Declínio e queda da Roma Lunar, por Fábio de Oliveira Ribeiro

No mar da tranquilidade, não muito distante da Estação Lunar "Jeff Bezos” havia um grande segredo. E ele foi descoberto por Jacques Cousteau 13. Mas para entender o que ocorreu precisamos voltar ao início da exploração lunar.

Declínio e queda da Roma Lunar

por Fábio de Oliveira Ribeiro

Não existe uma maneira fácil ou delicada de contar essa história. Portanto, não tentarei fazer isso. A verdade factual tem que ser exposta.

No mar da tranquilidade, não muito distante da Estação Lunar “Jeff Bezos” havia um grande segredo. E ele foi descoberto por Jacques Cousteau 13. Mas para entender o que ocorreu precisamos voltar ao início da exploração lunar.

Pouco depois de construir sua Estação Lunar, Bezos foi assaltado por um grande temor. Ele não queria morrer antes de começar a colher os lucros da exploração dos recursos energéticos lunares. Foi assim que começou o programa de clonagem humana que levou à inevitável tragédia.

Bezos decidiu que não bastava apenas clonar pessoas e mandá-las para a Lua. Ele queria que apenas as melhores pessoas de todas as áreas fossem clonadas. Sua Estação Lunar seria um microcosmo do que a humanidade havia produzido de melhor nos últimos séculos. Sempre que fosse possível encontrar material genético aproveitável de um gênio ele seria clonado, treinado e enviado para a Lua.

Os túmulos de centenas de pessoas proeminentes foram revirados a procura de material genético. Em pouco tempo séries inteiras de clones estavam sendo produzidas. Albert Einstein, Gustav Eiffel, Robert Fraley, Jacques Cousteau, William Shockley, Arthur C. Clarke, Srinivāsa Rāmānujan, Hannah Arendt, Alan Turing e outros foram clonados. Além de cada clone receber treinamento específico na área dominada pelo fornecedor de seu material genético, todos eles eram treinados para serem astronautas e exploradores lunares. Jeff Bezos deixou instruções para que ele mesmo fosse clonado depois que morresse. Assim ele poderia continuar a comandar sua Estação Lunar.

Quando um clone morria outro da mesma série o substituiria. Assim, a população lunar seria sempre a mesma. Bezos acreditava que máximo de eficiência com o mínimo de clones seria garantido através da escolha seletiva dos gênios a serem clonados, treinados e enviados para a Lua. Os fracassos seriam cautelosamente escondidos no mar da tranquilidade.

A tranquilidade na Estação Lunar era apenas uma fachada. Clones desapareciam na calada da noite. Substitutos chegavam e rapidamente desapareciam. Jeff Bezos fazia de conta que o problema não existia, mas ele mesmo as vezes ficava algum tempo sem comparecer às reuniões em que questões importantes seriam discutidas e decididas.

Os clones de William Shockley nunca conseguiam se dar bem com os de Albert Einstein. Deixa a relatividade fora dos meus circuitos gritava Shockley irritado sempre que via um Einstein fuçando num painel eletrônico qualquer. Einstein desdenhava uma ciência cuja existência dependia inteiramente da física. O clone Srinivāsa Rāmānujan era muito útil, mas sofria intensamente por causa das manifestações racistas de Robert Fraley.

Os clones de Gustav Eiffel tinham uma tendência à depressão e ao suicídio. Na Lua não havia espaço para a realização de projetos arquitetônicos grandiosos e ele se sentia deslocado e inútil. O clone de Alan Turing vivia às turras com o de Arthur C. Clarke. O abismo entre a computação e a ficção não parava de aumentar. Ele não poderia ser transposto. Sempre que um dos dois clones tinha que ser substituído o problema retornava.

Hannah Arendt era observadora e pacífica. Mas ela despertava ódios intensos quando tentava estudar e discutir a “banalidade do mal” entre os clones. Alguns deles não queriam admitir que eram clones, outros rejeitavam a hipótese de que os clones poderiam ser iguais aos seres humanos. A profundidade da inteligência dela causava inveja e temor.

Jacques Cousteau estava sempre distante. Elepreferia explorar a Lua. Mas as explorações dele causavam um grande mal estar, especialmente quando o clone do explorador francês violava os limites que lhe eram impostos. Isso ocorria sempre e despertava grande preocupação no clone de Jeff Bezos. O trabalho do fundador da Estação Lunar era coletar o máximo de informações sobre a população de clones para maximizar sua eficiência aparando as arestas e escondendo os problemas. Ele fazia isso tão bem que se tornou incapaz de contornar a armadilha trágica em que ficou aprisionado.

Seguindo as instruções deixadas por Jacques Cousteau 12, Jacques Cousteau 13 finalmente conseguiu encontrar o grande segredo de Jeff Bezos. “O mar da tranquilidade é o esgoto universal”. Junto com todo o lixo descartado durante décadas pela Estação Lunar “Jeff Bezos” – chamada carinhosamente de Roma Lunar por Alan Turing) estavam empilhados os corpos dos clones mutilados e mortos de centenas de Hannahs Arendts, dezenas de Srinivāsas Rāmānujanse Arthurs C. Clarkes. Os clones de todos gênios estavam representados naquele imenso lixão.

Mas o que causou maior espanto em Jacques Cousteau 13 foi encontrar dezenas de milhares de Jeffs Bezos. Os clones dele estavam sendo descartados com uma velocidade muito maior do que aquela que o fornecedor do material genético havia previsto. A explicação para isso foi dada por Hannah Arendt 453.

Não pode haver genialidade genuína sem privacidade. E na Estação Lunar “Jeff Bezos” todo mundo era vigiado o tempo todo [exceto Jacques Cousteau, pois ele passava a maior parte do tempo explorando a Lua]. A vigilância ostensiva, opressiva, continuada e desnecessária havia produzido uma reação imprevista: o fortalecimento dos aspectos mais sombrios das personalidades daqueles gênios. Os clones de Jeff Bezos estavam sofrendo a consequência dolorosa da sociedade perfeita que ele havia criado e da qual não podia mais escapar.

“No inferna da vigilância, tanto os vigiados quanto os vigilantes serão prisioneiros”. Foi isso o que escreveu o último clone de Arthur C. Clarke num relatório manuscrito despachado em segredo para a terra. O cálculo das probabilidades de fracasso daquela sociedade havia sido feito pelo primeiro clone de Srinivāsa Rāmānujan. Ele cuidadosamente manteve sua conclusão em segredo.

Fábio de Oliveira Ribeiro

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