Covid-19 – Balanço de momento: As estatísticas mundiais e o ritmo atual da pandemia no país, por Felipe A. P. L. Costa

Levando em conta as estatísticas obtidas no início da tarde desta segunda-feira (8/2), eis aqui um resumo da situação mundial.

Covid-19 – Balanço de momento: As estatísticas mundiais e o ritmo atual da pandemia no país.

Por Felipe A. P. L. Costa [*].

RESUMO. Este artigo atualiza as estatísticas mundiais a respeito da pandemia da Covid-19 divulgados em artigo anterior (aqui). Além disso, no caso específico do Brasil, o artigo atualiza os valores das taxas de crescimento (casos e mortes) divulgados na semana passada (aqui). Este último parâmetro (diferentemente da média móvel, por exemplo) é um guia apropriado e confiável para se monitorar o rumo e o ritmo da pandemia.

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  1. A SITUAÇÃO MUNDIAL.

Levando em conta as estatísticas obtidas no início da tarde desta segunda-feira (8/2) [1], eis aqui um resumo da situação mundial.

(A) Em números absolutos, os 20 países [2] mais afetados estão a concentrar 79% dos casos (de um total de 106.235.789) e 82% das mortes (de um total de 2.318.763) [3].

(B) Entre esses 20 países, a taxa de letalidade segue em 2,2%. A taxa brasileira segue em 2,4%. (Outros três países da América do Sul que estão no topo da lista têm taxas de letalidade equivalentes ou ainda piores: Argentina, 2,5%; Colômbia, 2,6%; e Peru, 3,6%.)

(C) Nesses 20 países, 60,1 milhões de indivíduos receberam alta, o que corresponde a 71% dos casos. Em escala global, 76,6 milhões de indivíduos já receberam alta.

  1. O ritmo da pandemia entre nós.

Ontem (7/2), de acordo com o Ministério da Saúde, foram registrados em todo o país mais 26.845 casos e 522 mortes. Teríamos chegado assim a um total de 9.524.640 casos e 231.534 mortes.

Em números absolutos, os casos registrados na semana passada (1-7/2) ficaram abaixo dos que foram registrados na semana anterior. Foram 319.909 casos, contra 360.154 (25-31/1).

O número de mortes também diminuiu, embora a média diária tenha ficado em um patamar desgraçadamente elevado. Foram 7.030 mortes. O que fez da semana encerrada ontem (1-7/2) uma das 12 com média diária acima de 1 mil óbitos/dia [4].

  1. Taxas de crescimento.

Para monitorar o rumo e o ritmo da pandemia, devemos examinar algum parâmetro que nos informe sobre a dinâmica da disseminação da doença. É o caso das taxas de crescimento no número de casos e de mortes [5].

Vejamos os resultados mais recentes.

Em comparação com as médias da semana anterior (25-31/1), as médias da semana passada (1-7/2) declinaram. E declinaram de modo significativo (ver a figura que acompanha este artigo).

A taxa de crescimento no número de casos recuou de 0,57% (25-31/1) para 0,49% (1-7/2) – o menor percentual nas últimas cinco semanas.

Já a taxa de crescimento no número de mortes recuou de 0,48% (25-31/1) para 0,44% (1-7/2) – também o menor percentual nas últimas cinco semanas [6, 7].

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FIGURA. A figura que acompanha este artigo ilustra o comportamento das médias semanais das taxas de crescimento no número de casos (pontos em azul escuro e azul claro) e no número de óbitos (pontos em vermelho escuro e vermelho claro) em todo o país (valores expressos em porcentagem), entre 28/6 e 7/2. (Valores acima de 2% não são mostrados.) Os pontos claros (azul, casos; vermelho, mortes) indicam semanas cujas médias ficaram abaixo da média da semana encerrada ontem (1-7/2). As quatro médias mais baixas das duas séries (casos e mortes) foram observadas entre 11/10 e 8/11, caracterizando o período como o ‘melhor mês’. Logo em seguida, porém, note como as duas nuvens de pontos experimentaram rupturas e mudaram de rumo. E note como o apagão que houve na divulgação das estatísticas, na segunda quinzena de dezembro, rebaixou artificialmente as duas trajetórias.

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  1. Coda.

Nas últimas cinco semanas (4/1-7/2), após sucessivas escaladas que se prolongaram por cerca de dois meses (9/11-3/1), eis que a taxa de crescimento no número de casos passou a declinar.

Algo semelhante poderia ser dito em relação à taxa de crescimento no número de mortes, ainda que a tendência declinante vislumbrada ali nas últimas cinco semanas não tenha sido tão acentuada ou nítida como a que se observa no número de casos (ver a figura que acompanha este artigo).

São notícias auspiciosas, sem dúvida, sobretudo diante do mar de lama que nos envolve a todos. Mas ainda estamos em patamares elevados – as médias da semana passada, por exemplo, são bem superiores às médias observadas no ‘melhor mês’: 0,38% (casos) e 0,27% (mortes).

Por fim, cabe aqui um alerta importante: os declínios reportados neste artigo nada têm a ver com a incipiente campanha de vacinação em curso no país. (Uma campanha, ouso dizer, deliberadamente lenta e desorganizada.)

Como escrevi em artigo anterior, os efeitos da vacinação só serão percebidos – na melhor das hipóteses – quando mais da metade dos brasileiros tiver sido vacinada [8]. Uma meta que, no ritmo atual, levará alguns anos para ser alcançada…

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Notas.

