Carta aos propagadores do ódio e da mentira, por Álvaro Ribeiro Costa

Lourdes Nassif
Redatora-chefe no GGN
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Carta aos propagadores do ódio e da mentira

do Lula.com.br

“Não adianta fingir que não há golpe, todo mundo já sabe”. Em carta aberta aos “propagadores do ódio e da mentira”, o ex-procurador Álvaro Augusto Ribeiro Costa denuncia o golpe parlamentar no Brasil, critica os abusos da Operação Lava Jato e afirma que “quando a injustiça e a corrupção se fantasiam de direito e moralidade, a justa indignação e a resistência se tornam obrigação”. 

Álvaro A. R. Costa foi Advogado Geral da União, Ex-Procurador Federal dos Direitos do Cidadão e Ex-Presidente da Associação Nacional dos Procuradores da República. 

Carta a personagens imaginários

por Álvaro Augusto Ribeiro Costa 

Em primeiro lugar, por favor, ninguém pense que estou falando com seres reais, nem se considere ofendido em sua honra. É que,  como meros e ocasionais personagens de uma extraordinária farsa que se desenrola num lugar também imaginário,  não poderiam ter existência própria nem honra que se lhes pudesse atribuir.  

Quem seria o autor de tão assombrosa tragicomédia? É difícil saber, até mesmo porque os atores trocam de papéis a cada momento, numa volúpia que uma única mente, por mais delirantemente criativa, não poderia conceber.  De cúmplices ou co-autores de supostos delitos, passam de repente a acusadores, transmudam-se em seguida em juízes ou jurados, sob a fantasia da isenção ou integrando a claque dos que se aplaudem uns aos outros, cada um mais convencido da excelência de suas múltiplas e medíocres representações. Um de cada vez ou em grupos, todos muito cientes dos torpes proveitos que almejam.

Cabe, porém, oportuna advertência. Quando as buscas e apreensões invadirem de surpresa seus lares e as conduções coercitivas os expuserem com ou sem razão à volúpia sádica das multidões insufladas pela mesma mídia que hoje os incensa e amanhã os vilipendiarão, não invoquem a presunção de inocência nem o direito de saber do que são acusados; não peçam que lhes seja assegurado o direito de defesa e do contraditório, nem supliquem pela presença de um juiz imparcial. Mas antes que isso ocorra, não percam tempo nem gastem dinheiro promovendo a operação lava-memória. A História não esquecerá nem apagará o nome de vocês do rol das iniqüidades e das vergonhas. E não adianta fingir que não há golpe; todo mundo já sabe.

Penitencio-me por não haver percebido antes quão distante me acho de vocês. A rotina das chamadas boas maneiras esconde a essência das pessoas. De uma coisa, porém, não tenham medo. Não cuspirei em vocês. Não é que não lhes tenha nojo. Compartilho, quanto a isso, do mesmo sentimento que Ulisses Guimarães pronunciou e prenunciou em relação àqueles a quem se dirigiu em mensagem que as ondas do Atlântico ainda hoje – e com mais força agora – repercutem. Contudo, diante da inominável deterioração moral em que estão mergulhados, o meu cuspe seria inócuo; não lavaria nada.

Devo admitir, entretanto, que me fizeram um grande favor: o de me propiciarem vê-los e ouvi-los como realmente são: preconceituosos, convencidos ou convincentes propagadores do ódio e da mentira. Em suma, cúmplices entusiasmados do que há de pior no lastimável cenário escancarado ao mundo desde a tragicômica encenação do último 17 de abril e na farsa que dali para frente cada vez mais se desenvolveu como uma enxurrada de iniqüidades.

Caiu a máscara dessa gente que lhes faz companhia, cujos rostos não conseguem ocultar a mais repugnante feiúra moral. Juntando-se ao painel de mentecaptos que a televisão sem qualquer sombra de pudor ou recato revelou para assombro, vergonha ou riso de brasileiros e outros povos do mundo, vocês estarão para sempre ligados. E dessa memória pegajosa nada os livrará.

