Presidente da Câmara é a joia da coroa retrógrada, por Luciano Martins Costa

Patricia Faermann
Jornalista, pós-graduada em Estudos Internacionais pela Universidade do Chile, repórter de Política, Justiça e América Latina do GGN há 10 anos.
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Michel Temer e Rodrigo Maia - Foto: EBC
 
Jornal GGN – O resultado da eleição para o novo mandatário da Câmara dos Deputados foi “a joia da coroa da política mais retrógrada que o período pós-ditadura foi capaz de construir”, assim analisou o colunista Luciano Martins Costa, sobre o deputado do DEM, Rodrigo Maia (RJ).
 
Para o jornalista, foi justamente essa agenda política, que hoje figura nas artimanhas da tomada do poder Executivo e Legislativo, que “foi derrotada na eleição de 2014”. A conclusão é que “configura muito claramente a tese de que a democracia brasileira foi vitimada por um golpe”.
 
Leia a coluna completa:
 
Por Luciano Martins Costa
 
Manual do perfeito midiota – 32
 
Na Revista Brasileiros

A eleição do deputado Rodrigo Maia (DEM-RJ) para a presidência da Câmara coloca na linha sucessória do regime golpista a joia da coroa da política mais retrógrada que o período pós-ditadura foi capaz de construir.

Em termos objetivos – se é que se pode encontrar alguma objetividade no campo pantanoso dessa politicagem – fechou-se o círculo que tem no comando do Executivo a figura esquivosa doenterino Michel Temer, que alimenta delírios de permanência, mais o notório presidente do Senado, Renan Calheiros.

Dizia o Barão de Itararé: “de onde menos se espera é que não sai nada mesmo” – e é aqui que nos conduz a crônica desses fatos lamentáveis.

Rodrigo Maia no comando da Câmara é a cereja no topo do bolo indigesto que se quer oferecer aos brasileiros. A massa, já sabemos, é composta de todas aquelas iniciativas que foram contidas pelos governos que se sucederam nos últimos treze anos.

Diga-se, de passagem, que essa agenda foi derrotada na eleição de 2014, o que configura muito claramente a tese de que a democracia brasileira foi vitimada por um golpe.

Pode-se contar com o grande empenho do Congresso na redução de direitos trabalhistas – exceto, é claro, para a nata do serviço público, aqueles que estão bem representados na corte transitória – o que inclui, bem no alto, o sistema judiciário.

Também se pode – oh, ironia infeliz! – apostar na liberação da jogatina, em medidas restritivas da ação de movimentos sociais, na flexibilização do porte de armas de fogo, na reversão de políticas sociais que nos últimos anos deram algum alívio a mulheres, homossexuais, lavradores sem terra e famílias urbanas sem teto, contingentes historicamente deixados à margem da modernidade nesta terra de oportunidades desiguais.

Até mesmo avanços em setores consolidados, como as normas ambientais, a regulamentação dos padrões de governança das empresas e os paradigmas da sustentabilidade correm risco com essa nova configuração do poder federal.

Mas a mídia tradicional afirma que a eleição de Rodrigo Maia representa uma derrota para o chamado “centrão” – aquela parcela do Congresso que se celebrizou numa frase do falecido deputado Roberto Cardoso Alves: “É dando que se recebe”.

Nada mais falso.

A eleição de Rodrigo Maia representa um desafogo para o presidente enterino, este sim, historicamente comprometido com o “baixo clero” do Congresso que sempre travou as tentativas de fazer avançar uma agenda progressista.

Se algum avanço houve, mesmo com as concessões feitas a essa chaga do Parlamento nos dois governos de Lula da Silva e no primeiro mandato de Dilma Rousseff, foi apenas porque Lula tinha o carisma e o jogo de cintura adequados para manter os apetites sob controle.

Saiu Lula, os apetites se descontrolaram e Dilma foi devorada.

E esse foi provavelmente o grande erro de Lula: cercou-se da aparelhagem partidária e trocou a militância das ruas pelo apoio interesseiro daqueles que ele mesmo um dia havia chamado de “os trezentos picaretas”.

O quadro que temos aponta para um enorme retrocesso em praticamente todos os campos que o poder público pode alcançar.

Temer se considera, com a eleição de Rodrigo Maia, livre do fantasma de Eduardo Cunha.

O midiota lê os editoriais e acha que está tudo bem, que Temer, afinal, é um poeta, e que a corrupção foi derrotada.

Só que não.

Sabe esses filme de zumbis?

Pois é.

 

Patricia Faermann

Jornalista, pós-graduada em Estudos Internacionais pela Universidade do Chile, repórter de Política, Justiça e América Latina do GGN há 10 anos.

3 Comentários

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  1. E o Lula nesta história toda?

    Circula no UOL que Lula fez parte da estratégia montada nos bastidores para emplacar a candidatura de Maia. O sucesso foi alcançado, mas sabemos que, quem realmente terá frutos a colher é o PSDB, partido ao qual o DEM de Maia é atrelado. Lula preferiu, junto com outro líder da esquerda, Orlando Silva, que Maia levasse a eleição do que Rosso , o que supostamente dará uma sobrevida à política nacional, que corria o risco de falência caso o aliado de Eduardo Cunha, o verdadeiro vilão ,fosse eleito. O inimigo comum é Cunha. O menos ruim é Maia. Não acredito na felicidade do comunista e do petista pela vitória, parece que tomaram óleo de fígado de bacalhau para curar maleita. Lula tem muita culpa nesta história. Lula escolheu uma pessoa a qual deveria conhecer e que sabia intransigente. Lula não apoiou esta pessoa assim, cabalmente, em momento algum do mandato dela. Hoje ele compôs a crônica do adeus a quem esperava uma revirada no impeachment. Ele entregou ao PSDB o poder. ele capitulou ao golpe. Mas tudo tem volta. Quem sabe no futuro a esquerda se reorganize e entenda que bem ou mal , é melhor caminhar sozinha neste lamaçal eterno que é a política brasileira. 

    1. Pedro

      É favor nos dar a dica do que deveremos fazer, para não sermos traídos. Eu já tinha sentido o drama, quando o Zóio verde de Pernambuco, o neto do Arraes, mudou-se de malas e cuias p/ o outro lado do balcão, apesar de sido o Estado um grande beneficiário dos programas de Lula.

      É um querendo comer o outro !

      E ainda vão encarcerar  Lula, pelo sítio. Só chorando !

       

  2. Um homem sobre quem pesa a

    Um homem sobre quem pesa a pecha da corrupção. Mais um golpista nessa situação. E a maneira como se abraça a Aécio Neves já diz tudo sobre sua confiança absoluta na impunidade, como prêmio pela execução do golpe.

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