A esdrúxula política de abastecimento da dupla Guedes-Tereza Cristina, por Luis Nassif

Suponha que ficasse muito alto, comendo todo o lucro adicional do produtor. Reduza, então, para 10%. O produtor receberia 15,72% a mais do que antes da alta das cotações e do dólar. E a pressão sobre a inflação seria menor e seria menor ainda que as cotações dos importados.

 

Especialmente em países com déficit de cobertura de mídia – como o Brasil -, as discussões se fecham em torno de bordões, tratados como verdades científicas. Se estourar o teto, o Brasil acaba; se a dívida pública passar de 100% do PIB, não restará pedra sobre pedra; a única maneira de crescer é equilibrando as contas públicas através de cortes de gastos, ignorando um século de discussão econômica sobre o papel dos gastos públicos.

Nenhum desses dogmas é submetido a testes mínimos de lógica, a análises de correlações que comprovem se passam ou não no teste de lógica.

É essa superficialidade crônica que fez a opinião pública tratar como óbvia a política de importação de alimentos, com isenção de imposto, para segurar os preços internos, decisão absolutamente inócua.

Vamos a um breve exercício de lógica:

  1. Os preços dos produtos comercializáveis (aqueles que compõem o comércio internacional) são fixados em dólares. Depois, convertidos na moeda de cada país que produz ou consome. Seja produzido internamente ou importado, o que vale é a cotação internacional e o preço de conversão do dólar.
  2. O valor líquido recebido pelo produtor leva em conta as cotações internacionais menos o custo do frete. É este valor líquido que definirá os preços internos. Para vender para o mercado interno, ele irá querer o mesmo que recebe exoprtando.

Entendido isso, vamos a algumas contas:

  1. O aumento do preço do comercializável.

No Momento 1, o produto custava US $100,00 e pagava US $10 de frete. Portanto, ficavam com o produtor US $90,00. Com o dólar a R $4,70, o preço base era de R $423,00.

No Momento 2, houve um aumento de 10% na cotação em dólares – passando para US $110,00. E o dólar passou a custar R $5,50. Descontado o frete, o produtor passou a receber US $100,00. Com o dólar a R $5,50, o preço base saltou para R $550,00, 30,02% de aumento.

 

Cotação

Frete

Dólar

Imposto

Preço base

Aumento

Preço inicial

100,00

-10

R$ 4,70

0%

R$ 423,00

Novo preço interno

110,00

-10

R$ 5,50

0%

R$ 550,00

30,02%

  1. O preço dos importados.

Quando o aumento de preços decorre da escassez da oferta, a importação resolve. Quando o aumento decorre das cotações internacionais e do valor do dólar, o preço das importações é tão afetado quanto o das exportações, com um diferencial relevante: o frete.

Para exportar, o produtor pagará US $10,00. Portanto, para vender internamente não haverá custo do frete e o preço de equilíbrio será de US $100,00, depois da alta internacional.

Para vender internamente o produto, o produtor economiza o frete – que pagaria para entregar o produto a outro país. Mas quando importa, tem que pagar o frete para trazer o produto. E ainda 8% de Imposto de Importação.

A conta final ficaria assim: juntando o custo do frete e o Imposto de Importação, o importado sairia 67,47% a mais do que o preço inicial do produto, ou 28% a mais que os preços, depois dos aumentos das cotações e do dólar.

 

Cotação

Frete

Dólar

Imposto

Preço base

Aumento

Preço inicial

100,00

-10

R$ 4,70

0%

R$ 423,00

Novo preço interno

110,00

-10

R$ 5,50

0%

R$ 550,00

30,02%

Preço importado

110,00

10

R$ 5,50

8%

R$ 708,40

67,47%

Aí vem a história de isentar o produto do Imposto de Importação. Ficaria assim: o preço cairia para R $660,00, mas, ainda assim, 56% acima do preço inicial e 20% acima do preço do produto exportado.

