
Em uma entrevista reveladora concedida à Ana Laura Prates no programa “Ouvindo Vozes”, da TV GGN, Evandro Fióti, cantor, compositor e empresário responsável pela Lab Fantasma, expõe os dilemas enfrentados pelos homens pretos, comentando a necessidade de políticas públicas para garantir o empregabilidade digna e reparação. Um diálogo incisivo que aborda a complexidade da experiência negra em meio a um contexto de embrutecimento e desumanização que persiste no período pós-colonial brasileiro.
“As vulnerabilidades sociais provocadas por todo esse processo que nós tivemos de colonialismo e de escravização dos corpos de nossos antepassados, colocou a gente nesse lugar em que falamos muito sobre violência social e reflete pouco sobre os efeitos biológicos”, reflete Evandro.
No cenário desafiador do Brasil pós-pandêmico, os impactos materiais e subjetivos desproporcionais sobre a população negra ecoam como um alerta urgente. Fióti compartilha sua experiência enquanto homem negro liderando uma empresa de entretenimento de chegar “ao limite do adoecimento psíquico”. “Eu comecei a ver racismo em tudo de uma maneira explícita”, revela Fióti ao perceber que algumas pessoas artistas “não-negras estavam conseguindo ter outra qualidade de vida naquele momento, estavam conseguindo ter recurso financeiro e apoio para viabilizar seus trabalhos enquanto que a gente tava vivendo isso”.
Assim, o artista mergulhou em estudos sobre psicanálise em busca de respostas para os desafios que vivia, encontrando referências como Jurema Werneck e Neusa Santos sobre o impacto do racismo na psique negra.
A destacar uma grande maioria de famílias negras que vem “totalmente desestruturadas em todos os sentidos socialmente falando”, gerando consequências econômicas, como até mesmo o vício ou à prisão, Fióti pergunta “e quem que tá dando conta nessa sociedade?”.
No entanto, o artista não perde a perspectiva histórica do contexto social enquanto um “projeto de Estado partindo da eugenia”, que tinha como objetivo extinguir pessoas negras na sociedade brasileira até 2011. Nessa “guerra por nossa destruição”, ele remarca a interferência desse fator na subjetividade da população negra no país e aponta a necessidade do Estado em reparar, como pensava Abdias Nascimento.
“A responsabilidade da sociedade brasileira, do estado brasileiro de criar mecanismos para acelerar essa possibilidade de dar uma condição das pessoas negras serem vistas como seres humanos”, defende o cantor.
Fióti ressalta como o racismo enraizado na psique negra perpetua um ciclo de desafios, evidenciado pelo alarmante índice de suicídio entre homens pretos jovens (45%). Também lança luz sobre a necessidade premente de políticas públicas que atuem como reparação histórica, enfatizando a responsabilidade do Estado em criar mecanismos para a inclusão e valorização da população negra como seres humanos plenos.
A entrevista também revela um confronto com o feminismo branco, apontando para a necessidade de uma interseccionalidade que não hierarquize as lutas. “Não existe essa disparidade tão grande quando a gente vai olhar o nível de desumanização de homens e mulheres negras”, destaca o empresário da Lab Fantasma.
Fióti desafia estereótipos ao apontar o papel do pagode como um espaço que permitiu a expressão emocional de homens negros, resgatando também a importância da representatividade nos meios de comunicação. Figuras como Thiaguinho geram um modelo “possível de se imaginar como homem negro no país”, segundo o empresário. Ele ressalta a importância da inserção desse exemplo em contraponto ao lugar de violência e criminalidade em que o imaginário popular colocou os corpos negros.
Em um momento crucial, Evandro Fióti expõe a dificuldade em encontrar profissionais capacitados para lidar com a saúde mental da população negra, destacando a urgência de uma formação antirracista e o acolhimento adequado nas instituições de saúde.
Confira a entrevista completa:

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