A economia solidária, como o novo Bolsa Familia

Semana passada participei de um seminário da Unicamp sobre o novo marco legal da inovação.

Um debate rico, em que dividi a mesa com Epitáfio Macário, da Universidade Estadual do Ceará e Renato Dagnino, da Unicamp.

Dagnino defendeu uma tese instigante: a de que o país deveria abandonar os cânones tradicionais, de investir em inovação para conferir competitividade à indústria brasileira. Em vez disso, direcionar os investimentos para a economia solidária, a forma mais antiga e mais moderna de organização econômica.

Hoje em dia, diz ele, 70% das pesquisas mundiais são geradas nas empresas, 70% das quais transnacionais.

Hoje em dia, as políticas científico-tecnológicos buscam ampliar a competitividade sistêmica, injetando recursos na inovação e induzindo a área acadêmica a centrar fogo em pesquisas.

Segundo Dagnino, há duas falhas centrais nesse modelo:

1. A maior parte das pesquisas nas empresas que não se traduz em emprego e produtos bons e baratos.

2. De sua parte, o Estado, através de suas instituições de pesquisa, não produz competitividade sistêmica na pesquisa.

Hoje em dia, diz ele, na Espanha metade dos jovens de até 30 anos está desempregado. No Brasil, nos últimos anos de bonança foram criados 18 milhões de empregos com rendimentos abaixo de 3 salários mínimos. Onde entrarão 80 milhões de brasileiros em carteira assinada, indaga ele.

Confrontando números, Dagnino é descrente em modelos de reindustrialização preconizados pelo neodesenvolvimentismo. A indústria emprega hoje 2 milhões de pessoas com carteira assinada, representa 11% do PIB. Como mover, através da indústria, um universo muito maior? Segundo ele, o Brasil teria perdido definitivamente o bonde da corrida tecnológica convencional e da industrialização.

O custo da mão de obra brasileira é suficientemente baixa para gerar competitividade das empresas, indaga ele? Na Alemanha, o salario médio da indústria é de 30 dólares a hora. Na China, de 0,6 dólar mais o subsidio oficial. No Brasil, é de 5 dólares. Como superar um hiato de 7,5 vezes o custo do trabalho na China?

É plausível que empresas nacionais façam P&D para serem competitivas e superar essa diferença? Difícil, responde. No Brasil, a inovação é imitativa: aquisição de tecnologia conhecida, através de máquinas e equipamentos.

As empresas inovadoras brasileiras são 30 mil, segundo a PINTEC (Pesquisa de Inovação do IBGE), mas 80% declaram que fazem inovação através de compra de máquinas e equipamentos.

Segundo Dagnino, o mainstream da área acadêmica toma essa fragilidade como argumento para injetar recursos de pesquisa na Universidade, devido ao fato dos empresários nacionais serem atrasados por não entender o papel da C&T (Ciência e Tecnologia).

Dagnino discorda tanto da estratégia quanto do julgamento do empresário.

Nos Estados Unidos, alega ele, quase a totalidade do recurso empresarial em P&D é aplicado dentro das próprias empresas e apenas 1% contratado das universidades e institutos de pesquisa. O grande papel da Universidade é formar mestres e doutores. E apenas 1% dos gastos universitários vem das empresas.

No Brasil, das 30 mil empresas inovadoras, apenas 7% têm relação com a universidade.

Entre 2006 e 2008 o Brasil formou 90 mil mestres em ciências duras. Apenas 68 foram empregados nas empresas, segundo dados da CAPES e da PINTEC. Os contratos com empresas garantem apenas 0,8% do orçamento da Unicamp e 0,2% do orçamento total das universidades brasileiras.

Segundo ele, empresários brasileiros são competentes, respondem aos sinais do mercado, frequentemente vão para Europa, Japão e China atrás das novidades.

A busca do caminho

Qual seria, então, o caminho da pesquisa no Brasil?

Segundo Dagnino, há um erro central de buscar a internacionalização da universidade pública, transformando-a em padrão mundial. Servirá apenas para formar mão de obra para as grandes transancionais, não para um projeto nacional.

Segundo ele, inclusão social não virá através de políticas de emprego e renda, mas pela criação de trabalho e renda. A janela de oportunidade brasileira seria a economia solidária, que começou forte em 2003 e depois foi definhando.

Mas qualquer política industrial só nasce a partir do Estado, jamais dos sinais do mercado. É o caso do pré-sal e da Embrapii.

A economia social necessita de dois impulsos das políticas públicas.

