Crime: A manipulação pela Samarco da tragédia em Mariana

Enviado por Antonio Ateu

DO VIOMUNDO

Beatriz Cerqueira: Samarco comanda a apuração do crime que cometeu, controlando políticos, vítimas e jornalistas

por Beatriz Cerqueira

Mariana e Bia Cerqueira

Após 12 dias do rompimento das duas barragens de rejeitos da Samarco/Vale/BHP, em Mariana, a Assembleia  Legislativa de Minas Gerais (ALMG) realizou a primeira audiência pública, em Belo Horizonte, para debater o assunto.

Em tese, seria o momento para que deputados estaduais ouvissem os atingidos pela tragédia e órgãos do governo e de fiscalização colhessem informações para os trabalhos da Comissão Especial recém-criada.

Mas a audiência se transformou na mais demagógica atividade protagonizada por nossos políticos.  Era uma audiência conjunta com a Câmara dos Deputados.  Mas estes, após tirar fotos, dar entrevistas à imprensa e falar primeiro, foram embora.

Tiveram o mesmo comportamento no dia anterior, na cidade de Mariana, durante a audiência da Comissão de Direitos Humanos: falaram, não ouviram ninguém e foram conduzidos pelas mãos bondosas da Samarco para conhecer o local da tragédia.

Na capital mineira, assistimos a uma deprimente reunião conduzida de modo a não ter efeito nenhum, apesar do esforço isolado de alguns deputados comprometidos com os movimentos sociais.

Ouvimos o Ministério Público falar em “acidente” e se vangloriar de um Termo de Ajustamento de Conduta com o qual a mineradora rapidamente concordou para melhorar sua imagem e cujos termos todos desconheciam. Ouvimos também o representante do Governo de Minas dizer que não podemos “satanizar” as mineradoras.

Poucos prestaram atenção quando uma convidada explicou que a empresa errou ao calcular os possíveis impactos do rompimento de barragem, considerando que atingiria apenas o distrito de Bento Rodrigues e não outras dez localidades, além de toda a bacia do Rio Doce.

Poucos se importaram com a fala do representante dos trabalhadores, que denunciou desconhecer as condições a que estão submetidos os 20 trabalhadores que estão na linha de frente da barragem de Germano, que está trincada.

Aliás, quem informou quantos trabalhadores  estavam desaparecidos foi a empresa, livremente, sem qualquer fiscalização, pois ela impede que se tenha acesso à informações detalhadas.

Os deputados não entenderam nada do que o Padre Geraldo disse, de que é preciso respeitar os atingidos, os verdadeiros protagonistas dessa história. Só que, infelizmente, os protagonistas foram os próprios deputados, na maioria preocupados em falar e não em ouvir.

Enquanto isso o povo atingido está nas mãos da Samarco, que atua livremente em Mariana e região.  Onde está o Estado? Ainda não chegou. A Samarco já está presente, contrariando o lamento da deputada desavisada que reclamou da suposta ausência da Samarco. O desconhecimento da realidade leva a equívocos assim.

A Samarco está mais presente do que nunca: demitiu no dia anterior à audiência 90 trabalhadores terceirizados, dos quais muitos já eram vítimas da tragédia, pois suas famílias perderam tudo na lama.

A Samarco controla todo o acesso aos atingidos que estão nos hotéis e pousadas da cidade, impedindo que se organizem livremente.

A Samarco reúne-se com os atingidos sem nenhuma proteção do poder público. Nas horas das infinitas reuniões com a população, não há Ministério Público nem Governo do Estado presentes e os movimentos sociais são impedidos de acompanhar.

A Samarco controla a cena do crime e chega a selecionar quais jornalistas podem entrar. Assim como controla o acesso da população ao Comando de Operações da Defesa Civil e do Corpo de Bombeiros, que funciona dentro da sede da empresa.

Livremente, a Samarco chantageia a cidade de Mariana pelo poder econômico e pelos impactos que a suspensão do seu trabalho na região causará, como se não tivesse que dar assistência à cidade por todos os prejuízos causados.

Pelo que se vê, muita gente já está dando retorno ao investimento que as mineradoras fizeram nas eleições de 2014. Na verdade, quem está pagando esta conta é povo!

