A tragédia do capitalismo sem estado, por Luís Nassif

Nova etapa do capitalismo será um retorno aos primórdios da civilização industrial e o único setor público a crescer será a segurança pública.

O tema de um mundo distópico dominado pelo grande capital, no qual as classes pobres enfrentam obstáculos invencíveis para chegar a uma outra dimensão – para conseguir cuidados médicos – está prestes a se tornar realidade.

Em 2013, foi lançado “Elysium”, dirigido por Neil Blomkamp, filme onde os ricos vivem em uma estação espacial luxuosa, com acesso a todos recursos médicos e tecnológicos, enquanto os pobres permanecem na terra, em condições miseráveis.

Bem antes, em 1927, foi lançado “Metrópolis”, de Fritz Lang, um clássico do cinema que retrata uma cidade futurista dividida entre uma elite que vive em arranha-céus luxuosos e trabalhadores que vivem em condições miseráveis no subsolo.

A eleição de Donald Trump poderá permitir a Elon Musk colocar em prática sua “Comissão de Eficiência do Governo” e transformar a ficção em realidade.

Os negócios de Musk

A grande especialidade de Musk são os negócios com o governo. No ano passado, a SpaceX, empresa de tecnologia aeroespacial e digital de Musk, tinha contratos com dezesseis agências diferentes, desde a NASA e o Departamento de Defesa até o Departamento do Interior. 

As empresas de Musk já receberam US$ 3 bilhões em quase cem contratos diferentes, apenas no ano passado, a tiveram acesso a US$ 15,4 bilhões de financiamento governamental na última década.

Ao mesmo tempo, suas empresas respondem por uma série de incidentes da má conduta, no campo trabalhista e do consumidor. É alvo de pelo menos vinte investigações, segundo levantamento feito pelo The New York Times.

Dias atrás, Musk anunciou que haveria, com seu trabalho, de assessoria a Trump, um mal-estar profundo e imediato e, depois, o país ingressaria em uma nova era. As afirmações trouxeram de imediato a suspeita de que as loucuras de Javier Milei, na Argentina, podem ser um laboratório para a nova etapa da financeirização das democracias ocidentais, na qual o Estado simplesmente seria abolido e todas as atividades assumidas pelos grandes grupos empresariais.

A lógica de Milei é, inicialmente, uma desconstrução total, jogando a população em um buraco profundo. Depois, cada melhoria incremental, pós-terremoto, serviria para angariar apoio e “acostumar” a população à nova ordem.

Segue a lógica da financeirização e da criação das big techs e da etapa atual da financeirização, avançando sobre todos os serviços públicos – como demonstra Tarcísio de Freitas em São Paulo.

A nova etapa do capitalismo seria um retorno aos primórdios da civilização industrial, no qual o único setor público a crescer será o da segurança pública. Não haverá limites para a exploração da mão-de-obra. 

O mundo ocidental está às vésperas da maior hecatombe social da história.

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17 Comentários

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  1. Nassif, não existe capitalismo sem Estado.

    Nem na transição do feudalismo, onde os primeiros passos da acumulação primitiva de excedentes dos centros comerciais (dos burgos), ainda assim havia Estado, ainda que na conformação nobreza, clero e o resto, com a estrutura política se confundindo com a estrutura econômica, através da terra e do sistema hereditário.

    Já no próximo passo, a expansão colonial ultramarina, novamente o Estado se fez presente.

    No resto da História, Marx já desenhou tudo.

    Foi o Estado a forma crucial de controle de classes, que não mais se subordinavam pelo “nascimento” ou pela posse ou não da terra, mas sim pela posição relativa em relação ao modo de produção: donos dos meios de produção e donos da força de trabalho.

    A construção simbólica (ideológica) deu contornos a percepção (falsa) de que um poder político e representativo (instituições, partidos, voto, etc.) de controle do Estado permitiriam às classes a alternância no poder, coisa que nunca existiu, e, quando raramente se desenhou, de maneira pálida, as classes subordinadas foram extirpadas do controle do poder político (golpes e períodos de autoritarismo).

    O que você acaba de perceber, eu tenho dito há meses aqui.

    Essa diluição do Estado (sim, você está correto) e das suas instituições rima com o fim do próprio modo de produção capitalista.

    Estamos assistindo esta transição, onde as formas de representatividade conhecidas não são mais relevantes, senão como arquétipos, um tipo de encenação ainda mais inútil que as anteriores, estruturadas em modelos quase idênticos ao mundo das apostas e dos algoritmos.

