AP News: Documentário brasileiro recebe indicação ao Oscar e expõe divisão

Costa, por sua vez, disse em seus canais de mídia social que o documentário era urgente "em um momento em que a extrema direita está se espalhando como uma epidemia".

ARQUIVO – Nesta foto de arquivo de 6 de setembro de 2016, a presidenta Dilma Rousseff, impeachment do Brasil, recebe flores e presentes de apoiadores ao deixar a residência presidencial, o Palácio da Alvorada, em Brasília, Brasil. A indicação ao Oscar de documentário brasileiro sobre o impeachment da então presidente Dilma Rousseff mais uma vez revelou a polarização da maior democracia da América Latina. (AP Photo / Eraldo Peres, arquivo)

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Documentário brasileiro recebe indicação ao Oscar e expõe divisão

por Mauricio Savarese

SÃO PAULO (AP) – A indicação ao Oscar de documentário brasileiro sobre o impeachment da então presidente Dilma Rousseff revelou a polarização da maior democracia da América Latina.

Em “The Edge of Democracy”, a cineasta de 36 anos, Petra Costa, usa sua história pessoal para argumentar que a democracia brasileira está em risco após o fim abrupto dos governos liderados pelo Partido dos Trabalhadores de esquerda entre 2003 e 2016.

Os esquerdistas argumentam que a acusação de manipulação fiscal do orçamento contra Dilma Rousseff não é um crime e não é uma ofensa impensável. Os direitistas insistem que é esse o caso, e alguns deles argumentam que houve problemas suficientes no governo de Dilma para acabar com isso de qualquer maneira.

Com a remoção de Dilma em 2016, seu vice-presidente conservador, Michel Temer, assumiu o poder e, em 2018, o candidato de extrema direita Jair Bolsonaro derrotou o candidato do Partido dos Trabalhadores para conquistar a presidência.

Políticos de esquerda disseram que a indicação valida sua interpretação do impeachment de Dilma como um golpe suave, como Costa sugere. O congresso do Brasil também impugnou o presidente Fernando Collor de Mello em 1992 devido a acusações de corrupção, mas esse processo foi muito menos divisivo.

“A história do golpe de 2016 que me afastou da presidência por meio de um impeachment fraudulento tomou conta do mundo”, disse Dilma em comunicado.

“O filme mostra como minha remoção do poder – e a mídia venal e as elites políticas e econômicas brasileiras acusadas de serem contra a democracia neste país – resultou na ascensão de um candidato de extrema direita em 2018”.

O mentor de Dilma, o ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva, que recentemente foi libertado da prisão enquanto aguarda sua condenação por corrupção, elogiou Costa no Twitter pela “seriedade em que ela narrou esse importante momento de nossa história”.

“A verdade prevalecerá”, escreveu ele.

Os conservadores reagiram, criticando a veracidade do filme e insistindo que a primeira mulher presidente do Brasil merecesse ser demitida por manipular valores orçamentários. Durante seus julgamentos de impeachment, o índice de popularidade de Dilma estava em um dígito e seu governo foi amplamente responsabilizado pela crise econômica do país após uma década de ganhos.

“Parabéns à cineasta Petra Costa por sua indicação para melhor ficção e fantasia”, disse o Twitter do Partido da Social Democracia, que foi fundamental no processo de impeachment de Dilma.

Roberto Alvim, secretário de Cultura de Bolsonaro, também disse que o documentário de Costa é ficção e disse ao jornal local Folha de S.Paulo que seu reconhecimento por Hollywood prova que as guerras culturais estão sendo travadas internacionalmente.

O presidente do Brasil, que criticou os artistas e a indústria cinematográfica do país desde seus dias como legislador, ainda não fez comentários sobre a indicação.

Costa, por sua vez, disse em seus canais de mídia social que o documentário era urgente “em um momento em que a extrema direita está se espalhando como uma epidemia”.

Os outros filmes indicados ao melhor documentário são “American Factory”, “The Cave”, “For Sama” e “Honeyland”. O filme vencedor será anunciado na cerimônia de 9 de fevereiro em Los Angeles.

Redação

4 Comentários

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  1. Espero estar enganado, mas o simples reconhecimento da divisão (verdadeira) da infeliz (como um todo) sociedade brasileira é motivo suficiente para o ótimo documentário (afinal está indicado, né?) não vencer a indicação.
    Afinal o “estabilishment” tem muitos interesses dando (muita) sopa com o atual (des)governo, pois não?
    O que não tirará minha torcida.

  2. O fabuloso em tudo que se seguiu ao anúncio foi que o “governo” que se elegeu com o slogan “brazil acima de tudo e Deus acima de todos” desceu o malho no filme em vez de aplaudir o grande feito que foi a indicação de uma produção Brasileira a concorrer ao Oscar.

  3. Que textinho horrível! Cheio de chavões, como em “polarização da maior democracia da América Latina” (mais adiante é explicitada como entre “direita” e “esquerda”) e em “os esquerdistas argumentam…”, além de conter mentiras naturalizadas, como a que dá como certa a condenação de Lula (“enquanto aguarda sua condenação por corrupção”).
    Escrito por alguém que certamente tem lado e que, na melhor das hipóteses, não conhece a realidade brasileira.

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