Que Dória que nada! Sr. Indiferença e lobbies vencem eleições de 2016, por Romulus

Que Dória que nada! Sr. Indiferença e lobbies vencem eleições de 2016

Por Romulus

(I). Centros e grotões

No Facebook o amigo Ciro d’Araújo constata:

“Eleição do Rio ganhou o não votar. Abstenção foi maior do que a votação do Crivella. Depois disso veio brancos e nulos, que somaram mais votos que o Freixo”.

Sim, no Rio… uma das cidades mais politizadas do Brasil, que tantas vitorias deu a Brizola e a Lula (inclusive em 89). Dois líderes do campo popular que ousaram ciscar ali… no terreiro da Globo.

Em São Paulo não foi diferente: o candidato “Sr. Indiferença” – a soma de abstenção + votos brancos + votos nulos – ganhou a eleição para prefeitura. Ou melhor, “no tapetão” da lei eleitoral, acabou perdendo para o segundo colocado: João Dória. O tucano teve mais de 10 mil votos a menos que o “Sr. Indiferença”.

Se em São Paulo e no Rio (e também em Belo Horizonte!) foi assim, imaginem-se os números nos “grotões” – expressão pejorativa infeliz, aliás… celebrizada por colunistas políticos da grande mídia do eixo…

– … Rio-São Paulo!

Mais humildade, colunistas das metrópoles…

Aliás, diante de tal grau de alienação, será ainda adequada essa dicotomização geográfica do voto? Pode-se ainda falar em “grandes centros” e “metrópoles” vs. “grotões”?

Bem, se os colunistas tiverem apego e quiserem continuar usando a expressão preconceituosa para com os interiores, melhor seria generalizar então a sua abrangência: falemos agora de “grandes grotões” vs. “pequenos grotões”… ou “grotões centrais” vs. “grotões periféricos”…

Que tal?

O que preferirem, Srs. colunistas. Sintam-se à vontade: não cobro royalties.

*

(II). Critério democrático

Creio ser mais democrático esse uso generalizado da expressão, não?

Se bem que… “mais democrático”? Critério um tanto démodé no Brasil de 2016, não? Há até quem o considere subversivo, ora vejam! Bem, melhor deixar a discussão terminológica de lado e seguir adiante na análise, antes que me acusem de saudosista. Ou pior: de “viúva da Constituição”… ou de “viúva da democracia”!

Tempos brabos! Vai que um japonês “da Federal” – usando tornoseleira eletrônica (!) – bate na minha porta às 6 da manhã e me conduz coercitivamente. Para ser então perguntado, inquisitorialmente:

– Que tal “democracia” é essa, elemento?
– Caaaalma, Sr. Juiz! Não precisa de prisão preventiva para arrancar minha delação. Eu falo da democracia livremente: cresci nos anos 80, ouvindo falar muito dessa tal. Costumavam dizer que era “incipiente”… “imatura”… e que precisava ser “aprofundada”. Falavam isso certamente baseados na crença (excessiva?) no processo civilizatório. Na certeza de que esse não anda para trás… acreditavam no tal do “progresso” da bandeira, sabe? Ora, que nada! A tal da “incipiente”, “imatura” e “superficial” morreu ainda menina… assim, virou anjinho! Uma hora bateu suas asinhas e foi-se embora destas paragens…
– Ah, foi-se embora, elemento? Para onde?
– Difícil precisar, Sr. Juíz… anda muito discreta hoje em dia: Trump nos EUA, Le Pen na França, Brexit xenófobo no Reino Unido, “não” à paz na Colômbia…
– E quando é que ela volta para o Brasil, elemento?
– …

*

(III). Como chegamos aqui (1)

A demonização da política logra pouco a pouco o seu intento: um grau ainda maior da já alarmante alienação da população brasileira, alheia a tudo e a todos nas instâncias do poder.

