Queda de Temer pode levar a um aprofundamento da crise política

https://www.youtube.com/watch?v=3pcm2OmHUBA ]
 
Jornal GGN – A esquerda brasileira entra em um novo paradigma: apoiar ou não a queda de Michel Temer? Na última semana a grande imprensa direcionou seu arsenal de críticas ao presidente em exercício. Até então os noticiários pareciam cegos frente aos desastres iniciais da gestão Temer, como a extinção e depois recriação do Ministério da Cultura, a nomeação de investigados na Operação Lava Jato para ocupar ministérios, a aprovação de um orçamento impositivo que reduzirá, nos próximos anos, os investimentos com saúde e educação, além do rebaixamento da Controladoria Geral da União, órgão que investiga a administração do governo federal, só para citar algumas das medidas negativas tomadas nos últimos cinco meses. 
 
Há duas teorias que podem explicar a mudança de postura dos grandes veículos: pressionam o governo Temer para viabilizar a bolsa-mídia; ou esse é o início da queda do peemedebista, dando abertura a uma eleição indireta realizada pelo Congresso. Nesse último caso o afastamento de Michel Temer poderá levar a um aprofundamento da repressão contra grupos contrários ao impeachment e que hoje se dividem entre aqueles que querem a volta de Dilma ao poder e aqueles que pedem novas eleições diretas. 
 
Essa é uma das conclusões do historiador e cientista político, Luiz Felipe de Alencastro. Em entrevista exclusiva para o programa “Na sala de visitas com Luis Nassif“, o professor emérito da Universidade de Paris IV Sorbonne e da Escola de Economia da FGV de São Paulo avalia a fragilidade da democracia brasileira destacando que até os partidos da direita internacional que chegaram ao poder já notaram a importância da representação de minorias nos governos.
 
Alencastro aproveita também para criticar o paradoxo de argumentos utilizados pelo ex-presidente Fernando Henrique Cardoso para defender o impeachment de Dilma. 
 
“Em agosto do ano passado o presidente Fernando Henrique Cardoso – num momento não tão rigoroso da grande obra dele como cientista político – fez essa distinção dizendo que o governo era legal, mas não era legítimo. Ora, isso não existe no regime democrático. Em todo o regime democrático, por definição, o governo legal é governo legítimo. Agora recentemente, em uma entrevista pra IstoÉ, o presidente Fernando Henrique falou que o problema do governo Temer, que tem uma maioria no Congresso, mas da opinião pública não, é que ele não é originário do impulso do voto. Ora, realmente, se ele não é originário do impulso do voto, ele é originário do impulso derivado do voto. Quem tinha a legitimidade, a legalidade originária do voto era a presidente Dilma. Está na Constituição. Aí ele está correto, e evidentemente que isso solapa a legitimidade deste governo”.
 
O historiador avalia que os fundamentos utilizados para o afastamento da executiva não se sustentam, destacando que não existe definição de “crime político” em todo o ordenamento jurídico brasileiro. “O que existe são definições de crimes administrativos, crimes de gestão, de crime fiscal ou até de crime penal, mas não de crime político”. O professor alerta que a Lei do Impeachment, datada de 1950, é altamente defasada colocando em risco a legitimidade do próprio voto popular.
 
“Hoje o presidente tem um cacife eleitoral e um enraizamento, [como o fato de] a própria eleição presidencial ser mais longa, em dois turnos, o que torna essa lei quase caricatural. A Constituinte viu isso e disse que ela precisava ser substituída. Nenhum ministro da Justiça depois da proclamação da Constituição tomou iniciativa”. 
 
Se todos os governadores dos estados brasileiros fossem submetidos aos mesmos critérios que levaram à queda de Dilma, como remanejamento de fundo orçamentários, desequilíbrio de contas públicas e autorização créditos suplementares, por exemplo, pelo menos 17 deles sofreriam impeachment, incluindo Geraldo Alckmin, do estado de São Paulo. 
 
Acompanhe a seguir trechos da entrevista. Assinantes da revista GGN têm acesso à íntegra. Clique aqui
 
Luis Nassif – Essa questão da legalidade, da legitimidade de governo que foi invocado para a queda da presidente Dilma, que está agora invocada para o questionamento ao interino que assumiu, Michel Temer. Como a ciência política analisa esse tipo de situação?
 
Luiz Felipe de Alencastro – Isso começou a ser levantado em agosto do ano passado pelo presidente Fernando Henrique Cardoso que, num momento não tão rigoroso da grande obra dele como cientista político, fez essa distinção dizendo que o governo era legal, mas não era legítimo. Ora isso não existe no regime democrático. Todo o regime democrático, por definição, o governo legal é governo legítimo. Isso só existe em ditaduras onde o caso clássico era o governo de Vichy na França, durante a Segunda Guerra, que era o governo legal [foi um regime político pró-Alemanha instaurado de 1940-1944, após o país ter se rendido aos nazistas]. Os Estados Unidos tinham uma embaixada em Vichy, mas era o [Charles] de Gaulle que representava a legitimidade do governo. E representou tão bem que botou a França entre os países vencedores quando ela tinha perdido a guerra, e ganhou uma cadeira permanente no Conselho de Segurança da ONU. Durante a ditadura isso foi corrente no exterior. O Brasil, os países reconheciam o Estado brasileiro e o governo de fato, que era o governo legal, mas a legitimidade do governo nunca foi aceita em vários países pela opinião pública.
 
Então é esse paradoxo, para dizer que o governo era ilegítimo, o governo da presidente Dilma, era preciso primeiro provar que ele tinha saído da democracia. O que é muito difícil de comprovar. Em seguida, agora recentemente, em uma entrevista pra IstoÉ, o presidente Fernando Henrique – e acho interessante dizer sempre presidente, porque o título mais alto do político fica, isso é uma tradição que tem na França e você continua falando -, então o presidente, ou o ex-presidente como se costuma falar aqui, falou nesta entrevista que o problema do governo Temer, que ele tem uma maioria no Congresso, apoio do Congresso, mas da opinião pública não, é que ele não é originário do impulso do voto. Ora, realmente, se ele não é originário do impulso do voto, ele é originário do impulso derivado do voto, quem tinha a legitimidade, a legalidade originária do voto era a presidente Dilma. Está na Constituição. Aí ele está correto, e evidentemente que isso solapa a legitimidade deste governo. Agora, sim.
 
Então eu acho isso fundamental, juntando aí com o fato da declaração do presidente Temer, o presidente de fato, em Nova York, no Council of the Americas, dizendo que, na realidade, e isso está no site do Planalto, o internauta que estiver interessado em verificar, entra no planalto.gov, está lá o discurso dele, não está escondido, mas a imprensa brasileira falou pouco, salvo você, salvo Intercept, salvo alguns blogs, o fato é que o presidente disse que o impeachment se deu porque a Presidente Dilma não seguiu o programa ‘Ponte para o futuro’, que era o programa do PMDB. Ora bola?! Isso é também uma outra coisa que questionam, uma definição que também foi dita aqui e ali, que se tratava de crime político. No regime democrático não há crime político, isso é uma questão de direito, não há definição na nossa Constituição e no nosso corpo jurídico inteiro de definição de crime político. Se tratam de crimes administrativos, de crimes de gestão, de crime fiscal ou até de crime penal, mas não de crime político.
 
