Recessão e o terraplanismo de economistas e empresários, por Luis Nassif

Aqui criou-se a teoria da geração espontânea e das falsas identidades. Basta o Estado sair, que o setor privado ocupará o espaço. Assim, como se não houvesse nenhuma relação entre ambos.

Acho que foi Nelson Rodrigues quem definiu o subdesenvolvimento como um trabalho de gerações. A maneira como economistas, mercado, empresários do setor real da economia estão reagindo a esse desmonte do país (e da economia), é demonstração acabada do nível de desinformação a que chegou a sociedade brasileira.

Criou-se uma fábula ideológica, que não consta do manual de nenhuma economia desenvolvida. A de que o Estado tem que sair de TODAS as atividades, não apenas da produção, mas de suas próprias responsabilidade como Estado. E que bastaria o Estado sair para o setor privado ocupar o espaço e a banca ganhar e dividir com os empresários do setor real.

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Em qualquer sociedade minimamente racional, há uma complementaridade entre Estado e setor privado, com o Estado servindo de alavancagem para os negócios privados, investindo em educação, inovação, financiamentos de longo prazo, gastos públicos. Principalmente em períodos de recessão, os gastos públicas têm papel essencial.

Despesa do Estado significa receita do setor privado.

Aqui criou-se a teoria da geração espontânea e das falsas identidades. Basta o Estado sair, que o setor privado ocupará o espaço. Assim, como se não houvesse nenhuma relação entre ambos. Tenho um produto 1, uma parte é do Estado, outra do setor privado. Se tiro o Estado, fica tudo para o setor privado. Aí descobrem – alvíssaras! – que o produto ficou bem menor que 1 e que o setor privado ficou menor do que no período em que havia mais Estado.

A isso se chama recessão. O setor privado não aparece para suprir os vácuos, a recessão se prolonga, o desemprego aumenta. E o que acontece? O Secretário Executivo do Ministério da Fazenda dá uma entrevista dizendo que pediu um diagnóstico para sua equipe, porque não tinha ideia de que havia tantas empresas que dependiam dos gastos públicos. Como assim?

Qualquer curso de economia ensina conceitos de medição do PIB (Produto Interno Bruto), de matriz insumo-produto. Têm-se uma instituição exemplar, o IBGE (Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística) medindo mensalmente o pulso da economia, permitindo avaliar o peso do Estado na produção, do setor privado, as implicações da redução dos gastos públicos.

E o brilhante Secretário diz que não tinha noção de que os gastos públicos eram tão relevantes e que iria criar um grupo para analisar as implicações da sua redução na atividade produtiva.

Jogou-se a economia para ser administrada por aprendizes de feiticeiro, sem noção básica sobre a estrutura econômica. E eles não estão apenas no Banco Central.

Os modelitos dos cabeças de planilha

Lembro-me das primeiras conferências de economia que fui cobrir, ainda no início de carreira. Me chamava a atenção os modelos econômicos propostos. O sujeito definia um modelo, colocava três ou quatro variáveis e tirava suas conclusões.

Aí a banca de examinadores questionava. Faltou incluir o fator trabalho. Faltou incluir o fator agricultura. Faltou incluir o fator político. Faltou incluir o fator receita pública. Quando o examinado reincluía tudo, o modelo não fechava.

Sugiro uma leitura atenta do artigo “Economistas dão receitas para o Brasil voltar a crescer após a reforma da Previdência” (clique aqui). É de um nonsense total.

Desde a gestão Joaquim Levy, em cima da uma crise externa (a redução dos preços das commodities) seguiu-se uma política extremamente ortodoxa de corte de gastos públicos, redução da demanda pública jogando a economia em quedas recordes, mesmo com o país sentado em reservas cambiais expressivas e sem riscos cambiais (que estão na raiz de todos os grandes problemas econômicos de países). Depois de quedas expressivas do PIB, a recuperação costuma ser rápida, porque há capacidade ociosa na economia. Mas nada disso ocorreu. Qual a razão?

Ora, não se trata de discussões econômicas esotéricas, mas de analise de caso, dissecação do cadáver.

