Aldo Fornazieri
Cientista político e professor da Fundação Escola de Sociologia e Política.
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O que fazer com Bolsonaro?, por Aldo Fornazieri

Bolsonaro e os bolosnaristas dissiparam em pouco tempo o bônus da vitória, a chamada lua de mel, e transforaram a esperança em desesperança e as expectativas positivas em desengano e descrença.

Banksy

O que fazer com Bolsonaro?

por Aldo Fornazieri

“O que fazer com Bolsonaro” é uma questão que se coloca de forma crescente em diversos setores da sociedade. Em tese, seria uma questão prematura, já que o governo mal tem cinco meses de existência. E, de fato, seria se Bolsonaro e o setor ideológico que o apoia – aqui denominado bolsonaristas, que inclui também os olavistas – não tivessem dado mostras assustadoras da capacidade destrutiva de que estão munidos. Bolsonaro e seu grupo mostraram que não têm nenhum propósito de construir, de unir, de governar. Só pensam na ilusão de uma indefinida e imaginária revolução antissistema, contra o establishment.

Bolsonaro e os bolosnaristas dissiparam em pouco tempo o bônus da vitória, a chamada lua de mel, e transforaram a esperança em desesperança e as expectativas positivas em desengano e descrença. Todos os dias provam mal-estar e desconforto na sociedade. Investem contra a sociedade e contra a soberania. Investem contra as universidades, a pesquisa e a ciência e tecnologia. Secundados por Sérgio Moro, investem contra a segurança pública. Desmantelaram o programa “Mais Médicos”, deixando milhões de pessoas sem acesso a médicos. Martelam contra o programa “Minha Casa, Minha Vida”. Dirigem suas fúrias destrutivas contra a preservação ambiental, contra florestas, rios, parques, terras indígenas e, neste quesito, chegam a causar indignação no mundo. Na economia, a maior parte dos indicadores apresentam tendências negativas, agravando o desemprego e o drama social do país. Enfim, são poucas as áreas que não sofrem os efeitos danosos dessa destruição e desse desgoverno deliberado.

Bolsonaro vem se revelando um desagregador, provando rejeição e repulsa crescentes na sociedade. Ele desorganiza o próprio governo. Primeiro, queimou em praça pública Gustavo Bebianno. Depois, cuidou de transformar os superministros Paulo Guedes e Sérgio Moro em ministrinhos. Agora, desmoralizou os generais e demais militares de seu governo ao apoiar os ataques de Olavo de Carvalho e dos seus filhos contra os representantes militares. Bolsonaro conseguiu fazer com que palavrões de baixo calão proferidos pelo seu guru adquirissem estatuto filosófico e a mais alta distinção do Estado brasileiro com a medalha de Grão-mestre da Ordem de Rio Branco. Em nenhum outro momento da história generais foram tão humilhados e  o Estado tão conspurcado como agora.

Havia e ainda há uma crença de que os generais enquadrariam e limitariam os desatinos do presidente. Mas o que ficou claro foi que o capitão enquadrou os generais. No governo Bolsonaro não vale o lema “um por todos e todos por um”. Vale o salve-se quem puder, pois “cada um é dono de seu nariz”. A questão é: na medida em que Bolsonaro não protege os seus ministros, até quando estes lhes permanecerão fieis?

Na sua relação com o Congresso, Bolsonaro promove atritos crescentes com partidos e parlamentares que poderiam até vir a apoiá-lo. Estimula as hordas bolsonaristas a ataques em onda contra os parlamentares que seriam representantes da “velha política”, corruptos e propensos a uma corrupção continuada.

A essência do quadro que se tem é a seguinte: Bolsonaro não tem programa e plano de governo e não se dispõe a governar. A sua atividade predileta são as redes sociais e as solenidades, de preferência com militares e policiais, onde não possa ser hostilizado por manifestantes. O seu governo não tem políticas públicas para enfrentar os diversos problemas sociais e econômicos do país. O governo não tem maioria no Congresso e o PSL prima pelo amadorismo, pela confusão e pelo despreparo. Com pouca chance de aprovar reformas, ao menos como o governo as quer, com o agravamento da crise econômica e social e com a tendência de manifestações crescentes contra o governo, o Brasil vai sendo conduzido para um beco sem saídas. Este governo está fadado ao fracasso. Nenhum governo sem base política e popular tem condições de produzir algo razoável.

Cabe perguntar: Bolsonaro poderia ouvir a voz da razão e aconselhar-se com pessoas competentes para dar um rumo ao seu governo? Não há nenhum elemento que indique uma resposta positiva a esta questão. Por não ser sábio e nem prudente, Bolsonaro não se dispõe a buscar bons conselhos. Mesmo que estes existam, de nada servirão porque o presidente não é nem sábio e nem prudente, pois está empenhado em destruir sua própria autoridade, tornando-se cada vez mais desprezado e odiado – os dois maiores males que um líder pode angariar.

