Explosão social surgirá com manifestações de fome, por J. Carlos de Assis

Explosão social surgirá com manifestações de fome

por J. Carlos de Assis

As manifestações  populares que temos visto nos últimos anos, em geral de cunho limitado mesmo quando envolveram a presença carismática de Lula, não enganam quem procura perscrutar com maior cuidado os desdobramentos futuro da história. Há uma crise sem precedentes na República, com total derretimento das instituições, e em especial das instituições políticas. Mas ainda não há fome generalizada: as estruturas do Estado e o setor produtivo ainda funcionam. Precariamente, mas funcionam.

Breve não funcionarão mais. Pelo quarto ano seguido sofremos uma contração brutal na economia. O desemprego avança para 14% da população economicamente ativa. Ainda não é um desastre absoluto devido ao funcionamento daquilo que os europeus chamam de “estabilizadores automáticos”, isto é, os gastos orçamentários obrigatórios do sistema de bem estar social. Ora, o Governo quer reduzir esses gastos e fez até mesmo uma emenda constitucional para congelar o orçamentário primário em 20 anos.

A evolução do PIB é uma média. É óbvio que os mais ricos ficam acima da média, enquanto os pobres ficam abaixo. Portanto, na recessão, estes últimos se defrontam com uma realidade muito mais dura em comparação às classes médias e altas. Depois de tanta contração do produto, a renda vai sendo espremida e, no limite, acaba. A primeira linha de resistência é a família: pais aposentados que passam a sustentar os filhos, filhos que tem a sorte de se empregarem e passam a  sustentar a família. Sem maiores esperanças.

Ou com esperanças vãs. É nesse contexto de quase miséria, para muitos, que serão disputadas as eleições deste ano. Teremos dois tipos de eleitores. O grupo da abstenção, do voto nulo e do voto branco, e o grupo que acredita de alguma forma que a eleição pode ser um instrumento de mudança a favor do povo. Na Grande Depressão dos anos 30, o intervalo entre  o início da crise e a tomada de medidas firmes para superá-la durou aproximadamente quatro anos. A redenção foi o New Deal nos Estados Unidos. Na Alemanha deu Hitler.

Com a economia em degradação, não é difícil prever o fracasso do neoliberalismo e o início de demandas desesperadas por comida. Nas ruas do Rio proliferam os brechós dos pobres, gente trocando peças miseráveis de roupa para procurar fazer com que sobre algum dinheiro na troca. Vi uma estatística segundo a qual o aumento do número de camelôs na cidade nos últimos anos chegou a cerca de 700. A exibição da miséria prolifera em todos os bairros, pobres ou ricos. A cada esquina somos visitados pela pobreza.

Os registros históricos das revoluções de massa, a francesa no século XVIII e a russa no século XX, apontou como ponto de eclosão a falta de comida. Obviamente que, na situação atual brasileira, enquanto o Estado se mantiver estruturado e os supermercados funcionando, não faltará pão. Faltará, sim, dinheiro para comprá-lo. O efeito será o mesmo. Entretanto, o povo saberá apontar os culpados pela degradação. Dirá, são os políticos; como se dizia na Argentina depois do desastre de Menem e começa a se diz agora no Brasil.

O motivo do desastre não é corrupção. Corrupção é um problema da polícia e da Justiça. A razão do desastre é a negociação do voto parlamentar em proveito de interesses escusos, sobretudo do capital financeiro e do grande capital. Acaso o povo faminto, quando se aperceber de sua tragédia, deixará impune o parlamentar que deu cobertura aos bancos que cobram juros de mais de 300% ao ano? No pico da crise,  alguém pagará por ela. Ou pela guilhotina, ou pelo poste.