A população está:

(i) Saturada da política e dos políticos, todos “farinha do mesmo saco”; e portanto…
(ii) dessensibilizada/anestesiada diante dos sucessivos fatos políticos; e portanto…
(iii) indiferente, cínica.

– Tanto faz como tanto fez…

*

(IV). Patrimonialismo versão millennial

E assim, sem o contrapeso mínimo das urnas – magrinhas, magrinhas, coitadas… – e de bases eleitorais atentas, ativas e mobilizadas, fica mais fácil ainda impor a agenda dos lobbies dos diversos setores da economia em prejuízo do todo da sociedade. Trata-se da versão millennial do velhíssimo patrimonialismo… lá do Weber e do Raimundo Faoro, lembram?

Se o Estado mínimo e a “privataria” não passam no teste das urnas, dá-se golpe, todos (já) sabemos.

Mas isso não significa que antes, durante e depois do golpe não se possa aproveitar a estrutura existente do Estado em favor de certos interesses particulares, não é mesmo?

(a) Como?
– Com a autoridade devidamente “capturada” pelos lobbies (regulatory capture).

(b) O entrave:
– O poder político… “essa gente” eleita que “não entende nada da parte técnica”, escolhida de 4 em 4 anos por “gente que entende menos ainda!”. Imaginem: a maioria deles não tem nível superior, não passou por disputados concursos, não tem pós-graduação no exterior… sequer frequenta colóquios bacanas dos stakeholdes todo mês, ora!

(c) A solução:
– A busca cada vez maior de independência – em face desse tal “poder político” – dos órgãos do Estado judicantes, com poder de polícia e reguladores.

Notem que “coincidência”:
– Não parece muito mais fácil implementar essa agenda independentista num contexto de (i) desgaste da classe política, (ii) vácuo de poder, (iii) déficit de representação e (iv) cinismo da população, culminando numa democracia sem vigor, abatida pela indiferença e caracterizada por baixas taxas de votação?

Evidente que sim!

Resistir à sanha independentista quem haverá de?

(d) Exemplo de captura?
– A famosa porta-giratória (revolving door), que faz o diretor do Banco Itaú (e antes desse o do Bank Boston e antes desse o do George Soros e antes desse…) virar Presidente do Banco Central do Brasil. Apenas para amanhã voltar ao Itaú (e congêneres…) com o passe ainda mais valorizado.

(e) Sonho de consumo dos independentistas?
Escrever “em pedra” a pretendida independência diante da sociedade e de seus representantes eleitos.

Como?
Com leis de boa governança que consagrem essa “independência” – aliás, “boa governança” segundo quem mesmo, hein?

Mandatos fixos de diretores e presidentes… indemissíveis pelo poder político…

– Oh, glória!

Sim, “independência”…

Mas, impertinente que sou, ouso perguntar:

– “Independência” de quem, cara-pálida? Do Itaú – da ida e da volta da porta-giratória – é que não haverá de ser, não é mesmo?

O Banco Central é apenas o exemplo mais evidente, em um Estado cuja metade do orçamento foi capturada por rentistas. Mas isso se repete em todos os segmentos econômicos regulados pelo Estado: CVM, CADE, SUSEP, ANVISA, ANP, ANA, ANAC, ANTAQ, ANATEL, ANEEL, ANS, ANTT… ou nos segmentos em que o Estado atua através de estatais (Petrobras, BB, CEF, Eletrobrás…).

E não apenas…

O Supremo não autorizou juízes (!) a embolsar cachês pagos por palestras sem que o seu valor tenha de ser tornado público? Aliás, bota – caché – nisso… nunca uma denominação foi tão adequada!

Para além de “cachês” – escondidos – por “palestras”, que dizer de cursos no exterior pagos por “terceiros generosos” (quem?)? Dentre os quais até mesmo interesses estrangeiros, incluindo governos que não o nosso?

Algo a ver com essas observações aterradoras do Miguel do Rosário, no Blog do Cafezinho?

