A diplomacia das patadas. Ou seriam pataquadas?

Lourdes Nassif
Redatora-chefe no GGN
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Dentro dos desmanches das conquistas civilizatórias do Brasil desde a Constituição de 1988, destaca-se a atuação de José Serra, demolindo a histórica boa reputação brasileira nas relações exteriores (foto: Carolina Antunes/PR)Serra-Temer.jpg

da Rede Brasil Atual

A diplomacia das patadas. Ou seriam pataquadas?

por Flávio Aguiar

Ao promover a subserviência como valor em relação aos grandes e a prepotência em relação aos pequenos, governo Temer, via José Serra, promove o Brasil a ator de segunda – talvez terceira – categoria no cenário internacional

Sigamos algumas acepções do Aurélio para o termo “diplomacia”: “ciência ou arte das negociações”; “circunspecção e gravidade nas maneiras”; “delicadeza, finura”;”astúcia ou consumada habilidade com que se trata qualquer negócio”. Convenhamos, é tudo o que falta ao senador e ministro provisório das Relações Exteriores, José Serra, que desde que se tornou o interventor no Itamaraty, está implantando a sua “diplomacia das patadas”.

A diplomacia brasileira tem uma vasta tradição na arte de negociar. É respeitada no mundo inteiro, por sua formação profissional e sua capacidade de estar presente em todas as instâncias e circunstâncias. Na sua história, tem nomes respeitáveis, desde mesmo antes de existir como tal, como no caso de Alexandre de Gusmão, o artífice do Tratado de Madri e da teoria do uti possidetis que, na prática, quase triplicou a área ocupada pelo futuro Brasil.

Depois, em meio à instabilidade do cargo (a sucessão de ministros era vertiginosa durante o Império e os começos da República Velha) sucederam-se alguns nomes de grande porte: os Rio Branco, Visconde e Barão, pai e filho, sendo que o segundo ocupou o cargo durante oito anos, consolidando o profissionalismo como marca da nossa diplomacia.

Além deles, Lauro Müller, Otávio Mangabeira, Osvaldo Aranha, João Neves da Fontoura, José Carlos de Macedo Soares, San Thiago Dantas, uma curiosa trinca ditatorial, Gibson Barbosa, Azeredo da Silveira e Ramiro Saraiva Guerreiro – que foram responsáveis pela mudança da política brasileira em relação à África pós-colonial –, Celso Amorim. Posso até estar cometendo alguma injustiça, esquecendo algum nome (Vicente Rao…).

Mas enfim, a lista é longa e a tradição, respeitável. E respeitada no mundo inteiro. Despossuído de Forças Armadas relevantes em escala mundial (apesar da participação na Segunda Guerra), o Brasil sempre teve na diplomacia seu exército de atuação no exterior.

Com poucas exceções. Uma delas ocorre hoje: dentro dos desmanches das conquistas civilizatórias do Brasil desde a Constituição de 1988, sobressai a “diplomacia de patadas” promovida por José Serra, demolindo esta reputação duramente erguida e conquistada desde as complicadas questões do Prata durante o Império.

Atacando a torto e a direita, sobretudo em nome da direita e de seu afã de atuar para uma hipotética torcida local e provinciana, o ministro provisório vem promovendo um show internacional completamente desagradável e despido dos valores da diplomacia, cujo nome sugere, como diz o Aurélio, circunspecção e comedimento.

Agride os governos sul-americanos, despreza a África, corteja ostensivamente o que os Estados Unidos têm de pior, promove a subserviência como valor em relação aos grandes e a prepotência em relação aos pequenos, e assim vai promovendo o Brasil a ator de segunda – talvez terceira – categoria no cenário internacional, achando que está abafando a banca.

Original? Nem tanto. Tem predecessores. Raul Fernandes, ministro no governo Dutra, que torrou as reservas brasileiras em importações supérfluas, condicionou a política externa brasileira aos ditames do lado norte-americano da Guerra Fria então nascente, não reconheceu a URSS nem a China, em nome de obter favores dos Estados Unidos que nunca se materializaram, já que foram absorvidos pela prioridade do Plano Marshall.

Vasco Leitão da Cunha, ministro de Mazzilli e de Castelo Branco, encarregado de desmontar a Política Externa Independente de Jânio Quadros, João Goulart e San Tiago Dantas, também em nome de favores norte-americanos que só se materializaram no campo do auxílio à repressão.

Os esperados investimentos internacionais, com a política subserviente de acolher os tribunais e os juros estrangeiros como parâmetros da nossa dívida externa, transformaram o “milagre brasileiro” no pesadelo posterior, que pagamos até que o governo Lula liquidasse a dívida com o FMI.

Hoje, com o golpe em curso, vivemos riscos semelhantes. Pelo afã do desmonte das políticas públicas promovido pelo governo golpista, dá para medir o avanço civilizatório que conseguimos desde 1988 e a brutal regressão que se quer implantar aos idos anteriores a 1930.