Vamos a uma analise das receitas propostas por economistas ouvidos pelo Valor

Flávio Castelo Branco, gerente-executivo de Política Econômica da Confederação Nacional da Indústria (CNI)

“A estagnação atual é o preço que a sociedade está pagando pelos erros de política econômica dos últimos anos, especialmente pela era em que o país foi comandado por Dilma Rousseff (PT).

Em 2009 e 2010, na sequência da crise financeira mundial, avalia, a reação brasileira de curto prazo foi positiva, e a economia brasileira reagiu. “Só que passamos a utilizar políticas de reativação de curto prazo como políticas de estímulo de longo prazo e intensificamos o uso da política fiscal para alavancar o crescimento da economia. Esse foi o grande equívoco da política econômica”, diz Castelo Branco. Para ele, não há espaço para o uso de qualquer política fiscal nessa retomada. Mais reformas, menos juros e mais crédito (especialmente para pequenas e médias empresas) compõem sua receita para voltar a crescer”

Observação 1 – os erros de Dilma explicam a queda do PIB em 2015 e 2016. Dali em diante, a responsabilidade total é das políticas econômicas implementadas por Temer e Bolsonaro. Mesmo porque, a literatura econômica mundial é unânime na constatação que, depois de uma longa queda do PIB, a recuperação costuma ser bastante rápida. E a recessão brasileira prossegue até hoje.

Observação 2 – ele divide a crise brasileira em três períodos. Período 1: na crise de 2008-2010 foram tomadas medidas positivas (aumento dos gastos públicos, estímulos ao consumo, políticas fiscais expansivas. Período 2 –  de Dilma foi errado, porque Dilma usou instrumentos de reativação de curto prazo como políticas de estímulo de longo prazo. Período 3 – agora, necessita-se urgentemente de estímulos de curto prazo, como foi no Período 1. De repente, essas medidas de estímulo passam a ser impraticáveis.

Observação 3 – diz que não há espaço para políticas fiscais, ignorando completamente as relações entre gastos públicos e recuperação da economia no curto prazo, ainda mais em uma situação de ampla capacidade ociosa da indústria. Propõem o arroz com feijão do mercado, de mais reformas, menos juros e mais crédito. Quem vai tomar crédito sem haver demanda? É pergunta básica que não é respondia.

O pesquisador-associado do Ibre Bráulio Borges

“Uma parte importante da frustração com a atividade econômica “se deve a um excesso de cautela da política monetária”. “Não é coincidência a inflação estar correndo sistematicamente abaixo da meta e termos, do outro lado, a retomada atipicamente lenta da atividade econômica”, argumenta. (…). O primeiro impulso à atividade, defende, virá quando o Banco Central baixar fortemente a taxa básica de juros. E se ela voltar a subir em 2020 depois de cair até o fim deste ano – como preveem os economistas ouvidos pelo Banco Central -, o crescimento pode ser, novamente, contido, avalia”.

Foge que nem o diabo da cruz de qualquer frase que possa parecer estímulo à demanda, porque o tema está anatematizado no sistema. Repito: de que adianta reduzir os juros se não demanda. As empresas tomam crédito ou para reestruturar dívida ou para financiar planos de investimento. Com recessão se espalhando por todos os quadrantes, não há planos de investimento a serem financiados.

Fernando Honorato Barbosa, economista-chefe do Bradesco

“Ele e e sua equipe, passaram a considerar uma tese nova. Além de choques tradicionais que vieram diferentes do esperado (como o menor crescimento mundial, a crise argentina, a greve dos caminhoneiros no ano passado, entre outras), eles dizem acreditar que a presença do setor público na economia se estendia muito além dos 20% calculados no PIB. Programas como o Fundo de Financiamento Estudantil (Fies), o Minha Casa, Minha Vida e o Programa de Sustentação do Investimento (PSI), entre outros, ampliaram o tamanho da relação entre o setor público e o privado nos anos anteriores à recessão.

“Quando você corta o gasto público com o teto de gastos, em 2016, uma parte da economia que vivia do setor público para de crescer.

Finalmente, uma lufada de bom senso. Mas aí vem a interdição total do debate, que obriga o economista a pedir desculpas por ver o rei nu:

Não estou dizendo que isso é o culpado pela desaceleração, o caminho é esse e está correto. Mas esperávamos que, quando o governo saísse de cena, o setor privado seria o protagonista do crescimento, e ele não tem sido. É aqui que está a frustração, e não propriamente com a saída do governo”.