É justamente por isso que crescem as especulações acerca do que fazer com Bolsonaro. Alguns insinuam a sua substituição pelo vice Hamilton Mourão. Outros defendem a permanência dos militares no governo para impedir os excessos do presidente. A questão é que não há um elemento factível e evidente para um processo de impeachment. Ademais, os democratas e progressistas deveriam ficar com os dois pés atrás em relação ao impeachment. Contra a Dilma, foi golpe. E, olhando retrospectivamente, o próprio impeachment de Collor deve ser colocado sob suspeita de que tenha sido uma medida acertada e de que trouxe benefícios. É preciso que haja razões muito fortes e evidentes para que se faça um impeachment de um presidente eleito por voto popular. Os processos e as escolhas que são feitos nas democracias precisam se esgotar para que o povo possa aprender. É preciso também bloquear a tradição golpista no Brasil.

Mas, por outro lado, a sociedade não pode aceitar que um governo destrua o que ela conseguiu conquistar de positivo em termos de direitos, cidadania e avanços institucionais. Desta forma, os partidos democráticos e progressistas, os diversos movimentos sociais, os mais variados setores da sociedade atingidos pela fúria destruidora do bolsonarismo precisam se por em movimento, nas ruas, nas praças, para dizerem a Bolsonaro e ao governo que não aceitam este retrocesso brutal, que não aceitam esta destruição promovida por um grupo desprovido de senso civilizatório, de senso de razoabilidade.

O presidente e o governo precisam ser parados, contidos, pela mobilização popular. Se Bolsonaro não revir seu posicionamento e não quiser conduzir seu governo por um caminho de razoabilidade, de sensatez e de razão, será um direito do povo mobilizado exigir a renúncia do presidente. Mas esta não é uma consigna que possa ser jogada ao vendo num momento qualquer. Ela precisa ser construída pela mobilização e pela organização popular.

Se os generais, o Centrão ou quem quer que seja quiserem trocar Bolsonaro por Mourão, o problema é deles. Não é um problema das forças democráticas e populares. Se os militares quiserem ficar no governo para enquadrar Bolsonaro, trata-se de uma escolha deles. Este governo, aliás, embora não seja um governo militar é um governo de militares. Fizeram uma escolha. Nada contra. Mas precisam arcar com as consequências dessa escolha. Os progressistas e democratas precisam abandonar a política especulativa para ter um único foco: mobilizar e organizar grupos e movimento sociais para barrar retrocessos e defender direitos, justiça e cidadania.

Aldo Fornazieri – Professor da Escola de Sociologia e Política (FESPSP).

 

Aldo Fornazieri

Cientista político e professor da Fundação Escola de Sociologia e Política.

3 Comentários

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  1. Acredito que o professor queira dizer um golpe dentro do golpe, porque ao que consta, estamos no segundo representante do movimento golpista, que afastou Dilma Rousseff e mais à frente prendeu o Presidente Lula, ainda atrás das grades, através do golpe-impeachment de 2016, que teve as Forças Armadas como principal garantidor (declarações do então comandante do Exército, general Villas Boas não permitem dúvidas) e o Judiciário como um todo, desde a Suprema Corte e Procuradorias, além da maior parte do Parlamento em vários níveis. Assim, há evidentemente desacertos entre os golpista, repercutindo na mídia também golpista, que somente contam com Bolsonaro, ainda com algum apoio popular. Há que se ter muita cautela em movimentar as massas para impedir a implantação das medidas anunciadas pelo segundo presidente do golpe, Jair Bolsonaro. Um antigo dizer hoje misógino, la foule est une femme, a forma de então, que procurava mostrar que as multidões podem ser inconstantes. O golpe conta praticamente com todas a redes de televisão e de rádio, além de portais na internet, jornais e revistas para tentar desviar o sentido das manifestações, seja desvirtuando as bandeiras de luta, seja deturpando notícias, seja não divulgando ou minimizando a repercussão dos acontecimentos. A impressão que se tem, é que, no momento, só uma bandeira nos pode unir: a liberdade do Presidente Lula, Lula livre. Os golpistas que se arranjem, nada de movimentar as massas para fortalecer um de suas facções, nada de fornecer apoio aos seus objetivos, combater todas as medidas com que nos possa atingir.

  2. Também acredito que sera na base da mobilização que poderemos mudar os rumos do Pais atualmente. Que escolas e universidades se mobilizem e manifestem; sindicatos e sociedade civil parem o Pais. Aqui deixo o link para a Caravana Lula Livre Europa que acontecera dos dias 25 à 28 de junho. A Caravana saira de Pais 25 de junho à noite (apos o espetaculo-teatro com a leitura de cartas de Lula ) e seguira para Genebra, onde seremos recebidos na ONU. Também iremos à OIT em seguida partida para Bruxelas e visita ao Parlamento Europeu e finalizando em Strasbourg no Conselho da Europa. Todos estão convidados a participar conosco. Essa é uma iniciativa de militantes e simpatizantes do presidente Lula.

    http://lulalivreeuropa.com/

  3. Há inumeros motivos para retirada do Bolsonaro, por muito menos tiraram a Dilma, mas ainda não ha interesse de quem pode fazer isso,Bolsonaro ganhou a eleição com uma facadafake, destituido entraria o segundo colocado Haddad, também venceu com um laranjal digno da Citrosuco, até sua esposa recebeu fundos, incrivel a imobilização do ministerio publico e eleitoral

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