    A produção capitalista está deixando de ser o eixo do sistema econômico global, e representa cada vez menos se comparada a renda total dos ativos puramente financeiros e alavancados.

    Robert Kürz já previu isso lá nos idos de 1975, ou algo parecido, com a sua teoria da crítica do valor.

    A imagem que me ocorre é do monstro devorando a si mesmo.

    São tempos estranhos.

      1. Rui, foi intuitivo ainda que baseado na leitura de Marx.

        Eu acho que a esquerda não foi capaz de reconhecer o potencial da luta de classes, enquanto podia.

        Agora, baseado no que disse acima, e claro, no texto indicado por você, fica claro que a contradição que vai aniquilar o capitalismo é a sua própria tendência a em eliminar o valor de troca, de uso, e das suas sócio reproduções (trabalho abstrato), o que leva a (auto) replicação da riqueza acumulada.

  2. A hecatombe se instalou no mundo, Nassif, a partir do momento em que foi possível ganhar dinheiro (leia-se acumular riqueza) sem para isso trabalhar, mas, apenas, explorar o trabalho dos outros.
    No momento em que o homem se viu forçado a trabalhar até o limite de suas forças para poder fazer uma refeição (e só uma, por dia), enquanto outro homem gastava o valor produzido por esse infeliz para, além de pagar o mísero salário deste, adquirir mercadorias de que não necessita – e até lhe fazem mal – foi aí que a hecatombe se instalou no mundo.
    No momento em que o povo – o pobre, diga-se – se convenceu de que todo o poder emana do povo, e em seu nome deve ser exercido, a hecatombe já estava instalada no mundo.
    Porque o ovo – o pobre, diga-se – já estava convencido de que somente estava vivo porque Deus assim o permitia.
    Deus, que é invisível, e cujo rosto não pode ser encarado.
    Qualquer semelhança com o capitalista não é mera coincidência.
    O capitalismo nunca precisou do Estado; sempre o teve nas mãos.
    O capitalista é um wannabe de Deus; O povo é crente. Equação perfeita.
    O capitalista sempre soube que o que é invisível comanda o mundo.
    Deus, e, agora, o dinheiro. Se o homem cristão, ou devoto, confia seu destino a um ser invisível, que vai lhe garantir, no futuro, uma felicidade igualmente invisível, por que não o confiaria ao resultado visível com o qual o capitalista lhe acena?
    A mercadoria é, para o capitalista, o que o paraíso é para o cristão. Apenas um adiantamento, como se vê; e quem não quer um adiantamento da felicidade?
    Lá na frente, não terá saldo a receber; só a descontar. E daí?
    O pobre compra as mercadorias que ele mesmo produz, com o valor (dinheiro) que ele mesmo gera. Gera R$ 10,00, embolsa R$ 0,01 desse valor. E compra, compra, compra. No mês seguinte, a mesma coisa. Ad infinitum. E a hecatombe ainda está por vir? Ela está no meio de nós. Seu nome é salário. Como os porcos da Bíblia, todo mês se arroja ao precipício. Mas, como continuam se reproduzindo…
    A finança é invisível. Alguém aí já viu 15,4 bilhões de dólares? Agora, o dinheiro, todo mundo vê. Porque dinheiro é coisa de pobre. A moeda do capitalista é outra. Só eles veem. Ultimamente, nesses últimos anos, atende pelo nome de cerca de 45% do orçamento federal executado – R$ 1.879 trilhão, em 2022. O que, para o povo, além de invisível, é incompreensível. E daí?
    Elon Musk et caterva não tem mais o que comprar, hoje; por isso, estão comprando a única mercadoria que ainda resta: o futuro.
    O futuro será deles; o presente, em grande parte, já é.
    A maior hecatombe social da História já está em movimento, Nassif. E é assim que o mundo vai acabar, sem explosão, apenas soluços (T.S. Eliot).