É fantástico! Admite que a saída do Estado acelerou a recessão. Mas está frustrado apenas com o resultado – a recessão – e não com a causa – a saída do Estado. Entenderam? Nem eu.

Jose Júlio Senna, chefe do Centro de Estudos Monetários do IBRE

Senna, ao contrário, é bastante cético sobre a capacidade de uma redução adicional da taxa básica de juros ajudar a economia brasileira. Ele ancora sua avaliação na já expressiva queda dos juros formados no mercado. “Estímulos de demanda não vão produzir efeitos expressivos. Não podemos acionar o instrumento fiscal quando o governo precisa reduzir seus gastos. Talvez possamos ter uma redução modesta dos juros, mas a atividade não responde só a juros, como a zona do euro nos ensina. Além disso, o mercado financeiro já fez o afrouxamento monetário. Os juros mais longos, formados no mercado, já caíram ao longo deste ano, e não vimos nenhuma euforia das empresas para tomar crédito. Esse é um grande sinal de que o estímulo monetário não é a solução”, diz ele.

Ou seja, não tem saída monetária – no que está certo – e não tem saída fiscal, porque o governo esta quebrado.  Resta cortar os pulsos ou fazer um pneumotórax.  Nenhuma curiosidade em analisar o impacto de gastos públicos na receita fiscal e no crescimento, como se aumento de despesas públicas fosse absolutamente neutro em relação ao aumento da receita fiscal.

Conclusão

A exemplo do que ocorreu na Europa e nos Estados Unidos, no período pré-crise, toda a discussão econômica fica subordinada aos dogmas criados pela ortodoxia e consagrados pelo mercado. Análises que não resistem a uma mera observação empírica, passaram a ser tratadas como ciência pura, da qual não se pode questionar sob risco de perder o respeito da plateia de ignaros que acredita no terraplanismo da economia.

Luis Nassif

23 Comentários

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  1. A única coisa que ocupa todo espaço livre são os gases…
    Na era do nacional-desenvolvimentismo havia uma indústria. Predadora, dependente do Estado, com todos os defeitos possíveis e imagináveis, mas a VW empregou até 40.000 pessoas, fora a multiplicação pela cadeia produtiva , para cada emprego na montadora se calcula quatro empregos nas produtoras de autopeças. Hoje? Quem tem emprego é o trabalhador chinês! Indústria? Quando FHC assumiu dizia que não ia ter videolocadora e pizza delivery para todos os “empreendedores”.
    Campos falava de uma lanterna na popa, lanterna que ele mesmo ajudou a instalar em tal posição.
    Estamos cada vez mais pobres!

  2. Vários comentadores aqui deste blog fala há anos pra não se desprezar o antipetismo. Falam no vazio. Não entra no ouvido de muitos que essas ideologias antissociais não se resumem somente a raivinha do PT, PT, PT e do Lula, mas a TUDO que se refere a popular, igualdade, justiça social.

    Não entendem também que a mesma raivinha da Universidade, do conhecimento, da Ciência é metódica. Falam muito de “doutrinação”, mas os cursos de MBA sair EXATAMENTE isso.

    Há décadas que se acusa isso.

    Quando os setores democráticos acordarem, já era, não terá mais nada.

    Da esquerda partidária é que não se pode esperar nenhum despertar tao cedo. No entanto, eu, pessoalmente, esperava muito mais dos responsáveis – sim, responsáveis – pela produção de conhecimento rigoroso, metódico, ou seja, o campo acadêmico.

    Talvez seja o caso de também incluir na conta dos “erros” dos governos do PT, PT, PT o tanto que fez pelas Universidades, estabilizado orçamento e salarios, criando vagas, etc. O resultado foi mais vinho e viagem.

    1. Na verdade muitos fizeram o diagnóstico, mas… qual seria a alternativa? Deixar a esquerda de ser esquerda? Pergunto sem qualquer ironia o que pensa a respeito.

      1. Poucos, muito poucos… é de contar nos dedos quem “viu o mato crescer” antes do golpe consumado. A grande maioria só acordou depois. O próprio Wanderley Guilherme dos Santos, que é um gigante, só viu o que viria acontecer no meio de 2015!

