A oliguarquia se “empanturra” no final, e sempre.
    A city continuará sua lavagem de grana.
    E o povo inglês vai pagar o pato. E pagar bem.
    Um abraço!

  4. Vão ter de comer na mão do politco mais impiedoso e inconfiavel a aparecer na america em muitas décadas. Não vai cumprir nenhum acordo se achar que não vai ganhar o suficiente. Os britânicos vão ficar na rua da amargura.

  5. André, tem um ponto extremamente importante que não falaste nada.
    O Reino Unido é a maior lavanderia do Mundo, se os europeus quiserem simplesmente bloquear o ímpeto dos ingleses e reduzi-los a pó, é só fazer uma legislação um pouquinho restritiva as fugas de capital para o Reino Unido, nada de excepcional, uma legislaçãozinha básica. Se fizerem isto a Citi desmorona e o centro financeiro passará para outros países da Europa continental, Alemanha, França, Luxemburgo até Portugal.
    A indústria Inglesa está falida já há muito tempo, recursos naturais não existem, mão de obra, tão pouco, o seja, é Uma Crônica de uma Morte Anunciada.

  6. A insanidade de políticos oportunistas levam a destruição da sua própria casa. O povo lá como cá vai na conversa fácil destes alejões que campeiam pelo mundo afora.

  7. Preocupado com a Inglaterra? Olhe para seu umbigo e veja o grande erro histórico que foi a eleição de um despreparado, segundo o Gal. Heleno. Brasil jamais se recuperará dessa lambança irresponsável. Inglaterra é problema dos ingleses.

  8. Acabou a UK! A possibilidade da Escócia se tornar uma república é algo concreto, e na Irlanda do Norte os saudosos do Ira x Unionistas terão sua vez. Até possível que o pipeline financeiro para os separatistas irlandeses floresça novamente em Nova York e na Filadélfia.
    Boris e Cameron serão sepultados pela História no grande rol dos medíocres.

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