2015: Cinco projetos aprovados pela Câmara que ferem os direitos humanos

Patricia Faermann
Jornalista, pós-graduada em Estudos Internacionais pela Universidade do Chile, repórter de Política, Justiça e América Latina do GGN há 10 anos.
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Do Justificando

2015 foi um ano, no mínimo, tumultado na política brasileira. Com um congresso mais conservador desde a ditadura militar, logo no primeiro mês essa força política foi demonstrada e o deputado evangélico Eduardo Cunha (PMDB/RJ) foi eleito para a Presidência da casa. 

Sob o comando de Cunha, o Legislativo acelerou o andamento de diversos projetos de lei que atingem os direitos humanos. Da restrição ao aborto às mulheres vítimas de estupro até a criminalização da “heterofobia”, passando pela redução da maioridade penal, defensores dos direitos humanos tiveram um ano extremamente delicado com diversas pautas sob a mira da bala, da bíblia ou do boi. 

Confira alguns episódios que o Congresso atropelou os direitos humanos.

5- Comissão de Constituição e Justiça aprova projeto de Cunha que dificulta mulheres estupradas realizarem aborto

 

Em Outubro, foi aprovado pela Comissão de Constituição e Justiça e de Cidadania (CCJ) da Câmara dos Deputados, o Projeto de Lei 5069/2013 de autoria do presidente da Câmara, deputado Eduardo Cunha (PMDB-RJ), que torna crime anunciar, induzir ao uso, ou fornecer meios ou substâncias abortivas a uma gestante, mesmo em caso de estupro como o de Juliana.

Além disso, o projeto torna obrigatório que mulheres que afirmem terem sido estupradas façam um boletim de ocorrência e exame de corpo de delito para que “comprovem” que estão falando a verdade. Por último, a proposta ainda altera o item que possibilita que a mulher receba pílulas do dia seguinte para evitar uma gravidez em caso de estupro – a chamada profilaxia da gravidez.

O projeto chocou os movimentos de defesa das mulheres, que se reuniram em manifestações por todo país com o lema #MulherescontraoCunha.

4- Comissão da Câmara avança em PEC que dificulta a demarcação de terras indígenas 

Em outubro, foi aprovado na Comissão Especial da Demarcação de Terras Indígenas a PEC 215/2000, apresentada por Almir e Sá (PMDB/), que visa transferir da União ao Poder Legislativo (Congresso Nacional) a demarcação de terra indígenas. Além disso, a proposta possibilita a revisão e revogação das demarcações já homologadas, e o procedimento para a demarcação das terras passaria a ser regulado por lei e não mais por Decreto, como ocorre constantemente.

Atualmente, somente o Poder Executivo, munido de seus órgãos técnicos, pode decidir sobre essas demarcações. Após a aprovação, o Justificandorecebeu na redação o índio do povo Tupinambá de Ilhéus, Casé Angatu, que cometou sobre a aprovação da pauta. Para ele, os ruralistas são maioria no Congresso, o que facilita a aprovação da PEC.

“O Congresso não tem nenhum interesse pela demarcação indígena. Dificilmente eles vão perder essa pauta no Congresso. Esse país é agrário ainda”, afirmou Angatu. 

Por se tratar de um um risco às terras indígenas, vários grupos protestaram na Câmara dos Deputados contra a medida, mas foram reprimidos pela polícia legislativas que retiraram os manifestantes dos corredores da casa. Após ser aprovado pela Comissão Especial, a proposta segue para a votação no Plenário da Câmara, onde tem de ser aprovada por três quintos dos deputados, em dois turnos. Ou seja, deve obter 308 votos em duas votações distintas. 

Se aprovada pela Câmara, o texto segue para a votação em dois turnos no Senado, onde também precisa dos votos de 49 senadores por se tratar de uma proposta que altera a Constituição. Como se trata de uma emenda à Constituição, a presidenta Dilma não pode vetar a decisão do Congresso.

3- PEC da tercerização 

Em abril, foi aprovado pelo plenário da Câmara da PEC que prevê a contratação de terceiros em todas as atividades, sem restrições. A empresa terceirizada só poderá oferecer um serviço no qual seja especializada e a contratante terá que recolher ao governo encargos e tributos como INSS e PIS.

A CUT  e outras organizações sindicais criticaram a medida alegando ferir os direitos trabalhistas conquistados através da CLT. Houve muitas manifestações pelo Brasil contrárias à pauta, mas, ainda assim, foi aprovado pela maioria da Câmara. 

A PEC está no Senado Federal, sob análise de uma comissão especial. Senadores já anunciaram que o tema será votado em maio de 2016 e, enquanto isso, serão feitas discussões por todo o país sobre o tema. 

2- Redução da maioridade penal

Em julho, foi aprovado na Câmara dos Deputados a redução da maioridade penal de 18 para 16 anos no Brasil. Em primeiro turno a pauta foi derrotada no plenário da casa, mas no dia seguinte o presidente da casa, Eduardo Cunha, fez uma manobra parlamentar e aprovou a emenda em segunda votação. Agora a PEC está aguardando ser votada no Senado. 

A PEC 171/93 tramita há 22 anos na Câmara e foi retomada logo no começo do mandato de Cunha, que é um defensor assumido do tema. Em todo o Brasil houve manifestações contra a medida, que colocaria em precariedade todo o sistema penintenciário do nosso país que já é falido. 

Justificando, em parceria com o Instituto Brasileiro de Ciências Criminais e outras instituições, lançou a campanha Eu Confesso, que mostra diversos adultos confessando crimes que cometera na infância, colocando em xeque a seletividade do Direito Penal.

