Andre Motta Araujo
Advogado, foi dirigente do Sindicato Nacional da Indústria Elétrica, presidente da Emplasa-Empresa de Planejamento Urbano do Estado de S. Paulo
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O Rio das dez mais elegantes, por Andre Motta Araujo

Teresa de Sousa Campos se separou de Didu e depois casou com o Príncipe Dom João de Orleans e Bragança, do ramo de Petrópolis da Família Imperial, que a antecedeu na morte em 15 anos.

O Rio das dez mais elegantes

por Andre Motta Araujo

Com a morte de Teresa de Sousa Campos, depois Orleans e Bragança, morre uma etapa do Rio elegante dos anos 50 a 70, o Rio das Dez Mais Elegantes e dos Dez Mais Eleganstes cavalheiros, em muitos casos estavam em ambas listas marido e mulher, como Teresa e Didu, Carmen e Tony, os Williams, os Guilherme da Silveira, os Paula Machado, eram duas listas para damas e cavalheiros, elaboradas pelos colunistas sociais rivais Jacinto de Thormes e Ibrahim Sued, aguardadas com ansiedade e publicadas na revista MANCHETE, cujas edições com as listas se esgotavam e eram a notícia da semana na sociedade mais lustrosa e mais abonada.

Das damas as presenças quase fixas eram de Teresa de Souza Campos, Carmen Mayrink Veiga e Lourdes Catão, dos homens Carlos Eduardo de Souza Campos, o Didu, marido de Teresa. Os casais elegantes eram os ícones da sociedade carioca desses anos de ouro, de um Rio brilhante, civilizado, sofisticado, farol para visitantes estrangeiros ilustres que tinham o Rio como um “point” de passagem e temporada, artistas do cinema, do teatro, gente da moda, milionários, escritores famosos, o Rio atraía pelo clima e pela elegância, por uma sociedade mundana e antenada. Na mesma época, São Paulo, bem mais rica, era ainda um tanto provinciana, casais chiques de São Paulo tinham apartamento no Rio para desfrutar daquele ambiente cheio de boates, nos anos 50 eram mais de 90, com algumas muito famosas como o Vogue, a Night and Day, a Montecarlo, a Zum Zum.

Teresa de Sousa Campos era casada com Didu, funcionário do Banco do Brasil. Sempre me intrigou como um funcionário do Banco, eu também era naquela época, poderia ter essa vida social intensa. Didu era filho de Vilobaldo de Sousa Campos, antigo diretor do Banco do Brasil e sua vida festeira era permitida pela herança do pai ao final gasta.

Teresa se separou de Didu e depois casou com o Príncipe Dom João de Orleans e Bragança, do ramo de Petrópolis da Família Imperial, que a antecedeu na morte em 15 anos.

A sociedade carioca que produziu essa era elegante e festiva acabou completamente, evaporou sem deixar rastros, aquela sociedade de modos e maneiras, à francesa, deu lugar a um ambiente decadente social , econômica e politicamente, cujas raízes estão na perda de condição de Capital, na fusão com o Estado do Rio, maior erro do Governo Geisel, na perda de base econômica e industrial do Rio, no avanço de uma sociedade de “bas fond” a dominar a política e outras esferas de poder, no derretimento das antigas fortunas do Rio tradicional, cujo símbolo eram os Guinle, os Lage, os Paulo Machado, os Mayrink Veiga para dar lugar a outros tipos de dinheiro sem lustro e sem perfume, de mau cheiro.

Esse Rio antigo desperta saudades, lembra tempos adoráveis de uma vida de fausto que para mim estava na lembrança ótica da piscina do Copacabana Palace, centro de tantos negócios, romances, articulações políticas, aquela piscina com a ilhazinha no meio e o restaurante ao lado, coisa chique que encantava patrícios e foraneos.

Teresa morreu, um pedaço do Brasil dourado se foi, anos de trevas seguem os anos dourados, um Brasil abrutalhado, grosseiro, brega apareceu no lugar, mas a História é caprichosa, uma Alemanha brilhante renasceu das cinzas do nazismo, uma Paris florida surgiu após o desastre de Vichy, Londres rebrilhou dos bombardeios alemães, o Rio e sua incomparável geografia e seu povo gentil renascerá das cinzas da era das trevas inaugurada a partir dos anos 80, com governos tétricos e uma sociedade em ruínas.

Andre Motta Araujo

Advogado, foi dirigente do Sindicato Nacional da Indústria Elétrica, presidente da Emplasa-Empresa de Planejamento Urbano do Estado de S. Paulo

12 Comentários

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  1. Por comparação com essa atual elite essa elite raiz é divina. Mas essa época do rio civilizado era só uma vitrine bonita. O verdadeiro Brasil estava no campo vivendo quase na idade média. Ainda estava no início talvez a maior ida de gente do campo pra cidade do Ocidente , levando ao caos urbano que vivemos hoje e que possibilita milhões de pessoas viverem amontoadas e facilitando a transmissão do corona. Me pergunto o quanto desses nomes citados tiraram dinheiro do próprio bolso pra financiar um projeto cultural, uma iluminaçao de uma praça, doaram livros pra bibliotecas como mindelin fez, uma doacao pra universidade ( como raduan nassar wue doou sua fazenda pra usp ) sem dinheiro do governo. Não tiremos dessa elite raiz a sua devida parte na criação de um país com uma concentração de renda vergonhosa e que apoiaram com gosto 21 anos de regime militar.