Com a luta de foice no escuro promovida entre os promotores do golpe: Temer e seus PMDBs aloprados, PSDBs açodados, judiciários e PFs interessados em se promover como salvadores da pátria, ideólogos do Instituto Millennium, a mídia corporativa decadente, engolfada em perda de prestígio nacional e internacional, verbas públicas e renda. No bastidor, setores das Foças Armadas interessados em retomar a “liberdade perdida” desde 88…

Em meio a esta hecatombe, “brilha” a estrela do senador Serra, candidato ao Oscar de pior ministro de Relações Exteriores da história do Brasil. O ministro das patadas, que vão se transformando em pataquadas.

 

Lourdes Nassif

Redatora-chefe no GGN

8 Comentários

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  1. Porque nao a “crise das

    Porque nao a “crise das pateticadas”?  Como “diplomata”, Serra -um imundo paulista que nunca teve uma goticula de educacao- eh patetico mais que qualquer outra coisa.

    Exceto Temer, claro.

  2. Çerra45 presidente!

    Em 2038 vote ÇERRA45 vice fegacê….viiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiixe!

    Se sobrar Brasil,

    em 2042 será a vez do governo sonhático de

    Osmarina, vice Cristovan Buarque……ui!

  3. Uma analise desse tipo,

    Uma analise desse tipo, focando na pessoa fisica do Ministro e não da politica externa como projeção de poder dada

    a direção geral do governo, não serve a propositos de analise. Se o chanceler fosse Rubens Ricupero, Sergio Amaral ou Rubens Barbosa a linha seria mesma, qual seja, desligamento do projeto bolivariano e reposicionamento da politica externa no campo da aliança ocidental. Qual a importancia da pessoa de  Serra nesse redericionamento? Nenhuma.

    Quanto a menção a Raul Fernandes, as relações com a URSS foram restabelecidas a 2 de abril de 1945, portanto quando Fernandes assumiu já havia o reconhecimento, ao contrario do que diz o texto. Raul Fernandes foi o chanceler que rompeu relações com a URSS em 1947, no quadro da colocação na ilegalidade do Partido Comunista pelo Governo Dutra.

    Não foi obra de Raul Fernandes o rompimento, foi decisão do Governo por causa da politica interna contra o PCB,

    uma das operações mais fortes do Governo Dutra, lembrando que em 1947 estava se iniciando a Guerra Fria.

    Quanto ao Plano Marshall, os EUA no periodo 1945 a 1960 tiveram forte politica de apoio economico ao Governo do Brasil,

    com o financiamento do Plano SALTE e da implementação dos projetos das Missões Abbink e Cooke, sendo o projeto mais importante a criação do BNDE com a transferencia dos depositos em cruzzeiros do Fundo do Trigo no Banco do Brasil para o BNDE, depositos esses que resultavam dos pagamentos do trigo dos estoques do governo dos EUA e que ficavam depositados no Brasil para fins de desenvolvimento economico.

    Lembrar tambem que a Aliança para o Progresso e o Banco Interamericano de Desenvolvimento foram ideias de Juscelino emcampadas plo Governo Kennedy e que representaram importanta alavanca para o crescimento economico brasileiro, que de 1945 a 1977 foi o mais alto do planeta, media de 6.8% ao ano.

     

     

    1. ” Os Rubens “

          Que a “linha” seria a mesma é algo bem plausivel, mas duvido que tanto Ricupero como Barbosa ( que conheço de varios seminários da ABIMDE ), cometeriam tantas gafes, sequer sairiam falando em “aberto”, sobre suas posições, antes de muito estudar e operar com os outros participantes nos bastidores.

           Projeção de poder, em nosso caso, é para o florete de um diplomata, não para a borduna de um Zé Serra, mas ainda creio que ele será “controlado”, esta fase de deslumbramento irá passar.

  4. Avisem o Serra

        Sérgio Amaral terá trabalho em Washington para tentar explicar os primeiros arroubos da diplomacia “serrista”, pois se ele acredita estar alinhado aos interesses norte-americanos, ele está errando muito, a distancia entrre o puxa saquismo explicito e a burrice cronica, é pequena.

         Aliar-se em definitivo ao “Bloco Ocidental “, do qual o Brasil nunca esteve distante, não deve significar abandonar a Africa, local onde o “soft power” brasileiro, por mais que Samuel não gosta-se, alinhava-se aos interesses estratégicos da “Matriz”, que aprendeu bastante no caso da Namibia, no qual a “perda” deste País, onde o Brasil tinha grande influência, possibilitou uma ação chinesa grave, muito representativa na Base Naval chinesa de Walvis Bay, e praticamente a “compra” pelos chineses de Moçambique.

          Quanto aos “bolivarianos”, até o Dept of State já realizou gestões junto a Maduro.

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