Peça 1 – para entender o caso
Na renovação do acordo de Itaipu, o ponto 6 determinava que a energia excedente de 300 MW, do lado paraguaio, seria comercializada pela ANDE, a Eletrobrás paraguaia, em bloco mínimo inicial de 20 MW.
No próprio gabinete do presidente Mario Abdo Benítz, o vice-presidente Hugo Velásquez informou Pedro Ferreira, então presidente da ANDE, que o advogado José Rodrigues Gonzáles entraria em contato com ele em seu nome (clique aqui), para acompanhar as negociações.
No dia 23 de maio passado, González mandou uma mensagem confusa aos executivos da ANDE informando que o ponto 6 não deveria ser incluído. Ao mesmo tempo acertou-se que o excedente seria comercializado pela Léros Energia e Participações SA, empresa brasileira com capital social de R$ 5,7 milhões, vinculada ao Léros Group, de propriedade do suplente de senador pelo PSL, Alexandre Giordano. Nas reuniões com autoridades paraguais, Giordano dizia representar a família Bolsonaro.
O escândalo explodiu depois que o presidente da ANDE, Pedro Ferreira, se recusou a sancionar a jogada, pediu demissão e divulgou as conversas mantidas com autoridades paraguaias – incluído o próprio presidente Benítz – pelo WhatsApp.
Com o escândalo explodindo, o advogado González admitiu à jornalista Mabel Rehnfeldt, do jornal paraguaio ABC Color, ter participado em maio de uma reunião na Ciudad del Leste representando o vice-presidente Hugo Velázquez. Da reunião participaram o suplente de senador Giordano, um representante do Grupo Lerós, ambos se apresentando como representantes do governo brasileiro. “Não somente a mim, mas a todos que estavam na reunião”, afirmou.
A confirmação de que a manobra havia sido sancionada pelo governo brasileiro veio de Brasília, com o memorando de entendimento assinado pelo embaixador paraguaio e pelo Itamaraty, extirpando o ponto 6. Os negociadores do acordo foram o embaixador Hugo Saguier Caballero e o ex-diretor técnico da Itaipu, José Sánchez Tillería, Do lado brasileiro, o embaixador Pedro Miguel da Costa e Silva, nomeado em janeiro de 2019 Secretário de Negociações Bilaterais e Regionais nas Américas (clique aqui).
Peça 2 – o início do jogo
O jogo começou a ser montado no início do ano.
Reportagem minuciosa do jornal ABC (clique aqui) mostrou mensagens do próprio presidente Benítz informando que estaria sendo pressionando pelo Brasil para honrar o acordo.
Segundo Benítz, a Eletrobrás estaria retendo pagamentos ao Paraguai para pressionar pela manutenção do contrato secreto.
No dia 16 de fevereiro, o ABC Color publicou matéria sobre a resistência da Eletrobrás em pagar atrasados. Benítz enviou uma mensagem para Ferreira
“Isso me preocupa. Isso afeta nosso governo. E muito. Aqui ninguém vai ganhar se o governo enfraquecer. E se chegarmos a um ponto em que a negociação está sob aparente pressão. Devemos resolver o mais rapidamente possível”. “Aqui temos que negociar. E quando negociar sacrifica posições até às vezes princípios, mas é a responsabilidade que temos hoje. Não acredite que eu faço tudo o que quero. Todos os dias tenho que digerir bebidas amargas, mas hoje o país está nas nossas mãos e acho que está nas melhores mãos. Força!
Em 5 de março, a Eletrobrás continuava sem colocar os pagamentos em dia. Nova pressão de Benítz,
“PEDRO, apressa solução da ANDE Eletrobras. Está tudo parado. Temos que movimentar a economia, a Itaipu é uma ferramenta. Você não pode ganhar nada em uma negociação. ”
Ferreira relutava, porque todas as soluções da Eletrobras implicariam em aumento das tarifas para os clientes da ANDE,
Peça 3 – a pressão combinada
Aí, Bolsonaro começa a se mover. Convida Benítz a visitar o Brasil. No dia 12 de março de 2019 foi divulgada uma declaração presidencial conjunta, por ocasião da visita (clique aqui). Segundo nota os dois chefes de Estado mantiveram encontros privados. Depois, uma reunião ampliada com as respectivas delegações, nas quais foram definidas as prioridades dos dois governos.