Primeiro, a criação de uma plataforma cognitiva, cientistas dispostos a desenvolver tecnologia social, conferindo competitividade e consistência à produção coletiva, não apenas aprimorando a produção como desenvolvendo formas de gestão. É o caso da reciclagem de alumínio, na qual o Brasil é campeão mundial, que comporta muito valor agregado, na fabricação de utensílios, equipamentos.

Depois, o Estado direcionando as compras e serviços públicos para esse setor.

Dos 40% do PIB, diz ele, 18% se referem a compras públicas. Com 0,45% do PIB a Bolsa Família tirou 30 milhões da miséria. Se colocasse 4% das compras públicas na economia solidária, o efeito seria gigantesco.

E nem se imagine grupos sem iniciativa, apáticos em relação ao mercado. Criadas as condições de mercado, haverá a competição natural e o empreendedorismo de pessoas e de grupos.

O caminho não é a propriedade dos meios de produção nem o capitalismo selvagem, diz ele, mas a propriedade coletiva dos meios de produção através de processos de autogestão.

Obviamente, não será o único foco da economia. Mas certamente aquele que gerará mais emprego e renda.

Esse tipo de projeto casa com uma ideia que defendemos em 2014 que acabou abafada pelas sucessivas crises políticas: o investimentos nas chamadas economias de bem estar, saúde e educação.

Até o golpe, o Brasil era a única democracia estável dentre os países baleia emergentes. A democracia trouxe uma demanda crescente de serviços de saúde e educação. Com o mercado interno da clientela e das compras públicas se poderia trabalhar em modelos que pudesse, ser exportados para outros países emergentes.

 

 

Luis Nassif

18 Comentários

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  1. Boa idéia!

    Em um país, chamado deemergente e “baleia” (pelo tamanho como o nosso país), para haver melhora das condições sociais e econômicas, temos que obrigatóriamente sermos geridos  por um estado, democrático, participativo com as necessidades populares e competente.

    Os ultimos anos de governos no Brasil, apenas os governos do PT, apesar de não terem uma direção clara, talvez pelos obstáculos colocados pelas elites, mesmo sem um grande grau de competência e experiência em governar, pois estes aprendizados vêm do exercicio do poder,  obtivemos um avanço considerável na distribuição de rendas (não de bens, pois este é um outro problema) e uma melhora do ponto de vista social consideravel.

    Nosso nó górdio continua sendo nossa elite golpista, que não aceita que nenhuma parcela da riqueza seja repartida, que nenhuma alegria e felicidade de outras camadas seja aceita, pois incomoda o seu status de vida, nada que não seja a escravidão abjeta da qual disse-se que o  Brasil saiu, mas aida continua, tendo um multidões de escravos, nada disto  é passivel de aceitação por este grupelho fascista..

    O nosso problema continua sendo como nos livrar destes crápulas e seus asseclas indecentes em cargos públicos. Sem remover este aparato de proteção que as elites construiram através de séculos, baseados em leis/normas socias/conceituação do que é certo ou errado/apoiadores e suportes interno e externo, forças policiais e militares , cargos públicos preenchidos por  apoiadores/associados, em todos os segmentos dos nossos governos (municipais, estaduais e federal), não vamos nunca chegar a ser um país liberto do modo histórico de vida escravagista, mesmo sendo  “escravos libertos”.

    Na verdade populações inteiras são escravos de um grupelho, sem que estes tenham a posse física destas populações, mas onde o conjuntos estatal citado anreriormente, nos torna escravos de verdade, para sermos usados e descartados a vontade dos mais ricos!

    Toda e qualquer solução, social ou econômica, passa pela nossa erradicação deste grupelho e suas extensões!

  2. num pais que ainda nem saber

    num pais que ainda nem saber o que fazer com suas crianças pois chegam no sexto ano sem dominio da leitura e escrita de forma satisfatoria, uma saida dessa a la esquerda seria temeraria. nao temos condições de competir com os paises mais desenvolvidos justamente por que nos falta a base. precisamos de uma educação forte. todos os paises que fizeram o capitalismo acontecer fizeram tres coisas: a educação, reforma agraria e um sistema politico estavel. nao temos nenhuma dessas tres coisas… então eu diria que é necessario criar uma base segura para que a economia de um salto desses… mas estamos a esperando há quinhentos anos ou mais… já fomos subdesenvolvidos, depois em desenvolvimento, depois emergentes… ficaremos sempre por aí..

