Gleisi e Lula sob o falso moralismo, por Carolina Maria Ruy

Não foi com conotação sexista que o presidente se dirigiu à Gleisi. Basta ver o vídeo, ouvir seu tom, contextualizar o discurso.

José Cruz – Agência Brasil

Gleisi e Lula sob o falso moralismo

por Carolina Maria Ruy

“Amo tanto e de tanto amar, acho que ela é bonita”. Com poucas palavras Chico Buarque demonstra que, para além de um padrão estético ou do apelo sexual, a beleza representa um conjunto de valores atribuídos a quem aprendemos a admirar. Isso não está só na música. Está na linguagem popular. Uma pessoa muito bonita, um belo companheiro. Muito mais do que um capital, a beleza aqui é uma inspiração humanitária e até demonstração de força. Afinal, “é preciso ter graça, É preciso ter sonho sempre”.

Mas da fala do presidente Luís Inacio Lula da Silva, que disse, em meio a um discurso, que a ministra Gleisi Hoffmann é uma “mulher bonita”, a imprensa só conseguiu ver o valor de uso e o sentido perverso da beleza física, abrindo caminho para o esgoto bolsonarista proferir imundices contra a Ministra. Aí sim, fez-se o machismo.

Digo e repito: não foi com conotação sexista que o presidente se dirigiu à Gleisi. Basta ver o vídeo, ouvir seu tom, contextualizar o discurso. Está na cara que Lula não falou que a beleza da Gleisi vai ganhar a confiança dos parlamentares. E a imprensa, que sabe que está errada, distorce só para queimar o governo.

Me admira ver jornalistas que apoiaram a perseguição e o golpe contra a Dilma Rousseff, e que apoiaram e bateram palmas para os abusos da lava jato, fazendo o teatro de “indignação feminista” com o fato de o Luta ter afirmado que a Gleisi é uma bela companheira.

Senti falta de movimentos e organizações de mulheres saírem em defesa da Ministra e refutarem as matérias levianas da imprensa que atribuem um falso machismo na fala de Lula. Seria (ainda pode ser) educativo para a sociedade movimentos de mulheres, sejam eles ligados à partidos, sindicatos, ou independentes, definirem posição e se pronunciarem já que o caso está se estendendo por obra de jornalistas e dos bolsonaristas.

Neste sentido, destaco a importante iniciativa da Central dos Sindicatos Brasileiros (CSB), que emitiu nota assinada pela Secretária da Mulher e pelo Presidente da entidade, Antonieta Dorledo de Faria e Antônio Neto, repudiando a violência machista manifestada pelo deputado Gustavo Gayer contra Gleisi. “Para piorar, o comentário foi feito em pleno Mês da Mulher, em que figuras públicas deveriam ter a responsabilidade de promover o respeito às mulheres, que ainda hoje sofrem violência física e verbal, ganham salários menores e têm sua competência profissional questionada muitas vezes apenas por serem mulheres. Em vez disso, o deputado alimenta uma cultura que gera o ciclo de desrespeito e desigualdade o qual ele teria o dever de combater”, diz a nota.

Destaco também a manifestação da Secretaria da Mulher da Câmara dos Deputados, que emitiu nota assinada pela Deputada e Coordenadora-Geral da Bancada Feminina, Benedita da Silva, em solidariedade à Ministra e repúdio às de Gayer , afirmando que “O caráter misógino da violência moral publicada pelo deputado na plataforma “X” precisa ser devidamente apurado e punido, tanto política como criminalmente”.

E, por fim, destaco a análise do jornalista Reinaldo Azevedo que contradisse os absurdos dos jornalões afirmando, entre outras coisas, que: “A frase não é machista quando se olha o conjunto das coisas” e “O Lula a indicou para presidir o partido em 2017 e ela ficou lá quase oito anos (…) e agora ao cargo político mais importante do governo”.

Não é possível considerar seriamente, diante do currículo de Gleisi e dos compromissos assumidos por esse governo, que ela tenha sido nomeada ministra com base em sua aparência física. Há aqui uma evidente distorção.

Uma distorção que atende a um interesse muito claro: desgastar a imagem do presidente a acuar o governo para que ele seja cada vez mais submisso ao projeto elitista, sustentado à base de manipulações e de muito falso moralismo.

Carolina Maria Ruy é jornalista e coordenadora do Centro de Memória Sindical

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6 Comentários

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  1. Triplo Twist Carpado.

    Não, a autora mente.

    O presidente diz:

    Não quero cara feia ou distanciamento (se referindo aos problemas com a pasta e o Congresso).

    Coloquei uma mulher bonita para tratar com vocês (congresso) e acabar com essa distância.

    Se isso não é sexista, nada mais será.

    Talvez a crítica da autora, que ela parece não ter coragem de fazer, deveria ser a seguinte:

    E se foi uma fala machista?

    Qual os avanços que a luta identitária trouxe, além da pauta de costumes?

    Não deveríamos tratar da luta de classes dentro do governo?

    Ah, ninguém vai propor um debate desses.

    Nem os que tentam suavizar o machismo de Lula (olha o caso do Silvio de Almeida aí, gente!), nem as mulheres de esquerda, que deveriam colocar as identitárias em seus devidos lugares.

    Os primeiros pela óbvia legitimidade, os últimos por ausencia de coragem política.

  2. Em tempo.

    Lula não precisa de ajuda para continuar afundando, ele tem feito isso sozinho, desde que assinou a Carta Aos Brasileiros, lá em 2002.

  3. Na contramão da defesa da democracia, já faz algum tempo há uma ação contínua de desgaste da política. A administração das pólis pelo Estado/Sociedade organizado vai sendo aos poucos colocada em xeque. A exaltação do individualismo ante o coletivo, cada um defendendo o espaço próprio, o mérito próprio em desconsideração das garantias oferecidas pelo Estado estabelecido como forma ou elemento de indispensável presença para tal. As esferas políticas do Estado como um grande peso a ser carregado pela sociedade. Num primeiro momento a corrupção, com o descredenciamento de todos os políticos por causa das atitudes de alguns. Escandalização após escandalização, todos foram colocados no mesmo pacote. Agora como pretexto de defesa anti-deigualdades , existe um direcionamento afastando uma interpretação racional das coisas, igualando crimes de preconceitos e discriminações a um uso de palavras que não teve nenhuma intenção ou vinculação dessa natureza, como a declaração do presidente Lula na ocasião. Essas coisas buscam matar o todo encontrando justificativa na distorção ou manipulação das partes. Tudo é igual, não existem distinções de pensamentos, de verdades.

    1. É…de boas intenções o inferno está cheio.

      Qual é o problema dos lulofanáticos aceitarem o óbvio:

      Lula falou me*da, como em tantas outras vezes, seja no caso do 31 de março, seja quando disse que o corintiano frustrado pela derrota do time “pode” agredir a esposa.

      Será que não basta o desastre que foi o caso Silvio, e a tibieza do presidente em tratar do tema?

      1. Quantos comentários você fez criticando as incontáveis falas de Bolsonaro atacando as mulheres das formas mais abjetas possíveis?

        Se não fez nenhum, o mármore do inferno te aguarda. Aguarda a você e a todos os cheios de boas intenções iguais a você.

  4. Texto excelente. Concordo em 100%.
    Essa fascistinha que desensina o bê-a-bá é o exemplo “cuspido e escarrado” dos muitos que distorcem falas e atos de Lula, com o claro objetivo de desgastar a imagem do presidente e assim dificultar sua reeleição.

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