E a lei do impechment como um instrumento de guerra política?
 
Esse é um ponto que acho importante. A Lei do Impeachment data de 1950, ela foi redigida pelo Raul Pilla, que era um parlamentarista puro gaúcho, herdeiro da tradição maragato, que diante do espectro da eleição do Getúlio [Vargas], em 50, fez essa espécie de vacina anti-getulista. É uma lei extremamente complexa, com 70 artigos criando miríades de ocasiões onde o presidente pode sofrer um impeachment. Tem até uma que é incitar o ódio contra a Forças Armadas, o que poderia ter pego a presidente Dilma com a Comissão da Verdade, que foi votada no Congresso. Enfim, podia ter sido pega por aí. Há várias outras circunstâncias. Essa lei, reconhecidamente obsoleta ficou mais obsoleta ainda com o referendo de 63 do Jango que reafirmou o presidencialismo, com o plebiscito de 93 que reafirmou o presidencialismo e com dois turnos, porque é o presidente hoje quem tem maioria absoluta dos votos, ao contrário do Juscelino lá em 55, foi questionado e teve projeto de golpe porque ele tinha a maioria relativa. Então hoje o presidente tem um cacife eleitoral e um enraizamento, a própria eleição presidencial mais longa em dois turnos, que torna essa lei quase caricatural.
 
A Constituinte viu isso e disse que ela precisava ser substituída. Nenhum ministro da Justiça depois da proclamação da Constituição tomou iniciativa, nenhuma maioria, nem o Fernando Henrique, nem de Itamar, nem de Lula, nem de Dilma. Há juristas que estavam advertindo já há algum tempo isso, e essa lei, na ausência de outra lei, ficou sendo a lei em vigor. Agora ela ameaça os governadores e os prefeitos todos. O governador Wellington Dias, do Piauí, do PT, mas apesar de ser suspeito, porque hoje há uma suspeição para eleitos do PT bastante difundida, disse uma coisa que é muito importante é o fato de que aquela lei ameaça os governadores e os prefeitos. Segundo ele há 17 governadores brasileiros que podem ser pegos com a aplicação dos mesmos critérios que fundamentaram o impeachment de Dilma por questões de verba, de créditos, de decretos, de remanejo de fundo orçamentário.
 
Professor, teve esse fenômeno de inclusões, de multidões no jogo político através de políticas de inclusão, migração e tudo, e a gente está vendo agora esse uso de ferramentas pra todos os lados pra mitigar a democracia. Na sua opinião a democracia representativa como um elemento organizador de demandas em termos globais está sob ameaça?
 
A ameaça global é curiosa, porque segunda [26/09] houve o debate do Trump e da Hillary e pela primeira vez num debate americano, um jornalista americano, não lembro qual, assinalou que pela primeira vez nos Estados Unidos se pergunta a um candidato, no caso se perguntava a Trump, se ele iria respeitar o resultado da eleição, e ele disse que sim. 
 
E aí ele [o jornalista] comparou isso com países de terceiro mundo e tal, e lembrando que o [Al] Gore, na primeira eleição com o Bush, em circunstâncias inteiramente duvidosas, ainda tavam revendo os votos todos, aquela coisa meio caricatural, a Corte Suprema Americana de maneira surpreendente declara o Bush vencedor, e instantaneamente o Gore reconheceu.
 
Aqui no Brasil é uma coisa muito interessante, é muito interessante a dinâmica política, quando o resultado da eleição 2014 ainda não estava dado, mas já havia a projeção de que Aécio tinha perdido, ele chama a imprensa com o filho pequeno dele e a esposa, e cumprimenta a Dilma como vencedora. Eu achei aquilo civilizadíssimo, uma coisa muito importante e eu e todo o mundo: ‘olha, estamos num país de democracia consolidada’. No dia seguinte, começou a briga entre o Alckmin e o Serra pra saber quem ia ser o candidato do PSDB, e o Aécio aí radicalizou do outro lado, uma dinâmica que dois dias depois da eleição o deputado Carlos Sampaio do PSDB de São Paulo, que é procurador também, entra com um processo no TSE questionando a eleição dizendo que havia fraude eleitoral.
 
Houve a investigação muito meticulosa, custosa, do TSE. O ministro Toffoli era presidente, autorizou, deu todos os meios e a conclusão foi que os eventuais erros que pudessem ter havido não alteravam o resultado final da eleição. Quer dizer, isso não se falou nada e foi no dia seguinte, a presidente Dilma, quando foi se defender no Senado, disse: ‘dois meses depois da minha eleição ela começou a ser questionada’. Não, foi dois dias! Então esse é um problema.
 
Essa questão da onda. Deu exemplo aí do Aécio, do cumprimento, a onda leva ele aí a radicalizar. Hoje a gente está vendo o Poder Judiciário, na Lava Jato, uma onda fascista atemorizante. Hoje essa prisão do Guido Mantega, a prisão do Antônio Palocci, os argumentos invocados, a blindagem a qualquer levantamento contra líder do PSDB, os jornalistas estimulando essa caça às bruxas, como essa psicologia de massa do fascismo, onde são suas raízes? São raízes difusas que num certo momento criam esse temporal.
 
Acho que tem um elemento que já está começando a retardar um pouco esse efeito no mundo de ir para um lado só é que o direito tem uma dinâmica de criar jurisprudência, de criar modelos decisórios e essas arbitrariedades, que você citou, ou que são consideradas contrárias do ponto de vista do direito e vão acabar criando uma jurisprudência muito perigosa para todo mundo, para o atual governo, para os governadores, para os outros empresários e isso vai já já começar a entrar em colapso. Eu acho que há um problema aí de assanhamento judiciário muito mais do que uma estratégia coordenada e isso já já vai começar a ter esse curto-circuito no meio jurídico, propriamente dito. Há centenas de procuradores, advogados, juristas, milhares pelo Brasil afora que estão assistindo isso de maneira muito perplexa. O que a gente sabe um pouco, conversando com amigos juristas e professores, as pessoas responsáveis e que cultivam o direito no Brasil estão meio surpreendidas com o rumo que a coisa está tomando.
 
Tenho conversando com algumas pessoas nessa área, no meio jurídico, advogados, a própria OAB Nacional se colocou a favor dessa onda, Ministério Público você tem os críticos, mas que não tem coragem de se apresentar.
 
Mas eu acho que isso pode vir até dos advogados também que começam a explorar falhas desse sistema, entende? Nós não estamos num regime que controla tudo. É um regime que, inclusive, o governo tem recuado várias vezes e mostra que ele vai avançando sob pressão do revanchismo político que estava retido aí durante 13 anos do governo do PT.
 
