CPI do HSBC pode terminar por falta de andamento da investigação

Patricia Faermann
Jornalista, pós-graduada em Estudos Internacionais pela Universidade do Chile, repórter de Política, Justiça e América Latina do GGN há 10 anos.
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Dificuldades para que senadores tenham acesso às informações enviadas pelo governo francês levou integrantes da comissão a discutirem se vale a pena continuar o trabalho. Decisão sairá na próxima semana
 
 
Da Rede Brasil Atual
 
Por Hylda Cavalcanti
 

A Comissão Parlamentar de Inquérito (CPI) que avalia as contas secretas abertas por brasileiros no HSBC da Suíça – CPI do HSBC – que enfrenta dificuldades para funcionar, discutirá na próxima semana a possibilidade de vir a ser encerrada antes do prazo por falta de condições de trabalho. Os integrantes da CPI receberam hoje (3) uma espécie de ducha de água fria, com a informação de técnicos da Polícia Federal de que somente no final do mês (quando terão se passado quase oito meses de funcionamento da comissão) é que a PF terá condições de iniciar a avaliação de todas as informações recebidas pelo Ministério Público da França sobre o caso.

Além dessa demora, o mal-estar entre os integrantes da comissão reside no fato de o Senado não ter recebido os documentos do Ministério Público da França que foram encaminhados ao governo brasileiro. O acordo internacional firmado entre os governos francês e brasileiro só autoriza o compartilhamento de documentos para órgãos de fiscalização, e a CPI não é assim considerada pelos franceses.

Os entraves foram discutidas hoje, após audiência pública com representantes da PF e do Ministério Público Federal (MPF), que também realizam investigações em separado sobre o caso – o que complica ainda mais a situação. De acordo com o delegado federal Tomás de Almeida Viana, os dados recebidos pela França chegaram ao Brasil em linguagem muito técnica e em estado bruto, motivo pelo qual precisaram ser compilados e separados, para posterior análise.

Segundo Viana, as informações que estão sendo investigadas pela PF já foram periciadas mas ainda estão em análise porque os técnicos estão tendo muito trabalho para separar o que é realmente relevante para a investigação. Viana destacou a importância da CPI e outros órgãos que estão apurando as contas secretas compartilharem informações entre si.

Para o procurador da República Igor Nery Figueiredo, as duas investigações realizadas sobre as contas secretas do HSBC são distintas e é preciso que os senadores tenham isso em mente. Enquanto a Polícia Federal investiga o caso de forma mais abrangente, o MPF verifica possíveis crimes de evasão de divisas ou lavagem de dinheiro, a partir da descoberta dessas contas secretas.

“Decidimos conversar sobre isso para ficarmos mais detalhados a respeito dos históricos das pesquisas que têm sido feitas”, reconheceu o presidente da CPI, senador Paulo Rocha (PT-PA), que pretende realizar uma reunião administrativa para discutir o encerramento ou não dos trabalhos até o final da próxima semana.

Senadores divididos

Os senadores estão divididos em relação à posição a ser tomada. Mesmo criticando a demora e complicação para que possam receber informações, um grupo de integrantes da CPI trabalha com a alternativa de continuar os trabalhos, e ser enviado um senador até a França, provavelmente o senador Randolfe Rodrigues (Rede-AP), para conversar com autoridades e ver se é possível obter documentos diretamente para a comissão. Na mesma viagem, o senador aproveitaria para ouvir o ex-funcionário do HSBC Hervé Falciani, responsável pela denúncia do escândalo de contas secretas abertas irregularmente pelo banco na Suíça.

Outra alternativa colocada pelos parlamentares é de a CPI encerrar os trabalhos rapidamente, sugerindo legislações que evitem brechas para a abertura de novas contas secretas por brasileiros. Nesse caso, o relatório final explicará que o cancelamento da comissão se deu porque não houve, por parte do Senado, condições de avançar nos trabalhos.