        Ora, a Ciência tem como característica a capacidade de prognose! Fazer depois engenharia de obra pronta, sinceramente, nao me diz nada.

        Palmas também pro Jessé de Souza. Ele está pelo menos dois passos adiante do restante da “academia”. Enquanto uns e outros estão cerebrinando teses e mais teses, ele está travando DEBATE PÚBLICO, ali, na arena, com o saber acumulado ao longo de décadas…

        Não nasceu ontem, não.

        1. O Jessé, sem dúvida, há anos, vem desenvolvendo um debate sério, original e muito bem fundamentado sobre o que estamos vivendo. Foda é que parte da esquerda cirandeira, vinho e cachecol acha que ele tem um linguagem agressivo e descortês. Se a gnt tomasse na mão as teses que ele defende, tornando-as pragmáticas, é claro, talvez conseguíssemos avançar contra essa desgraceira toda que vem em tsunamis diariamente. É preciso disputar narrativa no micro diariamente. Ser claro, objetivo e dar nome às coisas: o Jessé, por exemplo, não mede palavras que a lavajato é uma farsa para encobrir a real corrupção no Brasil: a drenagem do recurso público pelo mercado financeiro.

  3. Como em análises tão profundas não foram consideradas variantes tão importantes como a indicação do Edy my boy ( viva PHA) para a embaixada americana e a disposição do presidente eleito por “eles” de indicar um ministro terrivelmente evangélico para o STF? Se merecem.

  4. Caro sr. Nassif : Agricultura e Pecuária. 60% da riqueza do país. 90% do território. População Rural e Urbana. Meio Ambiente. Economia. Cidadania. Ambientalismo. Cultura. Textos e Crônicas. Entre centenas de outros assuntos. Por que a CENSURA junto ao espaço de comentários na Coluna de Rui Daher? Libere novamente !!! Este não é um espaço e veículo de comunicação? abs.

  5. É CLARo OUE NÃO PODE DAR CERTO-
    COm TANTA LINGUAGEM CHATA,
    NÃO Há QUEM AGUENTE
    LER QUALQUER COISA EM ECONOMIA,….
    onde não há vida, não há saída humana….
    é por isso que lula é o maior estadista da história
    brasileira, tira de letra tudo isso aí
    ilcluindo as pessoas….

  6. Democracia absoluta
    Todo caos que vemos na politica, nacional e mundial, é por que tem pouca participação popular. Precisamos de uma reforma politica. O poder é corruptivo, quanto maior o poder maior a corrupção. Por isso que a politica tem que ter um controle maior do povo.
    Legislativo
    A primeira mudança seria no legislativo em seus vários níveis, onde os seus integrantes não seriam mais eleitos e sim sorteados entre os eleitores. Poderíamos começar com 50% do legislativo sendo nomeado desta maneira. A cada 2 anos haveria um novo sorteio para renovação do legislativo.
    Acredito que assim poderia aumentar o interesse do povo pela política.
    Por sorteio, este grupo de parlamentares seria bem heterogêneo, bem representativo da população brasileira.
    Com certeza, 50% destes parlamentares seriam de mulheres.
    Executivo
    Poderíamos eliminar as coligações partidárias. Cada partido apresentaria seu próprio candidato a Presidente, governador, prefeito e seus vices.
    50% do legislativo, o 50% não sorteado, seria eleito proporcionalmente aos votos dados aos candidatos do executivo.
    Para dar mais controle do executivo pelo povo, a cada dois anos haveria um plebiscito para confirmar ou não a permanência do mandatário no cargo. Caso o “não” vencesse seria feita uma nova eleição para aquele cargo.

  7. O Jessé, sem dúvida, há anos, vem desenvolvendo um debate sério, original e muito bem fundamentado sobre o que estamos vivendo. Foda é que parte da esquerda cirandeira, vinho e cachecol acha que ele tem um linguagem agressivo e descortês. Se a gnt tomasse na mão as teses que ele defende, tornando-as pragmáticas, é claro, talvez conseguíssemos avançar contra essa desgraceira toda que vem em tsunamis diariamente. É preciso disputar narrativa no micro diariamente. Ser claro, objetivo e dar nome às coisas: o Jessé, por exemplo, não mede palavras que a lavajato é uma farsa para encobrir a real corrupção no Brasil: a drenagem do recurso público pelo mercado financeiro.