O item 3 rezava:
(…) 3) Os Presidentes destacaram a administração conjunta da Usina Hidrelétrica Binacional de Itaipu, que continua a ser a maior unidade de produção de eletricidade no mundo e um paradigma de integração energética bilateral bem-sucedida. Concordaram que as futuras negociações com vistas à revisão do Anexo C do Tratado de Itaipu devem orientar-se pelo mesmo espírito de entendimento construtivo que tem caracterizado esse importante projeto binacional.
O memorando serviu como pressão adicional sobre a ANDA.
A aproximação teve todos os componentes familiares, com direito a uma Twitter de Eduardo Bolsonaro e Félix Ugarte, filho do presidente do Paraguai, fazendo mão em forma de arma. Eduardo Bolsonaro informava que “a cooperação na fronteira certamente será um norte nessa relação internacional”.
O Twitter foi apagado logo depois, mas não impediu que fosse copiado por observadores paraguaios do jogo.
Peça 4 – fechando a jogada
No dia 23 de maio, os técnicos da ANDE se deram conta que o acordo bilateral havia sido definido sem eles. Naquele mesmo dia, o advogado Rodríguez enviou a mensagem para retirar o ponto 6 do memorando.
No dia 24 de maio, o gerente técnico Fabián Cáceres viajou para Brasília. Na sala de reunião estavam Sánchez Tillería (ex-diretor técnico da Itaipu), Alcides Jiménez (como assessor de energia, chefe da ANDE) e o próprio Hugo Saguier Caballero, ex-embaixador paraguaio no Brasil e representante do Ministério das Relações Exteriores.
O acordo foi mantido em segredo. Para ser implementado, havia a necessidade de um contrato assinado por Pedro Ferreira. Em junho começaram as discussões entre os técnicos paraguaios com os brasileiros da Eletrobrás, querendo regulamentar rapidamente o contrato.
No dia 20 de junho, o embaixador Caballero mandou uma mensagem ao chefe da Itaipu no Paraguai, José Alberto Alderete, dizendo ter sido convocado pelo Itamaraty e recebido pressão da cúpula do governo brasileiro. “Não do Ministério das Relações Exteriores, mas do governo”.
“Subsequentemente, envio um trabalho preparado pela Itaipu Brasil intitulado “Reflexões da falta de regulamentação do Ato Bilateral que quantifica os danos”. Isso é muito sério. Como é minha obrigação, relatei isso imediatamente ao chanceler de meu chefe imediato e a gravidade da situação me preocupa profundamente”.
No dia 4 de julho, o presidente Benítz insistiu com Ferreira que o Brasil havia congelado as relações com o Paraguai, prejudicando o país. Ferreira manteve-se firme. No dia 24 de julho, o embaixador Frederido Gonzáles fez outra arremetida e Ferreira recusou e renunciou.
Ali começava o escândalo.
Peça 5 – a reação de Bolsonaro
Vendo o escândalo estourar, imediatamente Bolsonaro recuou. No dia 30 de julho o porta-voz da Presidência, Otávio do Rêgo Barros, informou os setores do Palácio (clique aqui):
— O presidente Bolsonaro me comentou há pouco a sua intenção de estar aberto a essa discussão, inclusive uma eventual denúncia do acordo, de se colocar em posição de dialogar profundamente para que ambos os países, mais especialmente no sentido do Brasil do que no do Paraguai, nós tenhamos a possibilidade de ajudar aquele país amigo sem, contudo, prejudicarmos a nossa sociedade, porque é tão importante essa energia, particularmente na região Sudeste — declarou Rêgo Barros.
Mais cedo, o próprio Bolsonaro hipotecara apoio ao amigo, tratando-o por um apelido intimo:
— Você sabe como é que funciona, lá (no Paraguai ) é muito rápido o impeachment. Ontem, eu conversei com o Silva e Luna, o presidente da parte brasileira de Itaipu. Estamos resolvendo esse assunto. Pode deixar que com toda a certeza o Marito vai ser reconhecido pelo bom trabalho que está fazendo no Paraguai.
Muitas vezes Paraguai foi apresentado como símbolo máximo da corrupção e da falta de instituições.
No escândalo atual, Paraguai se moveu. Espera-se que o Brasil não se torne o grande Paraguai que já não há.
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O golpe que a famíglia tentou aplicar estava acima da capacidade do grupo.
Rego Barros foi cúmplice ou inocente útil?
Aguardando os valentões do Ministério Público
Interessante ver que a imprensa brasileira continua, na prática, ignorando ou fingindo ignorar o escãndalo, que vai aumentando a cada dia.
