Passou da hora de baixar a bola, por Marcelo Zero

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Artigo do Brasil Debate

Por Marcelo Zero

As eleições terminaram no dia 26 de outubro do ano passado, mas o paroxismo político continua, como se viu no dia 15. Parte da oposição resolveu apostar na ingovernabilidade. Nos bastidores, estimulam os pedidos insanos de impeachment.

Trata-se, é claro, de uma aposta política de alto risco. Não apenas para o governo. É uma aposta de alto risco também para a oposição e, sobretudo, para o País e sua democracia.

Com efeito, o neoudenismo que tomou conta do País ameaça converter-se em fonte de condenação da própria atividade política e de todas as suas instituições. Mira-se para a Presidência e o PT, mas a barragem de denúncias, fundamentadas ou não, acaba minando a legitimidade do Senado, da Câmara, das assembleias estaduais, dos governadores, dos prefeitos, dos partidos e de quaisquer outras instituições políticas.

Empresas, mistas e privadas, também se converteram em vítimas desse processo. Mesmo os cidadãos comuns que expressam posições políticas estão sujeitos, hoje, a agressões de toda ordem.

A democracia precisa do oxigênio do debate, mas o que respira atualmente é o monóxido de carbono dos insultos e das ameaças.

Esse clima político doentio não preocuparia, caso estivéssemos num período de bonança econômica. Não estamos. O prolongamento e a exacerbação da grande crise mundial, que já entrou em seu sétimo ano, combinados com o enorme esforço contracíclico realizado para proteger a economia nacional, o emprego, os salários e os avanços sociais duramente conquistados, acabaram cobrando um preço sobre as contas públicas.

Algum tipo de ajuste tornou-se necessário para evitar o pior: o ressurgimento de grandes desequilíbrios macroeconômicos e a consequente incapacidade de retomar o crescimento sustentado.

Entretanto, ajustes impõem algum nível de sacrifício e tendem a provocar, no curto prazo, um arrefecimento da atividade econômica e a consequente piora, ainda que idealmente momentânea, de alguns indicadores sociais.

Associado a isso, há também o choque da crise hídrica, um cenário externo restritivo e um quadro regional politicamente conturbado.

Assim sendo, estão reunidas as condições para que o Brasil e sua democracia sejam atingidos por uma “tempestade perfeita”, cujo rescaldo poderá ser a repetição do “que se vayan todos”, ocorrido na Argentina no início deste século. Nesse caso, nenhuma instituição, nenhuma força política será preservada. Será um jogo de soma zero.

Ante tal quadro, o desejável seria a iniciativa de haver amplos entendimentos em torno de algumas questões básicas.

Em primeiro lugar, tem de se realizar um entendimento em prol da civilidade. Democracia não é briga de rua e não pode se fundamentar no ódio e no ressentimento. Um mínimo de civilidade é fundamental para se que se estabeleça uma cultura democrática. Alguns países não a têm. E pagam um alto preço por isso. O Brasil, que a tinha, está correndo o grave risco de perdê-la.

Em segundo, é preciso um entendimento firme, no que tange ao mandato eletivo da presidenta. Dilma Rousseff foi eleita em pleito livre e limpo. Seu mandato só termina em 2018. Propor o impeachment, sem nenhum fundamento jurídico sólido, é uma aposta irresponsável na “venezuelização” do processo político do Brasil.

Em terceiro, há de se ter um entendimento relativo à defesa da política e das instituições democráticas. A onipresente criminalização da política e o grande desgaste recente das instituições democráticas é algo péssimo para o País.

Esse clima gera a distorcida noção de que não há alternativas para o Brasil dentro do jogo político democrático e do sistema de representação. Com isso, abrem-se as portas para aventuras autoritárias de toda ordem e para o surgimento de “salvadores da pátria”.

