Wajngarten entrega cabeça de Pazuello para salvar a si e ao Bolsonaro

Às vésperas da CPI, ex-secretário tenta eximir Bolsonaro de responsabilidade por não ter comprado vacina da Pfizer quando recebeu a oferta

Jornal GGN – Numa entrevista interpretada como tentativa de salvar a si mesmo e ao presidente Jair Bolsonaro, o ex-chefe da Secretaria de Comunicação da Presidência, Fábio Wajngarten, atribuiu à equipe do general Eduardo Pazuello, ex-ministro da Saúde, a responsabilidade pelo atraso no acordo com a Pfizer por dezenas de milhões de doses de vacina contra Covid-19.

“O presidente Bolsonaro está totalmente eximido de qualquer responsabilidade nesse sentido. Se as coisas não aconteceram, não foi por culpa do Planalto. Ele era abastecido com informações erradas, não sei se por dolo, incompetência ou as duas coisas. Diziam que a pandemia estava em declínio e que o número de mortes diminuiria muito até o fim do ano”, alegou.

Wajngarten ainda entregou novos detalhes sobre a negociação, ao dizer que “os diretores da Pfizer foram impecáveis. Se comprometeram a antecipar entregas, aumentar os volumes e toparam até mesmo reduzir o preço da unidade, que ficaria abaixo dos 10 dólares. Só para se ter uma ideia, Israel pagou 30 dólares para receber as vacinas primeiro. (…) Infelizmente, as coisas travavam no Ministério da Saúde.”

Na entrevista à Veja, Wajngarten disse que Pazuello tinha uma equipe que se apequenou diante das exigências contratuais da Pfizer. Para ele, a compra não foi efetuada por “incompetência” da Pasta, e Bolsonaro não teria nada a ver com isso.

A declaração é, no mínimo, curiosa, já que o próprio general Pazuello, quando ministro, foi desautorizado por Bolsonaro justamente numa compra de vacina, só que envolvendo a chinesa Sinovac. Ocorreu em outubro de 2020. Em vídeo, Pazuello admitiu que recuou do acordo por exigência do presidente, que é quem “manda” no governo, enquanto o ex-ministro, como um bom soldado, apenas “obedece”.

Possível alvo da CPI, Wajngarten também afirmou que tentou negociar pessoalmente com dirigentes da Pfizer pela compra de vacinas ofertadas em setembro de 2020. “Aliás, quando liguei para o CEO da Pfizer, eu estava no gabinete do presidente. Estávamos nós dois e o ministro Paulo Guedes, que conversou com o dirigente. Foi o primeiro contato entre a Pfizer e o alto escalão do governo. Guedes ouviu os argumentos da empresa e, depois, disse que ‘esse era o caminho’. Se o contrato com a Pfizer tivesse sido assinado em setembro, outubro, as primeiras doses da vacina teriam chegado no fim do ano passado”, relatou, implicando Bolsonaro e o ministro da Economia.

Wajngarten não conseguiu explicar a contento como Bolsonaro deixou a negociação com a Pfizer fracassar, se era a favor da compra do imunizante. Como presidente, ele poderia ter trocado o ministro Pazuello. Ao contrário disso, sempre elogiou o general submisso às suas ordens. Pazuello foi, aliás, o ministro que mais durou no cargo em meio à pandemia.

A declaração do publicitário chama atenção também porque surge às vésperas do início da CPI da Covid no Senado, previsto para a próxima terça (27). O plano de trabalho da comissão prevê investigar por que o governo Bolsonaro rejeitou a oferta da Pfizer, que poderia ter garantido que o Plano Nacional de Imunização contra o novo coronavírus tivesse começado ainda no final do ano passado.

O próprio Wajngarten pode ser alvo da CPI por não ter feito campanhas publicitárias defendendo medidas sanitárias contra a Covid e a favor da vacinação.

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