– Captura do regulador?
– Conflito de interesse?
– Risco moral do regulado (moral hazard)?
– Abuso de poder de mercado dos regulados?
– Ineficiência do mercado viciado?
– Busca de renda por quem é “amigo do rei” (rent seeking)?

Será tudo isso preocupação de marxista radical?

Ou até de quem leu os manuais de Economia (bastante) ortodoxos e que crê – de coração – no capitalismo?

Digo, o capitalismo verdadeiro: com seus “mercados competitivos”, livre entrada de novos competidores e livre saída de empresas ineficientes.

Está aí a telefônica “Oi” para não nos deixar esquecer de como o “capitalismo” (entre aspas mesmo) e seus “riscos” (novas aspas…) “funcionam” (mais ainda…) no Brasil.

E isso não é tudo:

Trata-se apenas de uma das modalidades de captura das autoridades, na classificação proposta por Engstrom. No caso, a captura material. Além (a) da porta giratória e (b) da propina, essa modalidade engloba também (c) os “célebres” financiamentos de campanha e (d) a ameaça de boicote econômico-financeiro ao Estado em caso de “desacordo” com o lobby.

Soa familiar?

Pois é…

Segundo o autor, todas essas sub-modalidades equivalem em alguma medida a corrupção política. Ou melhor: corrupção da política.

Já a captura não material é mais sofisticada: pode ser também denominada “captura cognitiva” ou “cultural”, na qual o regulador – e/ou o juiz e/ou o procurador! – começam a pensar da mesma maneira que o lobby!

– “Lobby”?
– Seria esse apenas o privado?
– Por que não se incluiriam aí também governos estrangeiros?
– Ou terceiros “generosos” querendo iluminar o pobre Brasil de sabedoria?

A assimilação da catequese advém (i) da proximidade (indevida?) entre lobby e autoridades; bem como (ii) da embalagem bonita do “presente” que “generosamente” é dado.

– Aliás, “presente”… será presente de grego a troianos ávidos e ambiciosos?
– Troianos antes circunscritos por uma fronteira, digo, muralha, que impedia o ato de generosidade de se realizar?
– Hmmm…

Saga homérica ou não, chega-se finalmente ao ponto em que as autoridades são pautadas – agora já involuntariamente, na fronteira entre o seu consciente e inconsciente – pelo lobby catequizador.

Exemplo 1:
O lobby já entrega o trabalho pronto – bonitinho e até com grife de banca chique! Assim, como não haverá de prevalecer a lei do menor esforço, tão bem resumida por dois comandos: “Ctrl + C” / “Ctrl + V”?

Algo a ver?

E aqui?

Exemplo 2:
Em tática mais sofisticada ainda, e de longo prazo, o lobby, através do financiamento de pesquisas, colóquios entre pares e lisonjas – tais como premiações – consegue estabelecer – não a sofridas marretadas mas a deleitáveis queijos, vinhos e “verdinhas” – o “consenso científico” em determinado domínio técnico.

Mas notem bem: não qualquer consenso científico, aleatório… trata-se de um consenso científico específico: aquele que o lobby tem por “certo”… aquele para chamar de seu.

Aliás, como acadêmico não posso deixar de me perguntar:
– Se o ponto de chegada já é pré-estabelecido na saída, há que se falar ainda em “cientificidade” para esse “consenso” (olha as aspas aí de novo…).

Pois é… também digo que não.

A maneira como o credo neoliberal impregnou – mediante generosos financiamentos – os maiores centros do conhecimento econômico, do final dos anos 70 até a primeira década do século XXI, é o exemplo de manual (textbook case) dessa tese.

Para quem comungava do credo: dinheiro, fama e glória.
Para quem o criticava: penúria, opróbio e ridicularização.

Fácil chegar a um “consenso” (aspas) “científico” (de novo…) assim, não é mesmo?

