Nesses momentos extremos, bebo Brasil.
Inclusive para superar o sentimento de raiva que paira no ar, tão corrosivo quanto o coronavirus, principalmente quando se fica sabendo da infiltração do ódio bolsonarista nos escalões médios e baixos das Forças Armadas e das Polícias Militares em um momento em que a peste necessita de um movimento de solidariedade nacional. E tudo estimulado por um presidente desequilibrado, obcecado pela síndrome da morte.
O que acontecerá é uma incógnita, mas que reforça o sentimento de indignação com pessoas como Luis Roberto Barroso, o general Villas Boas e outros oportunistas que se valeram das armas institucionais para jogar o Brasil nas mãos de loucos pirados, uma aventura inconsequente, como se não fosse a consequência lógica do discurso de ódio legitimado por eles e outros oportunistas institucionais.
Entra-se no maior desafio da história, com o terror difuso da coronavirus e do desemprego ameaçando nossas crianças, nossos velhos, e o Brasil se transformando em uma nau sem rumo dirigida por insensatos, com o risco do próximo porto ser o da rebelião final da ralé.
Mas não é hora do ódio consumir as energias. É hora de juntar forças e de buscar, nos nossos valores imemoriais, as forças para enfrentar a peste. É esse sentimento que dobrará os broncos, os toscos, os primários que passaram a comandar o país.
As lembranças correm solta e remetem à infância, com os filhos sentindo-se seguros, protegidos pelos pais. Fico lembrando da minha crise de crupe, de sarampo, indo ao doutor Martinho que me receitou três injeções. A de menor tamanho era a mais dolorida. De volta à minha casa, aparece a prima Rosa Maria para me ler o livro do Pinochio e outros que me encantavam. Durante todo o dia, outros parentes, primas, tias e a vó Martha trazendo o alento familiar. E à noite, a tranquilidade de se sentir protegido por seu Oscar e dona Tereza, me embalando o sono com suas canções
E aí salto agora para minhas meninas, para as doenças infantis que as acometeram e para a corrida aos prontos socorros mais aparelhados da capital. Lembro até hoje a Bibi e a Dodó, depois de uma intoxicação alimentar, pequenas, com braços furados para injetar soros, mas com o olhar tranquilo de quem sabe protegidas pelos pais.
E agora? Trancado em casa, sem poder sair, vendo se espalhar um vírus que ataca com a letalidade de uma gripe espanhola, que invade sem sutileza os ambientes mais improváveis, como proteger minhas seis meninas, quatro filhas, duas netas, expostas a um país que perdeu o rumo?
Pior, sabendo que o vírus assassino se espalhou pela cidade com as manifestações estimuladas por um presidente da República insano, cercado de terraplanistas desvairados e suportados por instituições acovardadas, sem sentimento de Brasil.
Aí ligo o Youtube e vou atrás da alma brasileira, a música que melhor sintetiza meu sentimento de Brasil, o “Que nem jiló”, de Luiz Gonzaga, cantada por corais em homenagem à morte da professora que os ensinou.
E ouvindo, e vendo a celebração em torno da música, a maneira como se enfrenta a perda, me passa a esperança de que eles não passarão.
