O mundo aguardando a mãe de todas as bolhas, por Luís Nassif

A economia dos EUA responde por 27% da economia global, muito longe dos 70% de participação nos índices de ações.

2025 poderá ser o ano mais desafiador em uma década que já contou com uma pandemia mundial.

No caso do Brasil, a aguardada elevação da Selic aumentará exponencialmente o número de empresas em recuperação judicial e de consumidores inadimplentes. Prosseguirá o terrorismo fiscal, brandido por agentes de mercado e pela mídia. 

Em cima de uma situação interna vulnerável, há cumulus-nimbus se formando no horizonte da economia ocidental, conforme alerta de Ruchir Sharma, um renomado estrategista global e analista econômico, atualmente presidente da Rockefeller International e fundador da Breakout Capital, em artigo publicado no Financial Times.

Há consenso de que, com Donald Trump, os EUA aumentarão seu papel de aspirador de dólares. De um lado, porque as tarifas de importação pressionarão a inflação interna levando o FED a aumentar os juros. De outro, porque as isenções fiscais a grandes grupos aumentarão mais ainda seus lucros.

Tudo isso ocorre em uma momento em que está em formação o que Sharma chama de “a mãe de todas as bolhas”.

Diz ele que, no mundo real, a ideia de uma América superior a seus rivais, e destinada a liderar o mundo, parece uma ideia ultrapassada. Nos círculos políticos, diplomáticos e militares, fala-se de uma superpotência disfuncional, isolacionista no exterior e polarizada em casa, diz ele. Mas no mundo dos investimentos, o termo “excepcionalismo americano” está mais quente do que nunca.

Os investidores globais estão comprometendo mais capital em um único país do que jamais ocorreu na história moderna, diz ele. Criou-se uma situação em que o mercado de ações dos EUA flutua acima do mundo real. Os preços relativos são os mais altos desde que os dados começaram há mais de um século e as avaliações relativas estão no pico, desde que os dados começaram há meio século.

Hoje, os EUA respondem por quase 70% do principal índice de ações global, contra 30 por cento na década de 1980. E o dólar, por algumas medidas, é negociado a um valor mais alto do que em qualquer outro momento desde que o mundo desenvolvido abandonou as taxas de câmbio fixas há 50 anos.

O poder de ganho das principais empresas dos EUA é um dado concreto. Mas o risco de “bolha” é real.

A economia dos EUA responde por 27% da economia global, muito longe dos 70% de participação nos índices de ações. E, com a vitória de Trump, aumenta a confiança dos especuladores em novo salto no dólar e nos índices norte-americanos.

Diz ele que, viajando pela Ásia e Europa, observa-se uma onda de investimentos sendo canalizados para os Estados Unidos. Em Mumbai, consultores financeiros estão pressionando seus clientes a diversificarem fora da Índia comprando o único mercado que é ainda mais caro — a América.

No auge da bolha dos pontocom, em 2000, as ações dos EUA estavam mais valorizadas do que agora, mas o mercado dos EUA não era negociado com um prêmio tão grande em relação ao resto do mundo

O mesmo ocorre no poder de atração dos Estados Unidos na dívida global. Em 2024, os estrangeiros despejam o equivalente a uma taxa anualizada de US$ 1 trilhão, quase o dobro do fluxo para a Zona do Euro. Os EUA agora atraem mais de 70 por cento dos fluxos para o mercado global de US$ 13 trilhões para investimentos privados, que incluem ações e crédito.

No passado, diz ele, bolhas como nos anos 20 ou na era pontocom faziam com que o mercado norte-americano puxasse os demais mercados. Hoje em dia, ele suga os recursos de todos os demais mercados.

Os investidores se iludem com a ideia de que os fundamentos determinam os preços e o sentimento do mercado. Mas chega um momento, diz ele, em que o sentimento começa a determinar os fundamentos. E, aí, se tem a mãe de todas as bolhas. Só não se sabe, ainda, o que vai determinar seu estouro.

Em algum momento, a estratégia monetária e cambial do Brasil terá que incluir um novo e fundamental elemento na sua formulação.

