Rui Daher
Rui Daher - administrador, consultor em desenvolvimento agrícola e escritor
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Pelotas (RS), Rio de Janeiro, São Paulo, o tempo não para, por Rui Daher

Pelotas (RS), Rio de Janeiro, São Paulo, o tempo não para, por Rui Daher

 (para o GGN)

Ontem, 28 de junho, não tivesse morrido há dez, minha mãe Yolanda, por todos amada, completaria 95 anos, e eu estaria ainda mais feliz. Ela que arrumava as dezenas de remédios que devo tomar antes de sair para o trabalho. Neste texto falo de um de seus irmãos. O outro, como meu pai, nos deixou muito cedo. Vamos lá. Como um dia todos nós iremos.

(para CartaCapital)   

Em minhas infância e juventude tive um Tio, por parte de mãe, muito inteligente. Marin, portanto, como ela e outro irmão, os três nascidos em Pelotas (RS), de origens espanhola e italiana.

O Daher é puramente árabe, daí a AK-47 que, nesta Copa, em vão, torceu por Arábia Saudita, Egito, Tunísia, Marrocos, Irã, e quem mais tivesse um pé no Oriente Médio. (Ô Israel, dá um jeito aí. Precisa mais treino e menos Faixa de Gaza. Agora tem juiz de vídeo).

De qualquer forma, até que andaram dando algum calor nos milionários europeus. E nóis, uai? Como americanos sulinos e centrais, já que não podemos comprar, vendemos. Nosso marketing é jogar bem e não, como muitos pensam, denegrir nossos majestosos vira-latas. Mas, que assim seja. O mundo anda mesmo muito chato, motivo para o excitarmos doando nosso petróleo para arredondar as contas da hegemonia alheia.

O Tio, como tantos, era um daqueles que deixou o Rio Grande do Sul, Juiz de Fora (MG) ou outros rincões brasileiros para se tornarem cariocas. Pudesse, eu teria feito o mesmo e abandonado a locomotiva paulista. Hoje em dia, nenhum afeto me une a São Paulo.

Houve tempo em que não. Meus queridos primos, filhos dele e do outro tio, vieram morar aqui. Viramos irmãos, menos quando eu apaixonadamente defendia a Província de Anchieta, “locomotiva do Brasil”.

O Tio, fixou-se no Rio (bobo não era) e nos garantia férias no Balneário Carioca. Carai, véio, que delícia! Voltávamos felizes para São Paulo e retomávamos o dever almofadinha, ajoelhados nos bancos da igreja do colégio, ansiando pela nova temporada Rio de Janeiro.

Brasília, ainda era ensaio de Capital. Estava prestes a se tornar, mas ainda confusa, transitória e incipiente. Quem gostaria de morar naquilo que sabíamos a merda que viraria?

O Tio argumentava forte. Muitas experiências e leituras. Fonte principal o, então, excelente Jornal do Brasil. Eu e meus primos argumentávamos com a mesma força pela esquerda e ríamos de seu dogmatismo JB. Mas ele era bom e bem replicava. Sozinho, à direita.

Nesse sentido, digamos que eu, único aqui nascido, era quase um soldado do Movimento de 1932, a exibir a exuberância econômica de São Paulo.

Era quando brigávamos feio. Os dois primos, seus filhos, escondiam-se em organizar os times de botões para nossos próximos embates. Afinal, era o primo gordinho enfrentando o reacionário pai deles. Faziam-se surdos.

– Ruizinho, o estado de São Paulo, assim se formou forte, da mesma maneira, que os EUA que tanto vocês, revoltados jovens de esquerda, criticam: sugando riquezas de territórios alheios.

– Como Tio, se investimos, damos emprego, nunca podemos parar, unimos a força imigratória na industrialização? Enquanto vocês vivem as delícias da Cidade Maravilhosa.

– Tardia a industrialização, pois São Paulo a fez desigual, chupinhando favores e investimentos federais, extraindo mais-valia nordestina. Não foi assim, esquerdinha? Como se deu a arrecadação de impostos em detrimento à integração regional? Compare o café falido dos barões paulistas aos grãos que nascem no Sul e as fronteiras que irão se expandir.

–  São Paulo é a indústria nascente!

– Com favores federais e o fato de que o Rio foi obrigado a sustentar uma burocracia federal inútil, usando o Tesouro em favor da industrialização meia-boca paulista.

– Ora, Tio, com você não dá pra discutir.

– Dá sim, Ruizinho. Em menos de 50 anos, você entenderá que o desenvolvimento de um país tem que ser homogêneo em suas vocações. Ou quer fazer de São Paulo, o ridículo ideal separatista gaúcho, que pensa Cisplatinos e Hermanos nos acolhendo?

– Não pensei nisso.

– Mas eles lá pensam. Sobrinho, a região que ganhamos dos lusitanos possibilita desenvolvimento por inteiro. Assim, seremos imbatíveis no mundo. E não é papo de Jornal do Brasil, é seu!

– Vais ver que não.