Eles tem um “trabalho” a fazer, ajudar o GOLPE até o fim. Não podem divulgar notícias que prejudiquem o andamento senão a CIA para de pagar e ainda bota eles na cadeia.
Será que a queda da familícia Bolsonaro irá começar por aí?
o golpe contra Dilma começou a ser urdido justamente no Paraguay. qd Lugo fora deposto por “crime” de responsabilidade” e aqui deu-se início à marcha da ação penal 470. tudo em 2012. interessante q à época fora colacionado um dispositivo da Constituição paraguaia por um comentarista qql e rapidamente a globo ridicularizava o “especialista” em direito guarani. a se perceber q em toda a grade jornalística da globo e suas possibilidades de inserções não há nada q chegue a esse esclarecimento q nos faz o Nassif. ou seja, a globo e boçalnaro há tudo a ver. noves fora o teatro de q jair seria antagonista de bonner…
vou me mudar para o Paraguai, á lá Iggy Pop
https://www.youtube.com/watch?v=nLcUR7iBWqE
Tudo isso na cara da Dilma! Porque será que se omitiu? Que inveja tenho do Maduro!
sim. e uma coisa interessante que pediria esclarecimento: como deltan tinha tanta certeza de que o processo de aécio cairia com gilmar?
pergunta de um trabalhador que leu Brecht…
Desde que começou a lava jato o país vem sendo visto como um portador de ebola. A maior vítima ate ahora foi a política peruana hoje um país quase ingovernável. Agora o Paraguai. E provavelmente a próxima vítima será a Argentina se macri não vencer. E como cereja de bolo (fecal) ontem o jumento de carga Mourao ( que tem boa chance de ser o presidente) falou que os tremores de Merkel eram por temor do “nosso presidente trump”. Nós estamos fodidos.
Melhor resumo.
O que está em jogo é a recuperação do que foi investido por essa empresa durante a famigerada campanha eleitoral de 2018 e o financiamento de futuras eleições tanto no Brasil como no Paraguai.
Uma CPI viria bem a calhar.
Essas ligações de bandidos travestidos de empresários precisa acabar.
A pergunta que fica é: qual a serventia do ministério público federal que nada faz para proteger os interesses do Brasil diante de um escândalo de roubalheira esse tamanho?
Das dez medidas do moro&dallagnol falta o item “secreto”: peça desculpas pelo crime dos seus/teus e será perdoado.
Parabéns ao Nassif. Sua atuação da dignidade a profissão de jornalista.
É a máfia dos “limpinhos” agindo sorrateiramente nas sombras.
parabéns pela excelente matéria.
O problema dos molecoes da lava jato é pura e simplesmente este, o fato de Lula ter sido presidente por oito anos, e ter elegido sucessora duas vezes.
A “tioria” politica que ocupa o bestunto desses gaiatos está meridianamente clara no tal powerpoint explanacionista: o presidencialismo de coalizão vinha muito bem, obrigado, até que o sinistro projeto de poder petralha avacalhou com tudo. Chega a ser irritante o tempo que se desperdiça cerebrinando teses e mais teses “criativas”, inovadoras, enxergando coisinhas, curiosidades pouco comentadas.
Nassif, se um jornalista com parcos recursos (falando de grana e logística) pode levantar todas essas informações, o que dizer dos grandes grupos midiáticos? É a milésima vez que isso ocorre, um “Xadrez” ser, praticamente a ÚNICA fonte de informação completa que temos para apreender um evento como esse….
É trágico percebermos que a grande mídia ainda não voltou a FAZER JORNALISMO.
Significa que a sociedade seguirá sendo manipulada pelas gritantes omissões dos jornalões e nossas TVs.
Isso é causa direta da ignorância de nossas elites e classes médias, viciadas no tom histérico e bombástico que envolvia cada notícia sobre Lula, Dilma e o PT.
O que não chega nessa forma, o que “vem de modo natural” simplesmente – é o que parece – não é sentido, não é apreendido. Isso, quando a notícia chega à sociedade.
É assim que se faz de um povo um GADO HUMANO.
(1) o general Joaquim Silva e Luna, nomeado diretor-geral de Itaipu por Bolsonaro, tem papel ativo nesse esquema de corrupção;
(2) o general Otávio do Rêgo Barros, porta-voz de Bolsonaro, tenta encobrir o crime;
(3) o general Mourão, vice de Bolsonaro, considera Trump “o nosso presidente”;
Esse são três dos muitos militares que ajudaram a eleger e participam do governo militar de Bolsonaro.