Não me digam que estão surpresos com os termos desta carta. Posso até imaginar a cena em que estarão diante  de seus queridos familiares, tentando justificar a própria conduta. Por isso, explico: não se pode ser tolerante com o delito e o delinqüente  quando o crime é permanente e flagrante. Seria como dialogar com o ladrão que invade a nossa casa, rouba nossa liberdade, se apossa do nosso patrimônio e quer se fazer passar por mera visita, com direito a impor o que chama de ordem. A hipocrisia se mostra com sua mais indecente nudez. Não! O diálogo e a compreensão são naturais e necessários entre pessoas que se respeitam no ambiente democrático; não, entre o predador da democracia e sua presa, entre o ofensor e a vítima. As regras de civilidade, próprias da democracia, não socorrem quem contra elas atenta. Contra esses, todas as formas de resistência são necessárias e legitimas. Não há diálogo possível.

Não importa se o arrombador dos pilares da ordem democrática possa eventualmente se valer de uma maioria parlamentar corrompida e mal-cheirosa ou de juízes parciais e desacreditados.Quando a injustiça e a corrupção se fantasiam de direito e moralidade, a justa indignação e a resistência se tornam obrigação.

Por fim, uma brevíssima oração: que Deus não os  perdoe; vocês sabem muito bem o que fazem! Mas os mantenha vivos e com saúde pelo tempo suficiente para a reflexão e o mais avergonhado arrependimento.

Alvaro Augusto Ribeiro Costa

Lourdes Nassif

Redatora-chefe no GGN

2 Comentários

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  1. Não tenho a menor esperança

    Não tenho a menor esperança que venham a se envergonhar de alguma coisa, pelo menos nesta vida. São pessoas que só compreenderão a injustiça quando a mesma se abater sobre elas.

    A lição que podemos tirar disso tudo é o que importa. Este teatro do absurdo, este ápice da hipocrisia não nos veio como um tsunami, uma única onda avassaladora e inesperada. Não há degraus no processo histórico, o que se sucedeu lenta e paulatinamente contou com nossa omissão silenciosa, nosso pouco caso. A ausência de reflexão neste ponto é que seria a concordância com a derrota, ou melhor, umas das derrotas. 

    Depois de Getulio, do golpe militar, entre outros eventos da nossa história recente, mais uma vez é aplicado com sucesso (até então ) a receita do falso moralismo, agora com a manipulação concatenada entre setores da mídia , do judiciário e de um congresso convenientemente contaminado pela corrupção . Sim, é extremamente conveniente manter parlamentares presos nas cordas da corrupção , para que o poder oculto os use como marionetes, jogando-os contra a população de acordo com as conveniências . Várias “conveniências ” são plantadas: frases como “os políticos são um reflexo do povo”, “brasileiro não sabe votar”, entre outras “verdades” são incorporadas para manter e baixa autoestima e o sentimento generalizado de impotência , muito conveniente ao poder.  Permitiram a entrada do governo do PT, com Lula jogando com a realpolitick , achando que tinha encontrado a receita milagrosa para que o deixassem cumprir uma agenda minimamente inclusiva. Mas se você somar o Brasil, país de dimensões continentais, líder natural da América do Sul, com o desenvolvimento humano, riquezas naturais e BRICS… Achavam mesmo que iriam deixar isso barato? Não precisamos de teoria da conspiração , usar a lógica já basta.

    Nada é derradeiro, nada é irreversível e a minha esperança está nos jovens que surgem. Não os de cabecinha feita pelo discurso familiar de ódio, dando continuidade à estupidez da burguesia branca. Mas os resgatados das ocupações , berço da utopia, dos artistas alternativos. Gente nova que se dá valor, gente que precisa aprender para não cair nas armadilhas do passado, da nossa história não ensinada, não divulgada. Que a moral vença o moralismo, que a inclusão seja pauta inegociável  e não caiam em armadilha fácil, como a vaidade. Este já seria um bom recomeço.

     

  2. “A rotina das chamadas boas

    “A rotina das chamadas boas maneiras esconde a essência das pessoas.”

    Esta frase defini o homem cordial de uma maneira primorosa.

    Foi exatamente o que diz esta frase que senti no dia do golpe. Quando a maior rede de comunicação nacional em conluio com um “juiz” federal de primeira instancia tentaram criar uma convulsão nacional expondo grampos ilegais da então presidente da republica, que não trazia o menor conteúdo que demostra-se crime. 

    As pessoas deixaram de lado suas fantasias carnavalescas e mostraram a alma midiota que pariu o brasil do seculo XXI, completamente oposta a educação, ao amor, a comunhão. 

    Parece uma bobagem, mas ao tirar do lema da bandeira a palavra amor já se tinha uma boa pista sobre este homem “cordial”

     

     

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