– Vamos almoçar no Floresta Country Clube (1961), no Itanhangá.

– Ôba, dissemos os três, abandonando os treinos dos botões que ficaram concentrados para as novas partidas.

– Podemos continuar lá a discussão, na piscina. O Brasil ainda não é um país regionalmente integrado, mas pelo seu potencial agropecuário, ainda o será.

2018: mesmo considerando diferenças edafoclimáticas entre as regiões, a participação do valor bruto da produção de 63 culturas agrícolas, na safra 2016 foi a seguinte:

Sul: 28,3%; Sudeste: 27,5%; Centro-Oeste: 26,4%; Norte-Nordeste: 17,8%

Pois é, Tio, a agropecuária está chegando lá. Você tinha razão. Mas os governos que mais ajudaram nessa aproximação foram de esquerda.  

https://www.youtube.com/watch?v=VX60ai0h5II]

[video:https://www.youtube.com/watch?v=90Ayu-r2L-0   

 

Rui Daher

Rui Daher - administrador, consultor em desenvolvimento agrícola e escritor

4 Comentários

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  1. SE O BRASIL TIVESSE 1/4 DO PADRÃO PAULISTA? A VERDADE LIBERTA

    Caro sr., tô pra ver um gaúcho que não é lambe-saco de carioca. Deve ser (teoria de boteco) aquela severidade, disciplina, rigor alemão, sulista. Quando chega naquela esbórnia que é o RJ e aquele mundo de mulatas?!! Do restante não dá nem para discutir. O RS é uma invenção paulista. O Brasil inteiro como conhecemos é uma invenção paulista. Quando fiz cursinho, tinha um Professor Nordestino, muito engtraçado (coisa de cursinho) que dizia que o Brasl foi inventado pelos paulistas. Cada parada das tropas (Bandeirantes) uma cidadezinha. No centro a Igreja, de um lado da praça a Cadeia do outro o Puteiro. Do Sul até à Amazônia. Desafio contestarem a ‘verdade’ do Professor. Em MG, as minas de ouro e cidades que construimos, até a expulsão para GO até o MA. A República de Juiz de Fora entrega tudo ao Capital Estrangeiro e Domíio Britânico ( e pensam que é novidade da Privataria Tucana?) MG fica estagnada por 150 anos. Mas então colonizamos com o gado, o interior região de MG fora das áreas mineradoras. Inventamos o Triângulo Mineiro, Uberlânia, Uberaba quando rumamos em direção ao MT. Região que se desenvolveu ainda mais quando Familias Paulistas, depois da Revolução de 32 e repressão politica decorrente, migraram para o interior do país. O restante da História da Agropecuária Brasileira migrando pelo interior do país, principalmente nos últimos 40 anos é brincadeira. Paulistas abrindo caminhos e territórios, seguidos por paranaenses e gaúchos. Arroz em RR? Soja no PI ou MA? Café, primeiro no PR, depois fugindo da geada no interior de MG e ES, até o interior da BA? Coisa de mineiro ou baiano? Faz Me Rir !! A tristeza disto tudo é que caminhavamos para ser a Maior Nação da Terra até o anos de 1930, com esta plataforma democrática, republicana , desenvolvimentista, igualitária Paulista. Enterramos tudo isto em Ditadura Fascista Militar apoiada pela Elite que “enterrou” este país nestes 88 anos. Ditadura de Quartéis Gaúchose Elites ascendentes do período fascista. A cumplicidade rendeu Voto Obrigatório, Contribuição Sindical Obrigatória, Código Civil, Justiça do Trabalho e outras pérolas burocratizantes e parasitárias. Coincidência a falta de Governos Paulistas nestes 88 anos? O Brasil é de muito fácil explicação, caro sr. abs. 

    1. THE ECONOMIST

      “Tempos difíceis para a EMBRAPA. Uma jóia do país”.  A culpa não é do Trump, nem do Colonialismo, nem das Grandes Potências ou outra fantasia qualquer. É da vitimização, da mediocridade, de Academicismos e Ilusões que abateram este país numa farsante Democracia de Voto Obrigatório que tornou o Poder em Feudo de uma Elite Estatal que sobrevoa uma Nação de Miseráveis e Desinformados. O caminho escolhido foi tão absurdamente errado que ‘sentados sobre um baú de ouro’ (como a EMBRAPA, por exemplo) conseguimos nos manter pobres. Nossas escolhas. Nossas responsabilidades. abs.  

      1. O que acrescentar?

        Zé Sérgio, no melhor de suas forma. Apesar de às vezes discoedarmos, aprendo muito com você SENHOR JOSÉ SÉRGIO (sei que não gosta). Veja como poucos entenderam a mistura crônica literária familiar com o desenvolvimento do Brasil. Obrigado.

        Abraços

        1. O que acrescentar?

          Caro sr.,( na realidade é José Sérgio também. Mas ficou reconhecido por Zé Sérgio). Parabéns à sua Mãe. Mãe não morre nunca. abs. 

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