  3. Excelente artigo, de fato a

    Excelente artigo, de fato a pesquisa nacional é de natureza imitadora, é cara, burocrática, corporativista, mantém uma distância segura das empresas e é completamente ineficiente.

    A ciência nacional vive distante dos problemas nacionais, enquanto mendiga atenção na periferia dos grandes centros mundiais.

    No Brasil, as universidades querem fazer tudo (abocanhar todo o recurso financeiro) : formação, criação, desenvolvimento, inovação, start-ups etc etc etc.  Ao final, quando consegue algo, esse algo vai para o exterior sem agregar nenhum valor no Brasil.

    Esse filão das compras públicas o empresariado nacional conhece muito bem.

    O modelo atual de universidade no Brasil faliu.  O modelo de pesquisa brasileira faliu.  Temos um sistema viciado.  O bom pesquisador é aquele que compra muito material caro do exterior para produzir artigos para as revistas internacionais, que geram 0 impacto na nossa economia.  

    Uma observação. As ciência duras não são as determinantes no mundo atual capitalista, mas as moles, a engenharia social, a psicosociologia, a ciência do comportamento.  Foi por ai que o núcleo (New York-Londres-Amsterdam) do ocidente se apropriou do trabalho, no início, e da alma do cidadão comum que compra tudo que o mercado mandar comprar.

    As empresas públicas de pesquisa seguem na mesma tocada, apenas imitando e comprando equipamentos caríssimos para gerar papers e currículos Lattes enormes.  Hoje em dia mais vale o Fulano exibir os seus 200 artigos que qualquer coisa que se assemelhe a inovação, isso em empresa pública de pesquisa – na Universidade é muito pior. 

    Eu não chamaria a solução de economia solidária, nem eco-economia, acho esses termos desgastados e que ao final vão se remeter a teorias e estratégias velhas.  

    A culpa não é do governo, mas da própria academia que teme se colocar à prova da realidade.  A academia se fechou num mundo próprio onde o sistema ciência existe para continuar existindo, se publica para se continuar publicando, onde o mestrando e doutorando são admitidos para replicar e não para inovar, num ciclo vicioso sem fim.

    Acho que o meio científico já percebeu o quanto de dinheiro se joga no mato hoje em dia, mas ninguém tem coragem de mudar as engrenagens dessa máquina de enganar.

  4. No post sobre a demissão de

    No post sobre a demissão de Paul Singer da Secretaria de Economia Solidária, levantei alguns pontos que repito aqui.

    É fundamental questionar os resultados da outrora (e, aparentemente, agora) tão propalada “Economia Solidária” – nome mais moderno para o antigo “cooperativismo”.

    O fato é que a Economia Solidária nunca logrou realizar os resultados utópicos a que se propunha – e dos quais Paul Singer foi um dos mais animados divulgadores mundiais, e Dagnino, em nível nacional e acadêmico. Baseado em experiência exitosas de cooperativas ricas e inovadoras (como em Mondragón, na Espanha), a EcoSol propunha uma revolução “de dentro” no modo de produção capitalista.

    Mas o que se tornou, na prática, a EcoSol ou o Cooperativismo no Brasil? Para não citar o caso mais comum das “cooperativas de catadores” espalhadas por todo o país (os empreendimentos autogestionários nunca saíram desse nível medíocre de inserção nas cadeias produtivas), o cooperatvismo no Brasil se tornou sinônimo de empreendimentos que jamais se desvincularam da ajuda estatal – algo completamente distinto de sua essência, já que deveriam ser “autogestionárias”. No fundo, a ideia original era a mesma que motivava o Bolsa Família: “o Estado precisa dar as condições iniciais para que os beneficiários caminhem por si mesmos”. Só que isso, tanto no BF quanto na EcoSol, nunca ocorreu, perpetuando-se o assistencialismo que está na essência de ambos.

    A maior parte das cooperativas brasileiras (falo aqui das cooperativas genuínas, não as que têm “cooperativa” só no nome) vive de convênios bancados pelo governo federal, são ineficientes, improdutivas e incapazes de se “autogerir”. São poucos os empreendimentos “solidários” ou “autogestionários” que obtiveram relativo êxito e sustentabilidade. Na verdade, a maioria jamais chegou perto de competir, por si só, com os empreendimentos heterogestionários – isto é, capitalistas. Com frequência, são cooptadas por interesses partidários e eleitorais e vêem sua fonte de recursos condicionadas a este elo perpétuo com o governo. Pululam processos na justiça, por improbidade, de convênios envolvendo cooperativas.