1- Estatuto da família 

Em setembro, a Comissão Especial do Estatuto da Família da Câmara dos Deputados aprovou o projeto de lei que define família como a união entre um homem e uma mulher, excluindo outras derivações do conceito. A aprovação foi em sentido contrário à decisão do Supremo Tribunal Federal, o qual em 2011 igualou a união homossexual à heterossexual. Dois anos depois, o CNJ (Conselho Nacional de Justiça) regulamentou que os cartórios brasileiros celebrassem casamento entre pessoas do mesmo sexo.

O texto dispõe sobre os direitos da família e as diretrizes das políticas públicas voltadas para atender a entidade familiar em áreas como saúde, segurança e educação. De autoria do deputado Anderson Ferreira (PR-PE), a proposta tramita na casa desde 2013

O estatuto vai contra um entendimento já resolvido pelo STF, o que se torna inconstitucional, mas evidencia a ideologia presente na Câmara dos Deputados, com as bancadas da bíblia cada vez maior. 

Após a aprovação da pauta, o Justificando procurou o advogado especialista em Direito Constitucional, Homoafetivo e colunista do portal, Paulo Iotti, o qual explica que com a aprovação desse projeto, nada vai mudar. 

O projeto não proíbe expressamente o reconhecimento da união homoafetiva como família. A redação dele nesse ponto é equivalente à do art. 1.723 do Código Civil, que o STF interpretou como não-proibitivo da família homoafetiva“, afirmou. 

Patricia Faermann

Jornalista, pós-graduada em Estudos Internacionais pela Universidade do Chile, repórter de Política, Justiça e América Latina do GGN há 10 anos.

6 Comentários

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  1. A terceirização é necessária

    Ou o Brasil flexibiiza as relações de trabalho ou está fora do mundo globalizado.

    Não é mais possível conviver com as leis de trabalhistas jurássicas criadas há 80 anos inspiradas em Mussolini.

    Quanto ao restante são todas legislações retrógradas de um congresso extremamente conservador que é filho bastardo do lulo-petismo. Em nome da governabiidade Lula entregou Ministérios e Empresas públicas às forças mais retrógadas da sociedade brasileira. Deu no deu. Se empoderaram e agora o Frankestein político criado por Lula está aí transformado em votos no Congresso.

    1. Caraca….

      A turma do sul e sudeste votou majoritariamente nos candidatos da mídia, nos ditos evangélicos e tais e a culpa é do LULA?

      Pergunto em quem você votou então?

      Veja a quantidade de dinheiro que esta turma recebeu na campanha, o espaço que a nossa dita classe média (a mais reacionária) deu para os Cunhas, e Bolsonaros da vida. E o que falar do TUCANISTÃO paulista?

      1. Bem

        Só posso te dizer que não elegi nenhum candidato desta Câmara. 

        Por enquanto, meu único voto que se transformou em mandato eletivo é o do Senador Requião. 

        Os dois citados, Cunha e Bolsonaro, são de partidos da base de apoio ao governo e tem ministério com grandes orçamentos.

        Acho que isso apenas corrobora minha afirmação.

        Em tempo, embora não nutra a menor simpatia pelo Bolsonaro, a cmpanha dele foi franciscana, se compara a qualquer deputado eleito pelo PT, é só olhar as contas do TSE. Bolsonaro, apesar de ser um imbecil, é com certeza um dos maiores detentores de voto ideológico do Congresso. Se a ideologia dele não nos agrada, essa é outra estória. Esse é o preço da democracia.

    2. São dois aspectos distintos e

      São dois aspectos distintos e voce os mistura.: A primeira se refere à dita flexibilização do trabalho que nada mais é do que um eufemismo para tirar direitos e favorecer os lucros do patrao e é claramente defendido pelas forças retrógradas, ou então por esta figura mítica que ora se chama globalização ora se chama mercado. Por favor dê uma olhada nos direitos trabalhistas dos países escandinavos ou da França ou da Alemanha etc….. Analise as garantias sociais destes países e depois me fale de globalização. Chamar este congresso de fruto do llulo-petismo é de uma profunda má fé. È algo como acusar as vítimas de um bombardeio de culpadas. Seus amigos do PSDB e Demo, embora sempre de cara limpa  estao com as mãos sujas de tanto suportar os traseiros desta horda que era chamada de baixo clero e agora sob Cunha virou o alto clero.    

      1. Feliz ano novo prá você também

        Não sei porque você supõe que eu tenho amigos tucanos ou demos. Mas tudo bem.

        Conheço as legislações da escandinávia e da Alemanha. São muito mais modernas que a brasileira. Vai estudar e para de posar de sabido. Leia sobre os mini jobs alemães. Estude a agenda 2010. Conheça o Plano Hartz. Estude a Agenda Lisboa para a Comunidade Européia.

        Quem falou em garantias sociais ???

        Quanto a formação deste congresso, não ela não é fruto do lulopetismo e da “governabilidade” de Lula que distribuiu distribuiu ministério e poder às forças mais retrógradas desse país.. Hehe. Deve ser então fruto do getulismo. Hehhehe

        Só rindo. 

  2. Inconstitucional

    A palavra inconstitucional foi mal aplicada ao texto. O STF só pode julgar inconstitucional se a constituição foi ferida na letra ou no espírito. Ao autorizar a união homoafetiva o STF não emendou a constituição federal, pois essa é uma tarefa do legislativo.

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