São exemplos de entreguistas que dominam as Forças Armadas.
Considerando que aparentemente não existem militares nacionalistas, não seria melhor extinguir as Forças Armadas ? É sensato pagar e armar militares que não defendem a soberania do Brasil ?
La familia não estava habituada a valores de milhões para poder meter a mão e agora surge a oportunidade e metem a pata toda de uma vez…o 03 foi fazer surf à Indonésia e por acaso aparece numa foto com um cheque de muitos milhões… coincidências
Sempre que um assunto prejudicial à Bolsonaro/Lavajato/EUA(golpe em geral)se eleva de nível/pressão na sociedade brasileira,eles utilizam uma VÁLVULA DE ESCAPE,isto ocorreu em todos os momentos críticos deles e mostra uma preocupação grande com o q chega nos ouvidos do povão/opinião pública,estão usando AGORA o q deu certo na campanha “enganacional”ops eleitoral, entra Damares,pastores orando com Bolso e o presidente & amigos invocando o “demônio”Lulista/petista/Dilmista como espantalho da nação,estão preocupadíssimos pq não houve mobilização digital suficiente nas suas redes contra o ABSURDO DE SOLTAR LULA,mal sabem q até às empresas digitais americanas pisaram no freio contra o PT/Brasil,agora essas empresas fingem/disfarçam mais, o seu engajamento no GOLPE NO BRASIL,a minha prova é somente a diminuição considerável das postagens Bolsonaristas no Face,ZAP e as visualizações maiores e inscritos do You Tube nos canais progressistas(lógico já garantiram o q quiseram)e tudo isso aconteceu pq SIMPLESMENTE LULA ESCLARECEU AO PAÍS O PAPEL DO EUA NO GOLPE,a declaração já deixou empresas americanas tecnológicas ou não,PREOCUPADÍSSIMAS com algum crescimento de sentimento antiamericano,daí as tentativas e os TRUQUES DE MESTRE(lembram do filme?)para esconder o q realmente está por trás de tudo,acredito q o momento é de algum tipo de ação espontânea nas ruas(as bases e não os políticos,fazer o quê!)a direita quer fingir normalidade,só q cada vez mais vai ficar claro ao povão os ABUSOS E. CORRUPÇÃO DO ESTADO BRASILEIRO EM GERAL eles sabem disso e já ensaiam/estruturam medidas autoritárias de controle das massas insatisfeitas e emprobrecidas !!
E tem mais:
Dalagnol,Moro e Curitiba(Lavajato) estão cada vez mais associados a conspirações junto com os EUA,a coisa tá tão feia q querem tirar Curitiba (filial da Cia)dos holofotes!
Obs:Quero ver se Glenn solta algo neste sentido,nem a pau !!!
Comportamento típico de milícianos: quando são pé-de-chinelo negociam com botijão de gás. Quando alçados a presidência tentam roubar a energia elétrica de uma usina inteira.
Em tudo é comportamento típico da classe média brasileira pra quem corruptos são sempre os outros….
O pai de Mario Abdo Benítz foi muito próximo do ditador paraguaio Stroessner. Quando Bolsonaro encontrou Abdo Benitz, após sua posse, foi logo elogiando o ex-ditador paraguaio e todos acham normal. Os dois presidentes estavam querendo colocar em prática o que sempre se fez durante as ditaduras: negócios em que cada parte sai ganhando um pouco, Ou muito.
Nassif,
bolso & filhos não possuem qualquer tipo de capacidade que lhes permita negociar questões deste porte, não passam de milicianos toscos que seriam facilmente enquadrados pela Justiça. O interesse pela permanência da família buscapé permanece vivo, e um dos motivos é justamente a mediocridade de todos, mediocridade da qual os interessados diretos não abrem mão.
Bastaria um Queiroz para fazer um estrago danado no grupelho, mas o grande moro disse que ainda não foi atrás do fulano porque a PF não tem gente suficiente, yes …..
País da piada pronta.
Neste monte de esterco o que mais me chama a atenção é a inação do MPF já em 2019 e ainda agora.
Roubalheira grossa e nenhuma ação do MPF.
Seguem letárgicos e parece que só se mexem para bater na esquerda.
Cada vez mais clara a incapacidade de o sistema repressivo punir a bandidagem da direita.