Deslocamento para a Ásia do sistema financeiro ocidental, por J. Carlos de Assis

Deslocamento para a Ásia do sistema financeiro ocidental

por J. Carlos de Assis

Uma leitura do recente documento da Congregação pela Doutrina da Fé do Vaticano, aprovado pelo Papa Francisco, deixa claro que a alternativa mundial para a saída da armadilha especulativa do sistema financeiro ocidental é o deslocamento para o sistema financeiro asiático, capitaneado pela China. Os bancos ocidentais apodreceram em sua ganância por lucro fácil, levando à virtual destruição o sistema produtivo. Nós temos que escapar das garras de Wall Street e de Londres para ter alguma perspectiva de desenvolvimento econômico real.

O fato é que, desde o fim dos arranjos de Breton Woods, criados em 1944 e cuja eficácia se estendeu até a ruptura com a conversibilidade do dólar em 1971 por Richard Nixon, o sistema financeiro mundial entrou num processo de caos. Os países ricos europeus se defenderam com esquemas de estabilização forçada – serpentes cambiais -, mas não por muito tempo. O arranjo que se pretendia ser definitivo foi a criação da moeda única, o euro, que não passou de um esquema de escravização do resto da Europa pela Alemanha.

A crise de 2008 atingiu de cheio o sistema financeiro ocidental – não o oriental, que acusou apenas respingos. A razão não era difícil de compreender. Trata-se de um sistema montado na especulação descolada da economia real, favorável exclusivamente aos oligopólios do eixo Wall Street-Londres-Fraancfurt. Em algum momento esse sistema iria desabar. E desabou efetivamente, não levando a si mesmo e à economia mundial ocidental à bancarrota graças a trilhões de dólares nele injetados pelo Governo Obama.

É claro que o mundo não pode ficar à mercê desse jogo especulativo indefinidamente. O Governo Obama chegou a ensaiar um processo de recuperação da saúde financeira dos bancos, inclusive separando bancos especulativos de investimento de bancos comerciais (a antiga Lei Glass-Steagall), mas suas tentativas foram confrontadas e liquidadas por Wall Street. Curiosamente, a proposta não surgiu de críticos do sistema capitalista: surgiu do respeitabilíssimo Paul Volcker, ex e bem sucedido presidente do FED.

Haverá tremendas resistências, no mundo e no Brasil, para o deslocamento político do sistema financeiro ocidental para o sistema oriental. Estão envolvidos interesses trilionários nessa decisão, que é eminentemente política. Essa, na verdade, é a questão estratégica de maior envergadura com que o mundo enfrentará nessa e nas próximas décadas. Neste momento, o Brasil está fora do jogo. Nossas reservas internacionais, cerca de 400 bilhões de dólares, podem ser simplesmente engolidas pelo sistema especulativo. Na iminência de instalação de um novo Governo, o momento é de refletir para encaminhar a melhor decisão.

 

Redação

4 Comentários

Deixe um comentário

O seu endereço de e-mail não será publicado. Campos obrigatórios são marcados com *

  1. Talvez os pressupostos de Assis esteja equivocados

    Há duas versões para a crise atual, cujo gatilho foi 2008, mas começou de fato nos anos 1970.

    A primeira versão (que parece ser a do Assis e é neokeynesiana) é que o enfraquecimento do Ocidente permitiu a ascensão da Eurásia, capitaneada pela China. Ela é explicada pela visão keynesiana que prognostica que um capitalismo saudável deve ser  ancorado na economia real (principalmente industrial) e fortemente regulado pelo estado, que define a política industrial e cuida do bem estar da população. A China seria um exemplo da retomada deste modelo. Mas na parte relativa ao bem estar social, a China parece ficar devendo, pois a maoir parte de sua população ainda permanece na miséria e a desigualdade crescente não parece que indicar que o crescimento econônomico vá, um dia, beneficiar a todos.

    Por esta versão, basta seguirmos o modelo chinês, baseado na economia real, que nos desenvolveremos.

    Mas a China parece menos um estado do bem estar social e mais uma capitalismo de mercado mercantilista, que se porpõe a ser a fábrica do mundo, ancorada em baixos impostos, baixo investimento social, cambio desvalorizado, baixos salários e, se o salário tiver que subir, robotização (o que alijaria milhões de chineses do mercado de trabalho). A China parece estar bem longe do “desenvolvimento para todos” do estado do bem estar. Lá, parece que a economia beneficia mesmo são as grandes corporações e um minoritária classe média, capataz do grande capital. Qualquer semelhança do Brasil da década de 1970 não é mera coincidência.

