Mea culpa e como o auto-perdão sem vergonha me forçou a caminhar, por Mariana Nassif

Manter-me curiosa, experimentar uma rota nova - e quem sabe sentir vergonha disso ou daquilo ali na frente, mas cada vez menos vergonha, cada vez mais leve.

Banksy

Mea culpa e como o auto-perdão sem vergonha me forçou a caminhar

por Mariana Nassif

As vezes eu sinto vergonha de mim.

Acredito que menos vezes do que realmente tenha passado vergonha, mas em alguns casos é uma sensação tão profunda que dá vontade de sumir ou, então, de comprovar por meio de técnicas nada evoluídas como a insistência infantil, por exemplo, de que estava certa. Provar que estava certa quando estou com vergonha – precisa mais do que pra dar merda?

Daí que o tempo passa e a lusitana roda e eu escolhi carregar uma rainha dentro de mim.

Só pra contextualizar caso você seja novato por essas bandas, há pouco mais de um ano fui iniciada no Candomblé, um processo incrivelmente mágico porque você realmente tem aquilo que você quer – já que o que você quer determina suas ações e suas ações, olha só, determinam onde você vai parar. E putaquemepariu como é fodapracaralha ter cada vez mais consciência disso, porque o “fulano fez isso, beltrano fez aquilo e por isso eu fiquei assim” vira tão apenas o começo de toda uma história. Claro que o que as pessoas fazem têm impacto, por mais feiticeira e solitária que a gente seja, néam?! Mas é fato, verídico e comprovado, que quando você escolhe mergulhar de cabeça num processo de transformação profunda, e se compromete mesmo a se olhar em primeiro lugar ESPECIALMENTE NO QUE DIZ RESPEITO ÀS TRANSFORMAÇÕES E ISSO PRECISA ESTAR GRIFADO PORQUE NÃO ADIANTA EU IR PRA ÁFRICA FAZER UM CURSO E PRONTO, ME ACHAR A RAINHA DO IORUBÁ, nananinanão: a religião se dá no dia a dia, e essa é a pior parte de ter pedido pela melhora, uma vida mais leve, mesmo que intensa (que sou, e adoro).

Oyá não veio para brincadeira.

Eis que percebi só hoje que o movimento de me envergonhar não deve causar repulsa, resistência ou ignorância, porque justamente este pode conter o princípio da alternância ou, pelo menos, a abertura para aceitar algo mais. Manter-me curiosa, quase sempre esqueço disso (alô, tatuadores amigos, taí a próxima depois da próxima!).

Ah, vá, sério mesmo que só percebi isso hoje?

Uhun, sério mesmo. Precisei de todo esse tempo e estudo e porrada na cara porque olha, já dizia aquela mãe “o que a gente não aprende no amor, aprende na dor” e percebi que sou capaz de segurar uma tonelada nas costas enquanto estou confusa, mas não tolero mais vestir a fantasia de trouxa quando a alma, de pequena, reordenada passa a expandir.

Leve, eu quero leve. Manter-me curiosa, experimentar uma rota nova – e quem sabe sentir vergonha disso ou daquilo ali na frente, mas cada vez menos vergonha, cada vez mais leve.

Ah, eu sei, você me conhece e sabe que eu não suporto coisa alguma em silêncio: eu-confusa, barulho e vento. E acho que assim sempre será. O que se altera, se espera, é o tanto de confusão de fora que vem pra me bagunçar. Casa bem construída, quando fecho os olhos e sei por onde desejo passar, selecionando o que vai e o que fica, bem disposta a transformar. Especialmente o que me amarra, oprime e dói. Tenho gosto pelo que todo mundo pode saber. O combinado é aliado: quando ancorado, mesmo livre, vira porto seguro.

E dói, viu? Encarar este processo e optar pela incerteza do que pode haver de novo enquanto e conforme as boas escolhas vão alternando o rumo do que resultar(há). Até os advérbios de tempo se alteram, vai vendo a semântica dessa vida, ô, meu pai, que ciosa maluca a palavra é.

A vida segue no gerúndio de um pretérito perfeito que só se mostra pra quem quer ver.

(e que possam me perdoar aqueles que experienciaram vergonhas comigo: aquele era um tempo onde escolhas estavam submersas em muita dor, silêncio e confusão – os devidos reparos estão vindo aí, prontos pra cruzar seus caminhos).

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Mariana A. Nassif

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