Beatriz Cerqueira é presidenta da CUT/MG e coordenadora-geral do Sind-UTE/MG

Redação

3 Comentários

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  1. É assustador. Ouvi dizer que

    É assustador. Ouvi dizer que até o governador Paulo Hartung está mais preocupado com a atuação dos políticos e dos órgãos e agentes (ir) responsáveis do que com a tragedia humana e ambiental. Os prefeitos só querem saber quando vão pegar a grana (para ser usada na próxima campanha?), os órgãos que seriam encarregados da fiscalização não querem se comprometer e só comparecem quando convocados/intimados pelo próprio governador, os deputados só querem aparecer e fantasiar uma atuação pois a maioria teve a campanha financiada pela empresa. Assim, se alguma coisa for feita deverá ser pela atuação do Sebastião Salgado e governador. Mas este irá atuar até o momento em que cair a ficha. Afinal, como político não pode nem deve dar murro em ponta de faca. Assim, só resta às vítimas se unirem. E olha que tem vítima graúda que são aqueles que dependiam do rio para criação e plantação. Mas estes talvez prefiram produzir em outros locais. Assim, o que vejo é o Vale destruído pois um Sebastião Salgado sozinho não poderá fazer muito. 

  2. Realmente achei a reportagem extremamente fraca, e explico …

    Realmente achei esta reportagem com esta menina da CUT extremamente fraca, e explico o porquê. Simplesmente porque ela esta falando no futuro e na realidade ela deveria falar no presente.

    Está se tratando este caso do crime cometido pelas mineradoras como uma falha de legislação ou de fiscalização de órgãos públicos, e está se deixando de lado o principal: BARRAGENS DE QUALQUER TIPO NÃO SÃO FEITAS PARA COLAPSAR.

    Não devemos esperar leis para que no futuro as pessoas estejam protegidas e os responsáveis punidos, pois simplesmente já existem estas leis e os responsáveis JÁ DEVEM SER PUNIDOS.

    Engenharia é uma ciência exata até um determinado ponto, possuindo um determinado grau de incerteza nos seus métodos de cálculo ou nas avaliações da interação da estrutura com a natureza, logo para cobrir este  grau de incerteza são utilizados os chamados coeficientes de segurança. Um coeficiente de segurança é um valor maior do que a unidade que se multiplica no que se acha que está correto no cálculo de qualquer obra de engenharia que se cubra as suas incertezas.

    Para explicar o que é um coeficiente de segurança vou dar um exemplo corrente com valores um pouco arbitrários que mostram como a engenharia funciona ou deveria funcionar.

    Quando se projeta um edifício se faz o cálculo estrutural logo após o projeto arquitetônico, a primeira coisa que o projetista faz é uma estimativa de cargas, por exemplo, numa laje de um edifício normal supõe-se além do peso próprio da laje, o peso do contrapiso uma carga acidental distribuída entre 150 kgf/m² a 200 kgf/m² (o certo era colocar em N/m², mas o quilograma força é mais evidente para as pessoas leigas), ou seja para que se atinja um valor maior do que este numa sala com 20 m² deveria se colocar uma carga acidental (pessoas numa festa, por exemplo) de 3000 kgf, supondo um peso normal em torno de 70 kgf por pessoa deveria ter nesta sala mais ou menos 42 pessoas. Ou seja, uma carga bem acima do que ocorrerá numa utilização da sala numa residência em uma festa normal, se fossemos utilizar este valor normal poderíamos, por exemplo, baixar a carga acidental para 75kgf/m² ou 100kgf/m².

    Após isto o calculista determina para toda a laje qual deve ser a ferragem que deve ser posta, geralmente como a seção de ferro não é exatamente a determinada se coloca um valor acima do exigido. Como também a ferragem é determinada para o ponto pior, não se coloca só neste ponto a ferragem máxima, se coloca em quase toda extensão da laje a quantidade a quantidade maior de ferro. O calculista também impõe uma resistência do concreto com um valor X, esta resistência os fabricantes de concreto dispõe deste valor em aproximadamente 28 dias depois, como o concreto aumenta a sua resistência a medida que envelhece quando o prédio for ocupado a resistência poderá estar o dobro que o valor necessário.

