Lava Jato: dono da Labogen coloca em dúvida delação de Youssef

Lourdes Nassif
Redatora-chefe no GGN
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Jornal GGN – O ex-sócio de Alberto Youssef, dono da Labogen, concedeu entrevista exclusiva à Folha deste domingo. Assinada por Mario Cesar Carvalho, a matéria traz afirmações do empresário de que Youssef não contou da missa um terço, tendo escondido patrimônio e sociedades com empreiteiras da delação premiada. Ou seja, o doleiro não contou à Polícia Federal que tem cerca de R$ 200 milhões em patrimônio, só contou de R$ 50 milhões. 

Leonardo Meirelles, ex-parceiro do doleiro diz que foi solto pois só contou a verdade, nada mais que a verdade, e que não admite que digam que a Labogen é uma empresa fantasma, pois que tem licenças de 11 órgãos atestando que é uma fábrica operacional. Leonardo Meirelles foi o pivô da queda de André Vargas, atestando seus contatos com o doleiro. Foi através do contato da Labogen com o Ministério da Saúde que a mídia tentou grudar o nome de Alexndre Padilha, então candidato ao governo de São Paulo pelo PT, ao doleiro Youssef. A empresa saiu da mídia e não se ouvia falar de Leonardo Meirelles há algum tempo. Agora ele concede entrevista à Folha. Leia a seguir.

da Folha

Entrevista Leonardo Meirelles

Escândalo na Petrobras

Patrimônio de Youssef é bem maior que o declarado

Ex-parceiro de negócios diz que doleiro é sócio oculto de três a quatro empreiteiras e que ele pode ter até R$ 200 milhões

MARIO CESAR CARVALHO DE SÃO PAULO

O empresário Leonardo Meirelles, que foi sócio de Alberto Youssef, diz que o doleiro tem patrimônio oculto e sociedades com empreiteiras que não foram declaradas no acordo de delação premiada que fez com procuradores.

Se isso for comprovado, o acordo pode ser anulado.

Em entrevista à Folha, Meirelles disse que o doleiro teria de R$ 150 milhões a 200 milhões, e não cerca de R$ 50 milhões, como está no acordo.

Meirelles foi preso em 14 de março do ano passado pela Operação Lava Lato, acusado de ter emprestado empresas para Youssef fazer remessas ilegais de até US$ 140 milhões ao exterior. Saiu em 11 abril após confessar os crimes.

O advogado do doleiro não quis comentar a acusação.

Folha – Você era laranja do Alberto Youssef?

Leonardo Meirelles – Não. Eu emprestava empresas para ele fazer remessas e ganhava 1% do valor. Ganhei US$ 1,5 milhão, ou quase R$ 4 milhões, em quatro anos.

Youssef tenta se colocar como vítima dos políticos, mas ele era o mentor porque fazia a ponte entre os setores público e privado, entre empreiteiras e a Petrobras. Em 2003, ele era um doleiro municipal, mas depois tornou-se um doleiro federal, com poderes em ministérios.

Ele comentava isso?

Não, mas estava na sala dele para receber instruções e ouvia as conversas.

Youssef era sócio de Ricardo Pessoa, da UTC, em um hotel e um empreendimento imobiliário. Ele era sócio de outras empreiteiras?

De forma oculta, sim. Em vários processos que ele intermediou para as empreiteiras, em vez de ganhar recursos, ele adquiriu percentuais do projeto.

Você sabe de algum caso?

Tenho de resguardar os casos porque estão sob investigação. Estou colaborando com a Polícia Federal. Isso ocorreu com três ou quatro empreiteiras. Nesses empreendimentos, são criados FIPs, fundos de investimento em participações.

Como assim?

Você cria um fundo de investimento e uma sociedade de propósito específico: consta o que será feito, o regimento que será seguido e o número de cotas.

Essa empresa compra um terreno para fazer uma construção. Essa empresa não tem acionistas, tem cotas e essas cotas são ao portador. Não dá para saber quem são todos os cotistas. Isso é legal, amplamente utilizado e serve para construir de prédios a hidrelétricas.

Como Youssef virou seu sócio?

Eu tinha o projeto de laboratório, mas não tinha o parque fabril de insumo farmacêutico. Isso foi em 2009, 2010. A negociação com ele durou até 2013, quando vimos que dava para fornecer para o governo por meio de parcerias.

A parceria com o Ministério da Saúde seria possível sem a ajuda de integrantes do PT?

Seria impossível. Como a Labogen, só existem cinco empresas desse tipo no país, de insumos farmacêuticos. Isso é tratado pelo governo federal como uma questão estratégica, de interesse nacional. O Brasil não produz nem 5% dos insumos que são usados nos remédios que estão nas farmácias.