Foi preciso a maior crise econômica e a maior recessão desde os anos 30 para que esse “santo graal” caísse no chão e se estilhaçasse. Mas não sem deixar profetas atrasados na Periferia do mundo, ignorantes da (nova) “Boa Nova” do Centro.
[VerTrem-bala para o abismo – a política econômica da recessão, de André Araújo, aqui no GGN]

Lisonjas… lobby… captura não material… corrupção da política…

Algo a ver?

(exemplos – infelizmente – não exaustivos)

*

(V). Como chegamos aqui (2): correias de transmissão

Voltando ao início do artigo, falávamos de:

(i) Saturação com a política e com os políticos; e portanto…
(ii) dessensibilização/anestesia; e portanto…
(iii) indiferença, cinismo, que levou a…
– Número recorde de abstenções, votos brancos e nulos. O tal “tanto faz como tanto fez”…

Mas atenção para as correias de transmissão que nos trouxeram até aqui:

(a) Noticiário mundo-cão na (e da) política na grande mídia; e portanto…
(b) Demonização da política em geral e de certas forças políticas e certas correntes de pensamento em particular; e portanto…
(c) Dessensibilização / indiferença, desprezo e cinismo; e portanto…
(c) Alta taxa de abstenção e de votos brancos e nulos; o que reflete…
(d) “Bases” (com aspas…) eleitorais alienadas, indiferentes, e políticos eleitos fracos, sem o respaldo de urnas “gordas”; o que cria um vácuo de poder suscetível à…
(e) Busca de independência das autoridades não eleitas.

I.e., “independência” do poder político, bem entendido! Não do segmento econômico regulado e de “terceiros generosos”, no Brasil ou fora dele.

– E quem é que fornece a graxa que faz as polias da grande mídia girarem, girarem e girarem…? Mídia que: (1) produz o noticiário mundo-cão da política; e (2) vende aqueles tais “consensos” (aspas) “científicos” (de novo…) como “a verdade revelada”?

Ora, quem fornece a graxa à mídia são eles mesmos: os lobbies!

Atenção para o “plim-plim”! Num oferecimento de Itaú, Bradesco, Vale, Ambev, seguradoras, indústria farmacêutica, Shell, Gol/Tam, Vivo/Claro…

E assim se fecha o círculo de captura das autoridades não-eleitas pelos lobbies, que passam a buscar independência do poder político para melhor corresponder às expectativas dos patrocinadores. E por que não dizer captura também do eleitorado, nesse caso por omissão (induzida)?

O resultado – de hoje – está aí embaixo, descrito pelo amigo Ciro.

Urnas vazias… cinismo e indiferença… demonização da política… lobbies… captura das autoridades e dos eleitores… tudo isso num círculo infernal.

Nada é “coincidência”.

E as correias de transmissão de que falamos seguiram rodando enquanto você lia este texto.

Como perguntei acima: resistir quem haverá de?

E mais:


*   *   *

Da série “quer que eu desenhe?”

*   *   *

Rapidinha: o temor que a direita tem de Dilma enquanto mito político em construção

Presidenta Dilma vota em Porto Alegre. Apoiadores e imprensa são impedidos pela Justiça e pela truculência da Brigada Militar de registrar o momento do seu voto.

O que temem tanto?

Entenda:

Extrato:

