Brasil poderia ter recebido 60 milhões de doses da Coronavac no final de 2020, diz Covas à CPI

Cintia Alves
Cintia Alves é graduada em jornalismo (2012) e pós-graduada em Gestão de Mídias Digitais (2018). Certificada em treinamento executivo para jornalistas (2023) pela Craig Newmark Graduate School of Journalism, da CUNY (The City University of New York). É editora e atua no Jornal GGN desde 2014.
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Direitor do Butantan disse que intervenção de Bolsonaro no Ministério da Saúde suspendeu as negociações em torno da Coronavac por 3 meses

Jornal GGN – O diretor do Instituto Butantan, Dimas Covas, disse à CPI da Covid, na manhã desta quinta (27), que o Ministério da Saúde sob o governo de Jair Bolsonaro não respondeu a três ofertas de fornecimento da Coronavac. Uma delas previa a entrega de 60 milhões de doses até dezembro de 2020.

“A primeira oferta significava 60 milhões de doses até dezembro de 2020. A partir daí, nessas idas e vindas, foi dificultando o cronograma, não os quantitativos”, disse.

Segundo Covas, o Butantan chegou a oferecer um total de 100 milhões de doses para entrega até o final do segundo trimestre de 2021 ao Plano Nacional de Imunização. Mas o governo Bolsonaro não parecia compreender a importância de fechar os contratos com antecedência.

Na última oferta, “o Butantan mantinha o seu acordo para 46 milhões de doses [em 2020], mas tinha condições de chegar aos 100 milhões de doses [no total] que poderiam chegar [ao Brasil] em maio [de 2021]. Mas como não houve essas definições [por parte do Ministério da Sapude], o cronograma passou para setembro [de 2021]. Por quê? Porque a demanda por vacina era muito grande. Hoje não é mais questão de recursos, mas de disponibilidade de vacinas”, afirmou Covas, frisando que, na falta de acordo com o Brasil, a Sinovac buscou outros países para firmar compromissos.

O Butantan procurou o governo Bolsonaro pela primeira vez em 30 de julho de 2020, apenas 22 dias após firmar a parceria de desenvolvimento com a chinesa Sinovac. Mas o contrato só foi assinado cerca de seis meses depois, em janeiro de 2021.

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Em outubro de 2020, o presidente Jair Bolsonaro desautorizou publicamente a assinatura do protocolo de intenção de compras entre o Ministério da Saúde e o Butantan. Ao lado de Bolsonaro, o então ministro da Saúde Eduardo Pazuello disse que “um manda e outro obedece”. À imprensa, o secretário-executivo da Pasta, Élcio Franco, reafirmou a ordem de Bolsonaro ao ler uma nota que dizia que “não há intenção de aquisição de ‘vacina chinesa'” e “no que depender desta Pasta, [a vacinação] não será obrigatória.”

De acordo com Dimas Covas, após essa interferência de Bolsonaro, “não houve mais progresso” nas discussões com o Ministério da Saúde durante três meses. Somente em fevereiro de 2021, por pressão da mídia – pois a vacinação em outros países havia começado em dezembro de 2020 – o Ministério contratou um adicional de 54 milhões de doses da Coronavac. Mas àquela altura, a entrega, que antes poderia ser até maio de 2021, agora passou para setembro de 2021.

Covas disse também que o Butantan chegou até a negociar com estados e municípios para contornar o problema com o governo federal, que não colocou um centavo nem no desenvolvimento da Coronavac, nem na reforma da fábrica do Butantan.

Ele relatou que a vacina teve seu desenvolvimento atrasado por causa dos ataques pelas redes sociais e discussão na mídia em torno da origem chinesa. O resultado foi uma dificuldade em encontrar voluntários em número suficiente para concluir os estudos clínicos no prazo esperado. Covas criticou ainda a inabilidade do governo em garantir a importação dos insumos da China.

O direitor do Butantan lembrou que enquanto Bolsonaro rejeitava a vacina chinesa alegando oficialmente falta de aprovação da Anvisa, o governo federal colocava 2 bilhões de reais na vacina da Astrazeneca, em agosto de 2020, que também não tinha sinal verde da agência reguladora.

A Coronavac corresponde a cerca de 80% das vacinas aplicadas no Brasil até o momento.

Acompanhe a CPI da Covid por aqui:

Cintia Alves

Cintia Alves é graduada em jornalismo (2012) e pós-graduada em Gestão de Mídias Digitais (2018). Certificada em treinamento executivo para jornalistas (2023) pela Craig Newmark Graduate School of Journalism, da CUNY (The City University of New York). É editora e atua no Jornal GGN desde 2014.

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