Três anos atrás começaram os incentivos do governo federal porque esse setor é fundamental para o país. Estou falando de oncologia, de cardiologia, de remédios de ponta, que precisa de muita pesquisa. Eu comprei patentes na Coreia do Sul, na Índia, na Alemanha.

Daria para conseguir a parceria sem a influência do ex-deputado André Vargas?

Não. O Vargas foi colocado de forma equivocada e injustiçada nesse processo.

Por que você diz que o Vargas foi envolvido indevidamente?

Apadrinhamento político não quer dizer que eu dei algum tipo de recurso a ele. Nunca dei um centavo ao Vargas. Tudo que eu fiz em Brasília foi oficial. O ajuste político não era comigo. O Vargas voou no jato de Youssef. A relação com o Vargas era com o Youssef e outros sócios.

Foram feitas sindicâncias do Ministério da Saúde e da Anvisa e elas não apontam irregularidade na Labogen. Se tivesse visto o Vargas receber algum benefício, eu falaria.

Mas houve influência política?

Teve influência política antes de montarmos a fábrica. Foi influência política do PT, por meio do André Vargas. Estive várias vezes com ele. Mas o projeto tinha viabilidade econômica e era de alto interesse para o país.

Existe uma espécie de cartel entre as empresas farmacêuticas. São quatro, cinco empresas, todas capacitadas, não estou acusando ninguém. A Labogen não existiria sem apadrinhamento político.

Youssef assinou um acordo de delação em que entrega um patrimônio de R$ 50 milhões. Era esse o patrimônio dele?

Não. Tem muitas coisas ocultas, dentro de fundos ou são ao portador. O patrimônio dele é de R$ 150 milhões a R$ 200 milhões. O banco do Youssef, porque doleiro é como um banco, movimentava de R$ 30 milhões a R$ 40 milhões por mês.

Por que você decidiu confessar seus crimes?

Todas as provas são irrefutáveis. Está tudo documentado. Fiz as remessas pelo Banco Central. Fui solto em 11 de abril porque contei a verdade. Nunca mudei minha versão.

Só não aceito que chamem a Labogen de empresa fantasma. Tenho licenças de 11 órgãos, todos dizendo que tenho uma fábrica operacional.

Lourdes Nassif

Redatora-chefe no GGN

18 Comentários

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  1. O que apenas observo pois meu

    O que apenas observo pois meu conehcimento é apenas leituras de matérias, e algumas jurídicas.

    “doleiro municipal em 2003” – Crime Banestado tem data anterior

    “tenho licença de 11 orgãos” originadas de quando/datas?

    _________________

    Vou fazer uma pergunta porque li isto em algum lugar na internet. (sem doc oficial)

    A Labogen pertencia ao Quercia?

  2. O doleiro e as pseudos-raposas

    Youssef parece ser mesmo muito querido pela PF e pelo juiz Moro. Além de ser reincidente, conta um conto e ganha muitos pontos. Que beleza! E a palavra dele parece valer ouro, foi até capa para golpe eleitoral da tal da Veja…

    E o André Vargas que caiu por fazer nem a metade do que faz um Alvaro Dias ou um Eduardo Cunha ? Ah, mas eles não são do PT, então a gente deixa.

     

  3. Moro em Indaiatuba, sede da

    Moro em Indaiatuba, sede da Labogem, e posso afirmar que ela não existe. Não existe oras. Não há funcionarios, ela ganha licitações em Governos do PP e do PMDB, e terceiriza a produção. Duro crer que alguém ganhe licitações sem ter funcionários. Abre o olho Padilha, aliás, o PT deveria aposentar ele. 

    1. Pode até ser; mas a credibili// de 1 nao cadastrado é nenhuma

      Alguém cai de pára-quedas aqui fazendo uma denúncia dessas e quer que acreditemos? 

  4. Com esse depoimento, fica

    Com esse depoimento, fica cada vez mais evidente que, entre Moro e Yousseff, há mais que um acordo de delação premiada. Há um acordo de interesses.

    É mais do que hora de afastar Sérgio Moro do processo e nomear alguém insuspeito.

    1. Acordo de interesses

      A mim parece que o Youssef e Sérgio Moro têm uma parceria. Ele foi preso pelo mesmo juiz a cerca de quinze anos atrás, fez delação premiada, e foi solto. Agora foi preso outra vez, fez delação premiada, e vai ser solto pelo Juiz Moro. Vai voltar a delinqüir, e atrair outros corruptos para fazer parceria com ele. Daqui a oito ou dez anos, vai preso pelo mesmo juiz, fazer delação premiada, e tudo – como num circulo, volta ao mesmo ponto. Só vai parar se nesse espaço de tempo o PSDB ganhar a presidência, e o Juiz alçado ao STF, vai fazer parceria com Gilmar Dantas.

