Temer negociou Lava Jato com Janot e foi chantageado por Cunha, revela Renan

Patricia Faermann
Jornalista, pós-graduada em Estudos Internacionais pela Universidade do Chile, repórter de Política, Justiça e América Latina do GGN há 10 anos.
[email protected]


Foto: ABr
 
Jornal GGN – O presidente Michel Temer tinha um trato com o ex-procurador-geral da República, Rodrigo Janot: nomear ao posto maior do Ministério Público Federal (MPF) um nome de confiança e sucessor de Janot, em troca de a PGR blindar ministros e a cúpula de Temer na Operação Lava Jato, não enviando denúncias.
 
“Foi por isso que Michel fez aquele pronunciamento, em fevereiro, dizendo que, se um ministro fosse denunciado, seria afastado do governo. Já tinha um acordo”: a declaração é de Renan Calheiros (PMDB-AL). Correligionário, mas hoje comandando umas das principais frentes da oposição no Congresso, o senador Renan ameaçou revelar informações sobre o presidente da República, Michel Temer, e o o ex-presidente da Câmara, Eduardo Cunha. 
 
Integrante das principais reuniões de cúpula do partido até o início da gestão de Temer no Planalto, Renan acusa o mandatário de tentar “livrar seus amigos na Lava Jato” por meio de articulações na Procuradoria-Geral da República (PGR).
 
A informação foi divulgada pela jornalista Vera Rosa, do Estadão, que aponta a negociação: ainda antes de fevereiro, a tratativa do ex-procurador-geral da República, Rodrigo Janot, com Temer era manter um sucessor de Janot em troca da não denúncia contra seus ministros. 
 
Ainda antes de romper com o governo, até o início deste ano, o ex-presidente do Senado e ex-líder do PMDB na Casa, Renan contou que, quando soube da tratativa, alertou Michel Temer de que Rodrigo Janot não era confiável. 
 
“Eu falei para ele: Michel, você não vai fazer aliança com Janot. Ele já traiu Fabiano [Silveira, ex-ministro da Transparência] e também vai lhe trair na primeira esquina”. Fabiano foi gravado em conversa com o senador e o ex-presidente da Transpetro, Sérgio Machado.
 
As relações do presidente da República com o ex-PGR não seriam de hoje. De acordo com o parlamentar, Temer teria já negociado com Janot quando ocupava a vice-Presidência. 
 
“No governo Dilma, queriam nomear Henrique para ministro do Turismo. Dilma disse ao Michel que só nomearia se ele não estivesse na lista de Janot. Michel, então, se encontrou com Janot e pediu a ele para tirar Henrique e também Eduardo Cunha da investigação. Ele livrou Henrique, mas disse que não conseguiu tirar o Eduardo”, contou Renan Calheiros.
 
O rompimento de Renan com Temer dentro das lideranças do partido no Congresso e Executivo foi demarcado naquele momento. O nome do senador para o Ministério do Turismo, ainda no governo Dilma, foi o de Vinícius Lage, que foi ignorado pelo então vice-presidente. “Janot mandou o seguinte recado para mim, por meio de um interlocutor: ‘Diga ao presidente Renan que ele não tem prestígio nenhum com o vice-presidente'”, relatou.
 
Ainda, o senador peemedebista, agora sem nenhum interesse por zelar a nomes do partido a que pertence, disse que Michel Temer admitiu a ele que estava sendo chantageado por Eduardo Cunha, dentro da prisão. Quando Renan pediu a demissão do então ministro da Justiça, Osmar Serraglio, nome de Cunha, o mandatário teria respondido: “Renan, você sabe que estou sendo chantageado”.
 
Ao não seguir com o suposto acordo que tinha com Michel Temer, Rodrigo Janot incluiu na denúncia contra o presidente a grande base de governo peemedebista, como o ministro da Casa Civil, Eliseu Padilha, e o ministro da Secretaria de Governo, Moreira Franco. “Janot fez tanta besteira que criou condições para Michel se salvar. Ele agora está se beneficiando dos erros e dos crimes cometidos pelo Ministério Público”, completou Renan.
 
Patricia Faermann

Jornalista, pós-graduada em Estudos Internacionais pela Universidade do Chile, repórter de Política, Justiça e América Latina do GGN há 10 anos.

19 Comentários

Deixe um comentário

O seu endereço de e-mail não será publicado. Campos obrigatórios são marcados com *

  1. Agora da para entender muita coisa…

    Quem é que vai escrever o livro em varios tomos sobre esse periodo! As ligações nada republicanas do procurador da republica, o senhor Rodrigo Janot.

    1. Brasilia, se cercar vira

      Brasilia, se cercar vira hospício

      se cobrir vira circo, urge retirar o poder dali. E a reforma do judiciario? Quem vai ter coragem de mexer com os emplumados?? 

  2. Se houver um (ou vários)

    Se houver um (ou vários) suicida (s) nessa turma de golpista o ato será praticado com uma facada nas costas. Silvério do Reis era aprendiz.

  3. Vai que é tua Renan!

    Duas constatações:

    1. O clima em Brasília tá parecendo aquelas rodinhas de fofoca, onde as pessoas ficam com medo de ir embora e se tornarem alvo da fofoca – a diferença é que ao invés de fofoca temos crimes graves;

    2. O Renan é o segundo essa semana a afirmar que Dilma era ingênua e quer foi traida por Michel (o primeiro foi Maia).

     

  4. é realmente de merda infinita

    além de toda a mesquinhez essas articulações se demonstram de um primariedade e burrice dignas do nível da ignorância política brasileira. 