 

Cotação

Frete

Dólar

Imposto

Preço base

Aumento

Preço inicial

100,00

-10

R$ 4,70

0%

R$ 423,00

Novo preço interno

110,00

-10

R$ 5,50

0%

R$ 550,00

30,02%

Preço importado

110,00

10

R$ 5,50

0%

R$ 660,00

56,03%

Haveria duas alternativas normais, em outros países, impossível no Brasil de Paulo Guedes e Jair Bolsonaro e seus pactos anti-consumidor:

  1. Instituir cotas de exportação.
  2. Instituir um Imposto de Exportação. O produtor passaria a receber, líquido, a cotação internacional – o frete – o imposto. Com 20% de Imposto de Exportação, o novo preço base ficaria assim: em R $429,00 ou apenas 1,42% acima do preço anterior.

 

Cotação

Frete

Dólar

Imposto

Preço base

Aumento

Preço inicial

100,00

-10

R$ 4,70

0%

R$ 423,00

Novo preço interno

110,00

-10

R$ 5,50

20%

R$ 429,00

1,42%

Suponha que ficasse muito alto, comendo todo o lucro adicional do produtor. Reduza, então, para 10%. O produtor receberia 15,72% a mais do que antes da alta das cotações e do dólar. E a pressão sobre a inflação seria menor e seria menor ainda que as cotações dos importados.

 

Cotação

Frete

Dólar

Imposto

Preço base

Aumento

Preço inicial

100,00

-10

R$ 4,70

0%

R$ 423,00

Novo preço interno

110,00

-10

R$ 5,50

10%

R$ 489,50

15,72%

Preço importado

110,00

10

R$ 5,50

0%

R$ 660,00

56,03%

Para comprovar o teste da lógica, confira as cotações do arroz em várias praças. Como se recorda, a alta nos preços do arroz apareceu no IPCA de agosto. Ou seja, desde junho já registrava altas expressivas.

E as importações já estão acontecendo, sem nenhum impacto sobre os preços internos, apesar do aumento das importações registrado. Suponha que, em algum nicho de mercado, a trading consiga um arroz por cotação menor. A lógica seria a mesma: compararia os preços internos com os internacionais e venderia a quem pagasse mais.

Luis Nassif

2 Comentários

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  1. Tá vendo aí Nassa que contra fatos não há argumentos.Seus artigos de natureza econômica,uma viva alma aparece para levantar ou baixar dedinhos.Todavia um texto seu que fala de Estado Profundo( sinceramente ainda não conseguir entender que diabos é isto),transformou-se num sucesso dos adeptos das abobrinhas,baboseiras e fofocagens .Dois malucos passaram uma semana,a discutirem Estado Profundo X Estado Assassino Corrupto Cardiopata Canceroso Leproso Esquerdopata Fascista Nazista,um verdadeiro festival FEBEAPA-Festival de Besteira q Assola o País,tornou-se sucesso de público.
    Deixe estar,os mamulengos daqui logo logo perceberão que a única maneira de de peitar Jair,indiscutivelmente será pelo viés econômico.A inflação represada,a conta do Coronavauchervirius e similares a caminho,a idéia fixa do aumento do bolsa família/renda cidadã,o fura teto e outras coisitas más,são as únicos fatos que poderão frear o Clã Bolsonaro,incluído aí Hélio Negão.Rachadinhas,Queiróz,milícias,dinheiro da cueca,é nada com coisa nenhuma.Já afirmado peremptoriamente por mim,a Globo já não tem fôlego em remover o porteiro do Condomínio Portal Miliciano do Norte, onde Jair mora.A idéia fixa em Lula,abre o flanco para Jair fazer dela gato e sapato.A Globo é um leão desdentado,nem Valdir Macedo se interessa mais por ela.
    Continue fuçando as contas correntes secretas do Governo,pois,só daí Jesus salva.Vamos aposentar essa história de Estado Profundo X FEBEAPA,por aí não chegaremos a lugar algum.

  2. E na semana passada isentaram a taxa de importação de soja e o milho. Baseado nos cálculos do texto, estes produtos ficarão ainda mais caros para a indústria de farelo de soja (de onde o óleo de soja sai como mais um sub-produto), e de farelo de milho, farelos bases para produção de rações para aves, suínos e bovinos.
    O mercado futuro na bolsa de Chicago aponta para manutenção de alta para soja e milho, até maio do ano que vem. Escassez mundiais de estoque, e, principalmente, com a China se abastecendo como nunca, os produtores irão sofrer muito, e certamente haverá falta de produtos no mercado.

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