É em função dessas considerações que estamos organizando o Movimento pela Democratização do Congresso Nacional. Queremos reunir um grupo de candidatos ao Parlamento comprometidos efetivamente com a superação da crise e a defesa do interesse nacional. Estamos propondo um decálogo de compromissos desses candidatos. E vamos promover debates em todo o país  para estimular a participação do povo nesse movimento. Visite nosso site, onde há mais explicações: Frente Pela Soberania

 

 
Redação

11 Comentários

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  1. Parabens, J. Carlos de Assis

    Parabens, J. Carlos de Assis !  Esperamos todos que iniciativas como essa possam alterarar a evolução rumo à catástrofe. Amiúde se vê indignados com o marasmo do povo em reagir, melhor, não reagir. Quem primeiro reage é sempre o “de cima”, aquele que, por não ter preocupação com o estômago pode pensar com a cabeça. Não são muitos os que pensam nesse nicho alto da pirâmide social mas são os poucos que podem liderar uma mudança antes da fome bater na porta da base. Se não houver sucesso, se chegar ao ponto de haver uma reação motivada pela fome, a pirâmide será destruida, de baixo para cima, mas na totalidade, ninguém estará fora.

    1. Exato, não restará nada se

      Exato, não restará nada se houver uma reação causada pela fome. Só caos social e barbárie (Marx avisou).

      O pior de tudo: o brasileiro merece isso. Para corrigir uma população covarde e ingrata, só na base da violência.

  2. Explosão social já existe há
    Explosão social já existe há muito , cara pálida. Que venham as manifestações mas, pelo amor dos meus filhinhos, sem conotação político partidária hipócrita.

  3. acorda, irmão..

    Essas eleições só podem ser vencidas pelo bolsonaro, já falei isso aqui.. só tem 3 opções: ou é Lula (mas eles não vão deixar), ou é bolsonaro ou não tem eleição, não existe 4ª opção. Se impedirem o bolsonaro de alguma forma, não importa a razão, no dia seguinte teremos greve da PM e caos social forte, estilo Espírito Santo em fev/2017.. daí ninguém sabe o que sai.. lamento que a esquerda que conhecemos esteja tão perdida, cometendo tantos erros como vemos aí nos últimos meses.. a única força capaz de conter a violência do caos social é a revolução pacífica, nascida no contexto de construção de uma Assembleia Nacional Constituinte, obra que demanda aí uns 2 anos.. como estamos a 6 meses das eleições, a única coisa que não vai dar sangue no curto prazo é bolsonaro presidente (embora muitos militantes e lideranças de esquerda vão perder a vida logo de cara).

    1. Bolsonaro “apaziguador”. De

      Bolsonaro “apaziguador”. De todos os adjetivos que já foram usados para descrevê-lo, acho que essa é a primeira vez.

      1. prezado, acho que vc não

        prezado, acho que vc não entendeu essa parte: “a única força capaz de conter a violência do caos social é a revolução pacífica, nascida no contexto de construção de uma Assembleia Nacional Constituinte”..

        ,, na verdade, minha tese é que bolsonaro nos levará a uma guerra civil, mas vai levar um tempo para começar, diferente de uma situação que o tirasse do páreo, e vai durar enquanto durarem os EUA (tal qual o conhecemos, claro)..

        Mas, saiba que sim, num primeiro momento do governo bolsonaro, vai reinar “a lei e a ordem”, se é que vc me entende..

  4. Também penso que milhões de

    Também penso que milhões de barrigas roncando vão impulsionar uma revolta popular violenta. Não sei como ainda não aconteceram ondas de saques a supermercados. Depois que perguntei a uma pessoa pobre, desempregada, como faria para conseguir um remédio que custa R$ 20,00 e ela me respondeu que não sabia nem como faria para chegar viva ao fim do dia, não duvido de mais nada.

  5. já estamos no buraco…

    e se ninguém se mexer, se movimentar ou protestar, futuramente teremos que suplicar

    para que ninguém da elite do golpe resolva jogar terra em cima………………………….

    a bem da verdade, o que Temer já começou a fazer para esconder a miséria que causou

    1. não estou de brincadeira não, gente…

      antes fosse

      já passei por dois momentos de súplica da parte de dois pedreiros que já trabalharam comigo:

      …patrão, me paga um qualquer para o feijão com arroz que eu faço qualquer coisa pro senhor…

      vocês podem não acreditar, mas optei por dar 100 a cada um para futura prestação de serviço, porque a situação não anda nada boa para todos……………………….duas obras de reforma paradas. sem qualquer previsão para recomeçar

  6. Acreditar !!!!!

    Só estou acreditando é na pena do Sr. Moro, da Carmem Lúcia e da Dodge, que estão surdos cegos e mudos, com o que poderá acontecer no país.

    Infelizes !!!!!

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