  8. Luis Nassif,
    Muito bom o texto, embora avalio que você foi condescendente com os jornalistas do Valor Econômico que fizeram a reportagem. Tinha o Bráulio Borges que disso o certo mas pode ter dito mais do que consta, pois sabe bastante. No início do segundo semestre de 2015, ele viu sinais de recuperação da economia, mas com a previsão de alta do juro nos estados unidos que acabou acontecendo no início de dezembro de 2015 com previsão de quatro aumentos em 2016, a economia atolou novamente na recessão.
    O que questiono entretanto no seu texto é a seguinte afirmação:
    “Desde a gestão Joaquim Levy, em cima da uma crise externa (a redução dos preços das commodities) seguiu-se uma política extremamente ortodoxa de corte de gastos públicos, redução da demanda pública jogando a economia em quedas recordes, mesmo com o país sentado em reservas cambiais expressivas e sem riscos cambiais (que estão na raiz de todos os grandes problemas econômicos de países).”
    É preciso entender o segundo governo da ex-presidenta Dilma Rousseff. O ano de 2013 começou com a continuidade do crescimento dos investimentos em taxas superiores ao do milagre. Chico Lopes escrevia artigos alertando o Banco Central para a necessidade de ficar atento a possibilidade de crescimento da inflação. Poucos viam isso. E em abril o Banco Central deu início a nova subida da taxa de juros.
    Tudo indicava que a economia finalmente iniciava uma retomada. Veio o terceiro trimestre, após as manifestações de junho de 2013 e tudo foi ladeira abaixo. Só que o orçamento de 2014 já estava dado. E o governo teve que administrar 2014, evitando que a economia deteriorasse e lutando para a ex-presidenta Dilma Rousseff recuperasse a popularidade que fora embora com as manifestações de junho de 2013 para chegar na eleição de 2014 com vida.
    O governo injetou mais dinheiro na economia, para que a popularidade não caísse mais, mas a economia não recuperava e assim aparecia um déficit crescente em transações correntes.
    Apesar de tudo, mesmo com o esforço para a reeleição, considerando o período de 12 meses, a economia só passou a ser deficitária depois de outubro de 2014, quando a queda dos preços das commodities chegara ao máximo. Então até ai você está certo.
    Ocorre que a razão de os preços das commodities terem caído foi a previsão de elevação de juro americano. E a elevação de juro faz outra mercadoria também cair de preço: a moeda de países de periferia. Foi o que aconteceu com o Brasil. A queda da moeda era salutar à medida que se podia contrabalançar ao déficit das transações correntes. Só que para isso o país teria que criar um excedente, para que sobrassem produtos para serem exportados.
    Então faltou no seu artigo a referência à desvalorização do real e a necessidade que a demanda interna fosse reduzida de tal modo que sobrasse excedente para exportação. É bem verdade que o seu blog deu espaço para o único economista de esquerda que percebeu este entrelaçamento entre a realidade econômica mundial e a política econômica a ser posta em prática pelo governo da ex-presidenta às custas do golpe Dilma Rousseff. Trata-se do post “Tática fiscalista e estratégia social-desenvolvimentista, por Fernando N. da Costa” de quarta-feira, 03/12/2014, reproduzindo artigo que saíra no Brasil Debate e de autoria de Fernando Mogueira da Costa.
    É claro que pode ser que dado as particularidades da recessão que abatia a economia mundial, a alternativa que a ex-presidenta às custas do golpe Dilma Rousseff adotou não fosse a mais recomendável. Talvez quem melhor pudesse discorrer sobre isso fosse Guido Mantega que, após os oito anos de serviços ao país como ministro da Fazenda, tornara-se provavelmente quem mais detinha conhecimento da economia brasileira e sabia qual seria a melhor maneira de enfrentar a crise econômica mundial.
    Este pormenor da avaliação da necessidade de se fazer uma contrição da demanda interna feita por um economista de direita é fato desconhecido ou não levado em conta por parte da maioria dos analistas do segundo governo da ex-presidenta às custas do golpe Dilma Rousseef, a maioria da direita o faz por ignorância, mas há os que fazem por má-fé. É triste, entretanto, verificar esse tipo de abordagem por analistas que mais perfilham o espectro da esquerda.
    Clever Mendes de Oliveira
    BH, 13/07/2019