O PMDB é um partido clientelista, é uma federação de clientelismo. Ele não é um instrumento adequado nem para implementar o rigor, o arrocho que se quer que o meio patronal ou bancário pretende, nem para fazer um arrocho político. Então eu acho que temos uma etapa ainda que há que se observar nessa crise, que é se o PMDB vai até 2018 ou se cai ali na frente em dezembro e aí tem uma eleição indireta e pode ser qualquer um eu, você, Fernando Henrique ou um bispo…
 
E se ele cai pode ser um aprofundamento da repressão.
 
Aí sim. Não tenho dúvida.
 
Hoje essa ilegitimidade dele, de certo modo, contém.
 
A ilegitimidade dele vem de um aparelho de interpretação do Brasil que é inteiramente envelhecido e caduco, e não estou falando de base, mas que não vê o Brasil que é hoje. Toda a direita mundial percebeu há muito tempo, e eu dou exemplo como o Bush e o Sarkozy, que é importante ter membros da minoria no governo. Condoleezza Rice, a secretária de Estado [dos EUA], Colin Powell, chefe do Estado-Maior [também nos EUA], a Rachida Dati, ministra da Justiça do Sarkozy, a presença feminina, de gente das minorias, o próprio Macri [atual presidente da Argentina], observou isso na Argentina. Este governo saído da cachola daquela gente de Brasília, que não conhece o Brasil não põe uma mulher, nem um negro. Tem um movimento negro no PMDB, tem o movimento negro no PSDB que era a favor do impeachment, podia ter sido escolhido, nem essa visão do que é preciso você ter um aparelho político, um governo que represente o Brasil de hoje não está na cabeça deles. E muita das trapalhadas vem daí também. Essa coisa da reforma por medida provisória da educação pública é não saber como isso mexe com milhares de pessoas, de profissionais competentes.
 
O ministro está falando hoje que isso é mais importante que mexer na economia. Na economia você não mexe assim, você não mexe em medida provisória. De repente, você consulta, nem que você consulte os banqueiros, nem que você convoque o dono da universidade privada, se você está jogando nesse campo, ou de colégios privados. Mas você não taca uma medida provisória dessas que desorganiza muita coisa.
 
Essa centralização em Brasília lembra muito também o regime militar também esse fato de você ter os grupos políticos, as corporações públicas dividindo o botim e o país ao largo.
 
Eu não acho que um historiador ou um cientista político faz história na base do ‘se’, mas é preciso ver o preço que o país pagou por esse isolamento da capital em Brasília. A ditadura não teria durado tanto tempo se estivesse no Rio de Janeiro, por causa da capilaridade da sociedade do Rio. Tinha a imprensa, sindicatos, a opinião pública. A filha do general que ia à escola, encontrava na feira alguém, a mulher do general e dizia ‘assim não dá’. Brasília, não você está cortado de tudo. E continua esse governo que é muito bem representado por um ex-deputados que foi o 53º entre os 70 votados em São Paulo, que é o presidente Temer.
 
Tem essa onda revanchista, os abusos que podem gerar alguma resistência, mas quando a gente vê os principais atores aí, o Supremo, a própria mídia, não dá pra ver nesse momento sinais de resistência. Acha que a indignação pode nascer de algum episódio específico?
 
Eu acho há um dado novo que vai aparecer domingo à noite na eleição de prefeito. Isso dá uma renovada no pessoal político num sentido e num outro. Será que o PT vai virar suco? Será que eventualmente uma derrota não muito grave do Haddad ou uma vitória, porque hoje, nós estamos falando isso na quarta-feira [antes das eleições] não está excluído que eu consiga dar a volta? Isso certamente seria um impacto nacional muito grande. Primeira vez uma eleição para prefeito teria um impacto nacional. Seria meio inédito no Brasil. Mas de qualquer maneira vai haver uma recomposição de forças, os partidos vão medir o impacto respectivo eleitoral que eles estão tendo agora dois meses depois do golpe parlamentar.
 
E já vão pensar em 2018…
 
Vão pensar em 2018. A primeira medida, porque o prefeito agora, sobretudo nessas campanhas sem financiamento privado, anunciam um quadro totalmente novo. Você vai precisar muito mais do prefeito do que antes. Porque é ele que vai dizer: ‘oh, vai esperar o cara no aeroporto, põe um palanque ali’. Senão você está liquidado.
 
E nesse sentido reformas antissociais vai haver muito mais resistência?
 
Ah, penso que sim. O desabamento que a gente está vendo já. Hoje li no jornal, na Folha de S.Paulo, quarta-feira [28/10 o declínio da candidatura da Marta Suplicy é atribuído por ela própria, pela direção da candidatura dela, à política impopular do governo Temer.
 
Esse delenda do PT endossado pela mídia, endossado pelos jornalistas, o TRF lá do Paraná admitindo um estado de exceção, a que vai levar isso aí? Há um risco do Lula ser preso hoje?
 
Acho que não. Eles vão humilhá-lo suficientemente pra impedir a candidatura dele o condenando duas vezes. Eu acho que prender o Lula é uma coisa até complicada seria preciso por numa prisão bem longe, reinaugurar uma Fernando de Noronha, aquela prisão da República Velha, no tempo de Miguel Arraes.
 
Na perspectiva de um governo claudicante aí, promover manifestações de rua não seria um bom álibi? Temos um ministro da Justiça que agora se queimou com essas últimas decisões, mas ele está colocando um P2 aqui em São Paulo, serviço secreto pra investigar adolescentes.
 
Ao mesmo tempo teve um juiz que achou um absurdo as prisões e soltou-os imediatamente. Você vê que a coisa é complicada. Tem que fazer um expurgo do gênero que o Erdogan está fazendo na Turquia. Pegando pretexto de um golpe que ele sabia que ia acontecer e ele, então, aproveitou pra fazer uma limpa. Mas aí são 40 mil juízes demitidos, são 30 mil professores. É uma coisa que não está na ordem do dia aqui.
 
*Assista a entrevista na íntegra. Clique aqui para acessar na revista Jornal GGN. 
Redação

21 Comentários

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  1.  Magnifica,lucida ,acima tudo

     Magnifica,lucida ,acima tudo verdadeira a visao da crise aos olhos do Prof.Luiz Fernando Alencastro.A queda de Temer,levara o Pais a uma convulsao social sem precedentes.Melancolicamente,esse fato aterrorizante nos aguarda na proxima esquina.

  2. Pois que leve o país para o

    Pois que leve o país para o fundo do poço, ou melhor, que comece a escavar o fundo do poço. É o preço mais do que merecido para um país de retardados que acreditam na Globo.

  3. A grande midia ja atua

    A grande midia ja atua abertamente a queda de Temer,duas acoes nessa direcao,foram as declaracoes do apresentador Faustao no estilo missa encomendada,e os ataques a blogosfera dita suja,especialmente na figura do jornalista Luis Nassif,desferida pela Folha de São Paulo.O Prof.Alencastro foi impecavel quando anotou da inviabilidade politica da prisao de Lula.Tomarao um caminho menos traumatico,a desmoralizacao completa do liider  petista.Preparem-se tempos duros virao.

