Fernando Castilho
Fernando Castilho é arquiteto, professor e escritor. Autor de Depois que Descemos das Árvores, Um Humano Num Pálido Ponto Azul e Dilma, a Sangria Estancada.
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Bolsonaro e a luta do bem contra o mal, por Fernando Castilho

O país não suportará mais quatro anos de processo de destruição das instituições, dos direitos humanos e da civilização.

Foto: Edilson Dantas/Agência O Globo

Bolsonaro e a luta do bem contra o mal

por Fernando Castilho

Todos acompanhamos, num misto de incredulidade e horror a execução do sergipano, Genivaldo de Jesus Santos e muita gente já escreveu sobre o ocorrido.

Tentarei não ser mais um, somente.

A índole cruel e opressora do Estado sempre acompanhou a evolução do ser humano. Algumas vezes ela recua, outras épocas, recrudesce.

O recrudescimento se deu durante a Santa Inquisição, a Segunda Guerra Mundial – quando foram executados mais de seis milhões de judeus, a maioria em câmaras de gás como a que encerrou a existência de Genivaldo – e, parece que volta, após uma pausa, ao mundo e, lógico, também ao Brasil comandado por Jair Bolsonaro.

Não à toa o mandatário da nação procurou minimizar o crime defendendo hoje a PRF (Polícia Rodoviária Federal) e dizendo querer “justiça sem exageros”.

Mas, o que seria uma justiça sem exageros? A mesma que os policiais fizeram com Genivaldo? Uma barbárie?

Continuou: “Sem exageros e sem pressão por parte da mídia, que sempre tem um lado: o lado da bandidagem. Como lamentavelmente grande parte de vocês [jornalistas] se comportam, sempre tomam as dores do outro lado. Lamentamos o ocorrido e vamos com seriedade fazer o devido processo legal para não cometermos injustiça e fazermos, de fato, justiça”.

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Ora, ora, ora. Lógico que o capitão poupa a PRF porque tem entre seus agentes muitos eleitores. Ou seja, Bolsonaro usa a morte de Genivaldo pra fazer campanha eleitoral. E trata a vítima como bandido, sendo que bandidos foram os que a assassinaram.

Sergio Moro, o atual ex-tudo, também se manifestou sobre o fato de maneira cínica ao condenar a ação da PRF, ele que defende a excludente de ilicitude que nada mais é do que atirar primeiro e depois perguntar, o mesmo que os agentes fizeram, apesar de utilizarem gás lacrimogênio e não armas de fogo.

O fato é que há algo de podre, não só nessa corporação, mas nas polícias em geral, haja vista a chacina cometida pela Polícia Militar do Rio de Janeiro quando matou mais de vinte pessoas na Vila Cruzeiro.

Vejam que até surgiu um vídeo de um professor de cursinho preparatório para concurso da PF ensinando a tortura com gás lacrimogênio dentro da viatura como método de amansar os presos mais exaltados.

Se há instituições corrompidas no Estado, as polícias, pelo seu aparelhamento, são as campeãs. E as mais perigosas porque portam armas.

Muito se fala que, caso o capitão não vença as eleições, poderá tentar um golpe, mas não conseguirá contar com a totalidade das Forças Armadas.

Na verdade, o que se observa é um movimento do capitão para conseguir apoio das polícias, embora isso também pareça um tanto distante no horizonte.

O ministro da Justiça e Segurança Pública, Anderson Torres, afirmou apenas que a “apuração será a mais breve possível”, mas a PF já adiantou que o inquérito para apurar responsabilidades só estará concluído em 30 dias. Um caso que é um flagrante. Lógico que a expectativa é de que nesse prazo o caso seja esquecido pela imprensa e por nós.

Toda essa onda de barbáries cometidas quase todos os dias, que já começam a ser naturalizadas pela mídia e até por nós que não fomos capazes de sairmos às ruas como os americanos fizeram quando da execução por métodos semelhantes de George Floyd, é responsabilidade daquele, que na condição de chefe maior da nação, prega a violência, o armamento da população e a falta de empatia.

O país não suportará mais quatro anos de processo de destruição das instituições, dos direitos humanos e da civilização.

É preciso um outro Brasil para nossos filhos e netos, um Brasil de respeito ao ser humano, seja branco ou negro, como Genivaldo.

É urgente uma mudança.

Fernando Castilho é arquiteto, professor e escritor

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Fernando Castilho é arquiteto, professor e escritor. Autor de Depois que Descemos das Árvores, Um Humano Num Pálido Ponto Azul e Dilma, a Sangria Estancada.

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