    Diante deste fato – como disse no post sobre o Paul Singer – penso ser irrelevante sua troca por um “escrivão aposentado” na Secretaria de EcoSol.

    Muito mais interessante seria debater os resultados medíocres da Economia Solidária no país. O post acima, por exemplo, não foi capaz citar um. Não que não existam, mas sua relevância – em 2003 como em 2016 – é muito mais teórica que prática.

    1. Sobre Davis e Golias
      Será que a falta de resultados a que se refere – não entrarei no mérito da discussão técnica porque não disponho de dados suficientes, falarei em hipótese semi-filosófica – não deriva da mentalidade que você expôs, que tenta aplicar ao conceito de economia solidária princípios capitalistas…? Que aliás tem quantos anos de predomínio e de entranhamento na estrutura social e psicológica pra ser superado rapidamente pela economia da solidariedade?, esta quase uma heresia pra forma naturalizada de mercantilismo selvagem capitalista que só produz miséria – material e espiritual – generalizada, empobrecimento gradativo, concentração de renda, ou melhor, de fortunas cada vez mais exageradas e indefensáveis, crises sistêmicas e de recorrência cada vez mais curta no centro do “sistema”, e catastroficamente, as debacles ecológica e humanitária. Economia não deveria ser apenas números, e muitas das mais importantes e revolucionárias idéias, na ciência e na tecnologia, sofreram reveses parecidos aos que V. Sa. supõe na economia solidária – não li o post original a que se referiu… – pelo que representavam de choque com o pensamento dominante – a famosa “mudança de paradigma” do Thomas Kuhn. Não se deve desistir de algo porque não dá frutos imediatos – não é o objetivo! Tudo que se espera florescer deve ser cultivado com responsabilidade, paciência e humildade, criatividade e certo desprendimento, aspectos que o dinheiro e o capitalismo desconhecem, ou melhor, não reconhecem porque deturpam, se capitalizáveis, ou destroem, se inconvenientes.
      A propósito, este post pretende ser uma despretensiosa homenagem ao professor Paul Singer, ilustre cidadão brasileiro do mundo.
      Sugiro o documentário Slingshot, sobre o inventor americano Dean Kamen, que mostra como a ciência e a utopia são filhas da mesma alma, e mesmo quando não repudiam o capitalismo, são inviabilizadas por negarem sua essência: a competição onívora e impiedosa na fabricação de excedentes monetários autorreferentes e autossuficientes.

      https://youtu.be/klHo_bvyDoA

  5. economia solidaria.

    Creio que as pessoas esperam muito que o Estado seja o mediador do processo de mudanca para a economia solidaria. Nao concordo. Somente a sociedade organizada podera fazer essa transicao. E preciso pensar, criar e sistematizar. Ha uma ansia latente dentro das pessoas para a retomada de um modo de producao e organizacao social fora desse capitalismo selvagem. Podemos comecar ja.  

  6. O problema do emprego no

    O problema do emprego no Brasil passa obrigatoriamente por uma reforma das nossas leis trabalhistas, que são jurássicas, por uma ampla reforma tributária que desonere consumo e o setor produtivo e por um amplo processo de desburocratização.

    Se não for feito isso, continuaremos vendo as indústrias texteis de Santa Catarina transferindo suas plantas para o Paraguai ou as multinacionais, como a Bosch que está desativando sua planta em Curitiba, fugindo para a Índia ou China.

    1. O Brasil é como um

      O Brasil é como um extraordinario e possante animal de tração que o dono mantem atrelado a uma carroça com o sistema de freio avariado que extenua o animal e o impede de usar todo seu potencial natural.

  7. Quem gera emprego?

    Nenhum empresários gera emprego por bondade. Só gera quando existe demanda. A demanda não vem quando não existem p líticas de renda ou quando existe arrocho nos investimentos sociais (que os cabeças de planilha chamam de gastos sociais). Taxas de juros altas são boas para os bancos e rentistas, mas não geram empregos, muito pelo contrário. 

    Na época de bonança vimos como a renda dos mais pobres ativou a economia como um todo. Já a política do austericidio  não cria nada, só mais recessão, desemprego e redução da demanda.

    Se o capitalismo e os capitalistas tiverem um pouco de inteligência, deveria investir em políticas de renda e redução da pobreza, para aumentar a cemanda. O erro do capitalismo nacional é achar que esse é um jogo de soma zero. Acabam perdendo dinheiro e de quebra vivendo no país mais injusto do mundo.

