Uma greve política com fundamento econômico, por J. Carlos de Assis

Cintia Alves
Cintia Alves é graduada em jornalismo (2012) e pós-graduada em Gestão de Mídias Digitais (2018). Certificada em treinamento executivo para jornalistas (2023) pela Craig Newmark Graduate School of Journalism, da CUNY (The City University of New York). É editora e atua no Jornal GGN desde 2014.
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Foto: Agência Brasil

Por J. Carlos de Assis

A greve dos caminhoneiros é uma greve política de fundo essencialmente econômico. Seu objetivo imediato é derrubar um esquema estúpido de fixação de preços de derivados de petróleo nas refinarias, o que, com base em declaração do próprio presidente da Petrobrás, Pedro Parente, só acontecerá com a derrubada dele do cargo. Portanto, não há hipótese de superação dessa greve a não ser pelo cumprimento da recomendação do presidente do Senado, Eunício Oliveira, de demissão do presidente da Petrobrás. Claro, com a substituição dele por quem não seja um neoliberal da mesma laia.

O passo seguinte – o estabelecimento de critérios razoáveis para a fixação de preços dos derivados de petróleo – pode ser definido por uma comissão dos principais interessados sugerida em ação popular proposta pelo senador Roberto Requião, e da qual se espera nesta segunda-feira uma liminar. Participariam da comissão representantes da Petrobrás, da Agência Nacional do Petróleo, dos caminhoneiros e da Aepet, a Associação de Engenheiros da Petrobrás – que vem prestando relevantes serviços ao Brasil na área da política do petróleo, tendo denunciado precocemente, inclusive, a absurda política de preços hoje questionada.

Alguns setores afeitos às teorias conspiratórias tentam levantar suspeitas quanto às verdadeiras motivações da greve. Supostamente haveria forças interessadas na derrubada imediata de Temer para favorecer a inviabilização das próximas eleições, facilitando a imposição de uma ditadura. Isso não passa de um delírio esquerdista. É um insulto às motivações reais dos caminhoneiros esmagados por uma política de preços dos derivados arbitrária e que está destruindo suas condições de sobrevivência e de vida. É claro que as empresas são também atingidas. Mas o calo aperta é mais embaixo.

Todos os que acompanham a evolução da situação brasileira em termos reais, e não apenas em termos ideológicos, sabem que com sua rápida deterioração depois de três anos de contração do PIB e de alta sem precedentes do desemprego e do subemprego a sociedade acabaria explodindo por algum elo fraco. Isso não aconteceria necessariamente através de movimentos conduzidos por instituições sindicais formais, muito burocratizadas e ideologizadas. Aconteceria, sim, a partir de setores fora do mercado formal de emprego, como autônomos e empregados de baixa remuneração.

Em face do alto desemprego, a força política dos sindicatos se reduz consideravelmente. O patrão possa a comandar todo o processo social. Como se viu na aprovação pelo Congresso da infame reforma trabalhista, os sindicatos não conseguiram empreender um movimento de resistência eficaz. Agora, como estamos vendo com os caminhoneiros, são os autônomos que estão na fronteira da luta, arrastando as empresas, do lado de cima, e os empregados, do lado de baixo. Não há conspiração nisso. Há necessidade econômica. O resto é ideologia pueril.

A distância entre o movimento atual e aquele de 2013 – este, sim, cercado de suspeita por todos os lados – é a distância entre 20 centavos de real e a renda global que um caminhoneiro tem para sustentar a si e a família. É a distância entre o ideológico e o real. O primeiro pode ser manipulado contra o Governo pelos meios de comunicação, como foi em 2013. O segundo não. Gente faminta, desempregada, ou quase nessa condição não vai para a rua para protestar contra um Governo apenas por ideologia. Vai, sim, para exigir meios reais de sobrevivência para defender a si e a sua família.

Justamente por isso não há saída para essa greve a não ser pela desmontagem, num ponto essencial da cadeia de organização do Estado, de uma estrutura que afeta não apenas os caminhoneiros, mas toda a população. A greve cria um desconforto geral que atinge quase todo o mundo, exceto os setores essenciais. Mas é inequívoco o apoio de grande parte da população ao movimento, inclusive levando alimentos, água e café para os grevistas nos pontos de bloqueio. Greve desse tipo só acaba com a vitória. E a vitória aqui é a deposição de Pedro Parente e de seu esquema, sua substituição por um executivo competente com sensibilidade pública,  e com o começo do fim do neoliberalismo que  justifica a política atual.

               

P.S. Veja e compartilhe o site www.frentepelasoberania.com.br

Cintia Alves

Cintia Alves é graduada em jornalismo (2012) e pós-graduada em Gestão de Mídias Digitais (2018). Certificada em treinamento executivo para jornalistas (2023) pela Craig Newmark Graduate School of Journalism, da CUNY (The City University of New York). É editora e atua no Jornal GGN desde 2014.

