Porque a prisão de Cunha faz parte de um jogo de cena de Moro

A prisão preventiva de Eduardo Cunha efetuada nessa quarta-feira,19, pode ser lida com algumas ressalvas que geram suspeição em relação ao modus operandi de Moro e da Lava-Jato como um todo.

Diferentemente da condução coercitiva de Lula, a prisão de Cunha não teve nem de perto o mesmo alarde e o mesmo show midiático por parte da imprensa, em especial pela Globo, devido em muito pelo horário em que se deu sua prisão.

Como era de se esperar, o discurso da Globo e do restante da grande imprensa, era de que o pretexto dos petistas contra a parcialidade de Moro e da Lava-Jato estava derrotado pelo fato do juiz ter decretado a prisão de Cunha, um desafeto de longa data do PT. No entanto, essa relação feita pela Globo era tão previsível que chega a ser pueril. Passa inclusive a impressão de ter sido ensaiada.

Cunha era figura carimbada desde o ano passado. O PT se viu obrigado a suportar sua presença na presidência da Câmara dos Deputados e desejava a sua cassação. O ex-congressista queria o apoio da bancada do PT no Conselho de Ética; caso contrário dispararia o impeachment como realmente o fez, pois sua cassação só se deu em 2016, muito tempo depois do pedido protocolado pelo PSOL em 2015. Dessa maneira, Cunha se tornou persona non grata pelo PT e seus simpatizantes por ter sido o estopim do golpe parlamentar contra Dilma. Assim, a esquerda e o PT pediam a sua cabeça desde o momento em que Cunha se apossou da cadeira da presidência da Câmara.

Portanto, prender Cunha nesse momento é, principalmente, uma manobra pensada de Moro para despistar seus atos partidários e sua predileção em prender petistas e aliviar para tucanos. E a prisão decretada nessa ocasião parece muito conveniente e oportuna, além de oferecer um prêmio a parte da opinião pública que o queria encarcerado e uma tentativa de calar a boca nos que o acusam de ser um juiz parcial. E mais: prepara o terreno para a prisão que realmente importa e que hoje é irreversível – a de Lula.

Muitos consideravam (este autor, inclusive), que Cunha não seria preso ou o seria em outro momento, dada a leveza e a morosidade (sem trocadilho) com que Moro tratava seu caso em especial e pelo fato de que em outros casos (leia-se os que envolviam petistas) o juiz agia com uma celeridade e um vigor incríveis.

Muito embora há quem acuse a imprensa alternativa de enxergar teorias da conspiração em tudo, elenco abaixo alguns pontos que, se concatenados, geram forte suspeição sobre a prisão preventiva de Cunha ser apenas uma grande cortina de fumaça e do ex-deputado ter servido como boi de piranha:

1 – Primeira mão:
    A Rede Globo, através do G1, foi o primeiro veículo a dar a manchete. O que não é exatamente uma novidade, dada a relação estreita entre o judiciário do Paraná, a Polícia Federal e a mídia hegemônica;

2 – Antecipação:
    Cunha já sabia de antemão que seria preso. Tinha inclusive uma malas pronta. Resta saber em que momento o ex-parlamentar passou a saber do fato.

3 – Moro e a relação íntima com a Globo:
    Em Março deste ano, em um ato político, o juiz de primeira instância vazou ilegalmente o áudio das gravações do grampo da conversa entre Dilma e Lula para a Rede Globo, que retransmitiu no Jornal Nacional. Alegar ingenuidade e tentar justificar o ato como inofensivo mostra que Moro age politicamente e à margem da legalidade e se sente blindado por isso. Esse ato já demonstra a sua suspeição e como a relação entre o juiz e a imprensa anti-PT, em especial a Globo, é íntima. Moro é dado a firulas midiáticas e, portanto, fica claro que essa prisão é meramente cenográfica;

4 – Nenhum fato novo na prisão de Cunha:
    A prisão de Cunha não teve nenhum fato novo que pudesse motivá-la. O pedido estava havia 6 meses nas mãos do STF, que entendeu que não havia as exigências necessárias para uma prisão e Moro, com uma semana apenas, a decretou sem pestanejar. Ou seja, se baseou em indícios e acusações que em outros casos não ensejariam pedidos de prisão, contrariando seus próprios atos rotineiros. A justificativa apresentada por Moro para a prisão preventiva foi “risco de fuga do país” e “risco à instrução do processo e à ordem pública”. No entanto não apresentou detalhes de como esses dois pressupostos poderiam se dar. No mínimo uma arbitrariedade das muitas cometidas pelo juiz;

5 – Tratamento diferenciado:
    Moro determinou à PF que Cunha não fosse algemado nem filmado. Muito diferente do caso da prisão de Palloci, por exemplo, que contou com uma vultuosa escolta formada por policiais armados inclusive com fuzis. Um cuidado e uma blindagem à imagem de Cunha incomuns a outras iniciativas de Moro;

6 – Acordo de delação:
    O MP está reticente se aceita ou não um acordo de delação premiada de Cunha. Por um lado os procuradores afirmam que uma delação de Cunha seria infrutífera, pois parece entender que o ex-deputado não teria condições de apresentar o volume de provas documentais proporcional às delações que ele potencialmente poderia apresentar. Surge a dúvida: de onde parte esse pressuposto tomado “a priori” por parte do MP? Qual o receio dos procuradores em ouvir o que Cunha tem a oferecer? Parece um tanto quanto distinta essa forma de tratamento que é dada aos delatores. Por outro lado, aceitar um acordo, se eventualmente pudesse ter algo impactante contra o PT, poderia ser de alguma valia. Tudo, como é corriqueiro na Lava-Jato, depende da conveniência;

7 – Intimação na mesma semana da prisão
    Na segunda-feira desta semana, dia 17, Moro havia enviado documento à Justiça Federal do RJ citando e intimando Cunha num prazo de 30 dias e mais 10 para que apresentasse a sua defesa. Ora, que mudança houve em dois dias para que Moro mudasse a opinião e, de um simples intimado, Cunha passasse a ser um indivíduo perigoso? O que de novo ocorreu para que o entendimento do juiz fosse de uma intimação para a decretação de sua prisão?

Conclusão:

Há inúmeros outros casos que, se analisados, levam à mesma conclusão de parcialidade e seletividade da Lava-Jato. Um deles envolve inclusive a mulher de Cunha, Claudia, cuja residência foi de extrema dificuldade para que a força-tarefa da Lava-Jato pudesse encontrar.

De toda esse espetáculo, o que se esperava dessa etapa da Lava-Jato, era a arbitrariedade e a inutilidade (ao menos nesse momento) dessa prisão, como muitas outras cometidas pela Lava-Jato. Moro e Justiça Federal do Paraná agem à revelia. É impossível desvincular as ações do judiciário de Curitiba de atos com cunho político-partidário. Moro e os procuradores agem calculando os riscos e os possíveis desdobramentos de suas ações. A relação próxima entre a mídia e os agentes da Lava-Jato revelam um caráter claramente seletivo e parcial.

Portanto, com a prisão de Cunha, Moro abriu caminho para que a prisão de Lula seja decretada sem que a acusação de parcialidade pudesse ser um entrave. Mais um jogo de cena previsível.

Redação

0 Comentário

Deixe um comentário

O seu endereço de e-mail não será publicado. Campos obrigatórios são marcados com *

Você pode fazer o Jornal GGN ser cada vez melhor.

Apoie e faça parte desta caminhada para que ele se torne um veículo cada vez mais respeitado e forte.

Seja um apoiador