     

    1. Concordo plenamente.
      Como

      Concordo plenamente.

      Como disse o autor do texto, o Bolsa Família representa 0,45% do  PIB. Os recursos são entregues diretamente nas mãos dos necessitados e são imediatamente gastos em alimentos, roupas e outros gêneros de primeira necessidade. Essa ação, aparentemente sem consequência, gera a semente de um ciclo econômico regional: mais compras geram mais comércios, que geram mais produtores, que geram mais industrias, que geram mais trabalho, que geram mais impostos e assim por diante. O sistema se auto alimenta e vai ficando cada vez mais forte. Em outras palavras: a injeção de recursos nas classes mais baixas se projeta em todas as demais classes, favorecendo todas as atividades. Segundo o IPEA – Instituto de Pesquisa Econômica aplicada, fundação pública federal, cada R$ 1 adicionado ao Bolsa Família gera crescimento de R$ 1,78 ao PIB brasileiro.

      Dois terços da população brasileira ganha até dois salários mínimos (Fonte: http://economia.uol.com.br/noticias/redacao/2012/12/19/ibge-72-dos-brasileiros-ganhavam-ate-2-salarios-minimos-em-2010.htm). O mesmo efeito se daria, caso esses trabalhadores fossem melhor remunerados.

      Eu acredito que a elite econômica nacional e internacional sabe bem disse. Eles são os únicos que ganham com a desigualdade social. Ganham com os baixos salários e ganham com o rentismo e a especulação. Todas as demais classes sociais perdem, inclusive as altas. Se a população fosse melhor remunerada consumiria mais, seja em produtos, seja em serviços, estudos, saúde, viagens e o que mais houver disponível no mercado. E todos os empresários e ramos de atividade lucrariam mais. Mas a maioria dos integrantes das classes média e altas não percebem isso. São massa de manobra das elites e acreditam no inverso: que o aumento da remuneração das classes inferiores terá como contrapartida a redução de seus rendimentos. Se analisassem a economia das grandes potências, entenderiam essa realidade.   

       

  8. Nada disto funcionará…nenhuma idéia

    Enquanto o Brasil não tiver uma economia capitalista, esquece qualquer coisa. Nosso país paga bem pelo dinheiro investido no nada, então esqueçam inovações para o setor industrial e etc…

    Se eu tiver um milhão é melhor comprar títulos do tesouro ou outra coisa qualquer do que montar uma fábrica e ter o meu dinheiro sendo corroído pela inflação mais juros de oportunidade…o governo quer contraír e reduzir o consumo, pra que jogar o dinheiro fora num empreendimento que não terá consumidores…

     

  9. Praticamos

    Excelente análise. Vou colocar um exemplo: A organização da agricultura familiar produzindo para abastecer entidades públicas e privadas ligadas a educação. Isso mexe com varias cadeias produtivas. Eu pergunto: isso interessa a elite brasileira, ver a sociedade se organizado e fortalecendo seu meio de produção com aval do governo? Por que o golpe? 

  10. o nó da metodologia extrativista

    Achei o post instigante. vale a pena dar continuidade a esta discussão. Acrescentaria um fator a ser considerado na criação desta plataforma cognitiva para criar tecnologia social: o uso prevalente de metodologias extrativistas nas pesquisas acadêmicas. “Metodologias Extrativistas”, segundo Boaventura Santos, são aquelas que retiram o saber de uma comunidade e transforma-os em informação cientifica (teses e artigos, TCCs etc). Sem a devida discussão, é alto o “risco” do trabalho em economia solidária extrair informações sem se preocupar em envolver estas comunidades de fato.Muitas vezes os trabalhos acadêmicos gerados na interação com a comunidade descolam do processo de criação e cosntituição do objetivo maior que é o emprendimento solidário.Penso que a busca por um caminho alternativo via economia solidária envolve uma mudança de mentalidade importante na academia. No processo de criação de incubadoras sociais, minha maior dificuldade enquanto pesquisador é envolver diferentes areas academicas em um projeto comum de tal forma que haja ganho para todos. Falta know how para lidar com este aspecto da criação da inovação. Parece que ainda nos persegue o fantasma do modelo da FINEP de pesquisador registrando patentes a partir de informações fornecidas pelas comunidades que aceitam produzir junto conosco um conehcimento novo, em mar aberto, e com parte considerável do navio ainda a ser construida.