  4. não se esqueçam…

    para a Globo, ou fascismo, ou ditadura, próximo governo não existe

    atacam diretamente as pessoas

    e quando ficam impossibilitados legalmente de prender determinada pessoa, prendem qualquer outra que a represente em suas atividades

    desenhando: “pró-PT” significa qualquer outro Lula em atividade nos blogs

  5. Nassif brilhante

    Fico com a impressão que o Nassif sabe muito mais o que está acontecendo que o Alencastro. Este é bem articulado com as palavras, mas de novo, de informação relevante, na minha opinião, não acrescentou nada ao que é discutido há anos aqui no blog. 

    Muito pelo contrário, parece que ele engole o que se fala aqui  com o anzol, a linha e a vara.

    Vai um alerta, o mundo mudou, a tecnologia, tanto na parte de hard, como de soft, com o blockchain e a Inteligência artificial possibilita a humanidade a construir uma civilização de segunda ordem frente a que existe hoje, o ganho de qualidade para os povos e as nações é avassalador, o Brasil está ficando para trás e deixa mais uma vez escapar a chance de um aggiornamento de suas instituições.

    No mais o Nassif parece saber muito mais sobre o assunto do que o entrevistado, estes especialistas Nassif, estão devendo. A situação ficou muito complexa e poucos como nós aqui que acompanhamos no dia a dia o desenrolar dos fatos têm a capacidade, o tempo e o talento para realmente entender o que acontece.

    Vou puxar a sardinha para o meu lado, me leiam rsrsrsrsrsrsrs…..

  6. Não esqueçam de algo.

    Não esqueçam de algo. O interesse dos grupos de mídia ao cutucar Temer pode ser a pura e simples obtenção de uma – nova – bolsa-mídia, conforme cita Nassif logo no primeiro parágrafo. Vejam mesmo a avidez com que a Folha de São Paulo divulgou que Temer não estava mais colocando dinheiro em canais de comunicação não alinhados com ele. Tudo pode simplesmente estar restrito. Abril, Folha, Estadão, Globo etc. pressionam, recebem seu dinheiro, e Temer passa a ser visto como o estadista que deu o pontapé inicial numa nova república, com direito a capas elogiosas, Marcela Temer na Caras (ou mesmo numa rediviva Playboy) e pronto, tudo resolvido.

    Não daria por certo que há interesse midiático na queda de Michel Temer; certo é que a imprensa gosta de dinheiro fácil, o público! Porque vender revista, jornal e outros pergaminhos anda cada vez mais difícil!

  7. Tem cada uma!

    A tática serve à estratégia, não o contrário. Do ponto de vista da legalidade, a crise política em cujo bojo se deu o golpe de Estado não pode piorar. A falácia de que a queda de Temer agravaria a crise política enseja duas perguntas: agravaria para quem, cara pálida? Como retomar o caminho da legalidade sem depor Temer?

    Esses “pensadores” são tão “sofisticados” (ou covardes) que perdem de vista o norte das coisas. Lamentável.

  8. Vale a pena ler “Os riscos do vice-presidencialismo” de LFdeA 2

     

    Luis Nassif,

    Ontem, junto ao post “Sala de visitas recebe Felipe de Alencastro, Negão Almeida e Antonio Nóbrega”, de quarta-feira, 28/09/2016 às 17:53, eu enviei um comentário ao qual eu dei o mesmo título que eu dou a esse e torno a o reproduzir a seguir:

    “Vale a pena ler “Os riscos do vice-presidencialismo” de Luiz Felipe de Alencastro”

    Dado o adiantado da hora quando enviei o comentário ele acabou saindo hoje, sábado, 01/10/2016 às 00:55, e nele eu digo o seguinte:

    – – – – – – – – – – – – – – – – – – – – – – – – –

    Visitantes,

    Os artigos de Luiz Felipe de Alencastro são em geral muito bons, mas o mais pertinente artigo dele para o momento atual e que deve vir a ser um clássico é “Os riscos do vice-presidencialismo” publicado na Folha de S. Paulo, de domingo, 25/10/2009 e em boa hora lembrado por ele em comentário que ele enviou sexta-feira, 07/08/2015 às 23:56 para o post “O raio X da política e o fator Temer” de sexta-feira, 07/08/2015 às 19:45, aqui no blog de Luis Nassif e de autoria dele e que pode ser visto no seguinte endereço:

    https://jornalggn.com.br/noticia/o-raio-x-da-politica-e-o-fator-temer

    O comentário de Luiz Felipe de Alencastro e que ele intitulou “O desequilíbrio entre Dilma e Temer comentado há 5 anos” consiste além do título apenas do link para o artigo dele na Folha de S. Paulo. O link é o que se segue:

    http://www1.folha.uol.com.br/fsp/opiniao/fz2510200908.htm

    O comentário de Luiz Felipe de Alencastro consistindo apenas do título e da chamada para o artigo, saiu no ano passado e já havia então 6 anos da publicação e não cinco como ele diz no título.

    E para reforçar o comentário de Luiz Felipe de Alencastro que apresentava uma crítica a falta de convivência e experiência com a prática política da ex-presidenta à custa do golpe, Dilma Rousseff, eu transcrevi em um comentário que eu enviei sábado, 08/08/2015 às 11:39, junto ao comentário de Luiz Felipe de Alencastro enviado sexta-feira, 07/08/2015 às 23:56, um comentário de Marco Antonio Castello Branco e que era bastante crítico nesse plano político da falta de vivência da presidenta Dilma Rousseff, embora ele fizesse uma abordagem com enfoque diferente do Luiz Felipe de Alencastro.

    O comentário de Marco Antonio Castello Branco foi publicado junto ao post “Para entender o desgaste do governo Dilma” de segunda-feira, 16/06/2014 às 16:47, publicado aqui no blog de Luis Nassif e de autoria dele e que pode ser visto no seguinte endereço:

    https://jornalggn.com.br/noticia/para-entender-o-desgaste-do-governo-dilma

    Enfim tanto o artigo de Luiz Felipe de Alencastro como o comentário de Marco Antonio Castello Branco servem bastante para a compreensão das falhas [no aspecto político] e das qualidades [Eu passei batido quando escrevi o comentário e deixei a expressão “das qualidades” que não deveria fazer parte da frase] da ex-presidenta à custa do golpe, Dilma Rousseff, no que diz respeito à atividade política. E o artigo de Luiz Felipe de Alencastro, pelo caráter profético que ele adquiriu, acabou tornando-se um clássico.

    – – – – – – – – – – – – – – – – – – – – – – – – – –

    Fiz um acréscimo que coloquei entre colchetes no texto do comentário transcrito para deixar explicitado que o termo “qualidades” apareceu por descuido meu. Talvez originariamente eu quisesse dar a entender que o que para Marco Antonio Castello Branco, para Luiz Felipe de Alencastro e para mim era considerado defeitos para muitos erta tomado como qualidade. Por exemplo, para Marco Antonio Castello Branco, e para mim, o defeito da ex-presidenta à custa do golpe, Dilma Rousseff era privilegiar o técnico em detrimento do político. Para muita gente isso é qualidade.