O Brasil já viu esses filmes antes. Nenhum teve final feliz. Precisamos evitar um cenário desse tipo, já evidenciado pelas recentes manifestações. Um acordo sobre alguns pontos essenciais da Reforma Política ajudaria muito, nesse aspecto.

Em quarto, é imprescindível que haja um entendimento em torno do tema da corrupção. O discurso neoudenista tem de ser desconstruído. A corrupção não se combate com sua mera condenação moral, frequentemente oportunista e seletiva.

A corrupção se combate com instituições independentes de controle e com a promoção da transparência na administração pública. E isso vem sendo feito.

O fortalecimento e a crescente independência de instituições como a Polícia Federal, a CGU, o Ministério Público e as procuradorias, bem como a instituição do Portal da Transparência e a promulgação da Lei de Acesso à Informação, criaram uma nova situação, na qual se torna impossível engavetar qualquer processo ou varrer qualquer suspeita para debaixo do tapete, como se fazia até um passado recente.

O Brasil não vive uma crise de corrupção; o Brasil vive a saudável crise do fim de sua histórica impunidade.

É fundamental que esse processo, doloroso, mas necessário, seja apresentado à opinião pública como ele de fato é: um sinal positivo de amadurecimento do País e de suas instituições. É preciso evitar que este processo seja visto como algo negativo, objeto de oportunismo político e gerador de indignação serôdia e de moralismo estéril, autoritário e seletivo.

A grande fragilidade atual para reequilibrar as contas públicas, retomar o crescimento sustentado e aprofundar os avanços socais recentemente alcançados é o clima político deteriorado.

Por conseguinte, passou da hora das forças políticas responsáveis baixarem a bola da disputa política sem limites e sem freios. Ninguém vai ganhar nada com isso. Até agora, as grandes disputas políticas nacionais foram ganhas, na democracia, por quem acabou apostando na moderação e na conquista do centro político-ideológico.

E, se ninguém tem nada a ganhar, a não ser os autoritários e os aventureiros, todo o mundo tem muito a perder.

Ou todos jogamos o jogo da democracia e do respeito mútuo ou vamos, todos nós, perder o jogo do desenvolvimento econômico e social e as grandes e inegáveis conquistas que fizemos nos últimos anos.

O Brasil corre risco de ser goleado de novo. Dessa vez por 10 x 0. Todos gols contra.

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Redação

8 Comentários

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  1. Então as instituições

    como a PF , o MP , o STF , a OAB , etc. deveriam vir a público e manifestar que nunca tiveram tanta autonomia e liberdade para investigar , combater e julgar os crimes de corrupção.

    E os portais de transparência manifestar que nunca tiveram tantos dados disponíveis em relação ao governo para divulgar.

    E que isso vem melhorando ano após ano.

    Esse já seria um bom começo.

  2. A bola vai baixar quando os

    A bola vai baixar quando os inconformados entenderem que perderam as eleilções democraticas.

    A bola vai baixar quando o Cunha entender que ou é governo ou é oposição.

    A bola vai baixar quando a Pres. Dilma fizer uma bela de uma reforma no seu ministerio e o limpa necessario, inclusive reduzindo a quantidade de ministros.

    A bola vai baixar quando a Pres. Dilma colocar a gloebels no seu devido lugar.

    Mas enquando isto, o choro é livre.

  3. Não adianta pedir

    Não adianta pedir trégua.

    Vocês continuam a não enteder o processo histórico atual.E eu acho ótimo.

    Como diz Abraham Maslow “Para quem só sabe usar martelo, todo problema é um prego.”.

  4. Ações praticas

    O governo deve rapidamente, pra ontem, tomar medidas prática para pelo menos estancar um pouco a raivosidade manifestada ontem nas manifestações.

    E começou errado.