  11. O Brasil, em termos de

    O Brasil, em termos de propriedade da coisa comum, é como uma criança recém nascida que não sabe, por exemplo, herdar o seu valor da terra, ao potencial de fazer-se no futuro, para trazer o sentido de causas naturais ao meio de reprodução da vida.

    Por isso, a gestão econômica depende de que venha existir o elemento criador da sua relação jurídica  – a propriedade entre o homem e o objeto – em um novo meio exterior, para o dinheiro trazer a inovação externa que agrega um valor acessível ao país.

    Até ai tudo bem,  mas quem herdou o justo título da relação jurídica – ou por si a transforma em dinheiro – para ter “o valor de presunção das causas da coisa comum, neste caso, que vem a ser a propriedade do meio exterior – senão dos residentes no lugar da terra? – O trabalhador, sucedido pela produção; ou a clandestinidade de outras pessoas que avaliam o estado avançado da civilização? – Os bancos.

    Está certo essa questão da propriedade do objeto da terra aparecer como uma inovação do valor agregado para os bancos? A economia não tem a relação moral do elemento criador da sociedade civil (que os deuses representavam) para herdar a inovação de que um dinheiro forma o valor de um povo!!!

    E, assim, quando o Estado, a título hereditário da terra, está vinculado à pesquisa e inovação; em doação; ou compra e venda de outro domínio da alma, paga-se primeiro a não inovação do dinheiro – em tese a posse dela – á uma propriedade intelectual, fluída no domínio oportunista de estrangeiros; e, para gerar a transmissão social, fundamenta-se toda propriedade particular “de coisas” pelos bancos, como se o crédito e o investimento representassem o elemento ausente das pessoas ativas, pelo invisível “valor do direito real” das suas propriedades.

  12. A ineficiência é defensável se restrita e trouxer justiça

     

    Luis Nassif,

    A defesa de algumas idéias deve se bem fundamentada. Fazer a comparação da indústria chinesa com a indústria brasileira, apenas com base no custo da hora da mão de obra como se a China pudesse suprir toda a produção industrial de que o Brasil precisa, assim como de outros países que poderiam ser atendidos pelo Brasil é de uma falta de sentido sem tamanho.

    E nem alcança comprovação empírica. Basta observar que toda vez que o Brasil desvaloriza a sua moeda, a indústria brasileira rapidamente começa a se recuperar. Há e sempre houve espaço para mais um quando esse mais um tem uma moeda relativamente competitiva. Desconhecer essa realidade não favorece a resolver os problemas que o Brasil enfrenta.

    É bem verdade que o último processo de desvalorização da moeda nacional não trouxe os resultados esperados além de o país sofrer uma recessão muito mais dura que seria concebível. Creio que as dificuldades foram circunstanciais e contingenciais. O mundo vai devagar ultimamente e a nossa desvalorização não foi de uma só vez como de outras vezes.

    Desta vez a desvalorização ocorreu em três tempos: primeiro a partir da primeira queda dos preços das commodities no início do quarto trimestre de 2014, depois a partir da segunda queda dos preços das commodities no início do terceiro trimestre de 2015 e finalmente no primeiro trimestre de 2016 em razão do aumento do juro nos Estados Unidos em dezembro de 2015 e a promessa de quatro aumentos em 2016. Isso levou a economia a demorar a aprumar e a recessão instalou sem dificuldade.

    Os indícios, entretanto, salvo algum problema maior com a economia americana que leve a um aumento da taxa de juro naquele país, são de recuperação da economia e a indústria é a fonte desta recuperação assim como também o setor agropecuário e extrativista.

    Programas de divulgação de determinadas idéias precisam também apresentar o contraponto. A ausência do contraponto cria uma fragilidade que aumenta mais ainda quando as pessoas que vêm para o debate são de tal modo entusiasmadas com determinadas ideias que não observam que as muitas limitações que há nelas.

    Sempre relutei em aceitar o cooperativismo e modelos semelhantes como alternativas para o capitalismo. Aliás nem mesmo aceito que esses modelos alternativos possam competir com o capitalismo. O capitalismo apesar de sua extrema ineficiência no conjunto (E há nisso uma qualidade no capitalismo), é extremamente eficiente considerado pontualmente. Então a firma capitalista será sempre mais eficiente do que a cooperativa.

    Agora a eficiência está sempre em oposição a justiça. E se pretendemos participar da construção de um mundo mais justo não podemos abrir mão da ineficiência. Essas alternativas devem ser pensadas como uma forma de evitar que na busca da eficiência absoluta destruamos qualquer valor de justiça.

