O que Temer não disse sobre os 2 anos de governo

Patricia Faermann
Jornalista, pós-graduada em Estudos Internacionais pela Universidade do Chile, repórter de Política, Justiça e América Latina do GGN há 10 anos.
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Foto: Fabio Rodrigues Pozzebom/Agência Brasil 
 
Jornal GGN – “Nós fomos responsáveis por tirar o Brasil do vermelho e colocarmos o Brasil no rumo certo”, disse o presidente Michel Temer, exaltado e celebrando os dois anos de seu governo. No balanço do mandatário, contudo, faltaram dados como o aumento do desemprego, o aumento do dólar, a queda em empregos formais, e o salário mínimo abaixo da inflação, além de cenários sociais críticos.
 
A cerimônia teve início às 15h no Salão Nobre do Palácio do Planalto, mas antes mesmo já foi marcada por polêmicas. Após o deslize do título “O Brasil voltou, 20 anos em 2”, e a repercussão negativa, o convite para ministros e autoridades veio com outra nomenclatura: “Maio/2016-Maio/2018: o Brasil voltou”.
 
Ostentou de maneira exacerbada que houve uma queda na inflação e redução da taxa de juros. Juntou os números para preparar a cartilha “Avançamos – 2 anos de vitórias na vida de cada brasileiro”, que foi o período de sua atuação desde que assumiu com a derrubada da presidente eleita Dilma Rousseff.
 
“Confesso diante de todos que me sinto responsável pelas atitudes e escolhas que fiz, sempre pensando em um Brasil maior. Somos responsáveis e orgulhosos por tirar o país da maior recessão de sua história. Eu assumi o governo com uma inflação acima de 10% e colocá-la em 3%. Somos responsáveis por encontrar a produção industrial abaixo dos 6 pontos negativos e colocá-la acima dos 2%. Responsáveis por encontrar os juros acima de 14,25% e colocá-los nos 6,5% de hoje. Por encontrar o PIB com 3,5% negativo e colocá-lo nos cerca de 2,5% de hoje”, disse o mandatário, no evento de hoje.
 
Alvo de uma sequência de denúncias e investigações no Supremo Tribunal Federal (STF) por envolvimento em esquemas de corrupção do seu partido, o MDB, as considerações “de cada brasileiro” já não são tão positivas. Temer bate um recorde: o de manter a ampla rejeição junto a população.
 
A pesquisa do instituto MDA divulgada ainda ontem mostra que somente 4,3% dos brasileiros aprovam a gestão do mandatário, contra 71,2% que o caracterizam como ruim ou péssimo. O Datafolha também registra a aprovação de apenas 6% dos entrevistados e 70% dos que rejeitam o governo Temer.
 
Economia
 
E, tanto na cartilha, como no discurso aos seus convidados na tarde de hoje, ignorar o aumento do dólar, o aumento do desemprego e a queda do salário mínimo, que ficou abaixo da inflação. 
 
Quando Temer assumiu, a taxa de desemprego já era alta: de 11,4 milhões de trabalhadores e trabalhadoras, um 11,2%. Após dois anos, mais de 2 milhões de pessoas perderam os seus empregos, aumentando para 13,7 milhões de desempregados, que representa 13,1%.
 
Da mesma forma, enquanto o mandatário enalteceu os cálculos de ativação da economia, tal cenário não se viu refletido para os cidadãos. 900 mil pessoas estão sem empregos formais. E os que foram criados se enquadram em remunerações de até dois salários mínimos.
 
A realidade para a moeda brasileira tampouco é positiva, fazendo o dólar aumentar nestes dois anos de R$ 3,47 para R$ 3,62.
 
Outra de suas metas, a de alcançar a estabilidade da relação divida pública e o PIB, não foi atingida. Em março, a dívida pública bruta ficou em 75,3% do PIB, acima do patamar de 75,1% em fevereiro. E a líquida cresceu de 52% para 52,3%.
 
Direitos Sociais, Educação e Trabalho
 
As novas leis do ensino médio e a reforma trabalhista foram apontadas por Temer como avanços, está última insistida como “modernização” trabalhista. E a privatização de estatais foi nomeada por Temer como “renascimento” das empresas. Mas justamente essas medidas foram amplamente criticadas pelos setores da Academia, entidades e sindicatos durante todo o governo Temer. 
 
Em educação, o governo ressaltou a reforma, mas ignorou, por exemplo, a diminuição de vagas ofertadas pelo programa do Fies, de 325 mil em 2016 para 225 mil em 2017. 
 
No quesito trabalho, além da reforma trabalhista, o MDB havia apresentado no documento “Uma Ponte para o Futuro”, assim que Michel Temer assumiu o comando do país, defendendo, entre outros pontos, a preservação de direitos adquiridos pelos trabalhadores:
 
“Preservando os direitos adquiridos e tratando com respeito as expectativas de quem ainda está no mercado de trabalho e já se aproxima do acesso ao benefício, é preciso introduzir, mesmo que progressivamente, uma idade mínima que não seja inferior a 65 anos para os homens e 60 anos para as mulheres, com previsão de nova escalada futura dependendo dos dados demográficos”, dizia o documento.
 
Mas em dezembro do último ano, a medida de Temer foi justamente a oposta, com a PEC 287, da reforma da previdência, na qual ele ainda espera ser aprovada. As mudanças no regime de aposentadorias prevem a contribuição de um mínimo de 25 anos com o INSS para se ter direito ao benefício e, além disso, ter um mínimo de 65 anos de idade.
 
Outro trecho do “Uma Ponte para o Futuro” estabelecia uma “agenda de transparência e de avaliação de políticas públicas, que permita a identificação dos beneficiários, e a análise dos impactos dos programas”. 
 
Mas não somente cortes em programas sociais foram autorizados pelo governo junto a modificações no Orçamento [leia mais aqui], como também há uma falta de atualização nos sistemas de transparência do governos de, há pelo menos, quatro meses.
 
“Foram dois anos de muito trabalho, mas também de muitas realizações. Dois anos de muita luta, mas também de muitas vitórias. Dois anos combatendo inflação, combatendo a recessão, enfrentando todos os problemas do país. E encontrando a solução que estamos apresentando hoje”, disse Temer, contudo, no evento.
 
Patricia Faermann

Jornalista, pós-graduada em Estudos Internacionais pela Universidade do Chile, repórter de Política, Justiça e América Latina do GGN há 10 anos.

1 Comentário

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  1. Não, não… não.

    Ele não mentiu porque realmente o Brasil voltou, mas pro buraco de onde o Lula o havia tirado. O Brasil só não está ainda, batendo às portas do tal FMI, porque o Lula soube controlar as reservas cambiais. Lembram que o serra, o fhc e afins, junto com a mídia tucana que se acha imprensa, classificava como irresponsável o programa econômico do governo do Lula? Foi graças a essa  “irresponsabilidade” que não estamos como a Argentina.

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