    O endereço do post “Sala de visitas recebe Felipe de Alencastro, Negão Almeida e Antonio Nóbrega” é:

    https://jornalggn.com.br/noticia/sala-de-visitas-recebe-felipe-de-alencastro-negao-almeida-e-antonio-nobrega

    Em geral eu concordo com as opiniões de Luiz Felipe Alencastro, mas mesmo no caso do artigo “Os riscos do vice-presidencialismo” que ficou profético eu ainda assim gosto de trazer à baila alguns contrapontos.

    Aqui concordo com a crítica que ele faz a Fernando Henrique Cardoso e não só por isso, mas pela natureza da Lei do Impeachment eu me permito considerar que não houve à luz da Constituição o crime de responsabilidade e nesse caso considero que o impeachment é golpe. Aliás consideraria como golpe ainda que, em um entendimento bem amplo do que se poderia considerar crime de responsabilidade, os atos de Dilma Rousseff fossem indubitavelmente considerados como crime. Esse meu entendimento decorre do fato de que o que é ou não golpe é um conceito subjetivo uma vez que ele não está objetivamente definido.

    E era com base na legalidade ou legitimidade do governo da ex-presidenta à custa do golpe, Dilma Rousseff, que eu considerava um golpe a catilinária ou cantilena do “Fora Dilma”.

    Agora não acho válido alegar em defesa da presidenta Dilma Rousseff a justificativa de que outros chefes de executivo cometeram atos semelhantes. O impeachment é um procedimento político em que uma pessoa culpada pode ser inocentada. O que me parece inconstitucional é um inocente ser considerado culpado.

    E mais, mesmo que eu considere o impeachment um golpe, não concordo com o argumento de que o presidente agora em definitivo à custa do golpe, Michel Temer, que para mim é um golpista, não tenha o amparo da legitimidade e da legalidade, salvo, é claro, se o STF considerar que o impeachment foi inconstitucional. É com base nisso que eu sou contra o “Fora Temer”. É claro que tanto o “Fora Dilma” como o “Fora Temer” são slogans políticos, inseridos na prática democrática, e que não podem ser proibidos nem policialmente reprimidos.

    Outro ponto com o qual concordo diz respeito a avaliação que ele faz sobre a possibilidade de as atuais decisões acabarem criando uma jurisprudência. E uma jurisprudência aparentemente perigosa. Será uma jurisprudência do desequilíbrio e da instabilidade.

    E o que é mais importante nessa análise de Luiz Felipe de Alencastro é que ela é contrária a idéia de xadrez estratégico que tem sido um seu mote na análise dos procedimentos da operação Lava Jato. A ideia que Luiz Felipe de Alencastro esposa está presente na frase transcrita a seguir:

    “Eu acho que há um problema aí de assanhamento judiciário muito mais do que uma estratégia coordenada e isso já já vai começar a ter esse curto-circuito no meio jurídico, propriamente dito”.

    Em minha avaliação todos eles, partícipes da operação Lava-Jato, não possuem a inteligência que se tenta fazer crer que eles tenham. Vai chegar um ponto em que eles vão se encalacrar. Aliás, em minha avaliação, a Operação Lava Jato tem feito intervenções que abalam ou mexem com a República, com o processo democrático eleitoral e que, portanto, ao fim de tudo eles podem todos, delegados, procuradores da República, juízes e mesmos os delatores serem acusados de crime contra a República.

    Clever Mendes de Oliveira

    BH, 01/09/2016

    1. O título do post não condiz com a entrevista de L. F. de A.

       

      Luis Nassif,

      O título deste post tinha chamado a minha atenção. Pareceu-me uma conclusão tirada da entrevista de Luiz Felipe de Alencastro, com quem eu normalmente concordo. Só que eu considerei o título uma afirmação temerária, sem fundamentação lógica que pudesse garantir ao título um mínimo de justificativa. Assim, como eu não concordasse com o título, eu procurei ler o artigo para encontrar a justificativa que Luiz Felipe de Alencastro apresentava para essa conclusão expressa no título deste post “Queda de Temer pode levar a um aprofundamento da crise política” de sexta-feira, 30/09/2016 às 18:56.

      Li o post e esqueci do título e pensei em trazer o comentário que eu já havia enviado para o post “Sala de visitas recebe Felipe de Alencastro, Negão Almeida e Antonio Nóbrega” e acrescentar uma ou outra observação. Copiei e colei o meu comentário enviado para o post “Sala de vistitas recebe Felipe de Alencastro, Negão Almeida e Antonio Nóbrega” e fiz algumas observações complementares. Enviei o meu comentário e quando acabei de o enviar, o título do post voltou a aparecer para mim: “Queda de Temer pode levar a um aprofundamento da crise política”. E eu logo lembrei que tinha esquecido de dizer algo sobre o título. Não tive tempo desde então, mas o pouco tempo que eu encontrei agora, eu aproveito para fazer o meu contraponto à escolha do título deste post.

      Primeiro reconheço que o post “Queda de Temer pode levar a um aprofundamento da crise política” não é de sua autoria e provavelmente não é de sua autoria o título dado. Faço, entretanto, a você esse reparo sobre o título porque imagino que seja até do seu interesse não só que você seja bem interpretado por seus leitores e que também os seus entrevistados possam ser também bem interpretados.

      E recapitulando o que foi dito na entrevista que guarda relação com o título eu sou tentado a reproduzir trecho composto por uma pergunta sua e a resposta de Luiz Felipe de Alencastro que parece justificar o título.

      Você pergunta:

      “E se ele cai pode ser um aprofundamento da repressão”?

      E o Luiz Felipe de Alencastro responde:

      “Aí sim. Não tenho dúvida”.

      O título não é propriamente uma conclusão de Luiz Felipe de Alencastro, mas sua e a sua pergunta não se refere aoi aprofundamento da crise política, mas o aprofundamento da recessão.

      E mais importante, há uma argumentação prévia de Luiz Felipe de Alencastro que não parece levar à pergunta que você formulou. Em resposta a outra pergunta sua em que você faz a seguinte afirmação: “Hoje a gente está vendo o Poder Judiciário, na Lava Jato, uma onda fascista atemorizante.”, Luiz Felipe de Alencastro procurou reduzir a dimensão disso chamando o que você considerava uma onda fascista atemorizante apenas de “assanhamento judiciário muito mais do que uma estratégia coordenada”. Trecho que por sinal eu abordei favoravelmente ao entendimento de Luiz Felipe de Alencastro em meu comentário anterior.

      Então vem a sua questão seguinte em que você dá continuidade ao problema da onda com a seguinte afirmação que nem chega a ser um questionamento (Como transcrevo toda a sua questão, deixo-a em negrito tal como o Jornal GGN fizera – eu ia dizer você fizera, quando lembrei que o post é do Jornal GGN):

      “Tenho conversando com algumas pessoas nessa área, no meio jurídico, advogados, a própria OAB Nacional se colocou a favor dessa onda, Ministério Público você tem os críticos, mas que não tem coragem de se apresentar”.