  3. Para vir o novo se destrói o velho,segunda guerra mundial q o diga é mais fácil,difícil seria na base da democracia como o Lula faz,é muita paciência trabalho,os bilionários mimados já compram meio mindo mesmo,só q eles mal administam sua casa e a si mesmos, pensam em dinheiro,dinheiro e em sua meia dúzia de amigos,egoismo puro não querem,não sabem conviver com os diferentes,no Brasil ng se dá conta,TODOS cresceram e se desenvolveram (empresas)no governo comunista do pt,descalabro aceitar isso,bom mesmo é o governo temer,bolso q destruiu o comercio,indústria,mercado interno e DISPAROU os lucros do setor financeiro,sem falar os psicopatas revolucionários armamentistas bolsonarianos quase saindo de controle no país akakakaaa mas ruim é o Lula,Dilma,pt(segundo a midis bilionária)q querem a melhora do povo(só um pouco nada revolucionário)isso seria bom para TODOS,e não só uma meia dúzia,até o judiciário impede o seu próprio povo e suas oroprias empresas de MELHORAREM UM POUQUINHO,dificultando e impedindo sindicatos,uma falta de noção completa,falta de cultura,falta de visão,uma barbárie q favorece bilionários q vão especular depois em bitcoins,imóveis,seguros uma financeirizacao parasitária. a reforma tributária segunda fase q o diga,como a internet tá se desenvolvendo?Sem justiça social,logo logo não precisaráo mais da ralé,uma irresponsabilidade total,um mundo para bilionários mimados em seus castelos reais uns verdadeiros reis e rainhas medievais e q ironia lutaram tanto contra reis e rainhas e agora se tornam uns !!!

  4. Nassif,

    Outro exemplo de um futuro distópico está no filme Blade Runner, de 1981. Neste, a única presença visível do Estado está nas forças de segurança; desnecessário dizer que os ricos também vivem em arranha-céus ou grandes pirâmides enquanto o povo se arrasta por um mundo destruído. De maneira igualmente profética, Marte torna-se a esperança de uma vida nova.

    Vale observar que as vicissitudes passadas pelos EUA são merecidas: os americanos se tornaram flácidos e complacentes, mais interessados em consumo do que no próprio futuro. Morei lá por sete anos e descobri uma classe média em extinção e acomodada. De tempos tem tempos, surgem os sonhos de se tornar um astro de Hollywood ou criar um app que traga riqueza da noite para o dia, ou seja, falsas corridas do ouro.

    Como se não bastasse, os EUA estão empenhados, mais do que nunca, em mandar no mundo, quer no Oriente Médio, quer na Europa Centrarl, quer aqui, enquanto o país desaba por dentro. O pior de tudo é que querem arrastar o mundo consigo. Ainda bem que não tenho filhos.

    Até breve.

  5. Não existe pensamento utópico ou estrutura política que não seja obrigada a lidar com duas questões básicas: igualdade e liberdade. Ambas podem ser distinguidas com base na maneira como são desfrutadas pelos cidadãos. Enquanto a liberdade é ou pode ser tratada como um direito personalíssimo sujeito a algumas limitações de ordem civilizatória, a igualdade depende fundamentalmente das relações entre as pessoas e entre estas e as instituições. Nem uma nem outra, entretanto, podem ser consideradas mercadorias.
    Num mundo povoado por algoritimos e governado por Inteligências Artificiais, não existe nem pode existir nem liberdade nem igualdade. Apenas os desenvolvedores e proprietários desses produtos são livres: entre os barões dos dados e os usuários de suas plataformas existe uma assimetria tecnológica abissal e abissalmente protegida pelo direito privado de copyright. Os usuários podem até se considerar iguais entre sí, mas eles nunca serão tratados igualmente por algoritmos que criam e atualizam perfis para definir quem verá qual conteúdo num momento específico levando em conta dados que podem ser tabulados com base em critérios econômicos, sociais, políticos, ideológicos, etc…
    Primeiro as pessoas migraram para a internet e agora a dinâmica assimétrica baseada no poder absoluto dos barões dos dados começou a migrar do mundo virtual para o mundo real. Essa invasão da política (e da justiça e da segurança pública também) por lógicas binárias próprias do universo computacional produzirá distorções terríveis tanto na maneira como as pessoas encaram a liberdade e a igualdade quanto na maneira como sociedades inteiras foram estruturadas com base em maneiras específicas e peculiares de tratar essas duas questões fundamentais.
    Kant disse que estruturar o estado não era uma tarefa muito difícil. Até uma raça de demônios poderia fazer isso, desde que eles fossem inteligentes. Os engenheiros de TI e os algoritimos e IAs que eles criam não são demônios, mas dificilmente eles conseguirão transformar em realidade sua utopia digital. No limite, o que eles consideram utopia tem tudo para se transformar numa distopia autoritária, maquínica, impessoal e desprovida de qualquer conteúdo civilizatório.
    Não é possível pacificar sociedades cheias de grupos diferentes de pessoas sem uma boa dose de tolerência e empatia. E essas são duas coisas que os algoritmos e as IAs não tem e nunca terão. Esses produtos são capazes de gerar lucro e de maximizar a produtividade, mas no mundo humano (construído tanto por abundância quanto por carência, aspirações e frustrações, generosidade e ganância, sensibilidade e racismo, etc…) as pessoas precisam não apenas ser livres, elas precisam se sentir livres. E ninguém realmente se sentirá livre numa sociedade vigiada o tempo todo com base em recursos computacionais e dados coletados por gadjets e analizados por IAs. Mesmo que a igualdade seja apenas uma aspiração, ela deve ser real e garantida por Lei e não apenas virtual podendo ser suprimida por uma rotina de computador capaz de interferir no mundo fenomênico em tempo real.