    De nada adiantou as declarações do Ministro Miguel Rossetto de que as manifestações de ontem foi feita por quem não votou em Dilma, foi um afago na militância? Asneira, acirrou mais os ânimos. Tão pouco foi contraproducente a fala do Ministro José Cardoso de que nunca se investigou tanto e que antigamente se engavetava tudo, pura bobagem porque imediatamente as hienas oposicionistas do DEM, Caiado, deu uma entrevista contrária argumentando que quem está investigando é o MP e o STF, em quem você acha que o cidadão mediano influenciado fortemente pela mídia acreditou.

    O deputado Eduardo Cunha almoçou com empresários hoje na FIESP e foi aplaudido quando mencionou: “O PT não tem amigos. Tem servos”

    A sinuca é de bico, o bloco “aliado” comandado por Cunha está a cavalheiro nessa situação e sabe muito bem que mais do que nunca que Dilma está refém da sua vontade.

    E a grande mídia continua forte no seu proselitismo bombardeando a opinião pública.

    Noticiam, Uol, que Renato Duque é preso e o Governo e o PT estão em polvorosa, noticiam também que o Juiz Sergio Moro afirma que a propina continuo mesmo depois de deflagrada a Lava Jato.

    O cheque a Dilma é forte, está na mão de Cunha com todo o apoio da grande mídia.

     

     

  5. Transcrevo ótimo comentário

    Transcrevo ótimo comentário no facebook da psicóloga Neuza Oliver Franqui.

    A TRISTEZA E DECEPÇÃO DE UMA PSICÓLOGA, MULHER, MÃE, LUTADORA, TRABALHADORA, ESTUDIOSA, SOLIDÁRIA, AMANTE DA VIDA, DA FAMILIA, DO SER HUMANO, DA NATUREZA, AMANTE EM ESPECIAL DAS CÇAS, DE SUA PÁTRIA E DO POVO BRASILEIRO.