      A questão em tom afirmativo não ficou bem construída. Deveria ter o artigo definido “o”, antes do Ministério Público, uma vírgula após Ministério Público e em seguida etc. Seria exemplos dos que ficaram a favor da onda: advogados, a própria OAB Nacional, o Ministério Público e outros. E então a frase seguinte deveria iniciar com maiúscula e ficaria assim:

      “Você tem os críticos, mas que não tem coragem de se apresentar”.

      A resposta de Luiz Felipe de Alencastro é de quem não vai na onda. Para ele as coisas vão se contemporizando. Para Luiz Felipe de Alencastro, o governo reage aqui e ali, dentro do próprio modelo de reação do PMDB e acrescenta:

      “Então eu acho que temos uma etapa ainda que há que se observar nessa crise, que é se o PMDB vai até 2018 ou se cai ali na frente em dezembro e aí tem uma eleição indireta e pode ser qualquer um eu, você, Fernando Henrique ou um bispo…”

      Só que você não dá por vencido e vem com a pergunta que justificou o título, mas que não é uma conclusão de Luiz Felipe de Alencastro. A sua pergunta que eu já reproduzi acima e a seguinte (E de novo ponho a sua pergunta em negrito):

      “E se ele cai pode ser um aprofundamento da repressão”.

      Então considero que na entrevista de Luiz Felipe de Alencastro não há justificativa para o título deste post “Queda de Temer pode levar a um aprofundamento da crise política” o que reduz a diferença de entendimento que eu tenho com o historiador. E o Jornal GGN bem merecia um puxão de orelha.

      O que me parece e esse é um entendimento que também me parece que é o entendimento de Luiz Felipe de Alencastro é que o presidente agora definitivo à custa do golpe Michel Temer só cai se quiser. E caso ele caia, tem-se apenas a continuidade do golpe e que é a implantação do parlamentarismo, Aliás, esse entendimento está de acordo com o artigo “O desequilíbrio entre Dilma e Temer comentado há 5 anos” a que me referir em meu comentário anterior e que ele escreveu há quase sete anos.

      Clever Mendes de Oliveira

      BH, 02/10/2016

  9. O contra golpe com o parlamentarismo golpista vem a cavalo

    O plano do Artigo 81 da Constituição Federal em vigor, está em curso e acelerando. O script do golpe segue rumo ao “parlamentarismo golpista à brasileira” a passos largos. O objetivo é colocar o Aécio neves do PSDB na presidência da República, via eleição indireta no Congresso Nacional golpista.

  10. Seja o que vier, não vai ser muito bom

    Se a queda de Temer nos levar para um estado mais autoritario, podera ser ai que parte da sociedade, que não coaduna com o estado tatalitario, ira finalmente entender onde foram se meter ? Não tenho nenhuma pena de Temer, deu um golpe e traiu sua companheira. Normalmente os traidores são traidos por aqueles que lhe ajudram a trair, é historico.

  11. Dória nada! Sr. Indiferença e lobbies vencem eleições de2016

    >> Que Dória que nada! Sr. Indiferença e lobbies vencem eleições de 2016, por Romulus

     

     ROMULUS

     SEG, 03/10/2016 – 13:02

    Que Dória que nada! Sr. Indiferença e lobbies vencem eleições de 2016

    Por Romulus

    (I). Centros e grotões

    No Facebook o amigo Ciro d’Araújo constata:

    “Eleição do Rio ganhou o não votar. Abstenção foi maior do que a votação do Crivella. Depois disso veio brancos e nulos, que somaram mais votos que o Freixo”.

    Sim, no Rio… uma das cidades mais politizadas do Brasil, que tantas vitorias deu a Brizola e a Lula (inclusive em 89). Dois líderes do campo popular que ousaram ciscar ali… no terreiro da Globo.

    Em São Paulo não foi diferente: o candidato “Sr. Indiferença” – a soma de abstenção + votos brancos + votos nulos – ganhou a eleição para prefeitura. Ou melhor, “no tapetão” da lei eleitoral, acabou perdendo para o segundo colocado: João Dória. O tucano teve mais de 10 mil votos a menos que o “Sr. Indiferença”.

    Se em São Paulo e no Rio foi assim, imaginem-se os números nos “grotões” – expressão pejorativa infeliz, aliás… celebrizada por colunistas políticos da grande mídia do eixo…

    – … Rio-São Paulo!

    Mais humildade, colunistas das metrópoles…

    Aliás, diante de tal grau de alienação, será ainda adequada essa dicotomização geográfica do voto? Pode-se ainda falar em “grandes centros” e “metrópoles” vs. “grotões”?

    Bem, se os colunistas tiverem apego e quiserem continuar usando a expressão preconceituosa para com os interiores, melhor seria generalizar então a sua abrangência: falemos agora de “grandes grotões” vs. “pequenos grotões”… ou “grotões centrais” vs. “grotões periféricos”…

    Que tal?

    O que preferirem, Srs. colunistas. Sintam-se à vontade: não cobro royalties.

    *

    (II). Critério democrático

    Creio ser mais democrático esse uso generalizado da expressão, não?

    Se bem que… “mais democrático”? Critério um tanto démodé no Brasil de 2016, não? Há até quem o considere subversivo, ora vejam! Bem, melhor deixar a discussão terminológica de lado e seguir adiante na análise, antes que me acusem de saudosista. Ou pior: de “viúva da Constituição”… ou de “viúva da democracia”!

    Tempos brabos! Vai que um japonês “da Federal” – usando tornoseleira eletrônica (!) – bate na minha porta às 6 da manhã e me conduz coercitivamente. Para ser então perguntado, inquisitorialmente:

    – Que tal “democracia” é essa, elemento?
    – Caaaalma, Sr. Juiz! Não precisa de prisão preventiva para arrancar minha delação. Eu falo da democracia livremente: cresci nos anos 80, ouvindo falar muito dessa tal. Costumavam dizer que era “incipiente”… “imatura”… e que precisava ser “aprofundada”. Falavam isso certamente baseados na crença (excessiva?) no processo civilizatório. Na certeza de que esse não anda para trás… acreditavam no tal do “progresso” da bandeira, sabe? Ora, que nada! A tal da “incipiente”, “imatura” e “superficial” morreu ainda menina… assim, virou anjinho! Uma hora bateu suas asinhas e foi-se embora destas paragens…
    – Ah, foi-se embora, elemento? Para onde?
    – Difícil precisar, Sr. Juíz… anda muito discreta hoje em dia: Trump nos EUA, Le Pen na França, Brexit xenófobo no Reino Unido, “não” à paz na Colômbia…
    – E quando é que ela volta para o Brasil, elemento?
    – …

    *

    (III). Como chegamos aqui (1)

    A demonização da política logra pouco a pouco o seu intento: um grau ainda maior da já alarmante alienação da população brasileira, alheia a tudo e a todos nas instâncias do poder.

    A população está:

    (i) Saturada da política e dos políticos, todos “farinha do mesmo saco”; e portanto…
    (ii) dessensibilizada/anestesiada diante dos sucessivos fatos políticos; e portanto…
    (iii) indiferente, cínica.