    1. Sim. E como, na minha opinião, liberdade e igualdade jamais existiram nesse mundo, ao menos não em uma escala minimamente capaz de assegurar sua vigência e efeitos sobre uma parcela considerável de seres humanos heterogêneos em um grupo social dado, elas agora poderão ‘assegurar’ sua existência no mundo virtual do Algoritmo (como se trata de um Deus, melhor usar a inicial maiúscula), graças as Big Techs e seus artifícios. Liberdade e Igualdade não podem ser consideradas mercadoria, concordo; mas como a mercadoria é algo destinado a servir a desejos ou necessidades humanas, não custa nada confundi-las com necessidades básicas (que, a meu ver, são duas, alimento e ar; e a condição necessária para delas dispor é a liberdade de acessá-las, e a igualdade ao reparti-las, e como essas duas condições não são dadas, elas se transformam em necessidades comuns), e como tal elas são tratadas por aqueles que controlam os meios de sua produção; e nós aceitamos isso, pacificamente, indiferentes que somos à fome e a submissão e miséria dos outros. A existência e eficácia apenas virtual de todos os sonhos e desejos humanos é o tiro de misericórdia do Capital na consciência do ser humano, e o fim de todas as suas aspirações de solidariedade e generosidade. Só é possível ser feliz em separado, e esse mundo caminha para a atomização total do ser humano despossuído. Vivemos em grupos, existimos a sós; viveremos a sós, e cessaremos de existir, ao menos na forma usual, solidária e generosa.

  6. Elysium é um filme importante, sem dúvida, principalmente por Wagner Moura (e não Matt Bourne Damon) fazer ali o contraponto a Jodie Foster. Wagner está ótimo e baiano em um personagem que mostra a saída desse impasse: a organização popular. Mas, contra isso, esses gringos e seus templos endinheirados, nada melhor que Bacurau, esse, sim, o grande filme-síntese desse início de século da distopia. No Brasil, bem, ainda não precisamos de Musks ou Mileis: temos Haddad e sua certezas pseudo-racionais. Nada mais distópico que ele, que foi o responsável por acender o fósforo e jogá-lo na gasolina política que gerou 2013; viu as discussões, as consequências e foi humilhado em 2016 pelo ajuste fiscal de 2015 que deu término, sem ter começado, ao segundo governo Dilma. Agora, quer fazer igual. O cenário montado é o mesmo de novembro de 2014. Só falta Gilmar Mendes no TSE pressionando pela cassação da chapa eleita. Não é necessário. Há Simone Tebet fazendo as vezes nesse sentido. O terceiro governo Lula pode terminar ao fim do segundo ano de mandato. Só a sorte, a fortuna, pode salvá-lo, como em 2008, com a quebra estadunidense e européia.

  7. Idade Média.
    Os primeiros 50 anos de desmonte dos Estados; em seguida, o obscurantismo religioso e colapso total.
    Ninguém vai ter chip implantado pois não haverá necessidade. E depois custará dinheiro.