    Já estamos, agora, na segunda versão sobre a crise atual, defendida por vários marxistas e pela crítica do valor,. Segundo esta teoria, a crise é global e ninguém poderá escapar dela. Apenas chegará por último nos paśies industriais e exportadores de manufaturas, pois eles têm mais reservas para suportas os baques da crise. Mas estes grandes pólos industriais (EUA, Alemanha e China) dependem do consumo de seus mercados internos ou de outros países. As bolhas financeiras proporcionam dinheiro para este consumo (por exemplo a imobiliária nos EUA e os gastos estatais chinenes em infraestrutura) mas elas são dinheiro fictício e fatalmente vão murchar.

    Por esta teoria, a exuberante produção industrial da China, EUA e Alemanha é sustentada por capital fictício e não pela economia real, pois com a tecnologia substituindo o trabalho humano, o lucro da produção jé é inviável e não se sustenta. Isto significa que a “economia real” asiática se apoia, na verdade, na economia de bolhas de Wall Street e Londres que financia o consumo ocidental (sem falar na imensa bolha de crédito estatal da China para manter empresas zumbis).

    Me parece que a segunda versão é mais condizente com os fatos. Um sintoma importtante é a imensa massa de dívida global (hoje em mais do 200% do PIB mundial) e que não para de crescer. Isso indica que o capitalismo está dependente de créditos que precisam se expandir indefinidamente, pois nunca serão pagos. A economia real já não paga suas próprias contas, mesmo quando o PIB cresce. Não estamos, parece, assistindo a um deslocamento de poder do Ocidente para o Oriente, mas uma crise geral (e talvez final) do capitalismo global, que pelo jeito não poupará ninguém.

    1. CHINA : A crise pode gerar grandes oportunidades

      Inicialmente, parabéns pelo comentário, e obrigado por compartilhar sua ideia.  Arrisco alguns palpites e relfexões.

      Pela sua exposição, não há como negar que a China se beneficia do sistema expeculativo ocidental. De qualquer forma, o fato de acumular trilhões de dólares, parece, lhe daria condições de ampliar sua influência econômica e política global, utilizando-se destas reservas, mormente em momentos de crise, como compradora global de ativos, especialmente na américa e àfrica (energia, petróleo, agricultura, transporte). A entrada da China em países mais fragilizados pelas crises, seria vista como bem vinda or esses países, que, abocanhados pela crise, sem visão de futuro, sem projetos de desenvolvimento, cairiam na armadilha fácil de receber investimento estrangeiro direto, melhorando suas reservas. A contrapartida será uma maior dependência destes países em relação às grandes economias, no longo prazo. 

      Não me parece que o mundo esteja próximo de abandonar o padrão Dolar como principal moeda de troca global, pois tal medida não interessaria nem aos maiores credores globais (China, Japão, Alemanha,Correia), tampouco aos EUA, maiores devedores globais.

      Deta forma, parece-me que haveria a possibilidade de transferência gradativa do pode econômico e financeiro global para a àsia (liderada pela China). Neste sentido, apesar das bolhas afetarem a todas  economias mundiais, inclusive a China, esta sairia do processo fortalecida.

  2. Caro Wilton, sua análise

    Caro Wilton, sua análise parece ser a que se aproxima mais da realidade, apesar de o oriente ter mais capacidade para escapar da crise derradeira.

     

     

     

     

     

     

     

     

     

     

  3. Demanda por riquezas

    A demanda por riqueza é infinita e, a quantidade dela disponível é finita. A própria Terra é finita. Para resolver esta questão criaram o mundo do capital fictício, como uma grande jogada de contadores, transformando 1 dólar em 10. Enquanto a diferença entre o crédito e o débito, foi favorável ao primeiro, tudo fluiu. Agora com o rombo aparecendo cada vez mais rápido, visto que a cada dia a velocidade do sistema aumenta, e a demanda por mais riquezas também, a farsa se aproxima do fim. A pergunta pode ser novamente, aquela de sempre: quem pagará a conta?

Você pode fazer o Jornal GGN ser cada vez melhor.

Apoie e faça parte desta caminhada para que ele se torne um veículo cada vez mais respeitado e forte.

Seja um apoiador