  5. As caras patibulares seriam

    As caras patibulares seriam um material de estudo primoroso para o criminalista Cesare Lombroso, nem precisa inquerito, basta a faccia bruta, que impressionante, a cena politica brasileira é o paraiso do “profile research” a pesquisa do homem pela aparencia, é um desfile de vitrine da policia de Londres, Sherlock faria dez historias com as fisionomias desses personagens.

  6. A labogen  é uma  empresa

    A labogen  é uma  empresa  genuinamente  brasileira que  passou  a  produzir  insumos  para   fabricaçao de varios remedios. Quando ele  diz que  precisava  de  ajuda   do governo federal  é justamente porque  sem  essa  ajuda  ele  jamais conseguiria  montar  sua  industria  farmaceutica   ja que  o cartel  dos remedios  é  uma   das maiores marfias ue  existe. Ele  diz  com todas as letras  que   Andre  Vargas jamais   recebeu 1 centavo dele, o que  prova que  Vargas  foi colocado nessa historia so  porque  fez  aquele  gesto  desafiador. 

    Recentemente  voces  viram  que  Dirceu   saiu   do silencio  e botou a boca no mundo,  no outro  dia  misteriosamente  ele  e  suas  emrpesas  ja  eram citados  no caso lava jato. Eu gostaria  de saber  com  que  milagre  isso aconteceu. Tambem fico com a  certeza  de que  ha  alguem  ocultou que  esta  sempre colocando alguem  no  meio  se isso interessas a eles. 

    Foi o caso da labogen.  Certo que  ele  foi pego porque usou as  empresas para   mandar  dinheiro  para o exterior, Mais nao resta duvidas que  o  cartel  de laboratorios  americanos  entraram nessa historia  para  prejudica-lo ainda mais.  Nao ha  duvidas que a intençao do governo federal era   poder  produzir  seus  insumos  aqui  e  assim baratear  remedios  como ele mesmo diz  do  cancer  (oncologia )  e outros  mais  que  isso  mexeu   com  os  mafiosos  que  querem  ganhar  fortunas vendendos  remedios  que  nao curam  ninguem e que custam uma  fortuna. 

  7. A que ponto se chegou. Mesmo

    A que ponto se chegou. Mesmo buscando estar bem informado para se entender os fatos, a sensação é de que nada merece credibilidade e que o Brasil além de ” não ser para amadores “, talvez necessite de profissionais que ainda não nasceram !!!!

  8. O viés de qualquer entrevista

    O viés de qualquer entrevista feita pela “grande” imprensa é sempre o mesmo: enquadrar o PT. Nada a ver com a busca da verdade, de culpados, de contribuir para elidir mal feitos. Nada. Única e exclusivamente para de uma forma ou de outra criminalizar esse partido. 

    Isso tem nome e sobrenome: fixação patológica. 

  9. Se fosse possível saber a

    Se fosse possível saber a verdade pura, como uma mosquinha capaz de entrar na cabeça de Youssef, concluiríamos, certamente, que o doleiro pode até não ter mentido em suas declarações, mas pode, sim, – mais provável -, ter omitido muita coisa, como saber? Delação Premiada não é um recurso pelo qual um criminoso se livra da cadeia por contar a verdade. Ele se livra da pena máxima por ser esperto, e de esperteza em esperteza, sairá leve e fagueiro com muito milhõs no bolso. Mais uma impunidade gritante será feita, segundo nossa justiça com j minúsculo.

  10. O engraçado é que , lá pras

    O engraçado é que , lá pras tantas , o reporter insiste no nome de Andre Vargas , do PT . E o dono do laboratório insiste em dizer que o cara foi envolvido injustamente no negócio . E agora ? Como fica isso ? O cara perdeu o mandato !
    Aposto com qualquer um : depois dessa entrevista esse Leonardo Meirelles vai desaparecer do noticiario , pois já está falando demais, está acusando o herói do MP , Alberto Yousseff , de ser mentiroso. Daqui a pouco Youseff vai precisar explicar estes R$ 100 milhões a mais . Aí o Lava Jato silencia por um tempo – tempo esse que é usado para eles combinarem versões . Aí reaparece com acusações contra inocentes (sempre do PT) e lá se vão mais 2 meses de batucada na mídia em cima da tecla .
    É um inferno vc viver num país como esse, onde bandido é herói , inocente é acusado sem prova , justiça é dúbia , iumprensa comprada .
    Parece um filme de David Lynch , o grande diretor  de Veludo Azul e criador da famosa série Twins Peaks, onde nada era o que parece. É a cara desse país inacreditável neste momento.

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