Redesenho do mapa econômico global, por Marcos Sawaya Jank

Cintia Alves
Cintia Alves é graduada em jornalismo (2012) e pós-graduada em Gestão de Mídias Digitais (2018). Certificada em treinamento executivo para jornalistas (2023) pela Craig Newmark Graduate School of Journalism, da CUNY (The City University of New York). É editora e atua no Jornal GGN desde 2014.
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Na Folha

No inicio deste mês, o “Financial Times” publicou uma série de artigos mostrando as graves inconsistências da definição de “economias emergentes”, uma panaceia que reúne países com enorme disparidade de tamanho, renda e governança.

A ideia de que os chamados países desenvolvidos estão no “centro” gravitacional do mundo e os emergentes na “periferia” não faz mais sentido.

Primeiro, porque hoje a “periferia” já é maior do que o “centro”, seja em tamanho e crescimento do PIB, volume de exportações, acúmulo de reservas internacionais e até mesmo na venda de carros, no consumo de petróleo e outros indicadores.

Segundo, porque a própria palavra “emergentes” dá uma falsa sensação de que haveria um caminho contínuo e inexorável de melhoria para os países “em desenvolvimento”. Ocorre que no mundo real hoje temos exemplos de “emergentes” que caminham para a frente, para o lado e para trás. Há emergentes que já superaram os desenvolvidos, como os tigres asiáticos e alguns países árabes. Mas há também casos de países emergentes e países desenvolvidos, alguns com um fabuloso histórico de dominância global, que hoje estão literalmente “imergindo”, como Portugal, Espanha, Grécia, Rússia, Argentina e Brasil, infelizmente.

O “Financial Times” apresenta nada menos que seis matrizes alternativas para redefinir países emergentes, numa tentativa de redesenhar o mapa do mundo. Os critérios são vários. Um expert propõe medir desenvolvimento por meio dos dados de 440 cidades emergentes, em vez de comparar países. Outro usa o critério do regime de governo.

Outros agrupam os países em clusters, usando variáveis como nível de educação e saúde, tamanho da população e clima político. Outros, ainda, usam variáveis econômico-financeiras como competitividade, ratings de crédito, penetração do mercado acionário e valorização da taxa de câmbio.

Algumas sugestões são claramente falaciosas, como a ideia de que a “emergência” estaria ligada à combinação de superavit na conta-corrente com exportação de manufaturados, em vez de commodities.

Não consigo ver por que a característica do produto exportado seria um indicador de maior ou menor desenvolvimento. A economia nos ensina que o que interessa não é o que o país exporta, mas sim como ele exporta em relação aos seus maiores concorrentes.

Não há nada errado em exportar commodities se somos melhores que o resto do mundo, como ocorre no agronegócio. Commodities estão associadas com volatilidade, e não com nível de desenvolvimento.

Nenhuma definição me convenceu até aqui. Agora, quando olhamos para as características básicas dos emergentes, vamos obser- var que: são países relativamen- te pequenos, com eleitorados homogêneos, possuem instituições estáveis, respeitam o Estado de Direi- to, têm boa governança e combatem duramente a corrupção. Alguns são conhecidos pelo investimen- to em educação, outros por serem economias abertas que estimulam a concorrência, os investimentos e a inovação.

Nos últimos dez anos, os melhores exemplos estão nos emergentes da Ásia, que simplesmente roubaram dez pontos percentuais do mundo desenvolvido. O resto do mundo basicamente ficou no mesmo lugar, em termos relativos.

Não há segredo. Basta observar e fazer o que deu certo.

Cintia Alves

Cintia Alves é graduada em jornalismo (2012) e pós-graduada em Gestão de Mídias Digitais (2018). Certificada em treinamento executivo para jornalistas (2023) pela Craig Newmark Graduate School of Journalism, da CUNY (The City University of New York). É editora e atua no Jornal GGN desde 2014.

4 Comentários

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  1. é sério isso?

    Bem, pra começo de conversa a periferia é maior porque tem muita gente, né? É mais ou menos o mesmo que dizer que o problema da probreza no Brasil não existe mais, afinal agora os 70% de baixo tem uma parte do bolo maior que os 5% de cima. O nivel de renda per captia de um típico país periférico é de US$ 5mil, de um rico é 40m. 

    Detalhe importante: apenas em dois períodos muito específicos essa distância não aumentou: nos anos 70 e na primeira década deste Século, por força do efeito China. Ou seja, na verdade quando houveram ciclos de valorização de commodities, sobretudo minerais, um pela ascensão da OPEP outro pela conjunção de rpaido crescimento da China e da Índia.

    Não é plausível achar que isso voltará a acontecer em grande escala nos próximos tempos. Mas não apenas por que a China desacelerará. Há um motivo qualitativo, por assim dizer: das 2500 companhias com relevante lidernaça tecnológica (mais de 90% situadas na indústria!), não chegma a 300 as que não estão sediadas no tal “centro”. Exatamente: no topo das cadeias de valor globais estão empresas industriais sediadas em países desenvolvidos, em uma escala absolutamente avassaladora. Isso mudou um pouco de 2000 a 2010, mas nem fez cócega na divisão internacional do trabalho.