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Nobody told me
(John Lennon / Yoko Ono)
Everybody’s talking and no one says a word
Everybody’s making love and no one really cares
There’s Nazis in the bathroom just below the stairs
Always something happening and nothing going on
There’s always something cooking and nothing in the pot
They’re starving back in China so finish what you got
Nobody told me there’d be days like these
strange days indeed
Everybody’s runnin’ and no one makes a move
Everyone’s a winner
and no one seems to lose
There’s a little yellow idol to the north of Katmandu
Everybody’s flying and no one leaves the ground
Everybody’s crying and no one makes a sound
There’s a place for us in movies you just gotta stay around
Nobody told me there’d be days like these
Strange days indeed
most peculiar, Mama
Everybody’s smoking and no one’s getting high
Everybody’s flying and never touch the sky
There’s Ufo’s over New York and I ain’t too surprised
Nobody told me there’d be days like these
Nobody told me there’d be days like these
Strange days indeed
most peculiar, Mama
Roland Barthes e Hannah Arendt, já falavam das literaturas de antecipação… nas aqui exemplificadas, a esperança sempre foi a última alternativa humana (alusão sempre à Caixa de Pandora, ou a Natura, na acepção de Machado de Assis, em Memórias Póstumas de Brás Cubas)
https://en.wikipedia.org/wiki/Spanish_flu (realidade)
https://en.wikipedia.org/wiki/The_Masque_of_the_Red_Death
https://en.wikipedia.org/wiki/The_Last_Man
https://en.wikipedia.org/wiki/The_Scarlet_Plague
https://en.wikipedia.org/wiki/Earth_Abides
https://en.wikipedia.org/wiki/The_Andromeda_Strain
https://en.wikipedia.org/wiki/The_Stand
https://www.theguardian.com/books/2011/may/06/woody-allen-top-five-books
Bella Ciao
Una mattina mi sono svegliato
O bella, ciao! Bella, ciao! Bella, ciao, ciao, ciao!
Una mattina mi sono svegliato
E ho trovato l’invasor
O partigiano, portami via
O bella, ciao! Bella, ciao! Bella, ciao, ciao, ciao!
O partigiano, portami via
Ché mi sento di morir
E se io muoio da partigiano
O bella, ciao! Bella, ciao! Bella, ciao, ciao, ciao!
E se io muoio da partigiano
Tu mi devi seppellir
E seppellire lassù in montagna
O bella, ciao! Bella, ciao! Bella, ciao, ciao, ciao!
E seppellire lassù in montagna
Sotto l’ombra di un bel fior
Tutte le genti che passeranno
O bella, ciao! Bella, ciao! Bella, ciao, ciao, ciao!
Tutte le genti che passeranno
Mi diranno: Che bel fior!
È questo il fiore del partigiano
O bella, ciao! Bella, ciao! Bella, ciao, ciao, ciao!
È questo il fiore del partigiano, morto per la libertà!
Eles já passaram e não vão sair tão cedo. Com a mídia, com o STF, com congresso, com os partidos ditos de esquerda, com a OAB, com a classe média, todos acovardados, eles vão se eternizar no poder. O país acabou.
Fique tranquilo, Nassif, porque o risco do próximo porto ser o da rebelião final da ralé não acontecerá senão no dia em que o Morro descer e não for carnaval
Vai passar. E vamos sair melhores.
Meu zóinho marejou.
Sim, somos Brasil e jamais seremos Brazil. Podemos até fingir trejeitos, maneiras, “caras e bocas” mas não adianta nada: quando a gente mente (ou finge), o outro pode até ficar sem saber a verdade mas sempre saberá que aquilo ali é mentira (ou fingimento). Sabendo a gente que está fingindo ou não.
Tempos difíceis, esses… mas passarão.
Quem vive de esperança é solteirona na janela, esse mundo amargurado por ódio traiçoeiro onde a lei de Gérson impera em todas as classes sociais a dita cuja já morreu, é cada um por si e foda-se o resto.o ser humano faz por merecer o que vai passar especialmente aqui em nosso país deitado eternamente em berço explendido.
Isolamento social demonstrando afeto e empatia. Contraditório mas, dialético.
Mas, Não Era Só Tirar o @ptbrasil!!!!!???
Eu fiquei muito tocado com o seu texto Nassif.
Muito bom.
Excelente texto Nassif.
É preciso não deixar o ódio consumir todas as nossas energias.
