A China e o caso Evergrande: o ocidente se equivoca (mais uma vez)
por Elias Jabbour
Artigo produzido em colaboração com o Grupo de Mídia da China.
Não é de hoje que analistas ocidentais, de tempos em tempos, anunciam o “colapso” do sistema econômico chinês. Na década de 1990 era muito comum relacionar a insustentabilidade do modelo econômico da China com o fato de o país não ser uma “democracia”. Muitos livros foram escritos para demonstrar que o desenvolvimento econômico só seria possível em sociedades que convergissem ao modelo político dos Estados Unidos e da Europa Ocidental. Nada mais pobre e enganoso. Pura ideologia desmentida pela história. E a própria China desmentiu. Cresce e se desenvolve seguindo suas próprias escolhas políticas, diferentes das sociedades ocidentais que afundam em crise, fome e guerras.
Nos anos 2000 a nova onda de apostas contra a China vinha de um suposto “Estado gigante”. Economistas e cientistas sociais apontavam que uma economia sadia não combina com um país repleto de empresas estatais ineficientes e deficitárias. Era uma questão de tempo, segundo acadêmicos e especialistas ocidentais para a China “quebrar”. Pois bem, não só a China não quebrou como atualmente as empresas estatais chinesas são as empresas mais bem colocadas no ranking Forbes 500 (1). As empresas estatais chinesas são o núcleo da máquina produtiva do país, geradora de progresso e ponta de lança em matéria de ciência tecnologia e inovação. Por este lado, o ocidente também errou por muito tempo.
Mais recentemente, o “problema” passou a ser de dupla natureza. O primeiro, um sistema financeiro estatal carregado de dívidas impagáveis. Um sistema financeiro muito próximo de explodir e levar a economia chinesa e mundial a uma profunda recessão. Na verdade, foi o sistema financeiro dos Estados Unidos que levou o mundo a uma recessão (2008) com graves consequência ao mundo inteiro. O segundo seria a dívida pública chinesa. Uma dívida pública que dobrou de tamanho desde as intervenções do governo para enfrentar a crise de 2008. Ou seja, o colapso chinês seria iminente. Duas hipóteses insustentáveis por um simples motivo: as operações financeiras internas chinesas são feitas em moeda local (yuan). Não existe na história humana nenhum país que tenha quebrado na própria moeda. Mesmo raciocínio vale para o sistema financeiro.
Ou seja, há mais de 30 anos que as previsões ocidentais sobre a economia chinesa não se confirmam. E observemos: há 30 anos que o capitalismo ocidental produz crises financeiras cada vez mais violentas! E a China tem-se mantido resiliente em um quadro econômico internacional marcado por muita instabilidade. O país tem uma taxa de crescimento médio acima de 9% ao ano desde 1978 e recentemente aboliu a pobreza extrema!
Agora o caso da gigante imobiliária chinesa, o grupo Evergrande. É sabido que esta empresa está passando por sérias dificuldades financeiras e, recentemente, informou às autoridades chinesas de sua incapacidade de honrar com seus compromissos financeiros de curto prazo. As dívidas da empresa não são pequenas (por volta de US$ 300 bilhões) e que os riscos que sua possível falência possa ter não são pequenos, tamanho o papel do setor imobiliário ao crescimento econômico recente da China. Mais uma vez a imprensa econômica ocidental apressou-se em afirmar que o “estouro da bolha imobiliária” chinesa seria a demonstração cabal da insustentabilidade do modelo chinês.
Novamente equivocam-se. O problema é ideológico, pois não compreendem que outros sistemas econômicos podem existir além do capitalismo e que a própria natureza do sistema chinês impede que uma empresa como a Evergrande possa ter grandes problemas. Aliás, o próprio Estado chinês tem interesse direto em intervir no mercado imobiliário de forma a reduzir os preços dos imóveis e assegurar a possibilidade de plena realização da estratégia de “prosperidade comum”.
O que os analistas ocidentais não aprendem é que o Estado chinês não vai tratar a Evergrande como os Estados Unidos trataram a Lehman Brothers. Além das premissas teóricas equivocadas, no ocidente não se leva em consideração que a solução do caso Evergrande passará por colocar o povo em primeiro lugar. Ao contrário dos EUA onde milhares de famílias foram despejadas de suas casas após a crise de 2008 e os banqueiros corruptos foram salvos pelo Estado. O socialismo chinês, definitivamente, é superior ao capitalismo ocidental.
Referências
(1) Ranking das 500 maiores empresas do mundo
Elias Jabbour, professor da Faculdade de Ciências Econômicas da Universidade do Estado do Rio de Janeiro (FCE-UERJ)
Este texto não expressa necessariamente a opinião do Jornal GGN
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De modo geral, a defesa que você faz da economia chinesa, no que tange às suas particularidades, bem distintas das economias ocidentais. são passavelmente corretas. Mas o que não dá para aceitar é a leniência de suas palavras quando se trata de comentar o que se diz sobre a China por estas bandas. É pura boataria o que se escreve nos jornais e na academia. Não é por outra razão que nossos jornalistas tem reservado suas críticas e suas campanhas aos gabinetes do ódio e assemelhados, aqui e alhures, e tem poupado as mídias tradicionais nas criminosas atividades que sustentaram para dar verossimilhança ao mensalão, ao petrolão e às pedaladas.
Só há um campo em que os poderosos países do ocidente tem superioridade incontestável: propaganda e marketing. A propaganda de que o regime comunista é uma temeridade e o marketing que fazem de si mesmos como países “democráticos, livres e prósperos”, enquanto afundam nas consequências dos seus próprios erros.Mas não se pode olhar eclipse sem proteger os olhos.A cegueira é inevitável. O ocidente está sempre em crise, tanto econômica quanto política, fazendo delas uma forma de manter prósperas as suas elites e miserável o restante da população. É mais que evidente que não há como se manter estabilidade, sob qualquer aspecto, sem planejamento e continuidade quando se governa, e a China comunista, tanto quanto a “ditadura” soviética, tem vencido os desafios trazidos pelas práticas predatórias de economia externa de países do ocidente contra si enquanto desmentem as principais afirmações daqueles: afirmações que prevêem a “quebra iminente” da econpmia dos “ditadores” e dos “comunistas”.