Mais um passo na farsa que fere de morte a democracia, por Jeferson Miola

Lourdes Nassif
Redatora-chefe no GGN
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O Senado deu mais um passo na farsa que fere de morte a democracia

Jeferson Miola

Não era necessário ser vidente para adivinhar as frases e inclusive as manchetes que o senador tucano Antonio Anastasia produziria para a mídia no seu relatório imprestável e criminoso.

Antes mesmo de conhecer os argumentos e testemunhos de defesa da Presidente Dilma e a recomendação do Ministério Público Federal [que mandou arquivar a denúncia falaciosa das pedaladas fiscais], as conclusões do pupilo do Aécio estavam prontas desde 26 de abril de 2016, dia em que Anastasia foi escolhido para relatar a farsa do impeachment.

Como era lógico esperar, ele validou aquela denúncia fraudulenta, comprada pelo seu próprio partido por R$ 45 mil reais de uma advogada tucana de duvidosa seriedade e capacidade jurídica – porém, portadora de abundantes traços de desequilíbrio emocional, ódio e incivilidade, para dizer o mínimo.

Com o parecer do tucano, o Senado da República deu por cumprida mais uma etapa do rito golpista. A leitura do parecer ontem, 2 de agosto, não passou de pura formalidade para manter a aparência de “normalidade institucional”.

O golpe de Estado que está em curso caracteriza uma ruptura institucional considerada “branca” porque:

– não resultou da intervenção das Forças Armadas, como no golpe de 1964. Este golpe foi perpetrado diretamente pelo vice-presidente da República e o Eduardo Cunha com o Congresso, setores do Judiciário e as poucas famílias que controlam e dominam a imprensa, a produção e a veiculação das notícias no país, cujo papel proeminente é desempenhado pelos grupos Globo, Folha, Estadão e Abril;

-não foram cassados os direitos civis e políticos. O regime golpista, porém, apela crescentemente para a repressão e para a violência policial e adota a Lei Antiterrorismo para intimidar os movimentos sociais e prender lideranças populares;

– não houve declarada censura da imprensa. O governo usurpador, entretanto, atenta contra a liberdade de expressão e de imprensa ao extinguir as minguadas verbas publicitárias antes destinadas aos veículos independentes, não transmissores dos interesses da mídia hegemônica;

– não fechou o Congresso e a Suprema Corte, porque o Legislativo e setores do Judiciário [com enorme poder interno e impressionante projeção e proteção midiática] são peças da engrenagem golpista.

Com essas dissimulações, os golpistas tentam envernizar o golpe como um processo ordinário, que se desenrola no marco do “funcionamento normal das instituições” [sic]. Neste golpe, a oligarquia golpista está sendo mais sofisticada e inteligente que foi no golpe pespetrado em 1964 contra o também governo popular de João Goulart. Desta vez, desfecharam um golpe de novo tipo e novas características, o chamado golpe jurídico-midiático-parlamentar.

Apesar de “branca” e silenciosa, a ruptura da ordem constitucional, que é disfarçada na farsa do impeachment, não deixa de ser o que de fato é: um golpe de Estado, uma violência jurídica, um atentado à Constituição e ao Estado Democrático de Direito.

O golpe deverá se consumar, porque a maioria para sustentá-lo está sendo comprada com o preço da soberania nacional e da supressão dos direitos e das conquistas do povo brasileiro, pago pelo governo usurpador de Temer e Cunha aos seus sócios do PMDB, PSDB, DEM, PP, PPS, PTB, PSD, PSB e outros.

Apesar da carga propagandística dos monopólios midiáticos, a narrativa golpista da “normalidade institucional” foi derrotada, não vingou; essa pecha golpista eles terão de carregar para a eternidade da História.

A direita fascista jamais conseguirá minimizar a gravidade deste antecedente que fere de morte a democracia brasileira.

Lourdes Nassif

Redatora-chefe no GGN

6 Comentários

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  1. Não estivesse o PT tão

    Não estivesse o PT tão desmoralizado, sem voz, jamais poderia ser relator do processo de impeachment de Dilma um parlamentar tucano. Poderia até, quem sabe, ser alguém do PMDB, mas jamais um tucano. Portanto, nada se poderia esperar, senão o que estamos sabendo.

    Quanto ao que ora se presta Renan, é outra que não entra na cabeça de quem acompanha essa safadeza.

    Renan tinha livre acesso à residência de Dilma no Palácio, enquanto se fazia de neutro, e enquanto a bobinha devia estar acreditando na honestidade dele. Eu nunca vi esse relacionamento com bons olhos, pois não tenho porque acreditar em sinceridade e lealdade de um canalha pra com Dilma. O que ele é está agora estampado, e não o que ele adou tentando passar.

    Mas, é isso mesmo. Se Lula e Dilma continuaram ajudando a Rede Globo, qualquer outra coisa do gênero dispensa explicação.

  2. Farsa vergonhosa

    A Constituição é claríssima ao estabelecer que um processo de impeachment só pode ir adiante se ficar comprovada realização de crime de responsabilidade pelo presidente da república. 

    Como não há prova alguma de crime de responsabilidade, não poderia haver impeachment. 

    Por esta razão, o que estamos assistindo é a realização de um golpe de estado, na medida em que levado a cabo sem respaldo constitucional. Simples assim.

    Os golpistas estão agindo de forma descarada porque as pessoas que se informam diariamente e que refletem sobre as informações recebidas são em número insignificante, se considerado o total de eleitores brasileiros. A maioria dos eleitores são ignorantes políticos, não têm qualquer reflexão sobre política.

    Não consideram, como deveria ser óbvio a todos aqueles que prezam a democracia, que o valor fundamental num estado democrático é o respeito às regras do jogo. Ou seja, nada deveria ser mais importante que o respeito à Constituição. Fora dela, instaura-se um período de vale-tudo, como já tivemos tantas vezes neste pobre país.

    Infelizmente, no Brasil ainda é muito forte a concepção golpista de se fazer política.

    Muito triste tudo isso. Estou me sentindo envergonhado de ser brasileiro. Estou me sentindo envergonhado de viver nesta República de Bananas. 

  3. Não tenho dúvida que se trata

    Não tenho dúvida que se trata de um golpe sujo e odiento que os bandidos da direita impuseram às forças pseudo-progressistas. Tudo a mando da CIA e emcampando pela meia duzia de família dos monopólios da mídia tupiniquim. O judiciarim daqui eu deixo fora porque sempre foi um clube de reacionários prepotentes da elite branca.

  4. Me doi profundamente a

    Me doi profundamente a certeza da aprovação do impeachment da presidenta Dilma Rousseff articulado e levado a efeito pelo conjunto de forças já discriminadas no texto acima. Praticamente nada se tem a fazer, pois o povo – que seria o grande divisor de águas – se queda alheio ao que de fato está ocorrendo no país e às duras consequências que serão arcadas por esse mesmo povo que se mantém apático, alienado, consumido pelas mentiras da mídia (especialmente a televisão), massa de manobra de uma “organização” que tomou o Brasil de assalto. Lamentável!  

  5. Uma vez concretizado esse

    Uma vez concretizado esse golpe midiático-jurídico-parlamentar  nunca mais haverá segurança jurídica para governar. Qualquer presidente que por ventura ameace os interesses dos poderosos sofrerá um “golpeachment”  imediatamente.

    “Grande  serviço” estão nos prestando esses golpistas. Entrarão para a história com a marca da infâmia. 

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