Temer, o PSDB, aliados – e Marina! – terão de aceitar: Dilma continuará sua trajetória rumo a construção de um mito político.
Que ironia!
Mas nada original:
Não foi o julgamento injusto e a pena de morte que tornaram Sócrates maior como figura?
Sem entrar em debate teológico / histórico: não foi o julgamento injusto e o sacrifício de Jesus de Nazaré (Deus e/ou homem) que fundou uma fé?
Pois é…
O mito do homem (e da mulher!) justo, injustiçado por poderes corrompidos ou por uma democracia já degenerada pela demagogia, cala fundo na psique humana. Existe desde que o mundo é mundo.
No golpe contra Dilma Rousseff de 2016 temos os dois: poderes corrompidos aliando-se a demagogos (i) nas corporações do Estado – STF/Justiça, PGR/Janot, PF; (ii) nos grandes grupos de imprensa familiar; e (iii) nas instituições da sociedade civil organizada – OAB, FIESP, CNA, FEBRABAN, igrejas, etc., para julgar – e condenar! – alguém unanimemente reconhecida como justa.
Dessa perspectiva, os algozes de Dilma “fizeram a sua fama”. Da mesma forma que, a seu tempo, o Sinédrio e os Romanos – secundados também por populares em frenesi, não é mesmo? – aumentaram a de Jesus de Nazaré, homem e/ou Deus. E ainda, o tribunal popular ateniense aumentou a dimensão da figura do filósofo Sócrates, ao condená-lo de forma iníqua à morte por envenenamento com cicuta.
Quantos outros exemplos não haverá desse mito?
Joana D’Arc queimada na fogueira da inquisição, Tiradentes enforcado e esquartejado como bode expiatório, Dreyfus, vítima do antissemitismo e de uma armação, o suicídio de Vargas, instado pelas mesmas forças que agora golpearam, novamente, a democracia no Brasil…
Deve-se ter cuidado ao brincar de feiticeiro. O caldeirão pode transbordar e queimar quem se supunha mais esperto do que de fato era.
Como disse uma certa justa tratada com iniquidade atroz:
– A vida é dura, Senador!

*   *   *

Achou meu estilo “esquisito”? “Caótico”?

– Pois você não está só! Clique na imagem e chore suas mágoas:

*

(i) Acompanhe-me no Facebook:

*

(ii) No Twitter:

*

(iii) E, claro, no meu blog aqui no GGN:

*

Quando perguntei, uma deputada suíça se definiu em um jantar como “uma esquerdista que sabe fazer conta”. Poucas palavras que dizem bastante coisa. Adotei para mim também.

Redação

2 Comentários

Deixe um comentário

O seu endereço de e-mail não será publicado. Campos obrigatórios são marcados com *

  1. Comentário IMPORTANTE do meu amigo Merlim:

    “Nesse emaranhado de ingredientes que levaram a tamanha abstenção,  colocaria uma pimenta na mistura. Desde sempre se coloca o voto facultativo como uma “necessidade”. Nunca conseguiram.

    Pergunto:

    Não seria, a pífia multa existente, o golpe na obrigatoriedade?

    O que mais ouvi esses dias foi que, por votar em outro bairro, a passagem sai mais cara do que a multa. Lá se foi mais um voto.

    Sem vontade de participar da política,  sem interesse por política,  com a propaganda negativa em seu ouvido todos os dias, mamão com açúcar,  fico em casa.

    Dá nisso.

    Abração”

  2. Alerta: meu jeito de escrever é “esquisito”! N diz q n avisei…

    >>Que p… é essa? Ora, essa p… é ‘Romulus’, por… o próprio!<<
     

    ROMULUS
     SEX, 07/10/2016 – 04:27
     ATUALIZADO EM 07/10/2016 – 05:52

    Que p… é essa? Ora, essa p… é ‘Romulus’ – nunca esperei ser ~eu~ o tema em debate no GGN (hahaha), mas…

    Por Romulus

    Totalmente fora de espaço, offtopic, surgiu na seção de comentários do último post do Nassif uma discussão sobre…

    – … mim!

    Ainda outro dia lia entrevista do grande Fernando Brito, do Tijolaço, em que reafirmava seu princípio de que “o jornalista não é notícia”. Não sou jornalista, mas concordo e penso ser também aplicável, mutatis mutandis.

    Mas, para esclarecer de uma vez por todas essa questão, que vira e mexe volta, faço aqui um post para que todos choremos nossas mágoas de leitores maltratados no mesmo lugar.