Alardeia-se que Erik Satie (que tocou na Semana de Arte Moderna, em sã pablo, e foi vaiado), para fugir à obrigatoriedade do exército, em França, teria saído à rua, sem camisa, num rigoroso inverno Europeu. Daí teria adquirido uma tuberculose que o colocou na reserva. (“8. Tirado da vida, escola de guerra: o que não te destrói, torna-te mais forte”) http://www.handprint.com/SC/NIE/GotDamer.html
A idéia de que este momento e de que está crise sanitária significam, ou podem significar, um ponto de virada civilizatória para a humanidade é no máximo uma ilusão romântica absurda, no mínimo um cinismo descarado. Civilização e civilidade são apenas palavras vazias de sentido no mundo “civilizado” das barbáries tecnológicas institucionalizadas. O homem, hoje, não é nada além de um animal técnico e tecnicizado (que estabelece como paradigma de humanidade o acesso e o controle das mais modernas invenções tecnológicas, mais ou menos como um grupo de animais que prevalece sobre outros grupos de animais porque ao contrário dos últimos, eles conseguem segurar uma vareta de madeira com as mãos). Sinceramente, todos nós sabemos que quando toda esta situação se normalizar os mercados financeiros não precisarão se preocupar com a sua situação econômica crítica, certamente serão socorridos pelos diversos governos nacionais às custas das mortes e da permanente exploração das massas pobres do mundo (massas incapazes de uma rebelião social generalizada, rebelião
que para elas próprias figura como uma utopia irrealizável).
Especificamente sobre o artigo, o ódio existente nos escalões médios e baixos das forças de segurança do país não se deve à infiltração bolsonarista, esse ódio e desprezo das forças de segurança pelos pobres do país e pela própria democracia sempre existiu: É simplesmente o ódio das elites nacionais pelos pobres, esse ódio que antes era patrimônio exclusivo destas elites e da pequena burguesia (ambas constituindo, exclusivamente, outrora, o corpo militar do Estado: a primeira, como força dirigente; a segunda, como o baixo clero da repressão) e que com a democratização do acesso à estas instituições de segurança se tornou um patrimônio também dos membros das classes subalternas que conseguissem galgar alguns degraus da escala de poder (ainda que degraus ínfimos). Este ódio é o que lhes cabe em partilha, na partilha de poder que eles desejam. Então, apelar à solidariedade nacional, à união de uma sociedade fraturada e sedenta de poder… há razão nisso? Agora, sobre beber Brasil, sobre sorver a “alma nacional”, isto tudo me parece muito estranho e perigoso (como uma insistente tentativa de criação de mitos nacionais, o mito da alma brasileira! Mas há uma alma brasileira? Quem tem alma e sofre na alma, e sente e pensa com a alma, está disposto à lutar pela posse de sua alma, e mesmo uma luta de morte. Quando isto existiu aqui?). Uma grande pensadora francesa, Simone Weil, dizia citando o Ajax de Sófocles: Não nutro senão desprezo pelos mortais que se alimentam de vâs esperanças. Creio que deva ser assim mesmo.
https://www.youtube.com/watch?v=o5sZ0bmLBYs&list=RDo5sZ0bmLBYs&start_radio=1
Agogô (Zé Renato / Moacyr Luz)
Obrigado, Nassif.
Uai…
Amarga que nem jiló é a escolha da trilha sonora: logo o apoiador dos gorilas?
O Gonzaga que tratou o filho que nem cachorro sarnento?
Olha Nassif sua melodramática tentativa de colocar a culpa só nos bozos é pior que corona vírus.
Ódio só se propaga onde tem ambiente.
O algoritmo ajudou, mas a decisão pelo bozo não caiu de Marte.
E vamos ser honestos: sua agenda de ódio e saque ao Brasil não foi sequer disfarçada na campanha.
Sugestão: menos Gonzaga pai e mais Gonzaga filho.
AMO NASSIF!!
Muito legal, Nassif! Se me permite uma sugestão, você poderia montar aquelas playlists do cancioneiro popular, inclusive no canal no youtube, para nos alimentar ao longo da quarentena.