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24 Comentários

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  1. “Josenilton já dizia: se subiu, tem que descer” (Raul Seixas)
    E dessa vez não será uma quedazinha de 1929; será nível implosão estelar.
    A humanidade anda confiante demais nas análises computacionais. Que vem magnificamente fazendo milagres.
    E, quanto mais acerta, mas prepara o grande e definitivo erro.
    Idade Média à vista!

    1. Um Cântico para Leibowitz, livro de ficção científica de Walter Miller Junior já apontava a distopia cientificamente intuida por Einstein.

      A IV guerra Mundial será com (paus) e pedras. “Uma Nova idade média” que apareceu em gênero literário e que Umberto Eco registrou em artigo hoje esquecido.
      Será que o feudalismo era tão ruim assim?

  2. Os euaaa traíra desceu ladeira abaixo desde q ficou na mão dos especuladores q sabem só criar crises afundar e passar a rasteira em adversários, desde 2008,o DÓLAR NÃO É MAIS UMA MORDA DECENTE É UMA MOEDA DE CHANTAGEM E ACHAQUE CONTRA MILHÕES DE PESSOAS E PAISES DECENTES AS VEZES PRECISAMOS FICAR PUTIN DA VIDA COM PESSOAS Q NÃO RESPEITAM NADA E NG É PRECISO LIMITES,nesse caso o stf é o limite da insriucionalidade não gosto muito dele mas é o q tem para hj !!!O q bilionários mimados sabem fazer?O q ceo de emoresas decadentes sabem fazer ???

    1. Chamei o wladmir putin
      Para comandar a economia do Brasil. Esse sabe como manter o valor de sua moeda.

      Basta a Rússia,China e Índia comprarem em reais, que muitos especuladores quebram da noite para o dia
      Aprendam com o PUtin

  3. Ruchir Sharma, em entrevista recente, declarou que a dívida brasileira é insustentável, o que impede investidores em alocar capital no Brasil. Esses caras são financistas, na lógica deles tudo se resume à questao fiscal e liberalismo econômico, ou seja, pouca intervenção estatal.

  4. Vamos lá Nassif, decifrar seus hieróglifos.

    Nouriel Roubini foi um dos primeiros a dar o alerta sobre o que viria em 2008, por isso ganhou o apelido de Dr Doom.

    Depois escreveu o ótimo Economia das Crises.

    Pois bem, a economia das crises, que de certo é sinônimo de capitalismo, desde a Holanda e as tulipas, não mais pode ser chamada assim.

    Não é crise, é modelo, se olhado em perspectiva histórica.

    Foram várias rupturas acumulativas, mas sempre baseadas em ativos específicos, ainda que depois, com o exponencial multiplicar de alavancagem dos papéis derivados desse ativos (ações em 1929, Nasdaq, imóveis, etc), não mais fosse possível estabelecer uma relação de causa e efeito entre o preço (valor de mercado) dos ativos e a recompensa e seus papagaios (títulos, contratos remunerados a base de juros ou dividendos distribuídos de forma arbitrária).

    Agora, de tanto o dinheiro de auto replicar, a bolha é o dinheiro.

    Se vivo fosse, Marx chamaria de fetiche do anti valor, ou o fetiche do fetiche.

    Assim como o PIB dos juros não mais se relaciona com o PIB de qualquer riqueza produzida somada, a atração dos EUA não mais corresponde ao “valor” da economia daquele país, é uma recompensa arbitrada e artificial, mas que faz efeitos reais, esmagando a chamada economia produtiva para retirada de mais e mais combustível para alavancagem.

    É como se uma carreta de 8 eixos fosse puxada por um husky siberiano.

    O capitalismo é um modo de produção que tem na perspectiva de colapso a sua saída de superação para novas fases.

    No entanto, como a História, certamente, não funcionam como previu Fukuyama, um dia, essa lógica desaba em uma transição para um novo modo de produção, com uma nova classe dirigente e as classes dominadas de sempre!

    Os países periféricos, que não desafiaram essa ordem global (e podiam, caso se reunissem), vão sumir do mapa, simbolicamente falando.

    O Brasil, que é um híbrido de coisa grande e coisa nenhuma, vai sofrer ainda mais.

    Arrisco dizer que é bem mais fácil controlar o Uruguai, ou a Bolívia, onde populações pequenas e sujeitas a um nível de desigualdade menor sofrem bem menos.