“Acho que não vamos chegar muito longe com a CPI sem essas informações. O meu pensamento é deixar que o Ministério Público e a Polícia Federal continuem a investigação”, disse o senador Davi Alcolumbre (DEM-AP), que defende que o MPF e a PF fiquem sendo os únicos responsáveis pela apuração do caso. “Não tivemos condições, até hoje, de fazer um bom trabalho”, criticou, também, o senador Ciro Nogueira (PP-PI).

Recuo atrapalhou

Randolfe Rodrigues, responsável pelo requerimento para criação da comissão, aproveitou para reclamar dos colegas e dizer que se não tivesse havido um recuo por parte dos próprios senadores, o rumo dos trabalhos seria outro. Conforme lembrou Rodrigues, a CPI chegou a aprovar 25 quebras de sigilo fiscal, bancário e telefônico no país, mas depois resolveu voltar atrás com o intuito de aguardar a chegada desses documentos.

“Se tivéssemos dado início ao trabalho, realizando audiências e convocações, poderíamos ter algo apurado hoje, o que não foi feito por culpa dos próprios integrantes que aqui estão”, reiterou o parlamentar, ao destacar que ele chegou, inclusive, a pensar em renunciar da CPI em função desse recuo.

A CPI do HSBC foi instalada no Senado em março passado, com o objetivo de investigar irregularidades em contas de brasileiros abertas na filial do banco na Suíça. A origem da investigação foi o vazamento, no início deste ano, de uma lista com nomes de correntistas do banco e a descrição dos valores aplicados.

As estimativas iniciais são de que existem cerca de 8 mil contas secretas, não declaradas, abertas por correntistas brasileiros na sucursal do HSBC em Genebra. O total existente nessas contas pode chegar a perto de R$ 20 bilhões, conforme as investigações em curso.

Patricia Faermann

Jornalista, pós-graduada em Estudos Internacionais pela Universidade do Chile, repórter de Política, Justiça e América Latina do GGN há 10 anos.

5 Comentários

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  1. É muito fácil faler a CPI

    É muito fácil faler a CPI continuar a todo vapor: é só colocar um petista lá dentro. Sem petista no meio é muito difícil qualquer investigação seguir em frente.

    Só os petistas inocentes não enxergam isso.

  2. Os nossos heróis
    INCRÍVEL!
    Que goleada fabulosa do mal contra o bem.
    Que exemplo maravilhoso para constatarmos, que, em muito, o crime compensa.
    Livros de história, no futuro próximo, estamparão nomes e sobrenomes de heróis, que escaparam ilesos de batalhas épicas brasileiras, tais como: Operação Satiagraha, Operação Castelo de Areia, Caso Banestado, Lista de Furnas, Trensalão Tucano, Mensalão Tucano, Mensalão do DEM (Partido Democrata), Caso Sabesp, Caso Helicoca, Caso Aeroporto do Titio, Caso do Jatinho sem dono, Caso da sonegação da Globo, Caso do roubo do processo de sonegação da Globo, Caso do Grampo da PF Paraná, CPI da Petrobras e agora a CPI do HSBC.
    Heróis livres, leves e soltos prontos para seguir os passos do mestre Yousseff e reincidir, reincidir e reincidir.
    Existem muito mais, que serão devidamente incluídos na coleção histórica, cujos brilhantes autores são: PF, MP, STJ, STF, TSE, TCU, Câmara Federal, Senado Federal, Ministérios, Secretarias, Grande mídia e todosaqueles seguidores do quanto pior, para o Brasil, melhor.

  3. Brasil meu braZil braZileiro


    Brasil meu braZil braZileiro, um imenso puteiro onde quem manda é o dinheiro.

    Vai para vala rasa da Satiagraha, do Banestado, da Zelotes, da Castelo de Areia e outras tantas mais….

    Brasil que sonha com Justiça e se contenta com o show midiático dos justiceiros de holofotes em sua pantomina diária nas telinhas das máquinas de fazer doidos, a tv. O olho único do ciclope , multifacetado e onipresente, que devora a sua pouca capacidade de questionar, de racionalizar e de pensar. Sem que você perceba lhe transforma em coisa, em rês. E no fundo, você gosta….

     

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