  9. “Ela (a previdência) já consome 60% de nosso orçamento, apesar da demografia favorável, e praticamente 14% do PIB. O mesmo que países velhos como Alemanha ou Japão”.
    O pagamento do serviço da dívida aos bancos, que giram em torno do dobro do valor da Previdência, nunca é mencionado e é deixado de fora por esses “creticínicos” que se dizem economistas, mas são apenas financistas concentradores de riqueza cada vez mais concentrada.
    Ora, o superávit primário (que em teoria melhor seria o nominal), conseguido na maior parte dos governos trabalhistas entre 2003 e 2014, foi substituído por um déficit primário pelas pautas bomba e um minixtro banqueiro (Levy)no segundo governo de Dilma (que não existiu, pela norma do “se concorrer não ganha, se ganhar não governa”) só aumentou, o que significa mais juros. Temer aprovou aumentos do déficit orçado já no início e este (des)governo já o explodiu com mais 250 bilhões, também logo na largada, o que significa que os juros, mesmo que num percentual menor, aumentarão sobre um valor (bem) maior.
    E a “economia” dos milhões de miseráveis, desempregados, desamparados e remediados desse país de mais de 200 milhões de explorados, controlados, traídos e sitiados por algumas dezenas de milhares de capatazes e corretores de interesses externos aos deles continuarão a ver o desempenho do país medido diariamente pela cotação do dólar e pelo índice da bolsa.
    Como se uma bomba de gigatons de drogas e tóxicos de efeito zumbi tivesse explodido desde o planalto central, espalhando-se do Acre à Paraíba e do Oiapoque ao Chuí.

  10. “Ela (a previdência) já consome 60% de nosso orçamento, apesar da demografia favorável, e praticamente 14% do PIB. O mesmo que países velhos como Alemanha ou Japão”.
    1) Como o PIB de Alemanha e Japão é bem maior que o nosso (que baixou) e a população é bem menor, significa que os aposentados alemães e japoneses ganham bem mais (sem mencionar que lá não há as distorções absurdas de aposentadorias 50 vezes maior que outras)
    2) O pagamento do serviço da dívida aos bancos, que giram em torno do dobro do valor da Previdência, nunca é mencionado e é deixado de fora por esses “creticínicos” que se dizem economistas, mas são apenas financistas concentradores de riqueza cada vez mais concentrada.
    Ora, o superávit primário (que em teoria melhor seria o nominal), conseguido na maior parte dos governos trabalhistas entre 2003 e 2014, foi substituído por um déficit primário pelas pautas bomba e um minixtro banqueiro (Levy)no segundo governo de Dilma (que não existiu, pela norma do “se concorrer não ganha, se ganhar não governa”) só aumentou, o que significa mais juros. Temer aprovou aumentos do déficit orçado já no início e este (des)governo já o explodiu com mais 250 bilhões, também logo na largada, o que significa que os juros, mesmo que num percentual menor, aumentarão sobre um valor (bem) maior.
    E a “economia” dos milhões de miseráveis, desempregados, desamparados e remediados desse país de mais de 200 milhões de explorados, controlados, traídos e sitiados por algumas dezenas de milhares de capatazes e corretores de interesses externos aos deles continuarão a ver o desempenho do país medido diariamente pela cotação do dólar e pelo índice da bolsa.
    Como se uma bomba de gigatons de drogas e tóxicos de efeito zumbi tivesse explodido desde o planalto central, espalhando-se do Acre à Paraíba e do Oiapoque ao Chuí.

  11. Nenhuma teoria econômica que desconsidere a justiça social e a redistribuição de renda merece respeito.
    O estudo da economia, sua lógica e aplicação só ganharam ares de ciências porque sofisticaram os meios de roubar impunemente as populações.
    Exploração pura e simples dos bens, riquezas e trabalho dos outros em favor de uma elite cada vez mais restrita, onde quem pode mais chora menos e todos brigam muito por pouco. Quem promove a contenda fica com os despojos.
    A economia tem, mesmo, que ser confusa, desregulada e “liberal”.
    De que outra forma os grupos privilegiados, estados, países e corporações poderiam crescer, prosperar e governar?