    Lembro que ali no período da crise, a revista The Economist fez uma crítica a grande ineficiência das siderúrgicas chinesas onde 100 trabalhadores faziam o trabalho que podia muito bem ser feito por 10. A revista The Economist queria que os chineses demitissem os trabalhadores em excesso. A China preferiu manter um crescimento acelerado de modo que sete anos depois possa precisar de 20 daquele grupo de 100, 14 anos depois precisaria de 40, 21 anos depois precisaria de 80, e mais 7 anos ele poderia até trazer inovações para a siderúrgica de modo a poder continuar a aumentar a produção com redução do número de empregados.

    Então o cooperativismo e a economia solidária devem ser defendidos não pela possibilidade de que eles venham a substituir o sistema capitalista, mas pela possiblidade que eles venham a trazer mais justiça para o sistema.

    E acho que você deveria ter mais cuidado na escolha dos textos que vão para destaque. Muitas vezes esses textos são escolhidos pelo que representam de contraponto e nesse sentido é bom que se tenha o questionamento daquilo que que é apresentado ou defendido no post. No entanto muitos contrapontos são pura retórica e retórica vazia quando não falsa.

    O Otto no comentário de terça-feira, 21/06/2016 às 22:19, logo de início diz: “O fato é que a Economia Solidária nunca logrou realizar os resultados utópicos a que se propunha”. Ora desde que se inventou o termo utopia, todos que tentam realizar resultados utópicos não lograram êxito. Trata-se mais de um truísmo que pode vir pendurado a qualquer texto.

    Depois ele afirma que na concepção do Bolsa Família se imaginou que o Estado daria as condições iniciais para que os beneficiários caminhassem por si mesmos e então diz que tanto no Bolsa Família e na Economia Solidária a ideia dos beneficiários caminharem por sim mesmo “nunca ocorreu, perpetuando-se o assistencialismo que está na essência de ambos”. Ora, a faixa de renda por pessoa que dá direito ao Bolsa Família é R$77,00. Se alguém da família consegue emprego a renda por pessoa cresce e o assistencialismo de que ele acusa o Bolsa Família deixa de existir. E na faixa de renda de R$77,01 a R$154,00, o benefício é só para famílias que possuem em sua composição familiar crianças e/ou adolescentes com idade limite de até 17 anos que frequentem a escola regularmente.

    E é ultrajante que uma sociedade como a brasileira não seja capaz de assegurar a cada um dos seus membros uma renda por pessoa superior a R$154,00. E chega a ser ultrajante dar destaque a um comentário que acusa o Bolsa Família de perpetuar o assistencialismo.

    E ainda relativamente ao comentário de Otto, eu lembro aqui que em 2014, o Valor Econômico fez reportagem sobre o subsídio ao produtor de leite suíço que deixasse suas vacas pastarem em grama suíça. Para cada vaca havia o subsídio de US$400,00 o que corresponde hoje, com o dólar a R$3,50, a R$166,00. Hoje com o advento da internet não fica difícil imaginar alguém na Suíça escrevendo um texto acusando o subsídio suíço de perpetuar o assistencialismo. Aliás poderia até ser algum expoente da escola austríaca que more no país vizinho.

    Com o título “Suíça desafia máxima de que a grama do vizinho é mais verde” a reprodução da reportagem do Valor Econômico a respeito do subsídio suíço foi postado em 28/08/2014 no site do Milk Point, conforme se vê no seguinte endereço:

    http://www.milkpoint.com.br/cadeia-do-leite/giro-lacteo/suica-desafia-maxima-de-que-a-grama-do-vizinho-e-mais-verde-90812n.aspx

    Nos Estados Unidos existe por parte do Partido Republicano uma campanha grande contra esses benefícios que o ente estatal concede às famílias dos mais necessitados. Tal campanha é fruto de um atraso de uma cultura, mas que não se restringe aos Estados Unidos, pois se pode ver essas ideias sendo ditas nos quatro cantos do mundo. E aqui no Brasil, como acontece em outros cantos, essas ideias se difundem com facilidade principalmente entre um público que sem tempo de conferir a informação passa por bem informado com bordões que não se sustentam diante de qualquer análise mais detalhada.

    Clever Mendes de Oliveira

    BH, 22/06/2016

  13. Excelente artigo

    São peças como essa que tornam a discussão do futuro possivel. Todo o restante são discussões para preservar o passado. Obrigado Nassif por trazer para seus leitores um pouco de luz onde existe a escuridão completa.