    Esta carga é levada para os pilares, e se o edifício tem 10 andares se supõe que as cargas dos pilares deve ser tal que resista a todo edifício cheio de pessoas com a mesma intensidade que só num andar, em resumo, um edifício que tiver quatro apartamentos por andar de 50 m² e dez andares os andares do térreo ele estará dimensionado para uma festa com 4.200 pessoas (uma verdadeira farra).

    Além destes valores bem acima da ocupação possível e imaginável, são colocados coeficientes de segurança no ferro, no concreto, nas dimensões das vigas, lajes e pilares, resultando no final num coeficientes de segurança que se avizinha de 2,5 a 3. Ou seja, a estrutura como um todo resistiria a cargas de 2,5 a 3 vezes maior do que a carga acidental proposta (na realidade é mais ainda, pois a estrutura é superdimensionada para as outras cargas), ou seja, deveríamos ter mais de 10.500 pessoas no prédio para que houvesse um risco do mesmo cair (260 pessoa por apartamento de 50 m²).

    Em resumo, os MILHÕES DE PRÉDIOS RESIDENCIAIS QUE FORAM OU QUE ESTÃO SENDO CONSTRUÍDAS POR MILHARES DE ENGENHEIROS NÃO SÃO DIMENSIONADOS PARA ELAS CAIREM, E O MAIS EVIDENTE DE TUDO, ELES NÃO CAEM. Acidentes em obras de construção civil corrente são devido a problemas e erros acumulativos, como prédios que foram mal dimensionados, mais mal construídos e com materiais deficientes.

    As obras de terra são mais imprevisíveis do que obras de concreto, logo os coeficientes de segurança devem ser também da mesma ordem, multiplicando dá algo da ordem de 2,5 a 3,0 (ou mais).

    Já corre a boca pequena, sem que ninguém ainda assine em baixo que as barragens de retenção das mineradoras estão com coeficientes em torno de 1,2 a 1,37, e estes valores poderão ser confirmados por inspeções ou mesmo por verificação dos cálculos das barragens existentes ou as que caíram. É só se chamar engenheiros especialistas em geotecnia (não trabalho nesta área) que eles podem conferir sem nenhuma sombra de dúvida se estes cálculos levam a estes valores. Se isto for real, os responsáveis podem SER PUNIDOS PELAS MORTES POR HOMICÍDO DOLOSO E NÃO CULPOSO, pois adotar coeficientes desta ordem é simplesmente flertar com o risco de matar pessoas e ESTÁ FORA DE QUALQUER PROCEDIMENTO USUAL EM ENGENHARIA CORRENTE.

    Resumindo, caso forem executados laudos corretos, que não podem ser falseados, pois eles são baseados em cálculos que podem ser verificados por qualquer outro especialista, não se deve esperar outro desastre para punir os responsáveis, eles podem e devem ser punidos por este evento.

    Agora, algumas reflexões:

    Por que os milhares de engenheiros que existem no Brasil não tendo os seus cálculos verificados por ninguém respeitam a vida das pessoas e não diminuem os coeficientes de segurança para aumentar os seus lucros?  Da mesma forma por que meias dúzias de mineradoras desrespeitam estes coeficientes e MATAM DEZENAS DE PESSOAS e todos esperam que tenha uma lei que diga, façam estruturas corretas que não matem as pessoas?

     

    Por que o construtor proprietário da ZÉ RUELA ENGENHARIA DE CONSTRUTUÇÕES LTDA, que luta construindo um edifício a cada três anos para poder sustentar a sua família, não economiza na segurança, pondo em risco os futuros moradores destas residências e ninguém questiona isto, enquanto e as mineradoras economizando migalhas em relações aos seus lucros todos esperam que elas se não forem fiscalizadas façam isto?

     

    A responsabilidade deve ser cobrada hoje em dia, não precisa mais licenças de órgãos públicos ou mais leis ou sirenes de aviso, pois isto é uma obrigação que milhares de engenheiros no Brasil fazem sem mostrar seus projetos a nenhum órgão fiscalizador.

    PUNIÇÃO JÁ, POIS BARRAGENS NÃO DEVEM SER FEITAS PARA TER A MÍNIMA PROBABILIDADE EM CAIR.

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