  12. O que Nassif chama de terraplanismo de economistas e empresários eu chamo de dissociação cognitiva que parecer ter avançado para um quadro de esquizofrenia provocada pelo dogma e pela ideologia burra.
    Há anos todos aqueles que ainda resistem e insistem em verta lógica racional denunciam esses loucos e falastrões que, como diz meu malvado favorito, o ministro Gilmar Mendes quem corre atrás de doido não sabe onde irá parar.
    Como exemplo do que falo recomendo que leiam um texto que publiquei em fevevereiro de 2017 sobre o tema. Aqui vai o link https://www.linkedin.com/pulse/brasil-ecos-de-2016-perspectivas-para-2017-e-brazil-pinto-camargo/

  13. Incrível, o juros nos países desenvolvidos é de pai pra filho, mas no Brasil não podemos ter essas benesses! Juros de 1% ao ano, não não não! Porque isso nas mãos do brasileiro vira 1000%, porque o brasileiro é trabalhador e bom de serviço!

  14. Penso q nossos pensadores(intelectuais)estão/estavam mais preocupados com o viés pessoal/partidário(psolistas,tucanos,petistas)ao ponto de não alertarem ou influenciarem positivamente nossas autoridades, até dois meses atrás ouvia muitos intelectuais descendo a lenha no PT pasmem um governo q se foi há anos e não via nenhuma crítica veemente aos governos Bolsonaro/Temer ficando claríssimos o viés pessoal/partidário e a grande influência da lavagem cerebral contra o PT feita pelas mídias tradicionais,é só vermos q até hoje culpam o PT disso,daquilo Ciro Gomes q o diga,estamos num atraso/paralisia mental intelectual !!!

  15. Embora não seja o tópico apropriado, desculpem, mas não esperarei abrir um que corresponda. Estou com receio sobre a questão da segurança nacional, Exército e milícias.
    1. Tentativa de liberação de armas de forma ampla.
    2. Possibilidade de normalização da posse e compra de armas pelas milícias.
    3. Possibilidade de normalização de atividades das milícias com base na normalização da posse e compra de armas pelas milícias.
    4. Criação, a partir de milícias já organizadas, de grupos de segurança.
    5. Seria decisiva a criação de legislação que aumente as atribuições de grupos de segurança, incluindo a segurança pública e atribuições de atividades exclusivas do Exército.
    6. Grupos mercenários poderiam realizar atividades para o Exército e para empresas particulares. No entanto, tais empresas teriam interesse em informações do Estado.
    7. Não poderia deixar de citar empresas como a Blackwater, que possui atualmente o nome de Academi. Ela possui contratos com o governo norte-americano, realizou atividades para a CIA e foi uma das “beneficiárias” da chamada “Guerra ao Terror”. Porém, há outras frentes, como a contratação de 5 mil mercenários para realizar a queda do governo da Venezuela, operando a partir da Colômbia, tal como se lê em https://www.dn.pt/mundo/interior/como-a-blackwater-esta-a-preparar-5000-mercenarios-para-derrotar-maduro-10853560.html.
    Não se trata de um conjunto fechado de ideias. Apenas quero levantar alguns pontos.

  16. Nassif, se puder, faça comentários sobre o vídeo do Paulo Guedes (tem uns 4 minutos de duração), onde ele dá uma palestra (no “púlpito” tem escrito expert 2019). Ele fala que o Japão foi reconstruído pelo partido liberal democrata, a Alemanha, o Chile… se tornaram potências com programas liberais.

  17. O problema central da nossa economia é a crise da demanda. Isso se resolve com distribuição de renda a partir de políticas públicas e de investimentos públicos em áreas que empregam muita gente, como a construção civil (ler Keynes nesse momento seria interessante). Para o Estado arrecadar mais basta cobrar impostos sobre lucros e dividendos, fazer um IR progressivo, cobrar impostos das igrejas e cobrar o ITR que hoje ninguém cobra.

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