Um partido clandestino eficaz, por Wilson Luiz Müller

O partido clandestino não participa de eleições com seus próprios quadros. Sua meta é destruir a reputação das principais lideranças políticas das forças que se opõem à direita e extrema-direita

Um partido clandestino eficaz

por Wilson Luiz Müller

Um partido  clandestino foi o vencedor nas últimas eleições. O partido não tem registro formal, mas seus tentáculos alcançam as estruturas legais onde o poder de fato é exercido, o que explica a sua eficiência.

Os militantes do partido clandestino são selecionados criteriosamente entre servidores públicos da alta burocracia estatal. A exigência básica é que todos sejam ideologicamente identificados com a pauta dos setores de direita ou extrema-direita que detém o poder do dinheiro. Os chefes do partido clandestino são treinados e orientados por serviços de inteligência de outros países.

O partido clandestino não participa de eleições com seus próprios quadros. Sua meta é destruir a reputação das principais lideranças políticas das forças que se opõem à direita e extrema-direita. Dessa forma pavimenta o caminho para que os políticos direitistas possam levar vantagens no jogo eleitoral contra a esquerda.

O principal mote utilizado pelo partido clandestino para destruir a reputação dos líderes de esquerda são as acusações de corrupção. Os militantes do partido clandestino estão infiltrados em todos os órgãos onde se processa a investigação, a acusação e a condenação. Selecionam para investigação os adversários ideológicos e blindam os políticos ideologicamente alinhados com a direita, que são poupados. Para passar uma ideia de imparcialidade, fazem  vez por outra  alguma tabelinha prendendo algum endinheirado. Quando os amigos blindados são investigados, os processos não andam até que ocorra a prescrição. E então os processos são arquivados.

O partido clandestino leva uma grande vantagem sobre os partidos formalmente registrados. Tem um fundo bilionário de financiamento do qual não precisa prestar contas a ninguém. Sendo os militantes servidores públicos, com a mais alta remuneração da administração pública,  dispõe o partido de um fundo significativamente superior aos partidos legalmente constituídos. Sendo a fonte do fundo o dinheiro público desviado dos cofres públicos, trata-se de financiamento ilegal de atividade partidária.

Os militantes do partido clandestino são servidores que tem como função guardar a Constituição Federal e garantir a fiel aplicação das leis. Por força de lei são obrigados a usar seu tempo e a estrutura de seus órgãos para essas finalidades. Ao se desviarem de suas finalidades para atender seus interesses privados, visando sobretudo prejudicar uma parte dos cidadãos para beneficiar outra, esses servidores se apropriam ilegalmente de uma parte da remuneração que lhes é paga pela sociedade. Desviam também ilegalmente uma parte dos recursos colocados à sua disposição pelo Estado para fazer cumprir a lei, como telefones, computadores, viagens, treinamentos.

Os militantes do partido clandestino recebem ainda  generosos penduricalhos, fazendo com que sua remuneração extrapole em muito o teto constitucional. Alguns desses penduricalhos são pagos a título de indenização para pagamento de aluguel (uma merreca de quatro mil reais mensais, conforme sua definição), mas na verdade todos têm casa própria. Mesmo assim recebem a indenização por objeto inexistente. Não raro,  esses engenhosos artifícios para turbinar aumentos salariais são concedidos por liminares precaríssimas (pois ausente a autorização legal) de membros de altas cortes judiciais, que, por conta dessa boa vontade, são merecedores de toda confiança por parte dos membros do partido, festejados por estes com  vivas de entusiasmo.

Os dirigentes do partido clandestino decidem quem vai ser condenado ou quem vai ser poupado antes mesmo do início das investigações. Com a decisão tomada, formam uma sólida parceria com os mais influentes veículos de comunicação para vazar informações seletivas para ganhar o apoio da opinião pública. Quando a decisão da condenação é anunciada formalmente, meses ou anos após intensa campanha midiática, com ou sem provas, a maior parte da sociedade está convencida da culpa do condenado. E nada mais é preciso.

A ação continuada do partido clandestino, com seu fundo bilionário, com sua superestrutura de apoio nos órgãos estatais, sua forte aliança com a mídia corporativa, teve êxito em derrotar os partidos de esquerda e eleger representantes da extrema-direita para os mais importantes cargos do país.

Quais são as pautas que estão sendo implantadas pelos eleitos a partir da ação do partido clandestino?

– desemprego e subemprego estruturais;

– encarceramento em massa dos mais pobres;

– armamento da população (leia-se milícias), apesar da opinião contrária de mais de 70% da população;

– fim do sistema solidário da previdência social, com a retirada dos direitos dos mais pobres;

– entrega a estrangeiros do petróleo do pré-sal e de empresas estatais estratégicas;

– implantação da chamada “liberdade econômica”, que extingue os poucos direitos trabalhistas restantes;

– retorno do nepotismo na administração pública; nomeação de parentes e amigos sem qualificação técnica, tendo como único critério o alinhamento ideológico com a extrema-direita;

– desrespeito à legislação ambiental e às normas de segurança no trabalho;  aumento do desmatamento e uso indiscriminado de agrotóxicos;

– retorno do trabalho infantil.

Quais as vantagens auferidas pelos membros do partido clandestino?

Os chefes são nomeados para os mais altos cargos da república ou têm promessa de nomeação para chefia de órgãos ou vagas para as cortes judiciais. Outros montavam planos de negócios de eventos e palestras para lucrar com a fama e contatos obtidos em decorrência das ações espetaculosas do partido clandestino. Os demais membros do partido querem se constituir, de forma definitiva, em uma casta privilegiada acima do bem e do mal, acima das leis, de modo a guardar distância dos milhões de cidadãos que estão sendo jogados na miséria por conta de sua atuação egoísta e antissocial.

Por que os responsáveis pelo controle da legalidade não tomam providências para barrar as atividades ilegais  do partido clandestino?

Não há resposta para isso. O povo está perdido, como um bando de ovelhas sem pastor. O  povo não tem a quem possa recorrer. Espera pacientemente obter uma resposta para suas inquietantes aflições.

Enquanto isso todos se perguntam: de quem foi a ideia genial de estruturar esse partido clandestino tão eficaz?

Há um mês  este texto seria considerado uma peça de ficção acerca de incidentes ocorridos, em período remoto e incerto,  em alguma pobre república de bananas. Porém,  é o retrato atual de um rico e maravilhoso país que caiu em desgraça. A esperança do povo foi sequestrada por um bando de cínicos covardes.

Wilson Luiz Müller – Integra o coletivo Auditores Fiscais pela Democracia (AFD)

Redação

3 Comentários

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  1. A resposta:
    Porque o partido é tão clandestino que nem seus integrantes sabem que fazem parte dele.

    Visão dois
    Os Infiltrados
    Assim como os integrantes do partido clandestino (funcionários públicos em sua maioria), há integrantes de partidos, eleitos para cargos políticos cujas legendas recomendam e prometem defender os direitos sociais do povo, MAS aqueles eleitos para cumprirem essa agenda, votam maciçamente contra esses direitos , descaracterizando a filosofia do partido. Seriam esses os integrantes terceirizados do partido clandestino?

  2. O texto mostra a real situação da República de bananas , Belo texto! mostra a frieza e o perverso sentimento de odio com seus habitantes carentes de saúde,emprego,educação,moradia,e que escraviza e massacra o povo em nome de outros países sendo esse gestor um pela saco que trabalha como o chamado capitão do mato que na maioria era negro e surrava escravos que era seu povo,sua gente no tronco a mando dos senhores da casa grande!

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