    A seguir, ~vazo~ (por não haver mal nenhum) parte de um email meu ao Nassif. Ele – editor zeloso e expert na matéria que é – também franze a testa quando vê pela frente um post meu ou “grande demais” ou “caótico”, na expressão dele (!).

    Mas antes, algumas (outras) chineladas que tomei por aí.

    Peraí… chineladas? Em ‘Romulus’?

    Ora, nada mais justo! Não desço a mão em todo mundo todo dia aqui? Direita golpista (vítima preferencial), Ministros do STF, PGR, Parlamentares, PT, PSOL… … …

    Pois passemos então às porradas próprias:

    (i) “Que p… é essa?” – ontem!


    Quando cheguei o comentário já estava com uma estrelinha. Nem precisei contribuir para baixar rs

    *

    (ii) Posts longos

    O recorde: “Brexit” – nada menos que 20 páginas no Word e 3 dias escrevendo e editando. É enorme. Eu mesmo classifiquei de “post enciclopédico”.

    E no entanto…

    Bem, e no entanto é o meu post mais elogiado de longe. Sério! Mandei até a minha mãe ir lá olhar os comentários rs

    Já nesta semana…

    Um post depois…

    *

    (iii) Autocitações nos posts


    Esse eu fidelizei! rs

    *

    (iv) Referências e citações cruzadas entre as várias plataformas de redes sociais (Facebook, Twitter, Whatsapp), com uso de printscreens



    *

    (v) “Desorganização” – mas até com gente “boa” fazendo uso das minhas ideias! Uhuuul!

    O Presidente Lula – em outra era… – bem antes que Obama puxasse o tapete de quem, então, chamou de “o cara”, famosamente disse em tom debochado para com ex-algozes:

    – Vocês não acham chique o FMI pedindo dinheiro emprestado pro Brasil? Bom, então eu disse ao FMI: “o dinheiro tá na mesa… pó pegá!”

    Pois é…

    Minhas ideias tão na mesa – desorganizadas ou não – “pó pegá!”.

    *

    (vi) “Ambições literárias” e paralelos descabidos com gênios

    – Clarice (com “C”, por favor) Lispector

    – James Joyce



    *   *   *

    >>BOMBA<<
    Email ~vazado~!
    Desta vez não pelo MPF, nem pela PF, nem por um juiz…

    >> Caro Nassif,

    Em primeiro lugar, quero te agradecer pelo feedback e pelas dicas. Para mim, que entrei nessa de paraquedas, meio “à força” depois da condução coercitiva do Lula, ter a opinião de uma referência não tem preço!

    Você tem razão quando nota uma evolução do estilo entre as primeiras postagens e as atuais.

    Mas tem aí duas coisas distintas:

    (1) o peso da mão / provocações explícitas

    É certo que há posts onde peso (mais do que o habitual) a mão na pancada. Isso nem é tanto por uma “empolgação” (como você sugere), que poderia até estar presente. Demoro um pouco para escrever. Assim, é difícil para mim escrever algo “no calor dos acontecimentos”. Em geral, começo num dia e acabo no outro, inclusive.

    O que quero dizer é que as “pancadas” / “provocações” são deliberadas. Sim, reconheço que elas podem sim acabar animando “torcidas” e “rinhas de galo”, como você coloca. Nesses posts não raro há até mesmo abuso do emprego de “memes”! (que eu adoro rs)

    (2) Forma / conteúdo “sui generis”

    Aí já foi uma evolução do estilo pessoal mesmo. Depois de sentir a temperatura da água, entrar na piscina e, finalmente, me acostumar com a temperatura, comecei a nadar em “estilo livre”.

    Qual é esse estilo?

    (i) metáfora sobre metáfora sobre metáfora… (olha eu aqui de novo com “piscina”, “temperatura”, “nado em estilo livre”…). É como o pensamento me vem.

