Presidente da Anvisa confirma reunião para alterar bula da cloroquina: “sem cabimento”, reagiu

Anvisa só poderia alterar a bula da cloroquina a pedido do detentor do registro do medicamento no Brasil, e com estudos clínicos

O Diretor presidente substituto da Anvisa, Antonio Barra, realiza entrevista coletiva, para tratar das ações da agência em relação ao Coronavírus em portos, aeroportos e fronteiras do país

Jornal GGN – O presidente da Anvisa, Antonio Barra Torres, confirmou em seu depoimento à CPI da Covid que houve uma reunião no governo Bolsonaro onde ele e o ex-ministro da Saúde, Luiz Henrique Mandetta, foram questionados sobre a possibilidade de alterar a bula da cloroquina para fazer constar que o remédio teria uso indicado no tratamento contra o novo coronavírus. Até hoje, nenhum estudo conseguiu provar a eficácia da droga contra a Covid-19.

Barra Torres ainda explicou que a tentativa seria absurda porque a bula de um medicamento só pode ser alterado pela agência reguladora de um País a pedido da empresa detentora do registro da droga, após realização de estudos clínicos e entrega da farta documentação comprovando a eficácia para a nova doença estudada. Ou seja, o processo de alteração da bula deveria ser deflagrado pelo laboratório que detém a propriedade da cloroquina, e não por vontade do governo Bolsonaro.

Torres disse que teve uma reação “deselegante” e “brusca” ao ouvir a proposta. A reunião em que o governo Bolsonaro teria cogitado indicar um remédio sem eficácia contra Covid-19 já havia sido mencionada à CPI por Mandetta, que também reagiu mal à iniciativa. Barra Torres, que também estava presente na reunião por ser membro do comitê criado em 2020 para enfrentamento à pandemia, forneceu mais alguns detalhes.

“Estavamos lá o ministro Braga Netto, Mandetta, eu, a médica Nise Yamagushi, um médico sentado ao lado que não me recordo o nome, e não tenho memória [da presença] dos ministro Jorge Oliveira e Ramos.”

“Esse documento [que propunha a alteração na bula da cloroquina a fórceps] foi comentado pela doutora Nise Yamagushi, que provocou uma reação deselegante minha. Minha reação foi imediata, dizendo que aquilo não poderia ser, porque só quem pode modificar a bula de um medicamento registrado é a agência reguladora daquele País, mas desde que solicitado pelo detentor do registro.”

“Então quando houve uma proposta de pessoa física de fazer isso, me causou uma reação um pouco mais brusca, eu disse ‘não tem cabimento, isso não pode’ e, inclusive, a reunião nem durou muito mais depois disso.” O encontro “aconteceu em uma das salas de reuniões do quatro andar [do Palácio do Planalto], onde se reuniu o grupo executivo interministerial e a Anvisa.”

“Eu não tenho informação de quem é o autor dessa ideia. A doutora [Nise], de fato, me perguntou dessa possibilidade e me pareceu estar mobilizada.”

O presidente da Anvisa ainda se posicionou contra a indicação de cloroquina para pacientes com Covid-19. “Existe hoje no Brasil ainda um estudo em aberto, chamado ‘Coalizão 5’, que avalia dados sobre uso [de cloroquina] em casos leves, que prevê acabar até 31 de dezembro do corrente ano. Até o presente momento, no mundo todo, os estudos apontam que não há eficácia comprovada em estudos ortodoxamente regulados. Então, até o momento, as possibilidades vão contra o uso para Covid-19.”

Acompanhe ao depoimento na TVGGN:

Redação

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