  14. “Primeiro, a criação de uma

    “Primeiro, a criação de uma plataforma cognitiva, cientistas dispostos a desenvolver tecnologia social, conferindo competitividade e consistência à produção coletiva, não apenas aprimorando a produção como desenvolvendo formas de gestão.”

    1 – Ninguém pode afirmar que o valor cambial dos EUA (ao sabor de fenômenos misticos) substitua as variáveis de fatores físicos da propriedade das empresas, dando a eles (americanos) o poder de propriedade superior para emitir o modo da propriedade hereditária na terra de outros – como se penhorasse o lastro recíproco dos demais países. Ao invés da invasão de investimentos externos como se desenvolvesse internamente os países que não seriam propriamente seus; é preciso haver uma estrutura neutra para uma moeda mundial receber a conversão natural que apenas afere os fatores fluidos dos meios de produtividade e de inter relação concreta das novas coisas feitas (sem ficar com a propriedade real (emprestada) para si). 2 – Porque o valor fluido que se descola da produção é que reproduz a propriedade conversível (o valor agregado ao dinheiro) e o faria da verdade, pelos espíritos do trabalho, circulando entre o sujeito e objeto da produção; se coletados em pesquisas eles se tornam recursos a partir da origem de cada nação. 3 – No que se refere ao movimento interno – de competência – da propriedade, há uma ciência da economia fictícia, em favor dos bancos que escravizam os fatores do valor do trabalho. Ela surge com moeda digital (seu crédito de valor é uma ficção da realidade) adquirindo a propriedade de alienar bens através de títulos públicos, empréstimos e cartões de crédito, que nada mais é do que suscitar a subversão dos fatores internos/externos e os revelar ao seu tempo (a rede pirata de cibernética* on line). 4 – A parte possível das atividades livres requer uma instituição internacional para cristalização da propriedade, que põe a organização individual no desenvolvimento da economia com apreensão da sociedade civil ao nível da posse do valor – caracterizando seus elementos para resultante adicional do crescimento sustentável – creditado como um patrimônio público para emissão de dinheiro físico e sistemático de inversão conversível, recuperado por intermédio fático dos investimentos do Estado. 5 – A cogitação jurídica dominial dos povos importa a gestão de paridade hereditária (as transformações geográficas da terra pela abstração do direito real), suprimindo a expropriação colonizadora e especulativa do mundo. 6 – Quanto aos fatores simultâneos do mundo real – para abstração de forma e conteúdo – estes guardo em segredo para revelar no começo absoluto do tempo espaço de uma nova história da humanidade.

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    * Cibernética.

    http://www.dicionarioinformal.com.br/cibern%C3%A9tica/

     A cibernética é uma palavra de origem remota que explica o estudo das funções humanas de controle e dos sistemas mecânicos e eletrônicos que se destinam a substituí-los.

    “cibernética é uma palavra que se origina do grego kibernetiké (timoneiro; o que governa o timão da embarcação; o homem do leme, em sentido figurado, ou aquele que dirige ou regula qualquer coisa; guia, chefe). A palavra também é designativa de piloto. No grupo de Norbert Siener, considerado o introdutor da cibernética nos moldes que vem sendo empregada atualmente, fisiologistas e matemáticos estavam sentindo a falta de um vocábulo que lhes permitisse entenderem-se, pela falta de um termo capaz de exprimir a unidade essencial dos problemas de comunicação e controle na máquina e nos seres vivos, já que todas as palavras até então propostas, ou se extremavam muito nas máquinas ou, em caso contrário, na vida.”Ps: o termo capaz de exprimir a unidade esssencial dos problemas de comunicação e controle na máquina (internet) e nos seres vivos, portanto, é a propriedade do valor das coisas e, em caso contrário, na vida.

     

  15. O funcionário da prefeitura

    O funcionário da prefeitura duma cidade do interior estava comentando: “pô! contruiram uns prédinhos bons e bonitos, visando tirar um pessoal de uma favela horrível, a um precinho dado! Estamos ha 6 meses oferecendo essa têta pras familias faveladas, mas por incrível que pareça ninguem quer… vocês acreditam?” Um senhor muito simples que acompanhou a conversa disse: “é um problema né… mas o problema não são os favelados, são vocês que não sabem como convence-los a sairem de lá”. Ficou claro ali que pouco valem grandes idéias e ótimas intenções sem a magia misteriosa de um motivador no comando.

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