    (ii) textos que saem de um determinado “lé” para liga-lo a um “cré” antes bastante improvável. E aí, também, é como a minha mente funciona. Eu tenho gosto por todos os campos do conhecimento. Difícil, inclusive, me definir como “advogado” / “acadêmico do Direito”. Eu estou todo dia, o dia inteiro, estabelecendo relações na minha cabeça entre campos “estanques”.

    Nos posts, em geral, eu reproduzo os caminhos que a minha cabeça fez antes, numa dinâmica – que só depois (!) soube ser, por outros – stream of cousciouness (fluxo de consciência).

    Isso tem prós e contras:

    Contras:

    (a) os textos ficam grandes e, com isso, afastam leitores mais impacientes / com menos tempo;

    (b) os textos ficam menos “acessíveis”;

    (b) alguns veem como uma ego trip narcisista, o que causa, justificada ou injustificadamente, má vontade. Teve leitor até que, querendo desqualificar a minha dura crítica ao PT, me acusou de copiar, “mal!”, Clarice Lispector.

    Mal sabe ele que:

    (i) cheguei nessa forma de maneira totalmente involuntária e gradual. Quando vi – ou melhor, quando me avisaram – já estava lá;

    (ii) vivo na Suíça! – onde Clarice morou por 5 anos, como esposa de diplomata. Odiava tanto que foi aqui que começou a escrever, como forma de extravasar a sua enorme angústia.

    Já eu adoro! Vivo aqui por opção. Mas, coincidentemente, também escrevo, em parte, para extravasar. Extravaso, contudo, a angústia com o que me chega do ~Brasil~ !

    Prós:

    (a) Tem quem goste do estilo. Mesmo do tamanho maior e de um texto “mais complexo e menos óbvio”, quando não flertando com o “texto aberto” (open text).

    (b) Esse público, embora menor, é “qualificado”. Deixa comentários no GGN ou nas redes riquíssimos, que costumam originar novos posts meus – justamente a graça da web 2.0 (ou 3.0 já…).

    Como já tive a oportunidade de te dizer e de registrar, inclusive em post, esse “ativo” do GGN não tem par na blogosfera: comentários do junior50, do Arkx (que convenci a se cadastrar no GGN lá atrás!), da misteriosa Hydra, do André Araújo, do André B, da Vânia e de tantos outros. Sem esquecer, é claro, do meu amigo Ciro, que eu “arrastei de volta” para o GGN neste ano.

    Gente, inclusive, com posicionamento ideológico e background totalmente diferentes do meu. As visões deles costumam ser diferentes das minhas. Isso me força a retrabalhar as teses. Ou para reafirmá-las, com maior convicção, ou para refutá-las, ou para ficar no meio do caminho, numa síntese (os 3 já aconteceram!).

    (c) Esses textos são, em alguma medida, uma sessão de terapia. Vários me forçaram a ter de formular melhor, “no papel”, meus pensamentos. Também me fizeram, com a escrita, ter de trabalhar e racionalizar sentimentos. Presentes 100% ou latentes.

    Há até mesmo um flerte com a psicanálise, quando o “fluxo de consciência” faz as vezes da “livre associação” freudiana, como revelador do inconsciente.

    Isso causa, inclusive, certa exasperação em pessoas próximas, que ficam preocupadas com uma auto exposição excessiva por esse caminho.

    Evidentemente busco me preservar – daí o pseudônimo. Serve mais para trolls chatos não terem acesso aos meus trabalhos, contatos, perfis em redes sociais, etc.

    Quem me conhece sabe que sou eu o autor.

    Como nunca escondi minhas posições políticas, o “mal” já estava feito. Já fora, inclusive, retaliado profissionalmente, perdendo oportunidades de emprego no Brasil. A “fama” já estava feita antes do blog, de forma que posso “relaxar e deitar na cama”. Sinto até mesmo uma pressão moral de fazê-lo, por estar protegido aqui na Suíça, sem dever nada a ninguém, e poder dizer sem temer o que colegas no Brasil não podem.