    – Tanto faz como tanto fez…

    *

    (IV). Patrimonialismo versão millennial

    E assim, sem o contrapeso mínimo das urnas – magrinhas, magrinhas, coitadas… – e de bases eleitorais atentas, ativas e mobilizadas, fica mais fácil ainda impor a agenda dos lobbies dos diversos setores da economia em prejuízo do todo da sociedade. Trata-se da versão millennial do velhíssimo patrimonialismo… lá do Weber e do Raimundo Faoro, lembram?

    Se o Estado mínimo e a “privataria” não passam no teste das urnas, dá-se golpe, todos (já) sabemos.

    Mas isso não significa que antes, durante e depois do golpe não se possa aproveitar a estrutura existente do Estado em favor de certos interesses particulares, não é mesmo?

    (a) Como?
    – Com a autoridade devidamente “capturada” pelos lobbies (regulatory capture).

    (b) O entrave:
    – O poder político… “essa gente” eleita que “não entende nada da parte técnica”, escolhida de 4 em 4 anos por “gente que entende menos ainda!”. Imaginem: a maioria deles não tem nível superior, não passou por disputados concursos, não tem pós-graduação no exterior… sequer frequenta colóquios bacanas dos stakeholdes todo mês, ora!

    (c) A solução:
    – A busca cada vez maior de independência – em face desse tal “poder político” – dos órgãos do Estado judicantes, com poder de polícia e reguladores.

    Notem que “coincidência”:
    – Não parece muito mais fácil implementar essa agenda independentista num contexto de (i) desgaste da classe política, (ii) vácuo de poder, (iii) déficit de representação e (iv) cinismo da população, culminando numa democracia sem vigor, abatida pela indiferença e caracterizada por baixas taxas de votação?

    Evidente que sim!

    Resistir à sanha independentista quem haverá de?

    (d) Exemplo de captura?
    – A famosa porta-giratória (revolving door), que faz o diretor do Banco Itaú (e antes desse o do Bank Boston e antes desse o do George Soros e antes desse…) virar Presidente do Banco Central do Brasil. Apenas para amanhã voltar ao Itaú (e congêneres…) com o passe ainda mais valorizado.

    (e) Sonho de consumo dos independentistas?
    Escrever “em pedra” a pretendida independência diante da sociedade e de seus representantes eleitos.

    Como?
    Com leis de boa governança que consagrem essa “independência” – aliás, “boa governança” segundo quem mesmo, hein?

    Mandatos fixos de diretores e presidentes… indemissíveis pelo poder político…

    – Oh, glória!

    Sim, “independência”…

    Mas, impertinente que sou, ouso perguntar:

    – “Independência” de quem, cara-pálida? Do Itaú – da ida e da volta da porta-giratória – é que não haverá de ser, não é mesmo?

    O Banco Central é apenas o exemplo mais evidente, em um Estado cuja metade do orçamento foi capturada por rentistas. Mas isso se repete em todos os segmentos econômicos regulados pelo Estado: CVM, CADE, SUSEP, ANVISA, ANP, ANA, ANAC, ANTAQ, ANATEL, ANEEL, ANS, ANTT… ou nos segmentos em que o Estado atua através de estatais (Petrobras, BB, CEF, Eletrobrás…).

    E não apenas…

    O Supremo não autorizou juízes (!) a embolsar cachês pagos por palestras sem que o seu valor tenha de ser tornado público? Aliás, bota – caché – nisso… nunca uma denominação foi tão adequada!

    Para além de “cachês” – escondidos – por “palestras”, que dizer de cursos no exterior pagos por “terceiros generosos” (quem?)? Dentre os quais até mesmo interesses estrangeiros, incluindo governos que não o nosso?

    Algo a ver com essas observações aterradoras do Miguel do Rosário, no Blog do Cafezinho?

    – Captura do regulador?
    – Conflito de interesse?
    – Risco moral do regulado (moral hazard)?
    – Abuso de poder de mercado dos regulados?
    – Ineficiência do mercado viciado?
    – Busca de renda por quem é “amigo do rei” (rent seeking)?

    Será tudo isso preocupação de marxista radical?

    Ou até de quem leu os manuais de Economia (bastante) ortodoxos e que crê – de coração – no capitalismo?

    Digo, o capitalismo verdadeiro: com seus “mercados competitivos”, livre entrada de novos competidores e livre saída de empresas ineficientes.

    Está aí a telefônica “Oi” para não nos deixar esquecer de como o “capitalismo” (entre aspas mesmo) e seus “riscos” (novas aspas…) “funcionam” (mais ainda…) no Brasil.

    E isso não é tudo:

    Trata-se apenas de uma das modalidades de captura das autoridades, na classificação proposta por Engstrom. No caso, a captura material. Além (a) da porta giratória e (b) da propina, essa modalidade engloba também (c) os “célebres” financiamentos de campanha e (d) a ameaça de boicote econômico-financeiro ao Estado em caso de “desacordo” com o lobby.

    Soa familiar?

    Pois é…

    Segundo o autor, todas essas sub-modalidades equivalem em alguma medida a corrupção política. Ou melhor: corrupção da política.

    Já a captura não material é mais sofisticada: pode ser também denominada “captura cognitiva” ou “cultural”, na qual o regulador – e/ou o juiz e/ou o procurador! – começam a pensar da mesma maneira que o lobby!

    – “Lobby”?
    – Seria esse apenas o privado?
    – Por que não se incluiriam aí também governos estrangeiros?
    – Ou terceiros “generosos” querendo iluminar o pobre Brasil de sabedoria?

    A assimilação da catequese advém (i) da proximidade (indevida?) entre lobby e autoridades; bem como (ii) da embalagem bonita do “presente” que “generosamente” é dado.

    – Aliás, “presente”… será presente de grego a troianos ávidos e ambiciosos?
    – Troianos antes circunscritos por uma fronteira, digo, muralha, que impedia o ato de generosidade de se realizar?
    – Hmmm…

    Saga homérica ou não, chega-se finalmente ao ponto em que as autoridades são pautadas – agora já involuntariamente, na fronteira entre o seu consciente e inconsciente – pelo lobby catequizador.

    Exemplo 1:
    O lobby já entrega o trabalho pronto – bonitinho e até com grife de banca chique! Assim, como não haverá de prevalecer a lei do menor esforço, tão bem resumida por dois comandos: “Ctrl + C” / “Ctrl + V”?

    Algo a ver?

    E aqui?

    Exemplo 2:
    Em tática mais sofisticada ainda, e de longo prazo, o lobby, através do financiamento de pesquisas, colóquios entre pares e lisonjas – tais como premiações – consegue estabelecer – não a sofridas marretadas mas a deleitáveis queijos, vinhos e “verdinhas” – o “consenso científico” em determinado domínio técnico.

    Mas notem bem: não qualquer consenso científico, aleatório… trata-se de um consenso científico específico: aquele que o lobby tem por “certo”… aquele para chamar de seu.

