União é proibida de tirar verba de reparação de danos para inflar superávit primário

Cintia Alves
Cintia Alves é graduada em jornalismo (2012) e pós-graduada em Gestão de Mídias Digitais (2018). Certificada em treinamento executivo para jornalistas (2023) pela Craig Newmark Graduate School of Journalism, da CUNY (The City University of New York). É editora e atua no Jornal GGN desde 2014.
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Jornal GGN – Sob Michel Temer, o governo federal passou a usar o dinheiro do Fundo de Defesa de Direitos Difusos – usado para reparação de danos à sociedade – para inflar ou “aumentar artificialmente” o superávit primário. Após mobilização do Ministério Público Federal, a Justiça determinou que a União pare de contingenciar estes recursos. Segundo o juiz da causa, a postura do governo tem impossibilitade que o fundo seja utilizado para seu fim. 

Do MPF

A Justiça Federal determinou que a União pare de contingenciar recursos do Fundo de Defesa de Direitos Difusos (FDD) e destine todo o dinheiro às finalidades obrigatórias. A decisão liminar foi concedida a pedido do Ministério Público Federal. Em vez de serem aplicadas na reparação de danos à sociedade, como estabelece a lei, as quantias vêm sendo usadas para o aumento artificial do superávit primário. A ordem judicial já vale para o orçamento de 2019, cuja proposta deve ser enviada pelo governo ao Congresso Nacional até o próximo dia 31 de agosto. 
 
O FDD é composto por multas judiciais e administrativas aplicadas a infratores que violam os chamados direitos coletivos. Embora o montante tenha crescido nos últimos anos, o volume liberado para projetos e iniciativas de reparação vem caindo gradualmente. Neste ano, por exemplo, foram destinados a esse fim apenas R$ 3,4 milhões dos R$ 591,7 milhões recolhidos para o fundo em 2017. O valor ainda sofreu um novo corte de 6% em abril, por determinação da Presidência da República.
 
O FDD é um fundo especial de natureza vinculada. Isso significa que todo o dinheiro nele depositado deve ser reservado ao objetivo estabelecido pela lei que o rege (Lei 9.008/95), sem margem para desvio de finalidade por decisões executivas. A utilização dos recursos, no entanto, depende de sua inclusão no orçamento federal. Desde 2011, essa previsão tem sido ínfima, o que limita drasticamente o uso do montante na reparação dos danos difusos. Dados oficiais indicam que, nos últimos sete anos, o contingenciamento atingiu 98,5% dos R$ 2,3 bilhões destinados ao FDD.
 
“A insistente prática da União quanto à não obrigatoriedade de empenho das verbas do FDD no orçamento não pode merecer respaldo do Poder Judiciário”, escreveu na liminar o juiz Renato Câmara Nigro, da 6ª Vara Federal de Campinas. “Ao contrário da legislação em vigor, e a despeito da alta soma de dinheiro que compõe o FDD, a União sistematicamente vem realizando o empenho das verbas do Fundo com valores irrisórios, dificultando ou impossibilitando o cumprimento da finalidade para a qual o FDD foi criado”.
 
“Criatividade” – Além de determinar a inclusão integral dos recursos no orçamento de 2019 e proibir novos contingenciamentos, a ordem judicial obriga a União a criar uma conta-corrente específica para que as quantias destinadas ao fundo fiquem separadas da reserva financeira do Tesouro Nacional. Segundo o procurador da República Edilson Vitorelli, autor dos pedidos do MPF, a medida é necessária para se evitar que o governo federal pratique a “contabilidade criativa”: sem a discriminação de contas, o dinheiro acaba entrando para o orçamento como se fosse resultado de arrecadação tributária, sujeito ao remanejamento.
 
“Como os recursos não são depositados em conta específica, mas na conta única do Tesouro Nacional, a União se aproveita deles em outras finalidades, mantendo-os ficticiamente reservados ao FDD, mas nunca permitindo que sejam aplicados”, destacou Vitorelli na ação civil pública do MPF, ajuizada em dezembro.
 
O número da ação é 5008138-68.2017.4.03.6105.
Cintia Alves

Cintia Alves é graduada em jornalismo (2012) e pós-graduada em Gestão de Mídias Digitais (2018). Certificada em treinamento executivo para jornalistas (2023) pela Craig Newmark Graduate School of Journalism, da CUNY (The City University of New York). É editora e atua no Jornal GGN desde 2014.

1 Comentário

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  1. Jura que tiraram uma pessoa

    Jura que tiraram uma pessoa honesta pra colocar um escroque?

    Primeira vez que ouço alguém dizer que jogou m… no ventilador pra acertar o próprio rosto. 

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