    Mas sigamos…

    Qual o problema de exportar bens agrícolas? Nenhum, desde que vc consga produzir os manufaturados, não de todos setores, mas ao menos daqueles que lideram a inovação e o investimento em desenvolvimento tecnológico ou aqueles que são cruciais para a produtividade agrícola. Parece que é uma dificuldade imensa para quem vem do setor agropastoril entnder isso.

    O condão essencial da indústria é que ela “cria novos setores”, novas utilidades o tempo todo. Não é que o preço do que ela criou há muito tempo cresça mais que o preço agrícola, ou mineral (isso evidentemente não poderia ser, já que a agricultura e a mineração sempre estão em algum nível restritas porque dependem mais diretamente de um insumo finito, ao menos enquanto ainda estivermos morando na Terra). Não é por outro motivo que as taxas de investimetno em P&D na indústria são centenas de vezes maiiores que na agricultura e acontecem autonomamente, são executadas e mesmo financiadas pelas próprias empresas!

    Segundo, as inovação que são APLICADAS na agropecuária são fundamentalmente inovações feitas pela indústria. São tão decisivas que é isso que vem desde os anos 50 liderando as mudanças nos padrões produtivso e modelos de negócio para a agricultura.

    Por fim, mas não de menor expressão, o Brasil não está imergindo. Que tipo de economista afirma uma barbaridade dessas? O Brasil viveu de 2000 a 2013 uma rápida aproximação aos países avançados, Mais de 2% ao ano em termos de renda per capita. Desde 2014, isso mudou, e deve continuar pelo menos até 2017. Mas até as projeções do FMI – sempre altamente influenciadas pelo momento corrente – prospectam um crescimento mais rápido que a OCDE já em 2018. 

    Se a agricultura pudesse de alguma forma alterar isso, o ciclo de baixa 2014-16 nem exisitiria. Em termos mundiais, a agricultura brasileira vai muito bem, foi extremamente beneficiada pelas melhorias na infraestrutura, e expansão brutal no crédito público, altamente subsidiado, bem como pela melhoria na distribuiçaõ de renda, que bancou um boom de crescimento na demanda por produtos mais básicos, inclusive e sobretudo alimentação. 

    Os países que conseguiram emergir “completamente” – eram pobres e deixaram de ser – são fáceis de mapear. Apenas 2  países correspondem a essa descrição: Coréia e Taiwan (ainda assim, muito peculiares e pequenos, é de se notar). Creceram baseados em um planejamento rígido voltado para a ascensão rápida nas cadeias de valor, vale dizer, deixando para trás a produção agrícola e avançando rapidamente na indúsria e dentro dela justamente os elos tecnologicament emais complexos, aquels com capacidade de legar autonomia tecnológica e produtiva ao crescimento econômico. Ate hoje são brutalmente viesadas para a manufatura. E parecem não estar muito interessadas em retornar às plantações de arroz e soja. 

     

     

     

     

     

  2. Quanta bobagem

    Quiz fazer um artigo sério, mas achou que o dono do jornal não ia gostar, e aí saiu este nada. E ele ainda conclui: “Não há segredo, basta fazer o que deu certo”.

    Ou será que é uma mensagem cifrada? Por que, lendo, eu achei que a qualquer hora ele ia elogiar o que se fez no país, mas, então, com um dible rabo-de-vaca ele volta atrás, desconversa e muda de tom.

    Mas só para citar: estes dias inauguramos (secretamente, é verdade, como gosta o setor de “publicidade” do governo) a TRANSPOSIÇÃO DO SÃO FRANCISCO (desculpem, mas quando escrevo isso aí a tecla das maiúsculas agarra) e recebeu, também secretamente, a alemã Merkel, e o pré-sal chegou aos um milhão de barris por dia (mas não digam para ninguem). Estamos “como a Grécia” como disse o articulista.

    Mas vamos ao que interessa: tirar pobre da pobreza, levar mais médicos a pobres, por pobre na  universidade, dar oportunidades a todos, dar casa a quem não tem, dar emprego a pobre, etc, é tirar alguns pontos do pib, que sabiaimente quer saber o é que “rolou” na bolsa de valores e no queridissimo  “mercado”. 

  3. Interessante e desinteressante mesmo

    Deus meu, quanto simplismo! O artigo que deu origem a este parece interessante. valeu chamar a atenção para ele. O resto….

  4. Subdesenvolvido, terceiro

    Subdesenvolvido, terceiro mundo, em desenvolvimento, periférico, globalizado, emergente em oposição a

    Desenvolvido, primeiro ou segundo mundos, central… Quem faz e para que serve essa classificação, mesmo? Serve prá quem faz, será que é isso?

     

    “Que você fale mal de mim, ainda vai, mas esperar que eu fale mal de mim mesmo?! Espere sentado.”

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