7 Comentários

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  1. apoio da população o impechment também teve..

    Apoio da população os golpistas do impechment também tiveram. Nem sempre isso significa que o resultado seja bom.

    1. Minha primeira reação em

      Minha primeira reação em relação a movimentos assim é sempre de ceticismo.

      Podem bem estar a serviço do caos. Podem ser instrumentalizados, etc. etc.

      Mas é verdade que também estão cheios de razão.

      Então talvez o caos seja, mais uma vez, inevitável (o que andam fazendo com a América Latina, não só com o Brasil, nos últimos anos, é escabroso).

      O problema é que em geral o caos não engolfa os que o engendram. O povo, gente como a gente, é que se dá mal. Trata-se de um ‘tique’ da história.

  2. Que a Esquerda Não Atrapalhe…

    Parabéns pelo Artigo Professor…

    Dizem que o Sindicato dos Petroleiros, com Apoio da CUT, Planeja Parar as Refinarias.

    Que a Esquerda tenha a mesma Sensibilidade das “Forças Federais” que, com muito tato está Evitando o “Uso de Força” deixando o Temer “Pendurado na Brocha” com o seu Decreto GLO.

    Não é Hora de Parar Refinarias.

    Deixem o Lockout fazer o Serviço…

    Os Patrões devem estar Assustados com a Adesão do Povão e da Classe Média (sempre Inerte).

    Como disse o Professor, os Setores Informais, agora UBER e Motoboys vão dar a Sequência.

    Então, fica tudo Resolvido:

    – Na Segundona teremos os Caminhões no Acostamento e os Motoboys nas Pistas…

     

  3. Que a Esquerda Não Atrapalhe…

    Parabéns pelo Artigo Professor…

    Dizem que o Sindicato dos Petroleiros, com Apoio da CUT, Planeja Parar as Refinarias.

    Que a Esquerda tenha a mesma Sensibilidade das “Forças Federais” que, com muito tato está Evitando o “Uso de Força” deixando o Temer “Pendurado na Brocha” com o seu Decreto GLO.

    Não é Hora de Parar Refinarias.

    Deixem o Lockout fazer o Serviço…

    Os Patrões devem estar Assustados com a Adesão do Povão e da Classe Média (sempre Inerte).

    Como disse o Professor, os Setores Informais, agora UBER e Motoboys vão dar a Sequência.

    Então, fica tudo Resolvido:

    – Na Segundona teremos os Caminhões no Acostamento e os Motoboys nas Pistas…

     

  4. É importante os petroleiros e

    É importante os petroleiros e a CUT tentarem politizar a greve, só não sei se conseguirão, pois o suposto apoio da população (eu não apoio quem coloca em risco a sobrevivência material e as parcas economias de final de mês de seus concidadãos) significa apenas o apoio dos “cidadãos de bem” (ou “de bens”, já que não se inportam em pagar 8, 9 ou 10 R$ por litro) e da Globo (na minha cidade, até uma tradicional rua de comércio esticou um banner em apoio aos caminhoneiros). Não pensem que esse “apoio” se dará a uma greve de petroleiros ou uma greve dos sindicatos. Sou marxista suficiente para entender a importância da base material para a transformação histórica, mas também sou suficientemente weberiano para desconfiar de movimentos de descontentamento material sem liderança e sem reivindacações claras (tal como 2013): cada editorialista interpreta a greve do jeito que quer!! Claro que a penúria econômica motiva os grevistas, mas a completa falta de direção farão essa crise ser resolvida em favor de quem gritar mais alto (e os meios de comunicação tem uma clara vantagem aí).

  5. Pedro Parente e Michel Temer
    Pedro Parente e Michel Temer punem duplamente os que estão sendo esquecidos pelos jornalistas de esquerda e de direita: os 27 milhões de desempregados e sub empregados cujos rendimentos diminutos declinam com a explosão da inflação por causa do desabastecimento e da especulação.

    Os interesses dos gringos garantidos pela Petrobras são mais importantes do que o sofrimento, a fome, a morte por inanição e os prejuízos impostos aos brasileiros? O que o usurpador está esperando? Que os famintos invadam a Embaixada dos EUA para pedir comida e asilo político?

  6. A CUT tá apoiando

    o locaute dos empresarios. O  MST tá fornecendo comida aos caminhoneiros nas estradas. 

    Somente alguns são contra o locaute e têm bons argumentos.

    Já foi mostrado o acordo do GOVERNO TEMER e os empresarios de transporte e todos vimos que é um ato de corrupção escandaloso.

    Os caminhoneiros empregados e autônomos não são representados e nem aparecem.

    BEM VINDA a grande greve geral – todo apoio aos empregados do setor petroleiro .

     

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