Armando Coelho Neto
Armando Rodrigues Coelho Neto é jornalista, delegado aposentado da Polícia Federal e ex-representante da Interpol em São Paulo.
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O golpe está nu, mas Dallagnol e Moro ainda estão de bermudas, por Armando Coelho Neto

O golpe está nu, mas Dallagnol e Moro ainda estão de bermudas

por Armando Rodrigues Coelho Neto

Depois do “Caso Aécio”, quem me chamou de doutrinado virou pó. Este seria o título daquilo que seria o texto de hoje, movido por mais um controvertido capítulo daquela que, não se sabe a razão, ainda chamam de Corte Suprema. Seria sobre o retorno de Aécio Neves (PSDB) ao senado, de onde, por princípio constitucional, não deveria ter saído. Pelo menos no que diz respeito à forma, devido à clara invasão de poderes. Bom lembrar que há pouco tempo, a mesa diretora do Senado ignorou ordem do ministro Marco Aurélio Melo e não afastou Renan Calheiro (PSDB), que não arredou o pé e nem foi arredado de onde estava. Sim, Marco Aurélio, que monocraticamente queria afastar Renan, mandou monocraticamente Aécio voltar, porque a decisão de afastar foi monocrática, entre outros argumentos.

Em que pese Renan, a exemplo de Aécio, seja “brasileiro nato, chefe de família, carreira elogiável”, aquele ministro não quis saber de nada. Mandou afastar o político alagoano. Mas, no dia em que seria notificado pelo meirinho de Aurélio, Renan chegou cedo ao Senado e foi direto para o seu gabinete. Jorge Viana (PT), substituto de Renan, assumiu a tribuna vazia e disse que não haveria sessão. Disse não ser hora de votar nada, pois “nós estamos vivendo uma situação absolutamente grave aqui no Congresso Nacional”. A tal gravidade era a quebra do princípio constitucional da separação dos poderes. O STF, como guardião do Golpe de 2016, depois da lambança de mandar prender o senador Delcídio Amaral (PT), tomou gosto pela interferência no Poder Legislativo. Isto, sem contar que invadiu também o Poder Executivo, quando impediu monocraticamente a posse de Lula como ministro. Mas, contra o PT tudo vale e Aurélio se esqueceu disso.

O golpe escancarado já assumiu tons pornográficos. Não foi à toa que senador Romero Jucá (PMDB-RR) se referiu a palavra suruba para todos. Uma frase solta que ilustra o teatrinho imoral do golpe. As personagens não sabem bem a quem querem seduzir. Os discursos jurídicos estão fartos de indícios, ilações, perorações pseudo doutrinárias e fluem das messiânicas cabeças de Curitiba – principal usina de contorcionismo jurídicos. Por conta disso, deixando de lado o que possa ser tratado como prova naquela cidadela, o respeitável jurista Lênio Streck compara os métodos curitibanos às teorias esdrúxulas adotadas nos concursos públicos. “O juiz da causa poderá até acatá-las. Mas, com certeza, se perguntadas em concurso público, haverá a anulação das questões”. De tão estranhas e com ares de fórmulas matemáticas, Streck ironizou: ”Condeno o réu Mévio porque o Pr(A), na conjunção com o Pr(AB) deu 0,1. Isso porque a probabilidade a posteriori indicava que Pr(B-A) era inferior a Pr (B+). Perdeu. A casa caiu; a pena aplicada é de X anos”.

Na vida real, instância superior anulou sentença de Sérgio Moro, que foi baseada em disse-me-disse contra João Vaccari Neto. Um delator disse, o outro também disse, outro confirmou e, contra a lei, veio a condenação. Invalidada a sentença, mais uma peça de roupa foi tirada no striptease do golpe. Em mais um jogo de luz amarela, até o STF vem dizendo, via Gilmar Mendes, que o que vale para Lula e PT não vale para outros. Gilmar até já disse que tem que ficar claro “quem é supremo”.

Entre jogos de cenas e olhares lânguidos é preciso manter as aparências do que, com cara de show, se tentou passar para a sociedade como combate à corrupção. Moro, em seu cantinho, vestido com as cores do Tio Sam, aguarda a deixa para voltar à cena novamente. A revista Istoé, lá na coxia do golpe, até tentou facilitar o trabalho, antecipando a condenação de Lula, prevista para semana pretérita, inclusive com cálculos de pena.

Como no teatro pornô do golpe tem gente querendo roubar a cena do outro, tem sido melhor guardar holofotes e purpurinas para mais tarde. Há mais sinais de nudez no antro golpista e a TV Globo já alardeia o que chama de “fim da Farsa Jato”, com o corte de verba na PF. Mas, lá dentro da PF tem gente conversando com seus próprios botões. Dizem que a Farsa Jato, que nunca foi séria, sempre foi pega “Lula/PT e fora Dilma”, de quebra servia como boquinha de diárias para delegados fazerem “poupancinha”. Além disso, era usada para chantagear a Presidenta golpeada. O corte de verba para a PF não é único, pois a PRF também foi solapada. Mas o que significa isso diante de saúde e educação? Enquanto a mídia alimenta a Farsa Jato, cinco mil inquéritos que mexem com os pilares do sistema estão paralisados, abafados, alguns concluídos e sem denúncia. Portanto, a preocupação de Rodrigo Janot quanto ao fim do grupo da Farsa Jato também é duvidoso e isso está longe de lhe provocar “ânsia de vômito”.