    Resumo da ópera:
    – O fluxo de consciência – que não está presente em todos os posts, diga-se – é hoje “o barato” do blog para mim.
    – A porrada e a provocação ocasionais são mais atos deliberados que propriamente “empolgação”.
    – Entendo as restrições editorias do GGN – que, aliás, fazem todo o sentido!
    – Vou tentar deixar a separação mais clara entre posts “pancada” / “provocação” e os demais.
    – Queria entender se a sua crítica se dirige à “pancada” / “provocação” ou também à mistura de objetividade de análise com a subjetividade do fluxo de consciência e das viagens metafóricas. <<

    *   *   *

    – Um post bem do tipo “ame-o ou deixe-o”:

    Post viajante, com os tais dos “lés” com “crés” improváveis.

    Teve gente que não embarcou:

    Teve gente até vendendo o guia turístico da viagem:

    Teve gente que embarcou e teve uma linda lua de mel com o autor:

    A amiga Andréa vai ao delírio, comparando-me com o maior mito da comunicação política:

    E o autor fica feliz pra caramba por aparentemente ter logrado seu difícil intento: traduzir para palavras o estado de espírito de quem ouviu o discurso de Lula sem condescedência mas de coração aberto, desarmado.

    Por que traduzir para palavras?

    Para ter ali, ao alcance da mão, à distância de um clique, a passagem de volta para aquele sonho.

    Os dias tem sido sombrios. Fiz esse “seguro” para mim mesmo.

    Mas – “socialisme” oblige – quis compartilhar com todo mundo que também precisasse.

    *   *   *

    Um ~autor~ bem do tipo “ame-o ou deixe-o”?

    Espero que não!

    Podem bater em mim sem melindres. Se houver educação vou até responder!

    Bate… pode bater sim… mas S&M leve, ok? Tipo #50shades…

    *   *   *

    E eu não sou o único!

    De forma totalmente aleatória, chegou a mim ~ontem~ o link para um artigo que cunclui simplesmente o seguinte:

    Então, faz-se mister que a Literatura, como realmente denominada, esteja mais presente em ambientes acadêmicos de Direito, para que, com seus exemplos, o discente possa vivenciar suas peculiaridades e envolver-se mais com o cotidiano, fazendo com que realidade e ficção se entrelacem, propiciando um ambiente agradável ao aprendizado. 

    Chegou “aleatoriamente”? Como?

    Simplesmente porque a professora das autoras no ensino fundamental e médio, que já é conhecida de vocês (de “Orlando: a dor indizível de um proto-genocídio que ‘ousa dizer o próprio nome‘”), quis corujar – de novo – suas (múltiplas) ex-alunas brilhantes. Assim, mandou o link do artigo para seus amigos pelo whatsapp, inclusive para mim:

    Obrigdo, de novo, “Professorinha” Elaine, minha amiga das Minas Gerais.

    Parece que a gente vive em sintonia! “Sincronicidade jungiana”, como outra amiga querida me lembrou ontem:

    [video:https://www.youtube.com/watch?v=WiH6oAYtMNI%5D


    *

    – Gente, não esqueçam que “amanhã há de ser outro dia”, porque, afinal, a Direita nunca vai ter uma Clara Nunes! Sorry, mas a arte é gauche! Saravá, Clara!

    *   *   *

    (i) Acompanhe-me no Facebook:

    Romulus

    *

    (ii) No Twitter:

    @rommulus_

    *

    (iii) E, claro, aqui no GGN: Blog de Romulus

    *

    Quando perguntei, uma deputada suíça se definiu em um jantar como “uma esquerdista que sabe fazer conta”. Poucas palavras que dizem bastante coisa. Adotei para mim também.

Você pode fazer o Jornal GGN ser cada vez melhor.

Apoie e faça parte desta caminhada para que ele se torne um veículo cada vez mais respeitado e forte.

Seja um apoiador