Avós da Praça de Maio recuperam mais um neto na Argentina

Tatiane Correia
Repórter do GGN desde 2019. Graduada em Comunicação Social - Habilitação em Jornalismo pela Universidade Municipal de São Caetano do Sul (USCS), MBA em Derivativos e Informações Econômico-Financeiras pela Fundação Instituto de Administração (FIA). Com passagens pela revista Executivos Financeiros e Agência Dinheiro Vivo.
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Criança raptada pela ditadura é filho de Cristina Navajas e Julio Santucho; anúncio foi feito nesta sexta-feira

Entrevista coletiva que anunciou o registro do neto 133. Foto: Abuelas de Plaza de Mayo

A Associação Civil Avós da Praça de Maio (Abuelas de Plaza de Mayo) oficializou nesta sexta-feira o encontro de mais um neto perdido pelo regime da ditadura argentina. Agora, 133 crianças tiveram suas identidades recuperadas.

O neto encontrado é filho de Cristina Navajas e Julio Santucho, e neto de Nélida Navajas (falecida em maio de 2012). Ele foi notificado de sua identidade na última quarta-feira (26/078) pela Comissão Nacional do Direito à Identidade (Conadi) e já se encontrou com seu pai e seus dois irmãos.

“Desde o primeiro minuto ele expressou o desejo de nos conhecer. Ele estava nos procurando, e obviamente está feliz e surpreso com a magnitude do que encontrou”, disse Miguel ‘Tano’ Santucho, irmão do neto encontrado e que também integra a associação.

“Acho que ele vai demorar um pouco para elaborar tanta informação, mas eu tenho a sensação de ter encontrado um ser luminoso, verdadeiramente especial e não tenho dúvidas que estaremos juntos para o resto das nossas vidas porque nos procurávamos, quisemos nos encontrar e o abraço que nos demos é para sempre”, ressaltou Tano ao lado de seu pai.

“(Ele) é muito parecido, é um Santucho. É claro que temos feições, sorrisos, formas… E (o gosto) futebolístico também – é um ‘bostero’ (torcedor do Boca Juniors) como eu’, disse Miguel.

“O trabalho mais aprofundado foi feito pela Conadi, que foi criada a pedido das Avós no ano de 92 para que o Estado participasse da tarefa de restituição dos netos, pois o Estado move todo o mundo que as avós não podem mover”, disse a presidente da associação, Estela de Carlotto.

O sequestro de Cristina

Cristina Navajas tinha 26 anos quando foi sequestrada por uma quadrilha do Exército argentino, em 13 de julho de 1976. Ela era professora e estudante de sociologia na Universidade Católica Argentina.

Foi na universidade onde Cristina conheceu Julio Santucho, irmão de Mario Roberto Santucho – um dos principais líderes do Partido Revolucionário dos Trabalhadores (PRT) e do Exército Popular Revolucionário (ERP).

O casal, que era integrado à PRT, teve dois filhos – que testemunharam o sequestro de Cristina na casa de sua cunhada, onde estava com outra colega de militância, Alicia Raquel D’Ambra. Cristina e Alicia foram levadas grávidas.

As três mulheres foram sequestradas pelos militares, que deixaram as crianças sozinhas no apartamento. Nélida soube do ocorrido por meio de uma vizinha, mas ninguém a socorreu.

Ao lado de seu filho mais novo, Nélida foi procurar seus netos e, da entrada do apartamento, ouvia seus gritos e choros. Lá, ela também encontrou uma carteira que continha uma carta que Cristina não enviou a Julio, onde citava estar convencida de que estava grávida.

“Mais tarde, por meio de depoimentos de sobreviventes, (Nélida) pôde confirmar que a gravidez de Cristina continuava seu curso”, afirma comunicado lido pelas Abuelas na entrevista coletiva que anunciou o encontro do neto 133.

Celebração

A coletiva para anunciar o encontro do neto 133 buscou homenagear o legado de Nélida Navajas “e todas as avós que nunca perderam a esperança de encontrar seus entes queridos – e, claro, honramos nossas filhas”.

“Continuaremos procurando o filho de Alicia D’Ambra, o de Liliana Delfino e todas as netas e netos desaparecidos. Porque cada restituição é um ato de reparação para as famílias, de verdade e justiça para a sociedade e de memória para as gerações futuras”, diz a associação.

Cada neto encontrado “é a reafirmação de que a sociedade argentina decide não esquecer e apoiar as políticas públicas que permitem conhecer a verdade sobre o que aconteceu durante a última ditadura cívico-militar”, ressaltam as avós, lembrando que as restituições “revelam o valor da vida democrática, dos direitos conquistados e das liberdades conquistadas”.

“Entre todos nós, todos os dias, devemos defender, sustentar e garantir a nossa democracia, erradicando o ódio, a negação, a construção do outro como inimigo, e colocando no horizonte o amor e o bem comum. Bem-vindo querido neto, você é um triunfo da nossa democracia!”.

Leia aqui a íntegra do comunicado divulgado pelas Mães e Avós da Praça de Maio

Com Página 12

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