[*] Para detalhes e informações sobre o livro mais recente do autor, O que é darwinismo (2019), inclusive sobre o modo de aquisição por via postal, faça contato pelo endereço [email protected]. Para conhecer outros livros e artigos, ver aqui.

[1] Vale notar que certos países atualizam suas estatísticas uma única vez ao longo do dia; outros atualizam duas vezes ou mais; e há uns poucos que estão a fazê-lo de modo mais ou menos errático. Alguns países europeus (e.g., Suécia, Suíça e Espanha) insistem em não divulgar as estatísticas em feriados e fins de semana. A julgar pelo que informam os painéis, o comportamento da Suécia tem sido particularmente surpreendente e vexatório. No âmbito da América do Sul, o destaque negativo segue por conta do Peru. Acompanho as estatísticas mundiais em dois painéis, Mapping 2019-nCov (Johns Hopkins University, EUA) e Worldometer: Coronavirus (Dadax, EUA).

[2] Os 20 primeiros países da lista podem ser arranjados em cinco grupos: (a) Entre 26 e 28 milhões de casos – Estados Unidos; (b) Entre 10 e 12 milhões – Índia; (c) Entre 8 e 10 milhões – Brasil; (d) Entre 2 e 4 milhões – Reino Unido, Rússia, França, Espanha, Itália, Turquia, Alemanha e Colômbia; e (e) Entre 1 e 2 milhões – Argentina, México, Polônia, África do Sul, Irã, Ucrânia, Peru, Indonésia e Tchéquia.

[3] Para detalhes e discussões a respeito do comportamento da pandemia desde março, em escala mundial e nacional, ver os quatro volumes da coletânea A pandemia e a lenta agonia de um país desgovernado (aqui, aqui, aqui e aqui).

[4] Desde a chegada da pandemia em terras brasileiras, 12 semanas ultrapassaram a marca das sete mil mortes (o que equivale a uma média diária superior a 1 mil óbitos/dia). Na pior delas (20-26/7) foram registradas 7.516 mortes.

[5] Arrisco dizer que a pandemia chegará ao fim sem que a imprensa brasileira (grande parte dela, ao menos) se dê conta de que está monitorando a pandemia de um jeito, digamos, desfocado – além de burocrático e bastante superficial. Para capturar e antever a dinâmica de processos populacionais, como é o caso da disseminação de uma doença contagiosa, devemos recorrer a um parâmetro que tenha algum poder preditivo. Não é o caso da média móvel. Mas é o caso da taxa de crescimento – seja do número de casos, seja do número de mortes. De resto, trata-se de um parâmetro de fácil computação (ver a nota 7).

[6] Entre 19/10 e 7/2, as médias semanais exibiram os seguintes valores: (1) casos: 0,43% (19-25/10), 0,4% (26/10-1/11), 0,3% (2-8/11), 0,49% (9-15/11), 0,5% (16-22/11), 0,56% (23-29/11), 0,64% (30-6/12), 0,63% (7-13/12), 0,68% (14-20/12), 0,48% (21-27/12), 0,47% (28/12-3/1), 0,67% (4-10/1), 0,66% (11-17/1), 0,59% (18-24/1), 0,57% (25-31/1) e 0,49%(1-7/2); e (2) mortes: 0,3% (19-25/10), 0,26% (26/10-1/11), 0,21% (2-8/11), 0,3% (9-15/11), 0,29% (16-22/11), 0,3% (23-29/11), 0,34% (30-6/12), 0,36% (7-13/12), 0,42% (14-20/12), 0,33% (21-27/12), 0,36% (28/12-3/1), 0,51% (4-10/1), 0,47% (11-17/1), 0,48% (18-24/1), 0,48% (25-31/1) e 0,44%(1-7/2).

[7] Sobre o cálculo das taxas de crescimento, ver as referências citadas na nota 3.

[8] Devemos tomar cuidado com as armadilhas mentais que cercam a campanha de vacinação. Três das quais seriam as seguintes: (1) a imunização individual não é instantânea nem nos livra de continuar adotando as medidas de proteção social (e.g., distanciamento espacial e uso de máscara); (2) a imunização coletiva só será alcançada depois que a maioria (> 75%) da população tiver sido vacinada; e (3) a população brasileira é grande, de sorte que a campanha irá demorar vários meses (mais de um ano, talvez).

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Redação

1 Comentário

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  1. A pandemia vai ser uma tristeza para a humanidade, mas uma desgraça para Bolsonaro. Com sua possível e continuada perda de popularidade, o centrão vai cobrar cada vez mais caro, para mantê-lo na cadeira. E isto é o melhor dos mundos aos fisiológicos, um governo fraco e corrompido. E o que aponta a nova pesquisa XP é que o alto preço do descaso pela pandemia sanitária, já vem cobrando o retorno:
    – parcela baixa enxerga positiva as ações do presidente tomadas no combate à pandemia (22%). Bem pior que a de governadores (39%) e a de prefeitos (41%).
    – O governo também teve piora residual na avaliação de sua atuação no combate à pandemia do novo coronavírus: oscilou de 52% para 53% os que a avaliam como ruim ou péssima – percentual que também cresce desde outubro, quando o grupo correspondia a 47%. Enquanto a “culpabilização” de governadores e prefeitos é bem mais baixa.
    Reforço então a opinião de que o maior fator que pode vir a contribuir com a queda de Bolsonaro, é mesmo o descaso com a pandemia, trazendo por consequência a piora no quadro econômico e social. A falta de vacinação e a campanha anti-vacina formam o maior tiro no pé.

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