    Ainda hoje, estou de luto, pelo que vi ontem. Tenho uma mistura de sentimentos entre eles muita PENA e VERGONHA ALHEIA. Sei que muitos de vcs que com certeza leem o que escrevo, compartilham desses meus sentimentos, mas sinto a necessidade de discorrer sobre a gravidade desse momento. Nem pensar que sinto alguma derrota, ou que penso que um milhão de pessoas terá o poder de derrotar o que 54.000.000 milhões de brasileiros decidiram.
    MINHA TRISTEZA se dá, por saber que a maioria daqueles seres que ali participaram, não tem a mínima ideia do que é intervenção militar que reivindicavam, uns porque não tinham nascido, eram cças e outros que viveram esse tempo mas tão a margem, que não tem noção do que aconteceu, isso se comprovaria, escolhendo aleatoriamente, e 50 pessoas entrevistando-as.
    Sinto vergonha por saber, que esses jovens, vários que estudaram não aprenderam nada sobre a história de seu PAÍS, outros não estudaram, alguns por falta de oportunidade, outros porque seus pais ou foram opressores, ou porque achavam que o saber não tinha importância, portanto não fizeram nenhum esforço p/ isso. Muitos destes participantes de oposição ao governo, seus pais e consequentemente eles, fizeram um CURSO TECNICO ou uma FACULDADE DE EXATAS porque seus únicos interesses era ter um bom emprego, que garantisse seus STATUS, ou seja, seus “TER” em detrimento do “SER”.
    Tendo em vista esses fatos, TENHO PENA dessas pessoas, na sua maioria manipulada por falta de conhecimento, vivemos o século XXI, a Era da Informação QUE DEVERIA SER CORRETA, para ser entendida e sabiamente utilizada, é a Nova Era que pede pessoas responsáveis, comprometidas com as próprias ações e com os outros e pelos outros. Esta Era pede Postura, pede Ação e pede a Verdade, em qualquer tempo. Pede cidadãos que tenham história, mas que se não conhecem a história de seu País que tenham o mínimo de respeito por quem conhece e lutou bravamente, par que possamos hoje falar cobrar criticar, mas sem perdermos o respeito por aqueles que compõem essa história.
    Temos um passado recente, que nos assusta e nos entristece pelas barbáries cometidas pelos militares da DITADURA, que marcaram profundamente nossas mentes com um misto de dor e de orgulho, pelas pessoas e famílias, que entregaram suas vidas em pró de nossa liberdade, e isso não preciso colocar tantos nomes aqui porque hoje, embora muitos da manifestação do dia 15/03 (ontem) não respeitem, tenho certeza que sabem, pessoas estas que desapareceram e até hoje não encontrados seus corpos, pessoas que foram torturadas, presas e mortas, para que ontem pudessem sair as ruas cobrar melhoras de vida e de seus direitos.
    VERGONHA por ver que não sabem o que é respeito, VERGONHA porque não sabem o que é direito, VERGONHA porque não sabem o que INTERVENÇÃO MILITAR, VERGONHA porque não sabem o que é gratidão, VERGONHA porque não reconhecem a diferença de GOVERNOS, VERGONHA porque não reconhecem o trabalho e o esforço do governo para manter a DEMOCRACIA e para lutar pela IGUALDADE social.
    VERGONHA POR VER BRASILEIROS BILIONÁRIOS, EMPRESÁRIOS, IMPRENSA PARTIDÁRIA PARTIDOS POLÍTICOS ENTRE OUTROS LADRÓES, REACIONÁRIOS, FASCISTAS, BANDIDOS DA PIOR ESPÉCIE, CALUNIANDO E ENGANANDO MANIPULANDO ESSE PESSOAL QUE FOI AS RUAS NO DIA 15/03/2015. VERGONHA POR ESSE MESMO POVO TEM PEGUIÇA DE PENSAR, VERGONHA PORQUE NÃO QUEREM ENXERGAR, VERGONHA PORQUE NÃO QUEREM TER TEMPO P/ ISSO, VERGONHA POR GOSTAREM DE SER ANALFABETOS POLÍTICOS.
    VERGONHA pela vulgaridade dos cartazes, VERGONHA pelos pedidos e intervenção militar, VERGONHA pelo pedido de IMPEACHMENT para um governo que mais fez pelo povo que dele necessita. VERGONHA pela falta de memória e de história desse povo.
    Sendo bem sincera, tenho me perguntado amargamente:
    “SERÁ QUE VALE A PENA A DEMOCRACIA EM UM PAÍS EM DESIGUALDADE ECONÔMICA E ONDE QUEM MANDA É O DINHEIRO E QUEM OS TEM?”
    Quero deixar bem claro aqui, que não ocupo e nunca ocupei nenhum cargo público, que nunca tomei um cafezinho pago por algum político, e nunca recebi uma moeda sequer por algum trabalho de conscientização social e política, nem tenho alguém, filhos marido ou neto trabalhando p/ governo. Tenho feito tudo que me é possível na conscientização política e social porque entendo que um povo só consegue ser livre qdo tem sabedoria e INDEPENDÊNCIA!
    Neuza Oliver Franqui, 66 anos, Psicóloga clínica , educacional.

    1. Parabéns a Dra Neuza Olivet
      Parabéns a Dra Neuza Olivet Franqui, pela magistral interpretação dos fatos ocorridos no dia 15/03 pp, pela clareza de suas observações, o pior cego é aquele que nã e quer ver.

    2. Um texto lunatico, de alguem

      Um texto lunatico, de alguem incapaz de separar coisos obvias.

      A maior parte das pessoas nao pediam intervençao militar , até poq ao contrario da esquerda ( que adora uma ditadura ) elas estao nas ruas por achar que o governo atual flerta d+ com regimes autoritarios e tambme deseja impor algo dessa natureza no pais.

      taxar todas as pessoas que foram as ruas como admiradores ou defensores do regime militar é na melhor das hipoteses uma burrice.

      Sobre os 54 milhoes, ninguem viu eles ( sequer 1% ) disso nas ruas na sexta feira…)

      Logo melhor a senhora nascer de novo para ver se aprende alguma coisa com a vida…

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