Coisas de república de bananas, na qual aliados e filhotes de uma mesma cultura colonial fazem teatrinho em conluio, depois de cassar o voto do povo. O pau que bate em Chico não bate em Francisco e quem fala grosso com Maria desafina com João, pois afinal, nossos corruptos são menos corruptos, vêm de família tradicional e usam mesóclises. Por conta de tudo isso, aquela gente toda que me tratava como doutrinado, depois do caso do Aécio virou pó. Na mesma linha, as contradições nos casos Delcídio, Renan, Aécio, Temer, Dilma, Lula  mostram isso claramente. Desse modo, enquanto o enredo avança incerto para o grande público, no streaptease do golpe muitos já estão nus. Mas, com o devido respeito e perdão pela metáfora, Sérgio Moro e Deltam Dallagnol, ao que tudo indica, ainda permanecem de bermudas…

 

Armando Coelho Neto

Armando Rodrigues Coelho Neto é jornalista, delegado aposentado da Polícia Federal e ex-representante da Interpol em São Paulo.

7 Comentários

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  1. LULA

    A gente – eu – ficamos ansiosos por querer saber como será o mundo político brasileiro pós eleições 2018 . É claro que toda essa turma que há 30 anos está envolvida com corrupção , seja desvio de recursos públicos , seja propina dos grandes empresários , ainda tem muito poder e vai jogar pesado para a poeira abaixar e nada mudar . 

    Mas se no final das contas a Lava Jato vai deixar algo bom é que , para aqueles que desejam a volta de Lula , antes havia a preocupação com as consequências que a polarização e o acirramento de animos poderiam provocar no país com a possível eleição de Lula. 

    Nos últimos meses essa preocupação foi debelada , pois o principal foco de uma possivel agitação social – o PSDB – foi totalmente castrado. E a prostituta PMDB se desarticulou totalmente , com seus principais caciques tentando escapar da cadeia. 

  2. STF: guardião do golpe

    De acordo com a Constituição, a missão do STF é ser o guardião da Constituição.

    Mas, no mundo real, a definição do delegado Armando Coelho é verdadeira: ” O STF é o guardião do Golpe de 2016″

  3. Meros instrumentos

    Me parece que Dallagnol e Moro  vão continuar perseguindo Jean Valjean, pois tem convicção e certeza. Dallagnol segue um desses professores pos modernos, que pegam Pierce e o Bayesianismo,  para justificar o injustificavel, isto é,  para Moro e Dallagnol, não importam os fatos. Alías os fatos e as provas só atrapalham a  convicção (deles) eterna de que o elemento é culpado..

    Afinal de contas atacar o acervo presidencial, é uma afirmação de que para eles o crime de Lula, foi ousar ser presidente. Se assim o é, que fiquem com Aécio e Temer.

     E resta a pergunta, até quando os dois vão ser úteis a quem servem? E mais uma pergunta: quanto dinheiro já foi gasto nesta perseguição ?

  4. Ainda falta chegarmos ao

    Ainda falta chegarmos ao cerne da questão.

    A prova testemunhal é válida na medida de sua credibilidade. Se chamamos diversas testemunhas, e, digamos, 3 dizem que viram isso, aquilo e aquilo outro, 2 que viram isso e aquilo, mas não aquilo outro, 4 que viram isso e aquilo outro, mas não aquilo, 3 que viram aquilo e aquilo outro, mas não isso, e apenas uma que não viu nada, e se ainda temos duas testemunhas especialistas que nos dizem que “a probabilidade de acontecer isso e aquilo sem que aconteça aquilo outro é baixíssim”, então a prova testemunhal nos leva a crer que de fato houve isso, aquilo e aquilo outro. E dependendo da credibilidade das testemunhas e da qualidade dos depoimentos, isso pode até levar a condenação do réu num processo criminal, desde que isso, aquilo e aquilo outro sejam fatos típicos, isto é, crimes.

    Mas isso exige, baynesianamente, que os depoimentos sejam “variáveis independentes”.

    E isso é o que não está acontecendo, e é preciso dar nome aos bois para explicar por quê.

    Não é somente o fato de as “testemunhas” não serem testemunhas, e sim delatores, e, portanto, criminosos, e por conseguinte, terem baixa credibilidade.

    O problema central é que não estão contando a estória delas. Estão contando a estória do Ministério Público. E aí a congruência dos depoimentos deixa de ser função dos fatos. Com o mesmo conjunto de testemunhas descrito acima, não dá para concluir que houve isso, aquilo e aquilo outro. A conclusão é simplesmente que o Ministério Público exigiu das testemunhas que dissessem isso, aquilo e aquilo outro, senão não tem delação premiada.

    Por que aqui eu posso me socorrer do ilustre teórico Dallagnol e sua esdrúxula tese do “explanacionismo”: a hipótese que mais se ajusta aos fatos não é a de que as testemunhas estejam dizendo a verdade, mas a de que as testemunhas estão dizendo o que possa lhes mitigar a pena.

    Quando chegarmos a esse ponto, teremos tirado as cuecas ao juiz e ao procurador, e até a população globotomizada poderá ver as respectivas vergonhas.

    Quod erat demonstrandum.

  5. Es esforço para derrubar Temer é trabalhar contra o Brasil

    “O esforço para derrubar Temer, nesse momento, é trabalhar contra o Brasil”. – Eliane Cantanhede

  6. O mundo encantado de Dallagnol e cia

    A ficha caiu la pelo lado da PF, mas parece que no reino encantado do MPF, eles continuam acreditando que os missionarios ainda têm muito cacife para ir longe. Parecem-se com meus colegas que quando chegaram à universidade, criaram uma camiseta com os seguintes dizeres “Nos dominamos o mundo. Nos dominamos você”. A diferença é que eles tinham entre 17 e 18 anos. Ja os minions do MPF não entenderam ainda que se o Brasil falir, falirão junto…

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