  8. No primeiro comentário há uma referência Roberto Kürz. Pois bem. O Trecho a seguir é de um artigo do mencionado Senhor, intitulado “A Privatização do Mundo”:

    “A PRIVATIZAÇÃO DO PÚBLICO

    Por um período de mais de cem anos, os sectores do serviço público e da infra-estrutura social foram reconhecidos em toda parte como o necessário suporte, amortecimento e superação de crises do processo do mercado. Nas últimas duas décadas, porém, impôs-se no mundo inteiro uma política que, exactamente às avessas, resulta na privatização de todos os recursos administrados pelo Estado e dos serviços públicos. De modo algum essa política de privatização é defendida apenas por partidos e governos explicitamente neoliberais; há muito ela prepondera em todos os partidos. Isso indica que não se trata aqui só de ideologia, mas de um problema de crise real. Seguramente, desempenha um papel nisso o facto de a arrecadação pública de impostos retroceder com rapidez por conta da globalização do capital. Os Estados, as Províncias e as comunas super-endividadas em todo o mundo tornaram-se factores de crise económica, ao invés de poderem ser activos como factores de superação da crise. Uma vez delapidadas as “pratas” dos sistemas socialmente administrados, as “mãos públicas” acabam por assemelhar-se fatalmente às massas de vítimas da velhice indigente, que nas regiões críticas do globo vendem nos mercados de segunda mão a mobília e até a roupa para poderem sobreviver. Porém o problema reside ainda mais no fundo. No âmago, trata-se de uma crise do próprio capital, que, sob as condições da terceira revolução industrial, esbarra nos limites absolutos do processo real de valorização. Embora ele deva expandir-se eternamente, pela sua própria lógica, ele encontra cada vez menos condições para tal, nas suas próprias bases. Daí resulta um duplo acto de desespero, uma fuga para a frente: por um lado, surge uma pressão assustadora para ocupar ainda os últimos recursos gratuitos da natureza, por fazer até mesmo da “natureza interna” do ser humano, da sua alma, da sua sexualidade, do seu sono o terreno directo da valorização do capital e, com isso, da propriedade privada. Por outro, as infraestruturas públicas de propriedade do Estado devem ser geridas, também, por sectores do capitalismo privado.

    SOCIEDADE AUTO-CANIBALÍSTICA

    Mas essa privatização total do mundo mostra definitivamente o absurdo da modernidade; a sociedade capitalista torna-se auto-canibalística. A base natural da sociedade é destruída com velocidade crescente; a política de diminuição dos custos e a terceirização a todo o preço arruinam a base material das infraestruturas, o conjunto organizador e, com isso, o valor de uso necessário. Há tempos é conhecido o caso desastroso das ferrovias e, de modo geral, dos meios de transporte, outrora públicos: quanto mais privados, tanto mais deteriorados e mais perigosos para a comunidade. O mesmo quadro se constata nas telecomunicações, nos correios etc. Quem hoje precisa, com uma mudança de casa, mandar instalar um telefone novo passa por incumprimento de prazos, confusão de competências entre as instâncias “terceirizadas” e técnicos pseudo-autónomos e praguejantes. O correio alemão, que se transformou num consórcio e global player ansioso por sua capitalização nas Bolsas, em breve distribuirá cartas na Califórnia ou na China; em troca, o serviço mais simples de entrega mal continua a funcionar internamente. Que prodígio sectores inteiros de actividade serem ajustadas a salários baixos, as zonas de entrega de poucos carteiros dobradas e triplicadas, e as filiais, extremamente desguarnecidas! As estações de correio ou de caminho de ferro transformam-se em quilómetros cintilantes de lojas estranhas à sua alçada, enquanto a qualidade do serviço próprio decai. Quanto mais estilizados os escritórios, tanto mais miserável o serviço….”

  9. O capitalismo estatal é tragicômico. Porque o Elon Musk tá investindo pesado no TRUMP? pORQUE O bEZZOS NAO INVESTE PESADO NA KA mALA PRONTA PARA wHITE hOUSE? TERÁ QUE DESFAZE-LA?

    1. Jeff Bezos, dono do ‘Washington Post’, defende decisão do jornal de não apoiar Kamala mesmo após perder 200 mil assinaturas
      Críticos dizem que Bezos estaria preocupado com uma possível retaliação caso Trump vença a eleição.
      https://g1.globo.com/mundo/eleicoes-nos-eua/2024/noticia/2024/10/29/jeff-bezos-dono-do-washington-post-defende-decisao-do-jornal-de-nao-endossar-kamala-harris-mesmo-apos-perder-200-mil-assinaturas.ghtml

  10. A lucidez do Sr.Nassif, é impressionante com poucas e certeiras informações desvenda um futuro próximo as mazelas sociais porvir. É aterrorizante!

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