    1. Caro sr. Joel Lima, entenda todo Revisionismo Histórico e não somente quando interessa. Não é que a Verdade é mesmo Libertadora?! As boas lembranças da mocidade podem confundir alguns. Enquanto Paris, Londres e toda Europa, destroçadas pela Guerra ressurgem entre caos e miséria, necessitando de Industrias, Alimentos, Capital, Empregos, o Brasil faz o caminho inverso aniquilando toda Vanguarda e Potencial, Industrialização, Conhecimento conquistados até 1930 (Santos Dumont, Landell de Moura, Osvaldo Cruz, Machado de Assis, Emílio Ribas, Carlos Chagas, Carlos Gomes,….) O Mundo que necessitava de tudo, não tem a Nação com maior potencial da História para desenvolver, patrocinar e produzir as décadas de maior evolução da Humanidade. Nos enterramos em atraso e miséria de Caudilhismo Ditatorial Esquerdopata Fascista QuintoMundista, enquanto surge o século da Democracia e Conhecimento de Eleições Livres e Facultativas (sabe quem já possuía isto, justamente quando surgem Hitler e Musollini ‘fazendo a cabeça’ de Ditadores da América Latina?). Justamente enquanto as últimas Famílias da 1.a República(entre 30 e meados da década de 60) ainda revelam o abismo que se abre após o Golpe Civil Militar de 1930. Os morros cariocas explicitam a tragédia. Pobre país rico. Mas de muito fácil explicação.

    1. Que bom ver quem tambem se lembra do glamour do Rio que fascinava todo o Brasil nos anos dourados, o Rio era a meca de brasileiros do Rio Grande do Sul ao Amazonas, todos queriam estar lá, bela memoria.

  2. Acho que este Rio descrito acima era só uma bolha, fantasia pura, irreal, desconectada da realidade, e ficava a mil quilômetros do Rio real.

  3. Sobre essas listas dos mais 10 mais elegantes, sempre lembro da frase daquele Lorde inglês, que quando foi informado que o nome estava na lista dos 10 mais elegantes disse: “Então deixei de ser elegante”.
    O que eu vejo do Rio, onde morei por 26 anos é que vai virar uma nova Acapulco.

  4. Oh, Deus! Anos Dourados para quem? Para os habitantes da Rocinha nunca foram. As coisas degringolaram porque os ricos do Brasil nunca se importaram com o social. Na visão deles, antes e hoje, o povo é apenas para ser esfolado. Vejam a viúva Safra, brasileira, pensou alguma vez em abrir e manter uma bela escola num morro carioca? Jamais que eu saiba. Para reconstruir uma catedral de um país riquíssimo (Notre Dame) doou 45 milhões de dólares. Isso dá status. Isso é que é o glamour que tanto o André fala?
    André está tendo recaídas. Daqui a pouco ele recomeça a sua lenga lenga monarquista. O jogo democrático é muito difícil, são muitas correntes em luta, tudo parece bagunçado, o que faz algumas cabeças saudosistas sonharem com o retorno de um Dom Sebastião, monarca, que imporá a ordem e a justiça. Vai sonhando. Essa busca por um rei, um pai, uma classe “elegante”, é uma doença mental, uma ilusão. Quem sofre dela talvez devesse buscar ajuda de um psicoanalista.

    1. Se me permite, era e evidente que o André já sabia que teria as contestações. Como vivi no Rio e lia o globo e o jb (Sued e Zózimo), tinha noticias deste mundo. Mais tarde pude ver que era um verniz opaco, que ocultava, ou mascarava, a face cruel da cidade.
      Uma pesquisa minina, veremos que alguns dos citados estavam envolvidos em atividades sórdidas, mas com uma elgancia…

    2. O mundo politico do Rio era infinitamente superior ao de hoje e a vida nas comunidades pobres era mais segura, mais organizada, mais leve do que hoje, o samba, a musica, uma certa malandragem mais leve do que o peso das milicias e do trafico que hoje inferniza a vida das comunidades, havia no Rio uma solida classe média, um jornalismo sofisticado liderado pelo JORNAL DO BRASIL CORREIO DA MANHÃ, o PASQUIM na critica
      violenta ao regime, a Bossa Nova como expressão musical da classe média, as Dez Mais Elegantes eram
      apenas um divertissment, um perfume mas a base social de todas as classes era bem mais agradavel.

      1. E por que bicheiros e traficantes dominaram as favelas? Porque não havia poder público. Não há vácuo na política. Se esta elite raiz da época visse um palmo a frente do nariz, faria uma intervenção urbana pra dar moradia digna pra população que vivia nas favelas, dar escola, saneamento, eletricidade. Essa elite raiz só começou a ter olhos pras favelas quando essa comunidade não só servia pra dar a mão de obra em suas casas – como motoristas, cozinheiras, domésticas, seguranças – mas via como ameaça a suas vidas com a explosão do tráfico de drogas – aliás, financiado pelos narizes desse mesma high society. Pegue filmes feitos nos anos 60 registrando as favelas e veja a pobreza em que as pessoas viviam. Tão massacradas que a maioria pensava que era assim mesmo, esse era o lugar delas naquele país. As gerações que vieram depois começaram a questionar isso.

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