    Coitados de nós que estudamos muito e por sermos corretos não participamos da direção do país. 

     

  5. Faz sentido.

    So faltava alguem como Renan, golpista de primeira hora, expor a tramoia e a podridão do MPF. Resta perguntar, por que ele resolveu abrir o bico agora. Por que resolveu mostrar as entranhas desss sujeira toda.

  6. Vai se catar, Renan. Você foi

    Vai se catar, Renan. Você foi fiador do impeachment na presidência do senado e como ficou de fora do butim esta estrilando. Sua diferença da camarilha que esta destruindo o Brasil é de tom, não de cor.

    Estive em Maceió, capital de Alagoas, o estado que dá representação política para você e sua família, e voltei passando mal com a pobreza que vi. Isso no ano passado. Imagina agora.

    Renan sabia do desmonte a assistência aos mais pobres que seria feito pela quadrilha golpista e não titubeou em representa-los, ao invés de representar quem o elegeu. 

     

  7. Sempre considerei Janot um canalha

    Renan calheiros é ‘puta velha’ da política e sobre ele não há necessidade de comentários.

    Um colega meu, que odeia Renan, considera o senador alagonao um dos mais corruptos e canalhas. A esse colega eu sempre disse que, apesar de corrupto, Renan tem visão de Estado e sabe do papel das instituições. Ou seja: Renan não seria – e de fato não foi – o personagem da política que liderou a trama golpista e destruiu o Estado Brasileiro e suas instituições. Ao mesmo colega eu sempre afirmei que Eduardo Cunha e os lavajateiros (da PF, do MP e do PJ, com destaque para Rodrigo Janot e Sérgio Moro) eram, além de canalhas e corruptos notórios, completamente inconseqüentes, capazes de derrubar a república e destruir o Estado e o Projeto de Desenvolvimento Soberano e Inclusivo, iniciados nos governos petistas. As razões de Eduardo Cunha podem diferir das de Janot, mas ambos NUNCA tiveram a mínima preocupação com a preservação do Estado e das instituições, portanto com os interesses e a soberania nacionais.

    A mim não surpreende esse acordo e essa traição de Rodrigo Janot (mais uma). Que Janot é um canalha, traidor e não confiável Eugênio Aragão já havia mostrado. A mediocridade, as mesquinharias, a política rasteira e corporativista, a ambição desmedida e sede de poder e influência são marcas registradas desse ex-PGR. As revelações de Renan Calheiros não me surpreederam, mas confirmaram uma tese que sempre defendi. 

    Michel Temer, Eduardo Cunha, Eliseu Padilha, Geddel Vieira Lima, Henrique Eduardo Alves e outros da cúpula quadrilheira do PMDB já são bem conhecidos e dispensam comentários adicionais. Da quadrilha tucana os principais líderes são conhecidos e dentre eles podemos citar José Serra, Aécio Cunha, Cássio cunha Lima, Geraldo Alckmin e Joã Dória, embora haja muitos outros.Outros partidos, como o PTB de Bob Jeff, o PSD de Kassab, o PRB dos pastores charlatães, o DEM dos ACMs, gripados, bocas-moles e quejandos são quadrilhas oligárquicas, escravoctratas, cleptocratas, privatistas e entreguistas bem conhecidas.

    Essa revelação de Renan Calheiros constitui mais uma prova de que Fraude a Jato  é uma ORCRIM institucional, como afirmo desde que foi deflagrada.

     

  8. No ponto

    O interessante são os detalhes. Os acordos POLÌTICOS  com o ministério público,. Todos sabemos que uma mão lava a outra,  o ministério público esteve no acordão do jucá no golpe ou foi só para indicar sucessor? A santidade do MP parece  esboroar em troca de um ou outro favorzinho.

    O certo é que esta governo só foi possível graças a prisão de Cunha. Mas o mais interessante é o chefe da quadrilha continuar a ser chantageado pelo presidiário. Gostaria muito de saber das articulações para que Cunha fosse preso, nestes conchavos alguém mandou o imparcial de curitiba prender? Se mandou quem foi?  Fala Renan, continua falando!

  9. Farsa a jato

    Esta novelona da globo, sem fim…

    Ainda não enjoou?

    Não sobrou nada: Judiciario, Legislativo, executivo, MP, milicos…grande mídia

    Vai ser uma “fartura de miséria e privações” este pedaço de futura terra arrasada chamado brasil.

    Bem, mas é só apertar o botão F de ‘dane-se”.

     

  10. Janot cúmplice de Temer ?

    Será que os erros de Janot não foram propositalmente cometidos para permitir uma saída jurídica para Temer ? A tal da “maçã podre”…

    Se Janot já era cúmplice de Temer quando Temer ainda era vice, pode-se compreender a participação da Lava Jato no golpe.

    E ainda há quem se iluda com o nosso “sistema judiciário”…

Você pode fazer o Jornal GGN ser cada vez melhor.

Apoie e faça parte desta caminhada para que ele se torne um veículo cada vez mais respeitado e forte.

Seja um apoiador