    Aliás, como acadêmico não posso deixar de me perguntar:
    – Se o ponto de chegada já é pré-estabelecido na saída, há que se falar ainda em “cientificidade” para esse “consenso” (olha as aspas aí de novo…).

    Pois é… também digo que não.

    A maneira como o credo neoliberal impregnou – mediante generosos financiamentos – os maiores centros do conhecimento econômico, do final dos anos 70 até a primeira década do século XXI, é o exemplo de manual (textbook case) dessa tese.

    Para quem comungava do credo: dinheiro, fama e glória.
    Para quem o criticava: penúria, opróbio e ridicularização.

    Fácil chegar a um “consenso” (aspas) “científico” (de novo…) assim, não é mesmo?

    Foi preciso a maior crise econômica e a maior recessão desde os anos 30 para que esse “santo graal” caísse no chão e se estilhaçasse. Mas não sem deixar profetas atrasados na Periferia do mundo, ignorantes da (nova) “Boa Nova” do Centro.
    [Ver “Trem-bala para o abismo – a política econômica da recessão, de André Araújo, aqui no GGN]

    Lisonjas… lobby… captura não material… corrupção da política…

    Algo a ver?

    (exemplos – infelizmente – não exaustivos)

    *

    (V). Como chegamos aqui (2): correias de transmissão

    Voltando ao início do artigo, falávamos de:

    (i) Saturação com a política e com os políticos; e portanto…
    (ii) dessensibilização/anestesia; e portanto…
    (iii) indiferença, cinismo, que levou a…
    – Número recorde de abstenções, votos brancos e nulos. O tal “tanto faz como tanto fez”…

    Mas atenção para as correias de transmissão que nos trouxeram até aqui:

    (a) Noticiário mundo-cão na (e da) política na grande mídia; e portanto…
    (b) Demonização da política em geral e de certas forças políticas e certas correntes de pensamento em particular; e portanto…
    (c) Dessensibilização / indiferença, desprezo e cinismo; e portanto…
    (c) Alta taxa de abstenção e de votos brancos e nulos; o que reflete…
    (d) “Bases” (com aspas…) eleitorais alienadas, indiferentes, e políticos eleitos fracos, sem o respaldo de urnas “gordas”; o que cria um vácuo de poder suscetível à…
    (e) Busca de independência das autoridades não eleitas.

    I.e., “independência” do poder político, bem entendido! Não do segmento econômico regulado e de “terceiros generosos”, no Brasil ou fora dele.

    – E quem é que fornece a graxa que faz as polias da grande mídia girarem, girarem e girarem…? Mídia que: (1) produz o noticiário mundo-cão da política; e (2) vende aqueles tais “consensos” (aspas) “científicos” (de novo…) como “a verdade revelada”?

    Ora, quem fornece a graxa à mídia são eles mesmos: os lobbies!

    Atenção para o “plim-plim”! Num oferecimento de Itaú, Bradesco, Vale, Ambev, seguradoras, indústria farmacêutica, Shell, Gol/Tam, Vivo/Claro…

    E assim se fecha o círculo de captura das autoridades não-eleitas pelos lobbies, que passam a buscar independência do poder político para melhor corresponder às expectativas dos patrocinadores. E por que não dizer captura também do eleitorado, nesse caso por omissão (induzida)?

    O resultado – de hoje – está aí embaixo, descrito pelo amigo Ciro.

    Urnas vazias… cinismo e indiferença… demonização da política… lobbies… captura das autoridades e dos eleitores… tudo isso num círculo infernal.

    Nada é “coincidência”.

    E as correias de transmissão de que falamos seguiram rodando enquanto você lia este texto.

    Como perguntei acima: resistir quem haverá de?

    *   *   *

    Da série “quer que eu desenhe?”

    *   *   *

    Rapidinha: o temor que a direita tem de Dilma enquanto mito político em construção

    Presidenta Dilma vota em Porto Alegre. Apoiadores e imprensa são impedidos pela Justiça e pela truculência da Brigada Militar de registrar o momento do seu voto.

    O que temem tanto?

    [video:https://youtu.be/8hRnuB5I1uY%5D

    Entenda:

    “Temer, o PSDB, aliados – e Marina! – terão de aceitar: Dilma continuará sua trajetória rumo a construção de um mito político.
    Que ironia!
    Mas nada original:
    Não foi o julgamento injusto e a pena de morte que tornaram Sócrates maior como figura?
    Sem entrar em debate teológico / histórico: não foi o julgamento injusto e o sacrifício de Jesus de Nazaré (Deus e/ou homem) que fundou uma fé?
    Pois é…
    O mito do homem (e da mulher!) justo, injustiçado por poderes corrompidos ou por uma democracia já degenerada pela demagogia, cala fundo na psique humana. Existe desde que o mundo é mundo.
    No golpe contra Dilma Rousseff de 2016 temos os dois: poderes corrompidos aliando-se a demagogos (i) nas corporações do Estado – STF/Justiça, PGR/Janot, PF; (ii) nos grandes grupos de imprensa familiar; e (iii) nas instituições da sociedade civil organizada – OAB, FIESP, CNA, FEBRABAN, igrejas, etc., para julgar – e condenar! – alguém unanimemente reconhecida como justa.
    Dessa perspectiva, os algozes de Dilma “fizeram a sua fama”. Da mesma forma que, a seu tempo, o Sinédrio e os Romanos – secundados também por populares em frenesi, não é mesmo? – aumentaram a de Jesus de Nazaré, homem e/ou Deus. E ainda, o tribunal popular ateniense aumentou a dimensão da figura do filósofo Sócrates, ao condená-lo de forma iníqua à morte por envenenamento com cicuta.
    Quantos outros exemplos não haverá desse mito?
    Joana D’Arc queimada na fogueira da inquisição, Tiradentes enforcado e esquartejado como bode expiatório, Dreyfus, vítima do antissemitismo e de uma armação, o suicídio de Vargas, instado pelas mesmas forças que agora golpearam, novamente, a democracia no Brasil…
    Deve-se ter cuidado ao brincar de feiticeiro. O caldeirão pode transbordar e queimar quem se supunha mais esperto do que de fato era.
    Como disse uma certa justa tratada com iniquidade atroz:
    – A vida é dura, Senador!”

    *   *   *

    (i) Acompanhe-me no Facebook:

    Romulus e Maya Vermelha, a Chihuahua socialista

    (perfil que divido com a minha brava e fiel escudeirinha)

    *

    (ii) No Twitter:

    @rommulus_

    *

    (iii) E, claro, aqui no GGN: Blog de Romulus

    *

    Quando perguntei, uma deputada suíça se definiu em um jantar como “uma esquerdista que sabe fazer conta”. Poucas palavras que dizem bastante coisa. Adotei para mim também.

  12. Eleições.

    Não sei onde essa grande vitória da extrema direita: Em Fortaleza, psdb, 1 vereador, pmdb, 1 vereador, dem, passou batido. Só quem elegeu foi o pdt, mas, não conto como voto de partido. Logo que o prefeito eleito levantar acampamento, vai todo mundo com ele. É só estudar a trajetória política dos Ferreira Gomes(Ciro-Cid).

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