    Otimista dirá que vai dar m*rda, eu já digo que a m*rda não vai dar para todos.

  5. Já tivemos a Mãe de Todas as Guerras, a Mãe de Todas as Bombas…agora me aparece a Mãe de Todas as Bolhas.
    O Pai é um só: O Capital. A Parteira? Era a Economia Real. Que nem sei se ainda existe. Está em perigo de extinção.
    Bom, mas assim como as guerras, que nunca acabam, só mudam de nome e local, assim como as bombas, que seguirão sendo fabricadas (e usadas) eternamente, o mesmo acontece com as bolhas.
    E as mães seguirão parindo.
    O que desmancha no ar – além das bolhas – é o que é sólido.
    Não existe nada menos sólido do que o Capital.
    Volátil, fictício, mero lançamento contábil, ontem papel, hoje sinais eletrônicos.
    A bolha vai estourar, assim como o cabelo precisa cair para que outro tome o seu lugar.
    Depois de Mim, a bolha.
    Depois da bolha, outra bolha.
    Porque, se desmanchando no ar, e não sendo sólido, o Capital só muda de bolso.
    Sai do bolso de um capitalista, e entra no bolso de outro. Tudo isso virtual, bem entendido.
    Nada muda, se segue sendo a mesma coisa, já dizia o Lampedusa.
    O mundo acaba a cada 1929.
    Depois recomeça, não se preocupem.
    Alguns ricaços ficam mais ricos, outros menos, alguns perdem tudo.
    Em 1929, alguns desses últimos se suicidavam; solução radical, e, está visto, inadequada. Hoje, basta esperar a próxima bolha.
    A única coisa que não precisa mudar para seguir sendo a mesma coisa, é o pobre.
    Para quem Lampedusa não olhava.
    O pobre é pobre antes, durante, e depois da bolha.
    Enquanto ela está enchendo, ele está dentro dela; quando ela explode, ele de lá é ejetado.
    Fica no limbo da miséria e da fome, até pegar carona em outra bolha.
    Pois elas sempre surgem. O mundo financeiro é uma criança, na praia, brincando com um copo, soprando bolhas de sabão.
    Sempre tem uma.
    Ora, não tenham medo da Bolha. Ela é como aquelas naves alienígenas imensas, nos filmes de Hollywood, pairando sobre Nova York.
    Sempre Nova York, por arrogância ou imodéstia.
    Um dia ela vai embora, mas não antes de arrecadar bilhões de bilheteria.
    Até que um novo blockbuster faça aparecer outra, e faturar outros tantos bilhões.
    Afinal, somos todos filhos de Deus.
    Qualquer semelhança com a vida real é meramente proposital.
    By the way, deem uma olhadinha nos investimentos do preclaro Ruchir Sharma, renomado estrategista global e analista econômico, atualmente presidente da Rockefeller International e fundador da Breakout Capital, em artigo publicado no Financial Times.
    Especulação pouca é bobagem.

  6. Parece que estamos no ambiente perfeito, Capitalismo (x) Novo paradigma de gerenciamento global. Vejam os acontecimentos passados:(pandemia, etc.), os presentes: (corrida armamentista, etc), os futuros: o que esperar … (não se trata, a meu ver, uma questão puramente de poder (econômico, etc)

    1. A China e o USA estão chegando ao ápice da guerra econômica e com o Brincs tendo seu próprio sistema de pagamentos vai iniciar uma luta desesperada do governo Trump contra isso colocando taxas a 100% como já dito por ele ,será que isso resolverá ou é o boomm da bolha americana,vamos aguardar os próximos capítulos.

    1. Se for ver não faz sentido os EUA estarem crescendo desse jeito, esse crescimento é artificial, gastaram horrores durante a pandemia e aumentaram muito a dívida externa que já está na casa dos 35 trilhões. Agora o Trump vai começar a taxar tudo aumentando a inflação. Tem gente que um modelo assim vai funcionar e que eles vão continuar sendo a maior economia na próxima década.

  7. Vamos adorar ver de camarote a onda de suicídios desses operadores de mercado que estão montados em títulos americanos quando essa bolha estourar. Amém!

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